domingo, 21 de junho de 2020

Quero acordar “puto da vida!”


Leituras para distrair


Muita gente, talvez todos das minhas relações e da minha geração, deve ter ouvido alguma informação sobre o Blade Runner – o Caçador de Androides. Um filme da década de 80 e que deu origem à uma sequência intitulada Blade Runner 2049 lançada no ano 2017.

Há muitas controvérsias sobre o filme, mas o fato é que ele se tornou um clássico da ficção científica, e mesmo aqueles da minha geração que não tiveram ligação com o filme lembrarão da música tema da trilha sonora – um sucesso em nossos tempos da autoria do compositor Vangelis (buscar na web).

Blade Runner é uma história linda (a meu juízo). Trata de um futuro distópico (curioso é que o futuro é o ano de 2019) onde a maioria da população terrestre é obrigada a migrar para outro planeta, para onde também são transportados androides.

Os androides eram robôs com aspectos físicos indistinguíveis dos aspectos humanos, mas com potencialidades físicas  superiores e eram destinados a realizar as tarefas escrotas, liberando o ser humano de fazê-las. Eram projetados para uma vida limitada, curta, e sempre substituídos por versões mais atuais e aprimoradas.

Na Terra, só fica uma ralé de considerados incapazes, proibidos de migrar, além de  supermilionários que tinham o interesse em ficar no planeta. Desenvolve-se, então,  mundos paralelos. Um literalmente superior onde as pessoas se deslocam por máquinas voadoras entre pontos localizados em arranhas-céus, e um mundo inferior habitado pelos que não puderam emigrar para o planeta distante: Marte.

Aos androides, chamados de replicantes, era proibida a vida na Terra. Só poderiam existir no local para onde foram projetados. Porém, alguns arrumavam um jeito de fugir para a Terra onde havia uma polícia especial (Esquadrão da Morte) para caçá-los. Quando encontrados, os replicantes  eram  “aposentados”,  um termo metafórico para a eliminação das figuras.

A história do Blade Runner (primeira filmagem) se desenvolve em torno de um caçador de androides e de um grupo especial de androides que voltou à Terra buscando pelo seu “pai”, o sujeito que inventou os replicantes e que, naturalmente, era um arquimilionário dono da maior empresa de tecnologia de robôs.

Os replicantes questionavam tanto sobre a brevidade de suas vidas como o fato de não poderem  ser como os humanos, Os replicantes não tinham empatia, não conseguiam se identificar com os sentimentos de uma outra pessoa. Aliás, essa característica era a chave para identificá-los quando eram submetidos a interrogatórios. Mas, também era um critério contraditório na medida em que a própria sociedade estava se transformando em uma sociedade não empática. Qual a diferença, afinal? Paro por aqui, não deixem de ver o filme, versão original.

Ufa! Finalmente, cheguei onde queria.

O filme Blade Runner é uma adaptação de um livro originalmente chamado  "Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?” do autor Philip K. Dik – Editora Aleph – São Paulo-SP  que, mais tarde, devido ao sucesso do filme, assumiu o subtítulo Blade Runner.  

O filme baseia-se no livro, mas não é o livro. São duas peças de arte, ambas admiráveis. Porém, no livro, o autor refere-se a um objeto que não é valorizado no filme: o Sintetizador de Ânimos.

Em sua rotina caseira, o caçador de androides (no filme ele é solteiro) e sua esposa dispõem de um aparelho chamado Sintetizador de Ânimos através do qual podem sintonizar (canais) e programar (liga/desliga) o ânimo que assumirão pelo tempo programado. Por exemplo, o ânimo que acordarão e, ao longo do dia.

Em uma discussão (no livro), a mulher do caçador de androides ameaça sintonizar em um canal mais agressivo. Há também a opção de sintonia em um canal de “depressão”. Os casais podem sintonizar em canais comuns ou distintos.

Existem funções  ou canais, tais como: “atitude profissional”; “depressão autoacusatória de seis horas”; “criativa e vigorosaa atitude em relação ao trabalho”;  “agradecido reconhecimento da sabedoria superior do marido sobre todas as coisas”; “orgasmo”, além de outras para quem tiver curiosidade de ler o livro.

