Leituras para distrair
A Mona Lisa
fazendo caras e bocas. Essa foi a novidade tecnológica divulgada mundialmente
pela Samsung na penúltima semana de maio desse ano. A notícia veio uma ou duas
semanas após o Museu Dali, Florida (EUA), inaugurar uma exposição onde é
possível interagir com uma animação em vídeo do renomado pintor. Em ambos os
casos os efeitos foram obtidos por processamento eletrônico de imagens com programas
(softwares) usando recursos chamados de Inteligência Artificial (IA). Vale a pena ver os links nas referências. A
novidade da Samsung é que a sua
tecnologia consegue um resultado de boa qualidade usando APENAS UMA IMAGEM de
referência. Até aqui, esse tipo de trabalho tem sido realizado com o
processamento de uma grande quantidade de imagens. As imagens simuladas de Dalí,
por exemplo, decorreram do processamento e combinação de fotos e vídeos antigos
com milhares de horas de entrevistas com o pintor. A solução da Samsung
permitirá simulações de figuras históricas das quais não se dispõe de muitas
imagens (o Dali tem uma porrada de imagens ainda em vida) [1], [2].
O pulo do
gato da Samsung é que ela usa um grande
banco de dados com faces humanas diversas para os programas aprenderem expressões
típicas de pontos significativos da face,
por exemplo: movimentos de lábios, olhos,
sobrancelhas, além de outros. Ela recorreu a um banco de dados público que
contém o registro de milhares de imagens e vídeos de celebridades e desenvolveu
uma espécie de “molde”, que simula movimentos comuns do rosto humano. Então,
sobre o rosto genérico programado, eles inserem a imagem disponível.
Essas manipulações
usando mecanismos e funcionalidades de IA já recebeu um apelido: deepfakes. Como poderia parecer, a expressão “deep”
não decorre do teor das falsificações realizadas, mas dos recursos (deep
learning) dos programas chamados Inteligência Artificial.
Trata-se de
tema com aspectos impressionantes e apaixonantes em suas possibilidades, mas
também apavorantes por alguns de seus usos. Uma reportagem recente noticiou a
criação de um programa IA capaz de redigir textos de forma autônoma, inclusive
com citações e referências altamente verossímeis, embora completamente falsas
[3].
Em publicação
anterior sobre esse assunto, comentei que em algum momento um click coletivo
nos despertaria num mundo novo, como se se tivéssemos cruzado uma barreira de
tempo. As notícias sobre o uso fraudulento da IA nas campanhas eleitorais nos
EUA e no Brasil foram o tal click. Estamos no futuro. Temos a demanda imediata
de resistir e enfrentar certos aspectos desses mecanismos – mesmo sem saber
como – ao mesmo tempo em que temos muito que especular, meditar e trocar ideias sobre eles. Será
preciso deixar a imaginação rolar, buscando respostas que virão em algum
momento [4].
Referências
[1]
“Pesquisadores da Samsung criam deepfakes a
partir de uma única imagem” – Publicado no site ITMIDIA.COM em 27/05/2019 – Disponível em <https://itmidia.com/pesquisadoras-da-samsung-criam-deepfakes-a-partir-de-uma-unica-imagem/>
- Acessado em 31/05/2019.
[2]
“Dali
Lives - The Master of Surrealism is Back” – Publicado por The Dalí Museum , em 26/04/2019.
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=MZ2X-fSIPSU&feature=youtu.be>
Acessado em 31/05/2019.
[3]
“As mentiras profundas”
– Reportagem de Carlos Rydlewsky para Valor Econômico (EU& Fim de semana)
em 24/05/2019 – Disponível em < https://www.valor.com.br/cultura/6272493/inteligencia-artificial-garante-potencial-destrutivo-deepfakes-nova-categoria-das-fake-news>
Acessado em 31/05/2019
[4]
“Inteligência
Artificial” – Blog do jorsan - Disponível em <http://blogdojorsan.blogspot.com/2018/11/inteligencia-artificial.html
> - Acessado em 31/05/2019.