Curtindo
uma audição do Pink Floyd, no ano passado, 2010, busquei uma informação
adicional na internet e li o artigo “The Wall – uma obra de arte conceitual”.
Estava no site http://whiplash.net/materias/especial/000242-pinkfloyd.html e,
até onde identifiquei, o autor e quem o postou chama-se Erico C. Pezzin.
O artigo,
que reproduzo mais adiante, refere-se ao disco “The Wall”, um álbum duplo
gravado pelo conjunto Pink Floyd e lançado ao final do ano de 1979. Diz-se que
“The Wall” vendeu cerca de 23 milhões de cópias, só nos Estados Unidos, e
estaria entre um dos discos mais vendidos naquele país em todos os tempos.
Guardei o
artigo porque sou um fã da obra The Wall, que faço questão de chamar obra em
vez de disco, e fiquei envolvido pela minuciosa descrição feita pelo autor, um
fã apaixonado, como ele próprio se apresenta.
Nestes
dias, por um motivo especial i, reli o artigo que havia guardado e verifiquei
que continuo gostando dele. Resolvi, então, reproduzi-lo com o registro de
algumas observações sobre o meu encantamento com The Wall e o Pink Floyd.
Eu já era
um fã, não fan – nático, do Pink Floyd quando The Wall foi lançado. Fui um dos
tantos de minha época que se amarraram nas canções “Time” e “Money”, dois
ícones do rock do anos 70, que chegaram ao Brasil antes mesmo de suas belas
companheiras do disco “Dark Side of the Moon”, de 1973.
Soube do
disco The Wall no início de 1980. Ele foi lançado no fim do ano anterior. E naturalmente
tomei conhecimento ouvindo o “Another brick on the wall - Parte 2”, a canção
que ficou conhecida no Brasil pelo apelido: “Hey teacher!”.
Na ocasião
o meu filho mais novo estava ainda para nascer, fato ocorrido em Julho de 1980,
e o mais velho completando 04 anos. Eu tinha acabado de adquirir o meu primeiro
equipamento de som, último modelo da Philips.
Uma
garotada vizinha, onde eu morava, em São Paulo, fazia tocar repetidamente o
sucesso do Pink Floyd a todo volume. A vizinhança ficava puta da vida, mas eu
gostava muito. Na ocasião eu curtia sozinho porque não contava com amigos ou
colegas parceiros que compartilhassem a minha preferência musical.
Busquei
saber mais sobre a canção que era o carro chefe do disco do Pink (Hey
teacher!). Assim, cheguei ao disco ao tal disco “The Wall”, no início ainda sem
compreender o que a banda queria dizer com o tal “muro”. Só me dava conta que
eram rocks lindos. Na sequência comprei o disco, um vinil duplo e, uns bons
tempos depois, já morando em Niterói, conseguiram assistir e gravar o filme
quando foi exibido na TV.
Certamente
os incidentes associados à canção “Another brick on the wall - Parte 2”
contribuíram para a minha sedução. Resultado de uma brilhante sacada comercial
do produtor do disco, a partir da elucubração do Roger Waters sobre dilemas
pessoais, e possivelmente descolada da realidade social inglesa, a famosa
“Parte 2” transformou-se, ironicamente, num símbolo internacional de
contestação, desde que foi utilizada movimento dos estudantes negros na África
do Sul e a conseqüente proibição de execução da música nos anos 80 pelo governo
do apartheid.
Curtir as
gravações do Pink Floyd sempre foi um prazer enorme, mesmo que, a esta altura,
fosse uma banda já desfeita. Assisti e gravei o lindo show do Roger Waters em
Berlim, após a queda do muro de separação das Alemanhas. Tive a oportunidade de
assistir o Roger Waters em março de 2007, na Praça da Apoteose, no Rio de
Janeiro. Ele já com 64 anos, eu ainda com 56. A emoção foi enorme. Outro
guitarrista substituiu o David Guilmour no famoso solo da faixa Comfortably
Numb. Foi um esforço para a emoção não me fazer pagar mico.
