sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Não à intervenção militar no Rio de Janeiro


Opinião

A intervenção no Rio de Janeiro não é uma medida contra o desgoverno da segurança pública. Bem antes disso, trata-se de uma reação do governo golpista ao ambiente de manifestações que ocorreram durante o Carnaval em toda a cidade e que superaram todas as expectativas.

Superaram até mesmo a máquina de propaganda oficial, a Rede Globo, através das expressivas, inegáveis e irreparáveis mensagens divulgadas pelos blocos e escolas de samba que não só denunciaram para o mundo, mas traduziram de forma poética e pedagógica a farsa política ainda mantida em nosso país.

A população não ignora a realidade da situação da segurança pública da qual ela é a principal vítima, e sabe avaliar os seus próprios limites, as suas possibilidades e as suas necessidades. Mas, não tenhamos dúvida, ela não é boba. Como em um desfile ensaiado ela aguardou, “esperando pra quando o Carnaval chegar”.

Os golpistas sabem disso ao mesmo tempo em que se aproveitam disso. Sabem que os protestos no Rio de Janeiro ressoam em todo o país, ainda que a revolta política não tenha chegado ao patamar de reversão da ordem e destituição desse governo corrupto e golpista.

A criminalidade do Rio de Janeiro, em que pese a sua realidade, é apenas o mote. O objetivo dessa intervenção é uma tutela militar contra as manifestações que avançam, cada vez mais consistentes, com a palavra de ordem Fora Temer e Fora Todos!

A “segurança pública” será o coro da ladainha repetida pela mídia golpista. Tudo se justificará em nome da busca desse cálice sagrado. Mas, a realidade é que a cidade do Rio de Janeiro está classificada pelos golpistas como “território hostil”. Salvo os que bateram panelas em favor do golpe e pelo retorno da ditadura, quem acreditará em alguma capacidade de discernimento de forças armadas agindo com carta branca onde quiserem e contra quem quiserem? A realidade é que a população do Rio de Janeiro está sendo brindada com mais uma milícia, dessa vez armada até com blindados. Afinal, o Haiti é aqui!

Daí ser importante que em cada espaço, em cada momento em que o discurso golpista for repetido, que ele seja contestado. Segurança pública é o escambau! Essa intervenção visa sufocar os gritos de Fora Temer e Fora Todos! Visa não deixar que eles ultrapassem as arquibancadas do sambódromo. Gritos que ainda ecoam como estribilho de sambas enredos, mas que  trazem consigo o potencial de mobilizações e transformações.

Não à intevenção militar no Rio de Janeiro!


Sobre a anunciada intervenção na segurança do Rio

Opinião

Não nos enganemos - a anunciada intervenção na segurança do Rio decorre determinantemente das manifestações contra o governo Temer e o seu grupo no poder realizadas pela população durante o carnaval em praticamente toda a cidade, no Aeroporto Santos Dumont e carimbadas com um "não" definitivo nos desfiles do sambódromo. É esse potencial de manifestação política, que pode se alastrar como um rastilho de pólvora por todo o país, o catalisador das medidas de intervenção. Será um equívoco achar que as medidas federais decorrem, especialmente, de uma reação aos arrastões nas praias e às balas perdidas e de uma preocupação com a segurança pública. Trata-se, isto sim, de uma autoproteção, uma camisinha política do governo Temer tentando prevenir uma intervenção no seu próprio governo.

O Estado do Rio e a cidade do Rio de Janeiro vivem um caos político e administrativo - isso é um fato. Mas, também é o Rio de Janeiro que - a i n d a - funciona como caixa de repercussão de manifestações políticas. Seria presunção apontar uma causa inicial e exclusiva para um movimento que está em redemoinho, mas não há como desconsiderar que a cidade do Rio de Janeiro vive um potencial de rebelião social e que são as manifestações contra a ordem federal que estão determinando algumas ações, pelo menos as anunciadas.

