Opinião
A recente e acirrada disputa nas eleições
presidenciais provocou ressentimentos entre os eleitores, mas também estimulou
debates e aumentou a quantidade de pessoas tratando de política, ou seja, de
escolhas. Até mesmo entre alguns que são useiros e vezeiros em declarar que
“odeiam política”.
Outro produto do acirramento foi provocar em alguns
debatedores a explicitação das suas posições políticas que estavam veladas, tanto
por conveniência e vontade, como por ignorância ou falta de oportunidade de
reflexão sobre elas.
Ao defender ou fazer proselitismo da sua opção de
voto, muita gente declarou ou deixou escapar quais são realmente os seus valores
políticos, via de regra associados aos seus princípios éticos. Ao mesmo tempo,
outras pessoas descobriram que valorizavam princípios políticos e éticos que
nem mesmo elas sabiam ou haviam considerado.
Ainda sem fazer juízo das opções políticas de cada
um, tomara que o saldo tenha sido uma quantidade maior de pessoas dispostas a
continuar argumentando em defesa de suas posições e se arriscando,
naturalmente, às possíveis réplicas ou exposições de contradições que as suas
ideias possam conter. O futuro dirá se o saldo foi positivo.
A grande mídia do Rio de Janeiro e de São Paulo
(não sei nos demais estados) e os grupos que ela representa não digeriram a
derrota e promovem um clima pós- eleitoral como se quisessem reverter o
resultado das urnas. Perdedores, numa espécie de tapetão eleitoral, agregaram
até conclamações à intervenção militar, expressões minoritárias, diga-se de
passagem, mas que não foram explicitamente, nem veementemente rejeitadas pelas
importantes lideranças políticas da oposição.
O PSDB, partido representante da oposição, que
nunca teve projeto alternativo, aferra-se exclusivamente em discursos de denúncias
de corrupção no governo eleito. Visto que algumas denúncias são justificadas e,
além do mais, são amplificadas por um fabuloso suporte de propaganda, esta
prática tem trazido resultados favoráveis. A oposição avançou fortemente em
áreas populares e de trabalhadores, cooptando estes espaços com um discurso
reacionário, conservador e de rejeição às propostas socializantes. Tudo indica
que esta será a linha de ação permanente da direita enquanto o governo
eleito não der mostra de alterações nos rumos de sua gestão.
Por outro lado, há eleitores filiados ao PT,
partido que liderou a candidatura vitoriosa, que reagem a qualquer oposição e
crítica recebida, ignorando as mazelas que envolvem o governo reeleito. Fechados
em um casulo partidário, não cobram autocrítica de suas lideranças e acusam
qualquer opositor de colaboração com posições reacionárias e golpistas.
Desconsideram que o resultado da votação recente, bem mais do que uma escolha
de candidatos ou de partidos, foi uma manifestação de rejeição de projetos
políticos e de práticas partidárias de ambos os lados concorrentes.
É preciso superar o maniqueísmo das discussões da
campanha eleitoral aproveitando o engajamento político resultante da mesma
provocando a continuidade dos debates e, quem sabe, transformando este debate
em algum tipo de intervenção concreta. Tratar sobre a Reforma Política pode ser
um caminho. Mesmo nos marcos da organização capitalista da produção, este tema,
incluindo a discussão se a proposta de realizá-la é um fato ou um factoide, carrega
consigo enorme parte das divergências e conflitos de ideias que agitaram os
debates eleitorais entre os eleitores que se enfrentaram nas cozinhas, nos
escritórios, nos bares, nas portarias, nas empresas, nas filas dos transportes
e nas praças.
#########