segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Mata ou engorda, mas é bom! Um dilema

Opinião


Nesse mês de setembro de 2020 estreou na Netflix um documentário intitulado “O dilema das redes” que trata dos impactos (negativos) do estado atual de uso das redes sociais de comunicação e informação e da exploração comercial por suas administrações.  O documentário tem sido bastante divulgado com as observações de quem o assistiu, e essas notas são os registros das minhas observações. Trata-se de assunto que tenho interesse especial e até já tratei aqui, no blog.

 O documentário é muito legal. Conteúdo e forma. O assunto é apresentado com uma qualidade de produção que seduz o espectador e o faz mergulhar num mundo de especulação e de imaginação.

 O próprio documentário resgata um aforismo do Arthur C. Clarke (autor de 2001 – Uma odisseia no espaço): “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia".

 Esse aspecto, além de incitar nossa especulação e imaginação, também nos posiciona como objetos de um mundo fantástico que parece estar fora da compreensão do nosso senso comum e da nossa capacidade de intervenção.

 Deixa-nos com a sensação que a única alternativa para fugir de seus prejuízos seria não usufruir das funcionalidades oferecidas.  Esse seria o dilema. Os comentários dos  que assistem ao vídeo revelam bastante essa avaliação: Impressionante! Assustador! Estonteante etc.

 De fato, são situações desafiadoras. Mas, nem por isso devemos alocá-las em planos metafísicos, olímpicos, inalcançáveis para nós e sujeitos apenas à intervenção de deuses sem compromissos com os mortais. Daí, para quem assistiu e se impressionou com o documentário da Netflix, eu sugiro avançar um pouco e assistir à  apresentação do professor Marcos Dantas que teve o título “Economia política da internet”. Link abaixo.

 Aviso, desde já: a apresentação está longe de ter a qualidade de produção do documentário. Contudo, o conteúdo compensa e talvez até  supere o do documentário. Marcos Dantas identifica as redes sociais, que ele chama de sócio-digitais, à luz da Teoria do Valor  segundo as categorias marxistas.

 Ele faz uma breve introdução sobre o modelo marxista de transformação e de circulação de capital em suas formas dinheiro e mercadoria para, em seguida, abordar a questão das redes digitais e das apropriações do trabalho humano associadas ao mundo que vivemos.

A apresentação é uma aula. Um grande mérito do Dantas é trazer as questões para mais próximo de nós e, melhor do que isso, desvelar a sua essência. Ele desfaz a mágica mostrando o que tem no fundo da cartola, atrás das cortinas, dentro do baú: o modo de produção capitalista, suas categorias, a prática de uma relação social determinada pela troca de mercadorias e a apropriação de trabalho alheio, pelo capital,  na forma identificada como mais valor.

 Antes de uma fantasia, o que existe são os aspectos conflitantes da dimensão socioeconômica, numa proporção que desequilibra as identidades naturais da dimensão sociocultural. E as alternativas de solução estarão sem qualquer duvida na dimensão sociopolítica. Contudo, ressalte-se, são soluções ao nosso alcance, ao alcance de nossas escolhas. Não decorrem de um mundo fantasioso, virtual ou coisa que o valha.

Recorrendo às imagens do Dantas: se a internet é uma cidade, um mundo, então ela precisa ter regras como qualquer cidade no mundo. E se as tecnologias estão determinando serviços que se tornaram essenciais, que não podem sequer ser interrompidos sob pena de um caos social, então esses serviços devem ser considerados essenciais e sujeitos a regulamentações.

 A eletricidade, lembra ele, também não era essencial nos seus primórdios, porém hoje é um serviço de natureza pública controlado e regulamentado pela sociedade com formas distintas de exploração.

Por último, para quem não conhece, os atributos curriculares do Marcos Dantas fazem parte da apresentação. Ressalte-se, também, que no documentário da Netflix há dois ou três depoimentos da professora Shoshana Zuboff  (Harvard Business School), pesquisadora que popularizou o termo “Capitalismo de Vigilância“, título de um excelente documentário do youtube, quase integralmente com ela.

 No mais, seria conversar sobre o gênio Karl Marx, mas a conversa seria outra.    ###

 

NOTA

SÁBADO DE FORMAÇÃO ( Economia política da internet, com Marcos Dantas) – Acesso em 21/09/2020 em <https://www.youtube.com/watch?v=3Jn2GDi6lKg&t=3013s>


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Fogueira do século XXI


Leituras para distrair


Somos assim. Uma sociedade cujos troncos fundamentais de criação e desenvolvimento foram: uma diversidade de povos nativos invadidos em seus espaços de vida, hábitos e costumes; um contingente europeu oriundo do projeto colonizador do império português, e uma enorme população trazida escravizada do continente africano seguindo a lógica mercantil da colonização.

