domingo, 25 de julho de 2021

Lugares

Opinião

Faz tempo que a militância de esquerda se apropriou da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Foram anos de manifestações que fizeram do trecho “Candelária – Cinelândia” o eixo principal de concentração das manifestações populares reivindicando transformações necessárias para um país melhor. 

A Avenida Rio Branco, uma herança do início do século 20 acabou. Ainda existe, mas acabou. As recentes obras (2016), para melhor ou pior, deformaram a Avenida Rio Branco da nossa geração. O Passeio Público até mudou de nome. Virou Boulevard Luiz Severiano Ribeiro, embora pouca gente saiba disso e embora vá continuar sendo chamado de “Cinelândia” ou “calçadão em frente ao Amarelinho”. 

Mas, tudo indica que uma nova passarela de manifestações vem se formando, o trecho Zumbi – Candelária. Sem paralelepípedos sangrando os pés, uma mocidade disposta e embalada pelas palavras de ordem que sintetizam as reivindicações está construindo um novo marco político na cidade. Desta vez mais próximo da população, na medida em que passa pela estação Central do Brasil. Ironicamente também passa em frente ao Palácio Duque de Caxias, quartel-general do atual Comando Militar do Leste, antigo Ministério da Guerra. 

Alguns de nós já tivemos a oportunidade de desfilar nessa passarela cantando a evolução da liberdade. Não em ofegante epidemia, versos do Chico, mas na luta contra esse governo fascista e genocida que agravou os danos da pandemia aproximando-nos da casa de 550 mil mortos. Famintos de uma vida melhor cantamos e gritamos: “Fora Bozo!” E nos enchemos de esperanças porque esse é um atributo do pensamento revolucionário. A direita é conservadora, distópica e apodrecida. 

Hoje, 24/07/2021 estivemos lá. Ao lado de Zumbi e passando por um Marcilio Dias que olha para Zumbi, parecendo perdido, quem sabe ainda tentando compreender sobre os descompassos dessa nação a quem entregou a vida. Menino marinheiro negro e bucha de canhão das oligarquias. 

Seguimos, então, para a Candelária. Lá, atrás da igreja, na Praça XV, outro marinheiro negro demarca a passarela de lutas. João Cândido está lá. Parece dizer para nós: Não aceitem a chibata! Revoltem-se! 

Ter que passar por isso a essa altura da vida!” Esse é um comentário frequente entre os companheiros de militância com minha idade. Um desabafo que se justifica. Mas, olhamos para o lado e vemos uma molecada saltitando e protestando. Comprovando que “a luta continua!” é bem mais que um refrão de agitação e passeata. Sinto-me feliz por ainda ter energia para ver de perto e cantar juntos esse samba popular: Fora Bozo genocida! ###