Meus dois
filhos sempre gostaram de rock. É possível até que em parte tenham sido
influenciados pelo fato de tanto ouvirem o Pink em casa. Em muitas ocasiões
eram eles mesmos, meus filhos, que colocavam os bolachões na agulha, inundando
o ambiente de rock.
The Wall é
um trabalho especial, destes que vejo e ouço sem cansar, há mais de 30 anos, e
que sempre revela aspectos novos e agradáveis de serem apreciados. Tem
passagens musicais que são reconhecidas logo nos primeiríssimos acordes e que
arrancam aplausos da platéia quando são executados em público. Seus autores
devem se orgulhar muito disto.
Longe de
concordar com todas as manifestações de opinião ou tentativas de elaborações
filosóficas do autor, apresento a seguir o artigo que motivou estas
observações. Recomendo-o como um interessante roteiro para quem quiser assistir
The Wall e curtir um pouco do som Pink Floyd.
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The Wall – uma obra de arte conceitual
Do site
http://whiplash.net/materias/especial/000242-pinkfloyd.html, disponível em
dezembro 2010, por Erico C. Pezzin.)
Muitos de nós,
floydianos, somos fãs do Pink Floyd por causa da voz suave de Roger Waters, dos
ótimos solos de guitarra de David Gilmour, do estilo "dó-ré-mi" de
Nick Mason ou dos lindos acordes de Richard Wright. Admiramos os shows, as
letras simbólicas e progressivas, a incrível capacidade de demonstrar sentimentos
pela música, e muitas outras qualidades mais.
Porém, existe uma
característica no Pink Floyd que poucas bandas possuem, e que atrai milhões de
fãs em todo o mundo: a possibilidade de se envolver com as letras.
E, com certeza, o
álbum THE WALL (e o filme) é o que mais tem essa capacidade de entrar em nossos
corações. Podem chamar isso de alienação, mas, confesso que se eu não pudesse
desabafar às vezes ouvindo aquele solo de guitarra em Comfortably Numb no
último volume, já teria encontrado alguma outra forma menos sadia de acabar, ou
pelo menos de me aliviar das preocupações (drogas, por exemplo).
Alguns podem achar
exagero, outros sabem muito bem do que falo, porque também o fazem. E eu digo
para vocês: se você não entrar na história, não se envolver, o álbum THE WALL
será sempre um simples CD (ou vinil) duplo da capa branca, com
"azulejos" e monstrinhos desenhados e que tem aquela música do
"Hey teacher!". Porém, se você assistir o filme, deixar as músicas
entrarem em seu coração, e passar a enxergar o muro que envolve a cada um de
nós, verá que THE WALL retrata as nossas próprias vidas, nosso sofrimento de
pessoas inteligentes que se importam e sofrem com o mundo que está aí.
Afinal de contas,
aquele filme não é simplesmente uma história baseada na vida de Roger Waters,
pois, se você prestar bastante atenção, descobrirá que essa "autobiografia
incrementada" é apenas um
pretexto para Waters
e, por que não, Gilmour e Ezrin, apontarem tudo o que há de absurdo neste mundo
louco em que vivemos.
SOBRE A INTERPRETAÇÃO
Este texto não tem a
pretensão de descrever tudo o que Roger Waters quis expressar com o álbum e com
o filme, pois talvez nem ele próprio tenha idéia da dimensão que sua obra tomou
e das inúmeras interpretações que podem surgir sobre a obra THE WALL em si. É
apenas uma tentativa de um fã de expor suas idéias, e fazer com que as pessoas
que gostam do Floyd, mas ainda não compreenderam THE WALL, tenham uma idéia
próxima do que ele significa.
Eu não posso dizer
que tudo o que está aqui seja verdade, como ninguém poderá dizer que estou
mentindo; pois esta é apenas uma interpretação pessoal de uma obra muito
complexa e abstrata, apesar de realista.