O grupo europeu, tipicamente branco em suas características étnicas, impôs-se pela força como poder socioeconômico e sociopolítico. Mas, o mesmo não aconteceu  na dimensão sociocultural. Os nativos, que passaram a ser chamados de indígenas, assim como os escravizados, que passaram a ser genericamente referidos como negros, eram grupamentos sociais que traziam consigo histórias e culturas distintas, riquíssimas em seus conteúdos, além de seculares, com enraizamentos profundos e suficientes para não desaparecerem.

Esses grupos aglutinaram-se formando uma sociedade miscigenada que veio a ser predominante, mas completamente impregnada  e marcada pelas raízes culturais dos negros e indígenas, apesar das agressões que esses dois grupos sofreram em seus processos históricos. Entre essas marcas congênitas e determinantes das sociedades negra e indígena herdamos: a oralidade. É um fato. Carregamos a oralidade como um traço fortíssimo, resultado e descendência direta das sociedades que nos deram origem, sociedades sem representação escrita de seus conhecimentos e culturas. Sociedades ágrafas.

Seguindo a sua lógica, o poder colonial fez valer no plano institucional os seus valores culturais, positivos em inúmeros aspectos, diga-se de passagem, mas também impôs, na medida em que conseguiu, a negação dos nossos valores culturais de origens indígenas e africanas. Uma perda para nós.

Ocorre que a cultura se impõe como prática social. Ela não é determinada por leis e decretos. Daí que, felizmente, mesmo de forma inconsciente, fizemos da oralidade um dos aspectos característicos de nossa identificação cultural. Os registros literários nunca foram a forma original de guardar nossas histórias, nossas relações interpessoais ou relações com o mundo. Nem as nossas impressões, fantasias  e experiências com esse mesmo mundo. Obviamente incorporamos os registros literários como prática, aliás importantíssima, mas tal prática veio bem tarde em nossa formação.

A nossa praia sempre foi outra. Praticamos a transmissão de conhecimentos pela fala, pelo contar de histórias, pelas narrativas dos causos. Pela repetição dos aforismos populares, pelo gosto das conversas nas esquinas, tanto entre os moleques nas ruas como entre as gerações que se tornam maduras. As histórias e ensinamentos propagados pelas conversas nos espaços comunitários ou familiares. Pelos papos, pelo anedotário. Pelas conversas nas esquinas e nessa instituição nacional: os botecos. Ignorar ou desvalorizar isso é não perceber o Brasil em sua inteireza.

É com essa percepção e sentimento que tenho acompanhado com imenso prazer e interesse, entre as incontáveis “laives” que impregnaram as redes sociais informáticas nesses tempos de pandemia, a “Tendinha do Coletivo Sindicato do Samba”.

A iniciativa vem sendo desenvolvida com a participação permanente dos artistas: Paulão 7 Cordas, Marquinho China e Marquinhos Diniz, além do jornalista e produtor cultural Camilo Árabe que opera como um mediador e coordenador da Tendinha. Até onde identifiquei, teria estreado em 29/05/2020.

A apresentação se desenrola sem muitos recursos de produção, mas suficiente. O ambiente é de uma conversa na cozinha, na área dos fundos, no quintal ou num balcão de uma Tendinha. O tema, claro,  é o Samba.

Os seus protagonistas dispensam apresentações. Abordam suas experiências que não são poucas conversando entre si e resgatando músicas, comentando e trocando histórias sobre o samba e seus personagens. São parceiros trocando histórias e aventuras curiosas e interessantes para quem gosta de samba ou quiser saber sobre ele. Nem sei se pararam para pensar na importância do trabalho que estão realizando.

Geralmente recebem convidados - ícones do samba – monumentos vivos dessa manifestação popular tão importante, marca indelével do nosso país e, particularmente, do Rio de Janeiro. Cantam e contam sobre suas obras e suas histórias. Em grande parte figuras simples e modestas, muitos ainda gatinhando no aprendizado de usos desses recursos de internet que se tornaram imperativos nos dias atuais. Mas, antes de tudo e principalmente: gigantes virtuoses em sua arte.