Claro que em decorrência dos tempos, busquei em minha estante meus Blade Runner.  Imaginei e resolvi compartilhar a pergunta:

Se você dispusesse de um Sintetizador de Ânimos, em qual canal você sintonizaria?

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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Dia de nada, véspera de nada


Opinião


Hoje até poderia ser um dia de notícias alegres, se não fossem trágicas. Finalmente entrou em cana o criminoso foragido que parece ser peça chave numa das tantas engrenagens que fazem mover a corrupção de agentes públicos. Nesse caso, também  das associações desses agentes com as milícias. Gangs de policiais que praticam todos os tipos imagináveis de crimes, entre eles: extorsões e assassinatos.

O trágico é que o criminoso preso tem história, abrigo e ninho na família do presidente da República com quem sempre teve relações sociais diretas, além de outras relações, que estão sob investigações policiais, com os seus filhos e esposa. Trágico ainda é perceber que a figura, que parecia estar guardada e protegida até hoje,  foi desentocada por ações policiais que estão fora do âmbito da intervenção presidencial e, coincidentemente, próximas diretamente ou indiretamente do mando de ação de seus recentes desafetos governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Também deveria ser recebida com alegria a demissão, na tarde de hoje, do fulano que trouxe prejuízos enormes para o país orquestrando o desmonte do nosso já combalido sistema educacional. Finalmente foi demitido. Possivelmente a contragosto do seu chefe, mas certamente por sua incomensurável mediocridade e incompetente arrogância. Ganhou um emprego onde talvez possa praticar sua estupidez à custa do dinheiro público, mas felizmente foi embora. Xô!!

Trágico, nesse caso, é imaginar que essa figura nefasta ainda assim ocupou durante tanto tempo o cargo que deveria ser um dos mais importantes do país, o de ministro da Educação e, tão trágico, ainda, é saber que para substituí-lo acenam com figura de mesma qualidade e valores.

Já nem me surpreendo tanto. Achei que aquela ministra da goiabeira era um marco que estabelecia a fronteira da mediocridade.Que não seria possível algo pior do que aquilo. Um tolinho eu fui. Recentemente, sei lá de onde, conseguiram sacar e fazer reviver a viúva Porcina que, mais uma vez, não mais em ficção, mas na vida real, foi sem nunca ter sido. Sabe-se lá, então, o que virá agora para o Ministério da Educação.

O poço de mediocridades onde esse governo se abastece parece não ter fundo. Felizmente, enorme também é a lixeira de história. Hoje ela está recebendo mais esse enxurro cujo nome em poucos dias será esquecido. Pode ser até que seja lembrado mais à frente,  se tiver que responder por alguns dos crimes que cometeu, porém seu destino é a irrelevância e o esquecimento. Vade retro!

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sábado, 13 de junho de 2020

Me dá um dinheiro aí!


Opinião


Demorou um pouco, mas o “entendimento” chegou à parte mais sensível do corpo: o bolso!

O guru estadunidense abriu o verbo e ameaçou a derrubada “... dessa merda de governo”.  Comprometido com suas responsabilidades, não deixou de dar orientações políticas: “... enfia essa condecoração no seu cú”.

O que o guru queria mesmo era um dindim. Logo providenciaram para ele um calaboca de alguns milhões. Resultado de uma vaquinha. Alguns com mais informações sugerem que a suposta vaquinha teria pastado em recursos públicos.

Outros parceiros também  começam a enxugar as lágrimas: os chacais do Centrão. Abocanharam cargos públicos, porém mais do que os salários que ganharão o que lhes interessa mesmo são as verbas que poderão administrar. Muita grana!

Esperava-se que o MCTI - Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações fosse desocupado para ser negociado. Em vez disso, recriou-se o falecido Minicom enxertado com novas funções e com o seu orçamento mais atrativo. O cargo de ministro foi para o genro do Silvio Santos que é do Centrão. O MCTI desmembrado permanece útil para futuras barganhas.

