Opinião
Se
nada extraordinário ocorrer no processo eleitoral 2022 até lá, o Brasil elegerá um
congresso majoritariamente fisiológico, com alto grau de corrupção, conservador
e até reacionário em costumes.
Com grande
representação dos grupos patronais e financeiros e sem qualquer compromisso com
as camadas carentes da população, nem com algum projeto de desenvolvimento
nacional, qualquer que ele seja, branco, banco,
bala, boi e bíblia continuarão sendo as representações parlamentares
principais do simulacro de democracia brasileira.
A sequência de fatos
que desembocou na destituição da Dilma, a subsequente prisão de Lula, a farsa da
Lava-Jato, o inchaço de militares em boquinhas na administração pública
federal, as tragédias provocadas pela ocupação de importantes cargos da
administração federal por militares sem a competência para tal, além das recentes
e constrangedoras denúncias sobre o uso de verbas militares – tudo isso desnudou
por completo os corpos políticos das forças armadas e o do poder judiciário.
Exibiu a verdadeira natureza dos chamados suportes dos governos democráticos. E
isso não mudará em decorrência do processo eleitoral.
Será com essas
instituições que o presidente eleito governará, seja ele Bozo ou Lula. A essa altura do campeonato, a disputa
dificilmente incluirá outra terceira via com potencial eleitoral, além das que
já estão apresentadas, seja ela de centro, direita ou até de esquerda.
Há, ainda, outro elemento,
o principal: a população. Esse é um sujeito poderoso e dotado potencialmente de
força política quase insuperável, mas infelizmente ainda inconsciente dela e ainda
muito pouco organizado. O pouco avanço de iniciativas de organização fora das
tradicionais organizações sindicais e partidárias, excluindo o MST, está entre aquelas
que se aglutinam em torno das chamadas pautas identitárias.
Essas organizações
expressam demandas que são aderentes àquelas das populações mais necessitadas,
é verdade, mas isso se dá mais por uma decorrência natural e subjetiva do que
por uma iniciativa política. A nossa precariedade socioeconômica é de tal ordem
que a menor movimentação em prol de melhoria nas relações sociais identifica-se
obrigatoriamente com uma necessidade básica da população carente.
As organizações e
movimentos identitários, em grande parte das vezes, desconsideram a natureza
classista da organização social, e essa prática esconde conflitos reais advindos
das diferenças de classes e que existem até mesmo dentro das próprias organizações
(assunto a ser desdobrado, embora não aqui).
As pesquisas até agora
apontam chances razoáveis de uma vitória do Lula, mas esse quadro deverá ser
alterado significativamente, contra o Lula, com o início da campanha
oficial. Aliás, é impressionante, mas já
há sinais de recuperação do Bozo, por incrível que pareça, até nas avaliações
sobre a sua gestão na pandemia. A vitória do Bozo é uma possibilidade real.
Se aprovado
politicamente por uma vitória eleitoral, o ex-capitão boquirroto terá o caminho
livre para prosseguir em suas práticas e tentativas de destruição do país. Sua
vitória escancarará o país para a barbárie e para a derrubada das poucas barreiras
de proteção e obstáculos que a organização social ainda conseguiu manter mesmo
durante o seu primeiro mandato.
Os seus financiadores
terão a oportunidade de aparar arestas e reorganizar condições de apropriação
das riquezas públicas e entrega ao capital monopolista nacional e
internacional, um projeto que foi frustrado por conta da própria incompetência
da figura que elegeram para representá-los.
É claro que o país não
acabará por conta disso. O Brasil é uma nação rica e com muitos recursos
naturais, em que pese o pauperismo da sua população. Além do mais, a própria
dinâmica da política cria oportunidades inusitadas de transformações que estão
além das prospectivas dos mais competentes analistas.
A oposição ao governo e
regime não será tarefa fácil, até porque as principais forças políticas atuais
assumidas como oposição, ao implodirem as manifestações de rua sob a palavra de
ordem "Fora Bozo!" e optarem por valorizar as articulações eleitorais,
abriram mão de denunciar o caráter criminoso do governo em seu primeiro
mandato. Não terão autoridade política
para contestar um governo eleito num processo que elas foram as primeiras a
validar.
Ainda assim, apesar da
imensa frustração, muitos prosseguiremos organizando ou praticando a oposição.
Mesmo os que se sentirem abatidos e caírem em desânimo participarão de alguma
forma porque atualmente não há como isolar-se politicamente. A vida urbana e até
a vida rural mais afastada sempre estarão em permanente contato com o cotidiano
da política.
Há, também, a
possibilidade do Lula ganhar e não levar. Seria uma vitória eleitoral precedida
de golpe. Essa possibilidade me intriga e, embora seja uma possibilidade de
grandes chances, não consigo especular com alguma clareza sobre as possíveis
decorrências desse fato.
Finalmente, havendo uma
vitória do Lula, qualquer que seja o mérito que se der a ela, será entendida
como uma vitória de oposição que governará em condições muito adversas: sem
apoio parlamentar suficiente; contrariedade das mesmas corporações
econômico-financeiras que derrubaram o governo Dilma em 2016; antagonismo dos
militares; o país numa enorme crise econômica, incluindo o desemprego, inflação
e ascensão de movimentos grevistas; uma máquina estatal corroída e quase
destruída pelo governo Bozo; uma crise internacional imprevisível que inclui
até uma guerra de proporções mundiais entre suas possibilidades. Barra pesada!
Estou entre os críticos
da alternativa Lula. Tomara que esteja enganado, mas acho que o PT será uma
decepção para os seus próprios militantes, especialmente se o nível de
confronto com a direita exigir do partido uma resposta classista. Mas, essa é
uma questão para os petistas, não me
cabe desenvolve-la, cito apenas para
marcar posição. Votarei na candidata Vera Lucia do PSTU, meu partido, uma candidatura
declaradamente socialista e colocada como opção de voto para os trabalhadores.
Avalio que a vontade e empenho dos militantes petistas,
além da representação simbólica do partido estão mais à esquerda do que as
opções e projetos políticos dos seus dirigentes atuais, e não é por outra razão
que se dá a intolerância e o ódio antipetista. O PT é a principal força de oposição eleitoral à situação
política atual e, se houver segundo turno, salvo alguma situação que esteja em contradição
com os meus princípios políticos, votarei na candidatura de oposição que
provavelmente será o Lula.
Assim vejo o momento atual. Mais do que nunca, estou convencido da necessidade de estarmos de olho pregado na realidade. Será ela que apontará caminhos, e o que importará serão as escolhas que fizermos.
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