quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Quem não conhece que te compre!

Opinião

Observo que o juiz Mandão vem se transformando numa espécie de herói da vez para alguns esquerdistas precipitados. Dado que a eleição de Lula provocou um vácuo temporário nos poderes executivo e legislativo, o judiciário restou como a referência institucional da estrutura republicana brasileira e, nesse cenário, a reação do agora presidente do TSE às práticas da extrema direita, desde antes do pleito presidencial, projetam a figura do juiz como esteio desse nosso arremedo de democracia liberal.

Será uma boa prática se os esquerdistas pisarem devagarinho no chão do palco onde se desenrola o drama político brasileiro, onde atores diversos performam múltiplos e contraditórios personagens. Alguns parecem ter esquecido, mas o reverenciado juiz fez sua história política nas hostes da direita conservadora, e seu último posto antes do STF foi o de ministro do governo golpista Temer. Além do mais, uma das suas primeiras atuações já empossado no STF foi contribuir para a prisão de Lula.

Como não existe vácuo político, o ex-ministro golpista parece vestir os atributos ideais da sonhada terceira via infrutiferamente buscada pela direita que já trocou olhares de amores com outros magistrados, a saber: o Batman brasileiro do mensalão, Joaquim Barbosa, e o patético juiz de primeiro piso defenestrado pela própria justiça como “juiz ladrão”.

Por mais convenientes que possam ter sido algumas das suas decisões, o juiz e ex-ministro golpista não consegue disfarçar o autoritarismo que exala pelos seus poros e que deveria estar longe dos ideais e projetos da esquerda. Esse endosso quase cego, e até alienado, que observo em esquerdistas precipitados rendendo homenagens ao juiz mandão é um equívoco, uma canoa furada que não tardará a fazer água, logo ali na frente, no início do mandato do novo governo. (elaborado em 24/11/2022)

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Chamando pelo nome: extrema-direita

 Opinião


Aderi à proposta de não usar mais termos derivados do nome do velho tarado da moto apondo-se os sufixos " ...ista" ou "...ismo".

Sei que a bronca contra o Bozo é grande. Espezinhá-lo em sua derrota e carimbar seus simpatizantes é tentador, mas fazer isso será dar crédito e valorizar uma figura escrota e medíocre cujo futuro deve ser o ostracismo e o lixo histórico.

Ainda não é uma campanha, embora eu gostaria que fosse.

Sempre usarei "extrema-direita" ou "extrema-direitistas" em vez dos costumeiros termos “bolso ... ismo” ou “bolso ... istas”.

É muito cômodo para os simpatizantes, eleitores ou partidários do Bozo serem identificados diretamente com o nome daquela figura porque isso disfarça ou esconde os seus valores.

Fascistas por opção, eles passam a ser identificados apenas como discordantes da "esquerda", do "comunismo", do petismo ou coisa que o valha, enquanto os seus valores reais, aqueles nos quais eles votam e apoiam, misturam-se e se escondem atrás dessas designações pastosas e genéricas associadas ao seu “mito”.

Assim, referir-se a eles como “extrema-direita” e “extrema-direitistas”, em vez de esconde-los atrás do nome do tarado da moto, é importante porque desnuda suas verdadeiras opções e obriga essa galera a mostrar e até pensar (coisa difícil) sobre o que realmente elas são ou apoiam, sem disfarces.

Assumir-se como extrema-direita será a opção de cada um, mas não deixarei que me venham com essa fantasia de que somos iguais, apenas com opções diferentes de voto e blá, blá, blá. Extremistas de direita! Que vão, então, praticar e render loas ao fascismo lá, na puta que os pariu! ##### (escrito em: 11/11/2022).

Expectativa e desejo

 Opinião

 

Há uma distinção entre as questões: o que se espera e o que se deseja do governo Lula.  Elas se relacionam, mas são distintas. O eleitor cuja motivação foi além da vontade de escorraçar a extrema-direita do governo talvez esteja refletindo sobre elas, e será bem fácil cair na armadilha de confundi-las.

