Opinião
Nesse mês
de setembro de 2020 estreou na Netflix um documentário intitulado “O
dilema das redes” que trata dos impactos (negativos) do estado atual de
uso das redes sociais de comunicação e informação e da exploração comercial por
suas administrações. O documentário tem
sido bastante divulgado com as observações de quem o assistiu, e essas notas
são os registros das minhas observações. Trata-se de assunto que tenho
interesse especial e até já tratei aqui, no blog.
O documentário
é muito legal. Conteúdo e forma. O assunto é apresentado com uma qualidade de
produção que seduz o espectador e o faz mergulhar num mundo de especulação e de
imaginação.
O próprio
documentário resgata um aforismo do Arthur C. Clarke (autor de 2001 – Uma odisseia
no espaço): “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível
da magia".
Esse
aspecto, além de incitar nossa especulação e imaginação, também nos posiciona como
objetos de um mundo fantástico que parece estar fora da compreensão do nosso senso comum e da nossa capacidade de intervenção.
Deixa-nos
com a sensação que a única alternativa para fugir de seus prejuízos seria não
usufruir das funcionalidades oferecidas. Esse seria o dilema. Os comentários dos que assistem ao vídeo revelam bastante essa avaliação:
Impressionante! Assustador! Estonteante etc.
De fato, são
situações desafiadoras. Mas, nem por isso devemos alocá-las em planos metafísicos,
olímpicos, inalcançáveis para nós e sujeitos apenas à intervenção de deuses sem
compromissos com os mortais. Daí, para quem assistiu e se impressionou com o documentário
da Netflix, eu sugiro avançar um pouco e assistir à apresentação do professor Marcos Dantas que
teve o título “Economia política da internet”. Link abaixo.
Aviso,
desde já: a apresentação está longe de ter a qualidade de produção do
documentário. Contudo, o conteúdo compensa e talvez até supere o do documentário. Marcos Dantas identifica
as redes sociais, que ele chama de sócio-digitais, à luz da Teoria do Valor segundo as categorias marxistas.
Ele faz uma
breve introdução sobre o modelo marxista de transformação e de circulação de
capital em suas formas dinheiro e mercadoria para, em seguida, abordar a
questão das redes digitais e das apropriações do trabalho humano associadas ao
mundo que vivemos.
A
apresentação é uma aula. Um grande mérito do Dantas é trazer as questões para mais
próximo de nós e, melhor do que isso, desvelar a sua essência. Ele desfaz a
mágica mostrando o que tem no fundo da cartola, atrás das cortinas, dentro do
baú: o modo de produção capitalista, suas
categorias, a prática de uma relação social determinada pela troca de
mercadorias e a apropriação de trabalho alheio, pelo capital, na forma identificada como mais valor.
Antes de
uma fantasia, o que existe são os aspectos conflitantes da dimensão socioeconômica,
numa proporção que desequilibra as identidades naturais da dimensão
sociocultural. E as alternativas de solução estarão sem qualquer duvida na
dimensão sociopolítica. Contudo, ressalte-se, são soluções ao nosso alcance, ao
alcance de nossas escolhas. Não decorrem de um mundo fantasioso, virtual ou
coisa que o valha.
Recorrendo
às imagens do Dantas: se a internet é uma cidade, um mundo, então ela precisa ter
regras como qualquer cidade no mundo. E se as tecnologias estão determinando
serviços que se tornaram essenciais, que não podem sequer ser interrompidos sob
pena de um caos social, então esses serviços devem ser considerados essenciais e
sujeitos a regulamentações.
A
eletricidade, lembra ele, também não era essencial nos seus primórdios, porém hoje
é um serviço de natureza pública controlado e regulamentado pela sociedade com
formas distintas de exploração.
Por último,
para quem não conhece, os atributos curriculares do Marcos Dantas fazem parte
da apresentação. Ressalte-se, também, que no documentário da Netflix há dois ou
três depoimentos da professora Shoshana Zuboff (Harvard Business School), pesquisadora que popularizou
o termo “Capitalismo de Vigilância“, título de um excelente documentário do
youtube, quase integralmente com ela.
No mais,
seria conversar sobre o gênio Karl Marx, mas a conversa seria outra. ###
NOTA
SÁBADO DE
FORMAÇÃO ( Economia política da internet, com Marcos Dantas) – Acesso em
21/09/2020 em <https://www.youtube.com/watch?v=3Jn2GDi6lKg&t=3013s>