Opinião
A paralisação recente dos caminhoneiros trouxe consigo uma reafirmação importante, tão velha quanto o próprio modo de produção capitalista:
A
GREVE É A ARMA DO TRABALHADOR.
Nas relações de produção capitalista e,
especialmente, nas condições de superexploração às quais os trabalhadores
brasileiros estão submetidos, negar a forca de trabalho e interromper a
produção de bens e serviços é o único recurso eficaz de avançar em
conquistas no enfrentamento com a classe patronal e, consequentemente, alterar
para melhor as condições de vida da sociedade brasileira. O patrão sabe muito
bem disso e, ele mesmo, lança mão desse recurso provocando o locaute como
pressão sobre o governo para alcançar seus objetivos. Infelizmente, porém, entre os trabalhadores muitos
ainda hesitam.
O locaute dos caminhoneiros, em maio de
2018, deveria ser visto como didático. Sua principal lição foi mostrar que é possível,
sim, alterar situações que, a primeira vista, parecem imutáveis. No caso em
pauta, os ganhos até foram além das reivindicações que o motivaram.
Em segundo lugar, saltou aos olhos a
diferença no tratamento recebido pelo movimento dos caminhoneiros se comparado
com as dificuldades de outras categorias. A complacência governamental e a
propaganda favorável dos meios de comunicação para com o locaute contrastaram
com o tratamento de outras mobilizações que mal Iniciadas já são criminalizadas
e reprimidas na base da porrada.
Para não ir muito longe, enquanto o governo
esperou concluir a negociações para vir a público declarar que agiria contra a
parcela de caminhoneiros insatisfeita com os termos negociados, no caso dos
petroleiros as repressões contra os grevistas ocorreram com utilização de
bombas de gás nos primeiros minutos das manifestações, com a AGU e o TST declarando
antecipadamente a ilegalidade da greve e ameaçando os trabalhadores com multas
milionárias. Mais exemplos são desnecessários, qualquer leitor que refletir
será capaz de resgatá-los em sua memória.
Outra lição, que não é nova, foi o papel
da imprensa que estimulou uma simpatia da sociedade para com o movimento, ainda
que ela (a sociedade) estivesse refém e sofrendo diretamente os efeitos do locaute
disfarçado de greve. A sociedade e os trabalhadores em geral demonstraram uma
empatia para com o movimento dos caminhoneiros embora esse último, em momento
nenhum, tenha dado qualquer amostra de solidariedade de classe.
Em momento nenhum as empresas ou os donos
de caminhões que terceirizam a condução dos mesmos foram cobrados para melhoria
nos valores de fretes que são pagos aos caminhoneiros empregados. Nem mesmo foram
cobradas melhorias embora nas imagens das TVs o movimento fizesse questão de mostrar
as difíceis condições de trabalho, usando-as para angariar simpatias da
população.
O movimento dos caminhoneiros sequer questionou
a política governamental que submete o nosso país a subalternidade. As criticas
ficaram por conta de outros personagens de fora do movimento. Os caminhoneiros
reivindicaram e conseguiram a redução dos preços a qualquer custo. Foda-se o
resto!
Segundo os jornais, entre outras fontes de financiamento, o governo retirou grana contingenciada
do Fundo de
Universalização das Telecomunicações (Fust) e do Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações no valor de mais de 700
milhões para subsidiar o acordo com os
“caminhoneiros”.
O que se constata é que as oportunidades
que surgiram foram todas aproveitadas em prol de ganhos que beneficiaram
basicamente as empresas de transportes.
Essas observações não visam desqualificar o
movimento dos caminhoneiros, ao contrário, visam qualificá-lo com mais precisão
do que uma genérica “categoria em luta” e, principalmente, extrair aprendizados.
As relações sociais são dinâmicas e os trabalhadores em suas várias categorias continuam
com a necessidade de enfrentamentos com a classe patronal e o governo, independentemente
do locaute que as empresas de transportes de cargas rodoviárias promoveram.
Nós, trabalhadores brasileiros, precisamos efetivamente de uma greve, uma
greve geral, forte, bem mais forte que a de abril de 2017 que, embora forte,
foi insuficiente em seus propósitos.
A luta de classes não é uma invenção
sindicalista, socialista ou comunista. Ela decorre naturalmente de um modo de
produção onde uma classe minoritária patronal explora o trabalho da classe
trabalhadora que é a maioria, onde os chamados lucros patronais se fazem
exclusivamente a custa dessa exploração, logo são classes com interesses
conflitantes, antagônicos, em luta.
Nessa diferença de classes forma-se uma elite
econômica que acumula e detém uma concentração absurda da riqueza produzida
pelos trabalhadores. Com esse poder econômico a classe patronal se apropria e
domina completamente os poderes estatais que deveriam ser públicos - legislativos,
executivos e judiciários e, com tal domínio, objetivando naturalmente
conservar sua posição, ela utiliza tais poderes contra a mobilização dos
trabalhadores, inclusive com instrumentos de repressão violenta, com a polícia
e, se necessário, as demais forcas armadas.
Reverter esse quadro não e fácil, mas
não é impossível. Parece uma contradição, mas o locaute dos donos dos transportes de carga, um
movimento dentro da própria estrutura de poder, nos mostrou isso. Deu-nos lição
e exemplos.
Precisamos de uma greve, mas de uma greve
de trabalhadores. E os pontos nevrálgicos também estão identificados. A
paralisação do transporte de cargas rodoviário é um deles, outro que já
conhecemos e que são de fortalezas difíceis de serem tomadas, é o transporte
público de passageiros, especialmente os serviços de ônibus, trens metro e
similares.
A paralisação dos transportes públicos precisa
ser o piquete especial da greve geral, e devemos tratar isso com clareza. O
piquete é uma proteção do trabalhador contra os constrangimentos aos quais ele
é submetido para ir trabalhar a qualquer custo.
Durante o locaute dos caminhoneiros alguns
transportes públicos foram prejudicados e os trabalhadores foram constrangidos a
buscarem soluções para chegar ao trabalho, mas o cenário de fundo foi uma
compreensão das dificuldades nos deslocamentos provocadas pela paralisação dos
caminhoneiros que funcionou como piquete protegendo o empregado faltante. Essa
foi mais uma lição. Nos principais centros urbanos não existirá
greve se os ônibus circularem. A paralisação desse setor é fundamental. No
mais, é Greve Geral neles!
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