 A expectativa em relação ao governo resultará de análises de vários fatores: das condições que determinaram a formação da frente ampla que foi vitoriosa; dos grupos e forças políticas que compuseram a frente e de seus interesses; do resultado eleitoral específico e como um todo; do quadro socioeconômico do país; do desmonte do Estado realizado pela extrema-direita derrotada;  da fome e miséria que assola mais de 30 milhões de brasileiros; além do quadro socioeconômico e sociopolítico internacional que está distante de ser um mar de rosas. 

Cada um desses aspectos é um mundo de possibilidades analíticas, congruentes ou conflitantes, que até serão simplificadas pelo pragmatismo imposto pela realidade. Contudo, ainda assim, esse é um campo onde os conflitos decorrem de divergências de opiniões e não, necessariamente, de disputas.

Outra questão é o que se deseja do governo, e isso vai além dos princípios comuns que determinaram as alianças entre grupos distintos que se identificam exatamente por desejos distintos. Daí, pode ser até que ocorram convergências de propósitos, mas o natural e legítimo é que esses grupos disputem o governo que elegeram em aliança.

Mesmo que as circunstâncias que envolverem o governo em determinada situação política possam estar dentro de certas expectativas, cada grupo trabalhará (ou deveria) para que as respostas ou iniciativas governamentais apontem na direção de suas metas políticas. Esse é essencialmente um campo de disputas, e é aqui a porca torce o rabo e histórias se repetem.

Apesar da correção política do discurso de Lula que não existem dois brasis e da sua convocação para a união social, a realidade não é assim. Existem vários brasis, e os trabalhadores, as categorias, os grupos sociais buscarão se organizar e lutar embalados pelas palavras de ordens que sintetizam as suas reivindicações.

Um governo para todos não fará o país caminhar na direção da redução das desigualdades sociais, muito menos faze-lo saltar o enorme fosso de atraso e discriminação em que chafurdaram a nossa sociedade. Lula sabe disso, certamente bem melhor do que muitos de nós.

 As possíveis alternativas na tentativa de correção da enorme deformidade na distribuição de nossas riquezas, que levou a miséria e que tornou famintos 30 milhões de brasileiros, certamente conflitarão com os desejos dos grupos que apoiaram a derrota da extrema-direita, mas que acumularam suas fortunas beneficiando-se justamente dessas distorções.

 Lula já declarou explicitamente que seu governo não será um governo do PT, nem poderia. Não acho que será simples para o Partido dos Trabalhadores tratar as contradições que emergirão dessa situação, mas não sendo petista não me cabe discutir os encaminhamentos partidários. Cabe-me, isso sim, embora possa esperar que o governo Lula seja assim ou assado, empurrá-lo para que aponte suas baterias na direção das metas políticas que nunca saíram do meu cardápio de desejos.

Revogação das reformas trabalhista e previdenciária; reforma agrária; redução de jornada de trabalho sem redução de salários; Fim da destruição ambiental; demarcação das terras indígenas; Educação, saúde, moradia e serviços públicos para todos; revisão de privatizações e do pagamento da dívida ao sistema financeiro; investigação e punição dos fascistas que destruíram o estado nacional e assassinaram lideranças de trabalhadores.

Eu estou no campo dos que desejam um governo que seja, antes de tudo, instrumento de avanço e progresso social, e entre os que acreditam que o principal, se não for único, suporte político com o qual o governo poderá contar será a mobilização social cuja chama deve ser mantida acesa.

Desde já, estou no lado oposto daqueles que acham que as mobilizações de reivindicações perturbam a governabilidade e, especialmente, repudio o discurso conservador, fácil, leviano, malicioso e recorrente que acusa os reivindicantes de estarem fazendo o jogo da direita e do fascismo. ##### (escrito em: 07/11/2022)