Opinião
Ao endossar a prisão do deputado federal que fez ameaças
ao STF, os partidos e outras organizações da esquerda política afiaram o cutelo
de uma guilhotina que mais adiante poderá ameaçar os seus próprios pescoços e
cabeças.
É fato que as práticas e antecedentes do deputado são reconhecidamente
canalhas e bastantes para se desejar o seu afastamento da Câmara dos Deputados
ou de qualquer convívio social. Mas, a decisão do STF foi um ato autoritário,
uma retaliação contra um representante que tem mandato popular com imunidade
constitucional para a expressão de opinião, mesmo que tenham sido medíocres,
estúpidas e absurdas como foram.
Tolerar esse autoritarismo e, mais do que isso,
endossá-lo é um equívoco. A decisão do STF, mesmo ratificada pela Câmara, está
muito distante de alguma coisa parecida com defesa da democracia. Ao contrário,
significou a imposição do Estado sobre a sociedade, uma inversão de valores que
significa, na prática, uma relação ditatorial. E as vítimas futuras desse
equívoco, não tenhamos dúvidas, serão os movimentos, organizações,
simpatizantes e militantes da esquerda política.
Sem fato específico que caracterizasse a verborreia do
deputado como uma ameaça concreta de perigo iminente para a sociedade, a
decisão do STF só desvelou ainda mais o casuísmo daquela corte. Infelizmente os
partidos e parlamentares de esquerda embarcaram na canoa furada como se
estivessem defendendo a nossa alegada democracia. Bobinhos! Renderam honras ao mesmo
STF golpista de 2016 e colaboracionista da fraude eleitoral de 2018 que cassou
a candidatura Lula e levou ao poder o governo Bozo que dispensa qualificações.
Em 2018, um general golpista mandou recado para o STF –
com cópia para quem quisesse ler - dizendo que a corte sofreria intervenção caso
fosse concedido habeas corpus ao Lula. O esquema que praticou o golpe de 2016
não permitiria a candidatura de Lula em 2018. O STF nem precisou se considerar
intimidado, cumpriu o papel que lhe cabia na armação. Enfiou o rabo entre as
pernas, chupou a cana e fez cara de que estava doce. Lula se fudeu.
Agora, em 2021, o mesmo general golpista em entrevistas
registradas em livro ratificou as ameaças que fez. Para que não ficassem
dúvidas, esclareceu que não se tratou de iniciativa pessoal, mas da quadrilha
de forças armadas cobrando submissão das forças desarmadas. Só faltou desenhar.
Outra vez o STF, que sabe o seu papel e posição nessa
peça teatral, fez cara de paisagem – tudo normal, salvo uma nota tímida de um
ministro que imediatamente foi ironizada pelo general. A propósito da pressão,
disse o ministro “Anoto ser intolerável e inaceitável”, o general zombeteiramente
comentou: “três anos depois?” Fez lembrar uma piada mundana onde alguém, de
forma supostamente indignada, reclama de assedio: “Você tem 24 horas para
tirar a mão da minha bunda”. O deputado merdinha, por sua vez, ao contrário do
STF, não chegou a aprender o seu lugar, não decorou o seu papel. Achou que estava
com a bola toda. Perdeu!
Os partidos e organizações de esquerda também parecem não
ter aprendido o jogo ou esqueceram ou parece terem aberto mãos dos seus papeis.
Em nome da defesa da democracia saíram em “apoio ao STF”, essa “coisa” que
se transformou em um Estado dentro do Estado. Elevaram ao status de importante
questão institucional a chicana que foi utilizada para colocar o deputado em
cana. Amanhã serão as organizações da esquerda que estarão aí, obrigadas a
prestar contas de suas opiniões sob ameaça de prisão.
O deputado merdinha e marombadinho continua no xilindró.
Dizem que com mordomias, mas está lá. Os registros do seu depoimento em audiência
de custódia mostraram que já não é bicho feroz, pareceu mais fera ferida. A
valentia acabou. A cidade do Rio de Janeiro conhece bem esse tipo de figura. O
falecido sambista “Bezerra da Silva” registrou em gravação inesquecível o
samba de “Claudio Inspiração” e “Tonho Magrinho”. Ele cantava assim:
“Você com revólver na mão é um bicho feroz, feroz”
“Sem ele, anda rebolando e até muda de voz”
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