"THE WALL foi um
álbum incompreendido" Richard Wright
A HISTÓRIA
Na verdade tudo
começou com "Animals", que era uma espécie de pré-THE WAll, onde
Waters, inspiradíssimo no livro de George Orwell "A Revolução dos
Bichos" (para mim o melhor livro que ja li) critíca o caráter do ser
Humano comparando-o a animais, onde tudo acaba como começa: antes os fazendeiros
dominavam seus animais, até estes decretarem uma revolução contra seus donos,
expulsando-os. Eles abominavam qualquer tipo de atitude semelhante a um humano,
lembrem-se "quatro patas bom, dois pés ruins". Depois de muito tempo,
a ganância e o poder sobem às cabeças de seus líderes(os Porcos) que no final
acabam agindo igualmente aos seus ex-donos Humanos e começam a se vestir com
roupas e andar como Bípedes e no final se torna "quatro patas bom, duas
melhor ainda". Então Waters radicalmente desenvolveu sua crítica criando
The Wall.
Uma parte da idéia
surgiu num desastroso show da turnê In The Flesh de 1977 onde Waters cuspiu na
cara de um freqüentador da platéia que invadira o palco. Isso se tornaria um
dos temas do álbum. O desastre do show de 77 acabou virando inspiração para a
monumental turnê de The Wall que aconteceria nos anos de 80/81. O primeiro show
foi marcado por um incêndio logo no inicio quando uma das cortinas acabou
pegando fogo devido aos fogos de artifício que eram lançados.
No ano de 82 o tema
de The Wall ganha um filme com direção de Alan Parker e o ator Bob Geldof no
papel principal. Embora o filme tenha ganhado um bom reconhecimento da mídia,
Waters não ficou satisfeito com o resultado final.
THE WALL significa
"o muro" em português. Este muro é algo abstrato, um sentimento de
angústia que prende nossos corações e nos isola do mundo, nos dando a impressão
de que não existe saída para nossos problemas.
Marcado pelas letras
amargas compostas por Waters, o disco tem uma qualidade sonora marcante, com
destaque para a atuação de Gilmour na guitarra. Está repleto de ruídos, gritos,
vozes, mensagens ocultas, diálogos, faz a alegria daqueles que procuram os
mínimos detalhes.
O grupo começou a se
dissolver com as diferenças que surgiram entre Waters e Wright, causadas pelo
início da paranóia de Waters e pelo consumo de cocaina de Wright. Wright acabou
deixando o grupo, tocando como músico contratado durante os shows.
"As gravações
foram muito tensas, principalmente porque Roger estava começando a ficar um
pouco doido. Já estava tudo gravado quando ele brigou com Rick. Rick tem um
estilo próprio, muito específico para o piano e ele não estava conseguindo
compor nem adaptar com facilidade. Isto é um grande problema quando as outras
pessoas estão discutindo quem fez o que e quem leva os créditos. Roger e Dave
estavam trabalhando como uma dupla, colocando-me de lado. Houve momentos em The
Wall em que os dois fizeram tudo. Rick estava incapacitado e eu não podia fazer
nada para ajuda-los." Nick Mason (baterista)
"Nós tinhamos um
estúdio no sul da França, onde Wright ficava hospedado. Os outros alugaram
casas a cerca de 20 milhas de distância. Íamos para nossas casas de noite e
dizíamos a Rick 'Faça o que quiser, aqui estão as trilhas, escreva algo, inclua
um solo, faça algo. Você tem todo o tempo do mundo para fazer isto.'. Durante
todo o tempo em que estivemos lá, e foram vários meses, ele não fez nada. Ele
não era capaz de tocar nada!" David Gilmour(guitarrista)
"Roger nos
apresentou o álbum em um demo, e todos sentimos que era potencialmente muito
bom, mas musicalmente fraco, muito fraco. Bob Ezrin, Dave e eu trabalhamos nele
para torná-lo mais interessante. Mas Roger e seu grande ego daqueles dias
ficavam dizendo que eu não estava me dedicando o bastante, apesar de não me
deixar fazer nada. A crise veio quando nós todos saímos de férias depois do fim
das gravações. Uma semana antes das férias terminarem recebi uma ligação de
Roger, que estava na América, convocando uma reunião do grupo imediatamente,
onde disse que queria que eu abandonasse a banda. A princípio recusei. Então
Roger disse que se eu não saisse após o lançamento do álbum ele abandonaria o
grupo naquele instante e levaria as gravações com ele. Não haveria álbum nem
dinheiro para pagar nossas enormes contas. Tive que aceitar, tinha duas
crianças para criar. Foi terrível. Agora eu sei que errei, era um blefe de
Roger. Mas eu realmente não quero mais trabalhar com esse cara nunca
mais." Richard Wright (agora ex-tecladista)
Ironicamente ele foi
o único a ganhar dinheiro, já que o custo dos shows era tão elevado que o grupo
simplesmente levou prejuizo. Wright, como contratado, recebeu seu salário e
saiu limpinho.
