quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Puxando conversas - humanidade

Opinião 

Aprendi a não gostar do termo “humanidade” porque, salvo, talvez,  o seu significado biológico,  ele idealiza algo que não se verifica materialmente. Pior do que isso, ele generaliza e encoberta a realidade das relações sociais que, por sua vez,  são determinadas pelos nossos papéis no modo que nos organizamos para produzir os bens básicos da nossa subsistência. Atualmente, o modo de produção capitalista.

 No mundo real não existe uma “humanidade”, existem pessoas que  se organizam para suprir suas necessidades vitais e que, atualmente, salvo algumas poucas comunidades, estão divididas em classes sociais conforme o papel de cada um na produção, na propriedade e na troca de mercadorias.

 Apoiado nessas premissas, penso que há um fator que fica escondido, como se estivesse disfarçado, em quase todas as intervenções que tenho acompanhado sobre a tragédia na Palestina: o papel do capitalismo e suas decorrências.

 Estamos, sim, diante de uma tragédia que “não nasceu no vácuo” como expressou o secretário geral da ONU, mas quando se discorre sobre as causas do conflito, dificilmente são alegadas as decorrências do modo de produção capitalista, com sua dinâmica e os seus atores, entre eles as mega corporações cujos interesses determinam as políticas governamentais que provocam discriminação, apartação, segregação, guerras e coisas do gênero. O capitalismo fica dissimulado, nunca vem à tona, como se ele não tivesse importância. Nunca é debatido.

 Sem desqualificar as vítimas civis israelenses assassinadas pelo Hamas nem os assassinatos em massa de palestinos que o governo israelense está praticando, arrisco dizer que tais horrores e tragédias estão abstraídos da motivação central dessas disputas, qual seja, a manutenção de uma ordem na relação de poderes mundiais que é a ordem capitalista ou o capitalismo.

 Vale ressaltar que essa abstração não retira o realismo triste e trágico da chamada questão palestina. Não desfaz as atrocidades que tenham sido cometidas pelo Hamas e, muito menos, o genocídio que "Bibi" Netanyahu vem praticando com as bençãos de Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França) ,  Rishi Sunak (Inglaterra) e  Olaf Scholz (Alemanha), para não citar outros.

 Contudo, essa abstração distrai nossos olhares, muitos até conformados ao assistir genocídios em horários da tarde nas TVs. Navios de guerra da China “visitam” o Kwait; aviões da Russia com mísseis hipersônicos monitoram esquadra americana no Mar Negro; porta aviões dos EUA nas proximidades de Israel; navio de guerra da Inglaterra nas proximidades do conflito; bombardeio do aeroporto de Damasco por Israel. Parece que tudo está organizado e esperando um estopim. Ficamos hipnotizados e ninguém debate que essa suruba bélica resulta de uma rearrumação do capitalismo.

 O capital em suas várias formas precisa explorar, circular, acumular e repetir o ciclo. Para o capitalismo vidas humanas não importam, fodam-se os judeus e os palestinos. Essa é a sua lógica que não é uma lógica do bem contra o mal, de palestinos contra judeus. É a natureza de um modo de produção que inventamos e que precisamos superar. Ainda assim estamos entupidos de narrativas sobre a origem dos conflitos na Palestina, afogados em histórias da Bíblia, Torá e Alcorão quando deveríamos estar forçando um questionamento:

 O que faz os principais governos ocidentais empenharem-se na manutenção daquele Forte Apache, encravado no Oriente Médio e chamado Israel?

 Afinal, quem acredita que foi o assassinato de um duque lá na puta que pariu que provocou a primeira guerra mundial? 

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