quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Comentários pós-eleitorais - 2014

Opinião

A recente e acirrada disputa nas eleições presidenciais provocou ressentimentos entre os eleitores, mas também estimulou debates e aumentou a quantidade de pessoas tratando de política, ou seja, de escolhas. Até mesmo entre alguns que são useiros e vezeiros em declarar que “odeiam política”. 

Outro produto do acirramento foi provocar em alguns debatedores a explicitação das suas posições políticas que estavam veladas, tanto por conveniência e vontade, como por ignorância ou falta de oportunidade de reflexão sobre elas.

Ao defender ou fazer proselitismo da sua opção de voto, muita gente declarou ou deixou escapar quais são realmente os seus valores políticos, via de regra associados aos seus princípios éticos. Ao mesmo tempo, outras pessoas descobriram que valorizavam princípios políticos e éticos que nem mesmo elas sabiam ou haviam considerado.

Ainda sem fazer juízo das opções políticas de cada um, tomara que o saldo tenha sido uma quantidade maior de pessoas dispostas a continuar argumentando em defesa de suas posições e se arriscando, naturalmente, às possíveis réplicas ou exposições de contradições que as suas ideias possam conter. O futuro dirá se o saldo foi positivo.

A grande mídia do Rio de Janeiro e de São Paulo (não sei nos demais estados) e os grupos que ela representa não digeriram a derrota e promovem um clima pós- eleitoral como se quisessem reverter o resultado das urnas. Perdedores, numa espécie de tapetão eleitoral, agregaram até conclamações à intervenção militar, expressões minoritárias, diga-se de passagem, mas que não foram explicitamente, nem veementemente rejeitadas pelas importantes lideranças políticas da oposição.

O PSDB, partido representante da oposição, que nunca teve projeto alternativo, aferra-se exclusivamente em discursos de denúncias de corrupção no governo eleito. Visto que algumas denúncias são justificadas e, além do mais, são amplificadas por um fabuloso suporte de propaganda, esta prática tem trazido resultados favoráveis. A oposição avançou fortemente em áreas populares e de trabalhadores, cooptando estes espaços com um discurso reacionário, conservador e de rejeição às propostas socializantes. Tudo indica que esta será a linha de ação permanente da direita enquanto o governo eleito não der mostra de alterações nos rumos de sua gestão.

Por outro lado, há eleitores filiados ao PT, partido que liderou a candidatura vitoriosa, que reagem a qualquer oposição e crítica recebida, ignorando as mazelas que envolvem o governo reeleito. Fechados em um casulo partidário, não cobram autocrítica de suas lideranças e acusam qualquer opositor de colaboração com posições reacionárias e golpistas. Desconsideram que o resultado da votação recente, bem mais do que uma escolha de candidatos ou de partidos, foi uma manifestação de rejeição de projetos políticos e de práticas partidárias de ambos os lados concorrentes.

É preciso superar o maniqueísmo das discussões da campanha eleitoral aproveitando o engajamento político resultante da mesma provocando a continuidade dos debates e, quem sabe, transformando este debate em algum tipo de intervenção concreta. Tratar sobre a Reforma Política pode ser um caminho. Mesmo nos marcos da organização capitalista da produção, este tema, incluindo a discussão se a proposta de realizá-la é um fato ou um factoide, carrega consigo enorme parte das divergências e conflitos de ideias que agitaram os debates eleitorais entre os eleitores que se enfrentaram nas cozinhas, nos escritórios, nos bares, nas portarias, nas empresas, nas filas dos transportes e nas praças.

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