Foi um verdadeiro
sucesso comercial, permaneceu no topo das paradas americanas por 15 semanas e
levou o disco de platina em março de 1982 por ter vendido um milhão de cópias.
Realmente, Waters fez
de tudo para demonstrar que todos os acontecimentos ruins da vida do personagem
da história (ele adotou o nome Pink Floyd para ele, lembram?) não foram
provocados, mas eram inevitáveis. Coisas que acontecem e existem, e que não se
podem mudar.
Embora no álbum a
idéia que se passa não seja essa, no filme, toda a história se desenvolve em um
devaneio do "Sr. Floyd", sentado em seu quarto e olhando fixamente
para a porta. Sonho esse formado por lembranças de sua vida (péssimas, por
sinal).
Em "In the
Flesh?", nosso herói (interpretado no filme por Bob Geldof) nos convida a
descobrir o que há por trás daquele olhar frio e do seu disfarce
"nazista". E, nessa mesma música, Floyd relembra a primeira desgraça
inevitável de sua vida: a morte de seu pai na 2ª guerra mundial (o pai de
Waters realmente morreu nesta guerra) ainda na sua infância, pelo avião que
aparece no filme e na música.
Guerra é o primeiro
absurdo do mundo retratado na obra, e influenciará a personalidade do menino
Pink para o resto de sua vida. "When the Tigers Broke Free",
"The Thin Ice" e "Goodbye Blue Sky" são as músicas que
introduzem, junto com "In the Flesh?", o tema guerra na história.
Aliás, em
"Goodbye Blue Sky", pode-se notar uma severa crítica ao Governo, mais
especificamente o da Inglaterra. No filme, a bandeira inglesa se transforma em
uma cruz fincada no chão e sangrando, significando que por trás do ideal de
defender a bandeira se esconde a morte. "Foi assim que o Alto Comando
tirou meu pai de mim", diz a letra de "When the Tigers Broke
Free".
Outra influência que
a morte de seu pai trouxe foi a própria ausência deste no desenvolvimento de
Pink. Isso é mostrado na cena em que ele está no parque, sozinho, e encontra um
senhor que lhe parecia simpático. Pede a ele para que o ponha em cima do
brinquedo. Porém, quando Pink pensou que havia encontrado um pai, o homem
rejeita sua mão e empurra-o para longe. Triste, o menino senta no balanço,
sozinho, e observa as outras crianças felizes, brincando com seus pais.
E o muro ganha sua
pedra fundamental, seu primeiro tijolo. Afinal de contas, a morte do pai na
guerra foi para Floyd apenas um tijolo no muro, como diz a música "Another
Brick in the Wall part I".
"The Happiest
Days of Our Lives" e a clássica "Another Brick in the Wall part
II" (quem não conhece "aquela do Hey Teacher!"?), põem em
discussão outro alicerce de nossa sociedade: a educação. Roger Waters define a
educação como uma alienação (representada no filme pelas máscaras com botões no
rosto das crianças), fazendo com que as pessoas, ainda crianças, percam sua
identidade própria e pensem o que o Governo quer que elas pensem. O sarcasmo e
a violência com que os professores tratam os alunos (segundo Waters) na sala de
aula são atribuídos aos problemas que eles (professores) enfrentam em casa com
suas "esposas psicopatas e gordas". No filme, o pequeno Pink sonha em
ver todos os alunos destruindo a sala, queimando a escola e jogando o professor
no fogo, enquanto Gilmour toca seu solo de guitarra. Destruir a escola é uma
atitude própria de quem não foi alienado pela educação, e por isso é contra
ela.