Tomara que o programa continue – se não continuar, já deu sua contribuição que não pode ser ignorada. Eu e alguns amigos – à distancia – fazemos um coro de assistência e audição. Em torno de um terminal de vídeo. Fogueira do século XXI. Cantarolamos e rimos em nossas casas. Trocamos comentários. Molhamos nossos cantarolares e sorrisos com umas cervejas e, certamente, com uma deliciosa cachaça. A Tendinha segue. Eu paro por aqui, lembrando Martinho da Vila:

“Os meninos à volta da fogueira. Vão aprender coisas de sonho e de verdade. Vão perceber como se ganha uma bandeira. E vão saber o que custou a liberdade. Palavras são palavras não são trovas. Palavras deste tempo sempre novo. Lá os meninos aprenderam coisas novas. E até já dizem que as estrelas são do povo” (À  volta da fogueira - Martinho da Vila, Rui Mingas e Manoel Rui)

Acho muito difícil que alguém que se embale nesse tipo de sonho faça opção pelo fascismo como forma de sociedade ou de liderança política.


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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

E agora, meu chapa?


Opinião


Seu Bozo acabou. O fascismo em que você votou tá aí, mais cagado do que pau de galinheiro. Milícia, queima de arquivos, rachadinhas, empregado dando grana  pra patroa sem ninguém saber a razão, loja de chocolate suspeita de lavagem de grana, fake news,  contas falsas nas redes sociais, atitude genocida frente à pandemia, destruição das leis trabalhistas, fim das aposentadorias, destruição ambiental, ameaças de golpe, o sistema de saúde acéfalo, o ex-piloto do sistema educacional fugiu para o exterior, tentativa de compra de popularidade com abono social, troca de nomes de programas sociais de governos anteriores, cooptação da moçada verde-oliva com cabides de emprego em massa, tentativa de formação de uma milícia nacional com as polícias estaduais e seleção por espionagens criminosas dos policiais que se manifestam como antifascistas. *Obrigado, Centrão!*  Deve gritar todos os dias ao acordar, afinal está se segurando nesse pau melado de lixo e de corrupção. O país apresentado ao mundo como uma caricatura grotesca e medíocre, uma subcolônia do imperialismo americano.

O juiz de primeiro piso – em cuja defesa você saiu em passeatas e manifestações – vem  sendo desmascarado como corruptor da justiça que deveria servir e na qual se apoiou para seus golpes e chantagens eleitorais. Suas sentenças viciadas estão sendo anuladas, uma atrás da outra. Foi descartado  pelo patrão como inservível.  A vassalagem de virar mundos e fundos para retirar Lula da disputa presidencial e a montagem do circo para divulgar a falsa delação do Palocci  em vésperas da eleição não foi suficiente para lhe garantir os cargos prometidos. Desmoralizado está aí, sem escada e com a brocha na mão. Nem mesmo a Vênus Platinada, o instrumento principal e mais eficaz do golpe que derrubou uma presidenta eleita e que se desdobrou nessa podridão de governo,  quer saber de nada com ele.

E o moço do Power Point? Está fugindo com o rabo entre as pernas, com as calças borradas devido ao medo de ser penalizado. Inventou mentiras, tramoias, articulou ações com agências federais do governo americano. Em cumplicidade com o juiz de primeiro piso fez de tudo para fuder a Petrobrás. Comprometer o patrimônio público transformando a empresa de vítima em ré obrigada a pagamentos de multas em ações ajuizadas no exterior. Um acordo lesa-pátria com as autoridades americanas para a repartição do dinheiro das multas provenientes do golpe: R$ 3 bilhões  para os acionistas americanos e R$ 2,5 bilhões para criar um fundo a ser gerido pelos “patriotas” da Vaza-Jato – golpe frustrado - além de outras centenas de milhões de reais para isso e aquilo. A república de Curitiba que fez ironia com a morte da mulher e do neto de Lula agora usa um suposto problema familiar para tentar proteger seu xerife de meia-tigela.

*José (Carlos Drumond de Andrade)*
 ...
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Novas eleições estão aí – vereador e prefeito não mudarão a situação crítica do nosso país. Nem a pracinha bonita da cidade, nem mesmo o prometido posto de saúde, o hospital ou a escola mudarão porra nenhuma, se você continuar bancando o babaca, ignorando o seu papel e servindo de bucha pra essa gente.

Acorda meu chapa! Se o seu candidato a vereador ou prefeito não estiver gritando forte e antes de tudo: *Fora Bozo! Fora Bozo!* Você estará novamente entrando em uma furada!
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