Governadores que insinuaram rebeldia estão acossados pela PF. O sniper do Rio de Janeiro pediu arrego na primeira prensa que levou. O herdeiro do clã Barbalho, no Pará, está mordido nos calcanhares pelos farejadores da PF. O midiático governador de São Paulo botou as barbas de molho porque já foi avisado que a sua batata assando. O ruralista de Goiás até anunciou um rompimento, mas se fechou em copas. Afinal, membro da UDR que se preze não rompe com governo reacionário.

Na Câmara, Maia Junior afinou o discurso, finge que estica a corda, com bastante cuidado para não romper. O chefe do Senado fez firula. Rejeitou a MP que daria poderes ao sinistro da Educação para nomear reitores biônicos. Quem não te conhece que te compre!  Esse cara foi levado ao cargo numa briga de foice denunciada até pelos seus pares. Sua eleição foi considerada a primeira vitória política do Bozo pós-eleição. Nada sairá dali porque de onde não se espera nada é que  não sai nada mesmo.

O pessoal da capa preta, vagabundos conforme o sinistro da Educação, sentiram-se violados em seus pudores. Quem diria!  Revidaram autorizando a publicação daquela pornoreuniãoministerial. Aqui e acolá fazem despachos onde insinuam outras retaliações, mas sabem que uma reação à altura desvelaria suas próprias cumplicidades. Foram coniventes na trama que destituiu a Dilma e desaguou na eleição desse governo fascista. O Bozo está dando um tempo. Colocará seu pessoal lá dentro e um deles será “terrivelmente evangélico”. Cá pra nós, nem será novidade se aparecer no STF mais um general fardado, de pijamas, toga ou cuecas, quem sabe.

Por falar em general, tem a turma que apareceu com a recomendação: ”Quem me mandou aqui foi o Gandola!”. Essa turma é geneticamente golpista. Sempre buscou compensar sua natureza desenvolvendo seu lado de competência técnica inegável em diversas áreas, mas a natureza parece ser mais forte. O governo está prenhe de incapazes com distintivos e insígnias que estão conseguindo degradar até o histórico de competência.  Salários altos trocados por fidelidade.

Porém, muito, muito, muito mais importante do que as tratativas com o Centrão, o Maia júnior, governadores, Senado, com algum mamulengo no STF ou os indicados pelo Gandola serão aquelas com o PIG – Partido da Imprensa Golpista. A indignada tríade marrom: estadão-folhão-globão.

Não nos enganemos. Se forem bem irrigados com as verbas de propaganda que desejam, esse fingimento midiático sobre:  pretos, marielle, paraisópolis, pobres, sobradinhovale, índiomortoqueimadas” e outros acabará. Essas pautas  cederão espaço para: “agroépop,  empreendedorismo,  computadornaescola” e mais o que for necessário para maquiar a cara desse governo genocida.

Embarcar na possibilidade de alianças ou arranjos de qualquer natureza com esses atores é uma furada. Será ignorar o papel deles e o nosso.

Não é possível qualquer aliança com essa turma sob a perspectiva de uma transformação da ordem social em nosso país que seja favorável à maioria da população, aos seus trabalhadores ou à correção de históricas e monstruosas distorções na distribuição da riqueza que produzimos.

Muito menos à criação de um espaço onde seja possível efetivamente avançar as temáticas de discriminações sociais, de preservação ambiental e de outras ordens que, felizmente e finalmente, a própria organização popular está colocando em pauta,  rompendo bolhas institucionais.

Nossos objetivos são conflitantes, e mesmo os que parecem comuns, só parecem. 

Isso não exclui a agregação e aglutinação nas lutas de participantes diversos. Mas, se existirem ações comuns que elas se consolidem  nas ruas, na prática e nas lutas para botar pra fora esse governo fascista e capataz do capitalismo.

Nesse momento, as fronteiras de nossas diferenças estão demarcadas pelas palavras de ordem: Fora Bolsonaro e Mourão!.  E não haverá grana que apague essas diferenças, nem santo casamenteiro que abençoe essas alianças.
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