Cabe aqui uma
observação: muitos de nós, fãs do Pink Floyd, não damos o devido valor à música
"Another Brick in the Wall part II", um verdadeiro clássico do rock
mundial. Porém, nunca devemos esquecer que é esta a música mais famosa de nossa
banda. Além do mais, que outro grupo de rock teve a coragem de colocar as
próprias crianças cantando contra a educação? É exatamente esta ousadia que faz
desta música uma das maiores e mais conhecidas do mundo. "Another Brick in
the Wall part II" acabou se tornando um símbolo da revolta. Não da revolta
pura e simples, sem motivo; mas da revolta consciente, de pessoas que não se
acomodam com o que vêem de errado e precisam se manifestar.
Terminada a
observação, voltemos à história.
Outro grande fator
que viria a influenciar a personalidade do menino Pink é a superproteção por
parte de sua mãe ("Mamãe vai te ajudar a construir o muro"),
retratada primeiramente na música "Mother". A infinidade de perguntas
que Pink faz a sua mãe na letra da música indicam a sua dependência com relação
a ela. Waters procurou (como não podia deixar de ser) estender as
características da mãe no filme a todas as mães, usando frases como "Mamãe
vai sempre descobrir onde você esteve", "Mamãe vai checar todas as
suas namoradas", "Você será sempre um bebê para mim", entre
outras que realmente expressam como são a grande maioria das mães.
"Mãe, será que
devo construir o muro?". Aqui já podemos perceber o desejo do menino de se
isolar do mundo.
Ainda em
"Mother", podemos apontar outro tema muito explorado em "THE
WALL": o relacionamento entre homem e mulher. No filme, aparece o
contraste entre o menino curioso, que observa a vizinha trocando de roupa com o
binóculo, e o homem revoltado, que prefere o jogo de futebol (observe que nem
no jogo ele presta muita atenção) do que fazer amor com sua mulher. Quais
seriam as razões que
levaram o personagem
a perder esse desejo de adolescente? Com certeza, a morte do pai, a
superproteção da mãe e a revolta contra a educação podem ser apontados como
motivos suficientes (segundo o autor) para isso.
Com certa razão, devido
ao desinteresse do marido, a Sra. Floyd acaba traindo Pink com um líder
anarquista. No filme, Pink Floyd liga para sua esposa, mas o amante desliga o
fone em sua cara duas vezes. A telefonista diz: "era um homem
atendendo". Depois, naquela animação que aparece no início da música
"Empty Spaces" (uma das melhores introduções elaboradas pelo Pink
Floyd), as flores brigando representam o relacionamento conjugal. No início,
elas se esfregam e se acariciam. Num certo ponto, é evidente a representação
nos desenhos de uma relação sexual (repare como as flores adquirem formas
próximas dos órgãos sexuais). Até que, no fim, uma flor (a que representa a
mulher) acaba engolindo a outra. Certamente, Waters quis com este desenho
estender a característica de traidora a todas as mulheres, assim como ele fez
com as mães e os professores.
Após a festinha que
ocorre durante a execução da música "Young Lust", uma das mocinhas
entra no trailer de Floyd. Era a chance dele "descontar" a traição,
mas isso não aconteceu. Ao invés disso, numa das cenas mais chocantes do filme,
o marido traído põe para fora toda a raiva, quebrando todo o seu trailer em
cima da intrusa. Era uma de sua crises ("One Of My Turns").
Na verdade, o roteiro
do filme não é muito fiel às letras do álbum, pois se as observarmos, podemos
verificar a seguinte sequência:
Empty Spaces fala
sobre a fase pré-adolescente, onde nossos desejos sexuais começam a aflorar. O
espaço vazio a que se refere o título é a necessidade de se relacionar com o
sexo oposto. Estes desejos se aprofundam ainda mais em Young Lust:
"preciso de uma mulher safada...". Enquanto a letra da música sugere
um "grande interesse" de Floyd por mulheres, no filme ele é o único
que não participa da "festinha". Seria só nesta música então que ele conheceria
sua mulher, e não em "Mother".
