quinta-feira, 30 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (42)

Opinião


Amanhã será 1º de Maio. Tradicionalmente dia de trabalhadores saírem às ruas em confraternização, grande parte deles sem mesmo saber a gênese de suas celebrações. Uma festa disputada. Memória de lutas contra a opressão, o 1º. de Maio sempre teve um simbolismo fortíssimo, tão forte que o empenho em roubar o seu simbolismo da memória dos trabalhadores é permanente.

No sistema de produção capitalista, onde os trabalhadores se agregam como classe explorada pelo capital, as corporações que representam esse último têm uma preocupação constante em que os trabalhadores não tenham a consciência do papel que representam nesse sistema, ou seja, não tenham consciência de classe. E as corporações trabalham intensamente para isso.

As donas do capital têm plena consciência do que representam e dos seus interesses, dos interesses e vontades de sua classe, mas isso não ocorre entre os trabalhadores. Os trabalhadores sofrem concretamente a opressão, têm força e poder para transformar essa realidade, mas não refletem objetivamente  sobre o mecanismo de exploração que os submete – falta-lhes consciência de classe.

As organizações de trabalhadores que querem superar esses obstáculos apontam as direções das lutas, organizam movimentos reivindicatórios, resgatam memórias de lutas, e é nesse contexto que se enquadra o simbolismo do 1º. de Maio. Antes de tudo, uma data que evoca as lutas e greves dos trabalhadores, além do caráter internacional da sua classe.

Certamente esse tipo de ação bate de frente com os donos do capital que recorrem às suas armas no enfrentamento dessa organização, e sua arma principal é o Estado administrado pelo poder econômico. Conforme a necessidade, essa arma é utilizada desse ou daquele jeito. Ora como instrumento de repressão contra os trabalhadores em suas manifestações e, em outras circunstâncias, como um solvente de suas iniciativas de organização viabilizado através da cooptação de lideranças sindicais e políticas.

Em nossa história já houve momentos em que mobilizações pela jornada de oito horas de trabalho quando vigorava a prática de 10 a 12 horas por dia; pela  abolição do trabalho infantil quando vigorava a prática de contratação pelas fábricas de crianças de seis anos; pela a proteção ao trabalho da mulher, entre outras, eram fortemente representadas em manifestações no 1º. de Maio e, usualmente, reprimidas pelas forças do Estado.

Em outros momentos, a arma Estado foi usada de forma mais eficiente. Foi utilizada para transformar o 1º. de Maio em uma festa alienada das lutas dos trabalhadores. Infelizmente, esse tipo de ação sempre passa, antes de mais nada, pela cooptação de dirigentes sindicais pelegos e traidores de categorias e de classe.

Não cabe resgatar a memória das lutas dos trabalhadores, nem a história dessa data tão importante. Contudo, é triste verificar que nesse ano de coronavírus a cooptação parece ter chegado a um ponto que dificilmente será superado.

A pandemia do coronavírus ficará para sempre na história do nosso país como um marco do ano 2020 e infelizmente,  o 1º. de Maio desse ano também ficará.  Mas, não apenas como um 1º. de Maio de isolamento social, mas também como um 1º. de Maio de lembranças vergonhosas e desonrosas para a história do movimento dos trabalhadores.

As centrais sindicais, com exceção da CSP Conlutas e a INTERSINDICAL celebrarão o 1º. de Maio de 2020 do tipo festa do Estado, fato que não traz muita novidade. A cooptação de dirigentes pelegos, que em vez de estarem à frente das categorias como porta-vozes de suas reivindicações, assumem o papel de mestres de cerimônias de festinhas bancadas pelo governo local tem sido recorrente.

Contudo, esse ano a parada é quente. Até o coronavírus deve estar espantado com tanta sem-vergonhice dos dirigentes sindicais. Esses calhordas estão promovendo um evento com o lema:  

1º. de Maio Solidário – Saúde – Emprego - Renda.
E estão convidando para o evento, entre outros, nada mais nada menos do que:

Fernando Henrique Cardoso (PSDB);  o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ);  a ex-candidata presidencial Marina Silva (Rede); o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); o presidente do do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e de São Paulo, João Doria (PSDB)

Sim – no mesmo cenário de Reforma Trabalhista, Desemprego, Reforma da Previdência, Privatizações – as centrais sindicais estão fazendo “isso”.

Quem não acreditar busque saber. Os sites das centrais referem-se aos convidados de uma forma genérica como “políticos”, mas a informação está escancarada em alguns jornais das centrais, incluindo no órgão de mídia que representa a CUT  (RBA – Rede Brasil Atual).

Não vale gastar palavras classificando esses hospedeiros que carregam e espalham o vírus do peleguismo entre os trabalhadores. Pra quem é, bacalhau basta. O espaço aqui restante será ocupado para a convocação de uma manifestação classista – um verdadeiro 1º. de Maio -  Vamos à luta!
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Cartaz de convocação para o 1o. de Maio de 2020 pelas centrais: CSP Conlutas e INTERSINDICAL


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