Crivella não abandonou fisicamente a cidade por burrice, convicção religiosa ou incompetência política. Ele tem uma poderosa força política demonstrada com a sua própria eleição e resguarda-se, como também tenta fazer o seu antecessor, Eduardo Paes. O PMDB, por sua vez, tem dificuldades em sua representação política no Rio. Seu quadro carioca de expressão em Brasília  é o gato angorá, Moreira Franco. O governador Pezão é o que é (ou não é) e o vice-governador Francisco Dornelles já não existe na prática. Os demais quadros partidários são políticos locais, municipais, sem expressão na cúpula nacional do partido. Restaria um quadro aliado mais próximo, de outro partido, o Roberto Jefferson, imobilizado para esse tipo de função. Outros companheiros da aventura golpista do PMDB seriam os relacionados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maias, mas os eventos recentes sugerem que esses atiçam lenha na fogueira do Fora Temer!

Sem quadros de representação política e ameaçado por um abalo na ordem pública, o grupo golpista faz de tudo para garantir o seu projeto, até porque o PMDB já superou há bastante tempo os constrangimentos de realizar uma intervenção em uma unidade federativa que ele mesmo governa.

Nesse cenário, não é absurdo esperar as ações anunciadas apontem, na prática, contra as manifestações políticas. Quem tiver a expectativa de uma repressão à criminalidade urbana que tire o seu cavalinho da chuva, que guarde as suas carteiras e que torça para não ser premiado com uma bala perdida.

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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Cordão do Bola Preta

Leituras para distrair


Parece que eu tava lá! Foi a deliciosa sensação proporcionada pela leitura da crônica do meu amigo Ciro sobre o desfile do bloco Bola Preta (RJ) nesse Carnaval de 2018. Sem mais delongas, compartilho e sugiro a leitura – o texto do Ciro fala por si.


Registro sobre o Cordão da Bola Preta
Ciro Mendonça da Conceição*

Acordei cedo, as usual, dei uma olhada no jornal, comi um pão com queijo e ovo e, antes da mulher (que não gosta de Carnaval) acordar, disse pros meus botões: "vou lá ver o Bola". Saí antes das 9:00 e marchei pra estação do Jardim de Alá.

De cara percebi que estava no contra-fluxo pois centenas de jovens bonitinhos (expressão sarcástica de Darcy Ribeiro) desembarcavam pra brincar nos blocos da Zona Sul. Eu ia em direção ao Centro, rumo à Rua 1° de Março. Desci na Carioca e, antes de chegar, já podia ouvir o ronco dos caminhões de som. Tudo no Bola é grandioso. Seu pelotão de caminhões  é protegido por uma guarda ostensiva. A banda começou com um alegre "Parabéns pra você" em homenagem aos 100 anos do Bola, fundado em 1918. Sua conexão com as massas é permanente porque o repertório é estrategicamente escolhido, a começar pelo hino Quem não chora não mama. As marchinhas são as consagradas Maria Sapatão, Índio quer apito, Cabeleira do Zezé, etc...

As letras e refrões dos sambas enredo são todos de domínio público  =>  Água de cheiro, confete e serpentina, lança perfume no cangote da menina!; Fiquei radiante de alegria, quando cheguei na Bahia, Bahia de Castro Alves e do acarajé; Ô congada, boi Bumbá, ô meu santo, saravá!; Porque meu time, bota pra ferver, e o nome dele são vocês que vão dizer!

Sempre me emociono quando vejo o Bola, talvez porque ele me lembra a geral do velho Maracanã, destruída pelos politicos corruptos. Seus esquálidos centuriões, as capetas sedutoras, seus piratas desdentados do Borel, os carecas barrigudos fantasiados de freirinhas, zorros e políticos de terno com cédulas caindo de seus bolsos, enfim, pura magia, essência da explosiva anarquia criativa que caracteriza essa única civilização multiétnica, a amálgama ibero-afro-índia!! Destaque para os ambulantes que trabalham dançando esparramando contagiante alegria no bloco.

Quando o carro Borduada passou diante da Alerj, a estátua de Tiradentes ficou justaposta, por trás. Por um momento pensei que o Herói da Inconfidência havia subido no caminhão. Tiradentes, o Povo Brasileiro e o Cordão da Bola Preta. Tudo a ver com o Rio de Janeiro!!

Pela 1° vez vi painéis com manifestações críticas do tipo "As igrejas de hoje são uma fraude. Busque Jesus e salve-se do inferno".

A volta pra casa, em torno do meio-dia, foi um sufoco, metrô lotado com a garotada ainda a caminho da Zona Sul.

Missão Cumprida.
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(*)Ciro Mendonça da Conceição
Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense, Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Mestre em Engenharia Civil, área de concentração Meio Ambiente pela COPPE –UFRJ.