Todo casamento acaba
esfriando. É sobre isso que fala a letra de "One of my Turns", o
momento onde a rotina toma conta do relacionamento e marido e mulher perdem
aquele amor dos primeiros anos. "Com o tempo eu envelheci, você se tornou
fria e nada mais tem graça". Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se
muito bem pensar que a mulher que aparece falando com Floyd no início de
"One of my Turns" é a sua esposa, e não uma fã ("Este lugar é
maior do que nosso apartamento!").
Bem, seja lá como
for, "Don’t Leave me Now" é a hora da traição e, em "Another
Brick in the Wall part III", Floyd declara a traição de sua mulher como
mais um tijolo no muro, assim como todas as pessoas que o fizeram sofrer:
"Vocês não passaram de tijolos no muro".
Agora o muro está
completo.
A partir de
"Goodbye Cruel World", ocorre uma mudança muito importante no filme:
Floyd, dá adeus ao mundo real, e passa a "viver" no mundo que há
dentro de seu muro, que, no filme, deixa de ser uma abstração e toma forma
"real". O filme entra então numa fase de extremo simbolismo, com
cenas mais loucas e de compreensão mais difícil. A história se desenrola em
duas linhas: a da vida real e a das viagens dentro do muro.
Durante "Is
There Anybody Out There", "Nobody Home" e "Vera",
Floyd fica vagando pelo mundo de dentro do muro. Essa "viagem"
representa um período de reflexão, sobre todos os motivos que deram origem a
cada tijolo. O menino Pink acaba encontrando seu pai morto na trincheira; e a
si próprio, na
idade adulta, no
canto de um sanatório abandonado. Vai à estação ferroviária esperar o trem que
trouxe os sobreviventes da guerra, e não encontra o seu pai. "Alguém aqui
se sente como eu?".
Enquanto isso, na
vida real, ele acaba com todos os pêlos de seu corpo, inclusive as sobrancelhas
! Um momento de extrema loucura.
"Comfortably
Numb" é o cúmulo da tristeza. Sem dúvida, esta música deve ocupar,
juntamente com "Another Brick in the Wall part II", um lugar entre as
melhores músicas do Pink Floyd e do Rock mundial. No filme, há uma mistura
entre cenas do mundo real e o do muro. Floyd está confortavelmente entorpecido
em seu quarto, e é encontrado pelos empresários e companheiros de banda. Os
médicos tentam reanimá-lo com uma injeção ("Ok, é apenas uma picadinha de
agulha!"), ao mesmo tempo em que as péssimas lembranças de sua vida
perturbam a mente do personagem.
Do ponto de vista do
mundo real, a injeção causou efeitos colaterais e não funcionou como devia. Sua
visão ficou turva, teve de ser carregado até o carro que o levaria para o show,
e sentia que sua pele estava derretendo. Do ponto de vista do mundo do muro,
este é um momento em que todas as péssimas lembranças se juntam e pressionam a
cabeça de Floyd, causando uma revolta tão grande que fez sua pele realmente
"derreter" e se descolar do corpo. Tudo isso acontece enquanto David
Gilmour executa um dos melhores solos de toda a sua carreira (se não o melhor),
expressando toda essa revolta de uma maneira enérgica, mas ao mesmo tempo
"bonita".
Nos shows, aquela
esfera espelhada que aparece sempre que "Comfortably Numb" é tocada
representa o desejo de manifestar a revolta a todo o mundo, através dos raios
de luz, e também do solo de guitarra.
Outro momento
importantíssimo da história: Floyd consegue se livrar da sua pele e, por baixo
dela, aparece um uniforme estilo nazista. Percebe-se aí a grande influência da
morte de seu pai na 2ª Guerra Mundial (lembrem-se que foi esta a guerra contra
o nazismo). A suástica dá lugar a dois martelos cruzados, representando o
desejo de se derrubar o muro, ou seja, se libertar das angústias e viver
normalmente.
Aqui você deve estar
pensando: mas não foi o próprio Floyd que construiu o muro para se isolar do
mundo? Por que agora ele quer derrubá-lo?
