Leituras para distrair
Ontem,
29/05/2014, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, ocorreu uma “Ouvidoria
Itinerante”, evento onde vários órgãos públicos ofereceram serviços aos
transeuntes, tais como: registro de nascimento, casamento, identificação civil,
orientações e atendimento de reclamações sobre direitos do consumidor, emissão
de carteiras de trabalho etc. Além da Ouvidoria do Ministério Público Estadual,
responsável pela iniciativa, também participavam o Procon, o Ministério de
Trabalho, Detran, Bombeiros, PM e outros. Muito legal!
Tomei
conhecimento do evento ao passar, observando uma caminhonete, tipo Van, que
funcionava como posto de atendimento do Ministério do Trabalho. A Van estava toda
pintada com uma representação estilizada da Bandeira Nacional, bem chamativa,
destacando-se o círculo azul da bandeira, enorme, com as palavras Ordem e
Progresso.
Por curiosidade
e já estimulado por observações anteriores, fui conferir a representação da
bandeira e, não deu outra! As palavras Ordem e Progresso estavam
pintadas em preto, cor inexistente na Bandeira Nacional, quando deveriam estar
pintadas em verde. Enfim, a representação estava errada. Conversei
com um dos atendentes da tenda vizinha, do Ministério Público, e que parecia
ser um estudante. A pedido dele, fomos até a Van do Ministério de Trabalho, mas
ele sequer identificou o erro, na verdade, ele nem fazia ideia que estava
errado.
Com
minhas opções socialistas, trotskistas, estou bem longe de me referenciar pelos
símbolos nacionais que não desqualifico, mas que valorizo apenas em
circunstâncias bem específicas. Símbolo por símbolo, eu preferiria que a praça
estivesse enfeitada de bandeiras vermelhas representando a luta e a busca da solidariedade
internacional entre trabalhadores. Porém,
mesmo assim, acho que erros de tal
natureza e em tais circunstâncias não deveriam ocorrer. Afinal, não era uma
decoração de muro ou de asfalto de rua comemorando a Copa do Mundo, mas um carro
oficial de um ministério da República divulgando um dos quatro símbolos
nacionais no centro de uma das principais capitais do país repleta de
visitantes e em um momento marcado pelo chauvinismo e pela enorme quantidade de
propaganda estimulando e convocando a população, paradoxalmente, a torcer pelas
“cores” do Brasil.
O
fato concreto e realmente relevante foi a prestação dos serviços que estava
sendo ofertada e realizada, sem importar as cores com as quais pintaram a
bandeira. Em tempos de torcida, torço para que não seja apenas uma ação pontual
no tempo e espaço e que seja repetida, ampliada e aprimorada. Porém, não há
como deixar de perceber que esses erros são emblemáticos, simbólicos. Revelam uma
falta de cuidados e uma espécie de descaso, de não comprometimento. Parafraseando Chico Buarque e Ruy Guerra, é como se as mãos estivessem distantes do peito, refletindo distância
entre intenção e gesto.
E ainda reforçando a caricatura
de aposentado sem ter o que fazer, lembrei-me que quando houver
oportunidade conferirei as bandeiras vendidas nas lojas Bee, no saguão do
aeroporto internacional do Galeão, no Rio. Até bem pouco tempo, quando estive por lá, as coisas estavam pretas na infra do aeroporto e também nas letrinhas das bandeiras.
Ver imagens sobre este texto
Ver imagens sobre este texto