domingo, 11 de fevereiro de 2018

Cordão do Bola Preta

Leituras para distrair


Parece que eu tava lá! Foi a deliciosa sensação proporcionada pela leitura da crônica do meu amigo Ciro sobre o desfile do bloco Bola Preta (RJ) nesse Carnaval de 2018. Sem mais delongas, compartilho e sugiro a leitura – o texto do Ciro fala por si.


Registro sobre o Cordão da Bola Preta
Ciro Mendonça da Conceição*

Acordei cedo, as usual, dei uma olhada no jornal, comi um pão com queijo e ovo e, antes da mulher (que não gosta de Carnaval) acordar, disse pros meus botões: "vou lá ver o Bola". Saí antes das 9:00 e marchei pra estação do Jardim de Alá.

De cara percebi que estava no contra-fluxo pois centenas de jovens bonitinhos (expressão sarcástica de Darcy Ribeiro) desembarcavam pra brincar nos blocos da Zona Sul. Eu ia em direção ao Centro, rumo à Rua 1° de Março. Desci na Carioca e, antes de chegar, já podia ouvir o ronco dos caminhões de som. Tudo no Bola é grandioso. Seu pelotão de caminhões  é protegido por uma guarda ostensiva. A banda começou com um alegre "Parabéns pra você" em homenagem aos 100 anos do Bola, fundado em 1918. Sua conexão com as massas é permanente porque o repertório é estrategicamente escolhido, a começar pelo hino Quem não chora não mama. As marchinhas são as consagradas Maria Sapatão, Índio quer apito, Cabeleira do Zezé, etc...

As letras e refrões dos sambas enredo são todos de domínio público  =>  Água de cheiro, confete e serpentina, lança perfume no cangote da menina!; Fiquei radiante de alegria, quando cheguei na Bahia, Bahia de Castro Alves e do acarajé; Ô congada, boi Bumbá, ô meu santo, saravá!; Porque meu time, bota pra ferver, e o nome dele são vocês que vão dizer!

Sempre me emociono quando vejo o Bola, talvez porque ele me lembra a geral do velho Maracanã, destruída pelos politicos corruptos. Seus esquálidos centuriões, as capetas sedutoras, seus piratas desdentados do Borel, os carecas barrigudos fantasiados de freirinhas, zorros e políticos de terno com cédulas caindo de seus bolsos, enfim, pura magia, essência da explosiva anarquia criativa que caracteriza essa única civilização multiétnica, a amálgama ibero-afro-índia!! Destaque para os ambulantes que trabalham dançando esparramando contagiante alegria no bloco.

Quando o carro Borduada passou diante da Alerj, a estátua de Tiradentes ficou justaposta, por trás. Por um momento pensei que o Herói da Inconfidência havia subido no caminhão. Tiradentes, o Povo Brasileiro e o Cordão da Bola Preta. Tudo a ver com o Rio de Janeiro!!

Pela 1° vez vi painéis com manifestações críticas do tipo "As igrejas de hoje são uma fraude. Busque Jesus e salve-se do inferno".

A volta pra casa, em torno do meio-dia, foi um sufoco, metrô lotado com a garotada ainda a caminho da Zona Sul.

Missão Cumprida.
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(*)Ciro Mendonça da Conceição
Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense, Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Mestre em Engenharia Civil, área de concentração Meio Ambiente pela COPPE –UFRJ.

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