Para entender esta
aparente contradição, você deve se colocar no lugar da personagem. Você com
certeza não iria querer se isolar do mundo. Floyd também não. Porém, se aqueles
fatos (morte do pai, mãe superprotetora, professor carrasco, traição da mulher)
acontecessem em sua vida, certamente no seu inconsciente haveria um desejo de
se isolar. O muro é construído no inconsciente, e nós só nos damos conta de seu
tamanho quando ele está muito alto. Traduzindo para a linguagem do mundo real,
nós nos isolamos quase sem querer, e só percebemos nosso isolamento quando já
estamos quase sem saída para nossos problemas. Neste ponto, você também não ía
querer quebrar o muro?
Floyd vai para o
show. Mas, em sua cabeça, atordoada pela injeção e pelo muro, o show toma uma
aparência nazista, com braços esticados e tudo o mais. "In the Flesh"
e "Run Like Hell" são as músicas deste trecho, talvez o único momento
alegre do filme, já que é a parte que ilustra a vontade de sair do isolamento e
manifestar os sentimentos. Novamente podemos ver as máscaras de botão no rosto
das pessoas ("É melhor você colocar aquele seu disfarce favorito, com os
olhos cegos de botão..."), representando alienação. Existem duas hipóteses
para explicar o significado das máscaras no show.
Pode ser uma nova
referência aos governos (com Floyd fazendo o papel de "líder
político", alguém como Hitler). Neste caso, o significado da cena seria
que todo tipo de governo pode ser comparado ao nazismo, pois todo governo acaba
alienando as pessoas através da educação e da propaganda. Podemos muito bem
tomar o exemplo do Brasil. Como pode um presidente entregar o seu país ao
capital estrangeiro de uma forma tão grotesca e o povo não fazer nada? Acabar
com a educação e com a saúde e ninguém perceber? Isso pode ser explicado pelo
simples fato de que o nosso povo é alienado, assiste TV demais e acredita em
tudo o que o governo diz através dela. Não se importa com a política de seu
país e ainda acha que só "Fernandinhos" têm a capacidade de governar.
Alienação pura !!!
Waters está
criticando seus próprios fãs. Segundo ele, nós ouvimos suas músicas sem ao
menos saber o que elas significam. É uma grande injustiça, já que a maioria de
nós, floydianos, somos fãs do Pink Floyd justamente por causa das idéias e das
letras. Mas todos nós sabemos que o relacionamento de Waters com seus fãs não
era grande coisa. Além do mais, talvez ele não esteja criticando os verdadeiros
fãs, mas as pessoas em geral que ouvem suas músicas.
"Waiting for the
Worms", além de fazer referência à enganosa propaganda nazista, é o
momento da guerra entre os martelos e os tijolos. Representa nossa luta contra
o isolamento e suas causas. Mas lutar contra este isolamento não é nada fácil.
O muro é mais forte, e em "Stop", Floyd se cansa de lutar. Em seu devaneio,
ele é preso por ser "nazista". Na linha real, o guarda encontra
"Floyd" cansado do show e sentado no canto de um sanitário,
bebericando um pouco da água da privada.
Chegamos à fase final
da história: a hora do julgamento ("The Trial"). No filme, é uma
parte feita com desenho animado, onde cada pessoa que participa da sessão é
representada por um desenho louco. Floyd vira um simples boneco de pano, sem
movimentos, sem vida, ilustrando a sua impossibilidade de se defender das
acusações. É um julgamento tipo "Juízo Final". Podemos ver o
professor (em uma cena, aparece um boneco de uma mulher gorda e feia, a mulher
do professor, que bate no boneco que representa o professor, que por sua vez,
bate no boneco sem vida que faz as vezes de Floyd), a mãe (o abraço dela de
transforma em um muro), a esposa, entre outros.
Floyd é culpado por
construir seu próprio muro. Aquele Juiz que aparece dando o veredicto final
representa a sociedade, o mundo, as outras pessoas. Tanto é que, no final da
música, um grande coro grita: "Derrubem o muro". É a representação da
sociedade. Ela não se importa se os motivos que levaram Floyd ao isolamento são
válidos, se Floyd teve culpa ou não das desgraças de sua vida. O que importa é
que Floyd é um isolado e não pode mais sê-lo. Portanto, o muro deve ser
quebrado. E assim se faz.
"Outside the
Wall" tem um significado muito bonito: trata das pessoas que estão do
outro lado do muro, que amam a pessoa que está isolada, mas não são
"vistas" por esta, e algumas delas acabam desistindo. "Afinal não
é fácil bater seu coração contra o muro de um louco errante."
As crianças no final
do filme representam o que cada um de nós vai fazer após assistir o filme:
recolher tijolos do muro de Floyd e começar o seu próprio muro, ou jogar a
sujeira fora e tentar viver uma vida normal. Você escolhe !
CONSIDERAÇÕES FINAIS
THE WALL é uma obra
de protesto contra o mundo, as suas bases, e as pessoas que o formam. Waters
procurou demonstrar como cada fator influenciou a vida do personagem, e como
pode influenciar a vida de cada um de nós. O Governo e a guerra lhe tiraram o
pai, sua mãe aprofundou seu isolamento com
i O interesse
despertado em resgatar anotações ou registros referentes à educação decorreu da
leitura, em andamento, do livro " A educação para além do capital "
da autoria do filósofo, socialista, húngaro, István Mézáros (Ed. Boitempo), sem
nenhuma relação com o rock do Pink Floyd.
O livro põe em
questão as teses ou crenças que apontam a educação, ainda que com reformas bem
intencionadas, como alternativa de emancipação das sociedades. Alguns trechos:
... Será o
conhecimento o elemento necessário para transformar em realidade o ideal da
emancipação humana, em conjunto com uma firme determinação e dedicação dos
indivíduos para alcançar, de maneira bem sucedida, a auto-emancipação, da
humanidade apesar de todas as adversidades, ou será, pelo contrário, a adoção
pelos indivíduos, em particular, de modos de comportamento que apenas favorecem
a concretização dos objetivos reificados do capital?
sua superproteção, a
escola alienou todos a sua volta, e a mulher o traiu por causa do desinteresse
que, por sua vez, foi gerado pela revolta contra os fatos acima citados. Tudo o
empurrou para o isolamento.
Para Floyd, o mundo
estava errado. Mas para o mundo, quem estava errado era Floyd. Ele era o
isolado, o diferente, o louco.
Quantas vezes isso
não ocorre na nossa vida: enquanto nós podemos ver claramente inúmeros erros
grotescos na sociedade, e nas pessoas, quando vamos falar com estas pessoas
sobre o que está errado, quem acaba se passando por alienado somos nós mesmos.
O próprio Roger Waters foi taxado de depressivo pela crítica por causa do THE
WALL. Isso ocorre pela primeira vez geralmente logo na idade escolar, onde já
podemos enxergar as diferenças entre nossos colegas. Daí, quando nos vemos
diante de um dilema como este, nosso instinto acaba tomando uma decisão, de nos
juntarmos aos alienados ou não. Se o nosso instinto acatar a segunda opção, o
muro começa aí, e só vamos nos dar conta dele bem mais tarde...
Quebrar o muro
significa mudar o mundo, para que não precisemos mais ficar isolados dele. Mas
isso é muito difícil, Floyd não conseguiu. Ao invés de ele quebrar o muro, a
sociedade é que o derrubou. Ter o muro derrubado significa ter suas idéias
expostas e ridicularizadas pela sociedade, a voltar a ser chamado de “alienado”
pelas pessoas que se julgam normais.
A Obra só terminou
realmente com The Final Cut que é mais ou menos os restos de The Wall que Dave
achava desnecessário, que fala mais sobre a Guerra e o sofrimento de Roger pela
morte de seu falecido pai. Mas essa já é outra História.
Então, o que devemos
aprender com THE WALL ?
A verdadeira mensagem
está naquele menino que aparece no final do filme, que joga a sujeira fora da
garrafa: talvez não precisemos nos isolar do mundo para tentar mudá-lo, mas
sim, limparmos a sujeira de nossos corações e seguir em frente. Temos que
quebrar os tijolinhos que aparecem no dia-a-dia constantemente, e não deixar
que eles formem um muro enorme.
E você já reparou
que, com todo o seu sofrimento, Floyd não disse uma palavra contra Deus? Pois
é, se o muro te cerca pelos quatro lados, a saída está lá em cima. Sempre.
Agradecimentos à
"The Wall Home Site" e a Edilson Costa de Castro.
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