sexta-feira, 31 de maio de 2019

Um click para o futuro


Leituras para distrair


A Mona Lisa fazendo caras e bocas. Essa foi a novidade tecnológica divulgada mundialmente pela Samsung na penúltima semana de maio desse ano. A notícia veio uma ou duas semanas após o Museu Dali, Florida (EUA), inaugurar uma exposição onde é possível interagir com uma animação em vídeo do renomado pintor. Em ambos os casos os efeitos foram obtidos por processamento eletrônico de imagens com programas (softwares) usando recursos chamados de Inteligência Artificial (IA). Vale a pena ver os links nas referências. A novidade da Samsung  é que a sua tecnologia consegue um resultado de boa qualidade usando APENAS UMA IMAGEM de referência. Até aqui, esse tipo de trabalho tem sido realizado com o processamento de uma grande quantidade de imagens. As imagens simuladas de Dalí, por exemplo, decorreram do processamento e combinação de fotos e vídeos antigos com milhares de horas de entrevistas com o pintor. A solução da Samsung permitirá simulações de figuras históricas das quais não se dispõe de muitas imagens (o Dali tem uma porrada de imagens ainda em vida) [1], [2].

O pulo do gato da Samsung é que ela  usa um grande banco de dados com faces humanas diversas para os programas aprenderem expressões típicas de pontos significativos  da face, por exemplo:  movimentos de lábios, olhos, sobrancelhas, além de outros. Ela recorreu a um banco de dados público que contém o registro de milhares de imagens e vídeos de celebridades e desenvolveu uma espécie de “molde”, que simula movimentos comuns do rosto humano. Então, sobre o rosto genérico programado, eles inserem a imagem disponível.

Essas manipulações usando mecanismos e funcionalidades de IA já recebeu um apelido: deepfakes.  Como poderia parecer, a expressão “deep” não decorre do teor das falsificações realizadas, mas dos recursos (deep learning) dos programas chamados Inteligência Artificial.

Trata-se de tema com aspectos impressionantes e apaixonantes em suas possibilidades, mas também apavorantes por alguns de seus usos. Uma reportagem recente noticiou a criação de um programa IA capaz de redigir textos de forma autônoma, inclusive com citações e referências altamente verossímeis, embora completamente falsas [3].

Em publicação anterior sobre esse assunto, comentei que em algum momento um click coletivo nos despertaria num mundo novo, como se se tivéssemos cruzado uma barreira de tempo. As notícias sobre o uso fraudulento da IA nas campanhas eleitorais nos EUA e no Brasil foram o tal click. Estamos no futuro. Temos a demanda imediata de resistir e enfrentar certos aspectos desses mecanismos – mesmo sem saber como – ao mesmo tempo em que temos muito que especular,  meditar e trocar ideias sobre eles. Será preciso deixar a imaginação rolar, buscando respostas que virão em algum momento [4].



Referências
 [1]
 “Pesquisadores da Samsung criam deepfakes a partir de uma única imagem” – Publicado no site ITMIDIA.COM em 27/05/2019  – Disponível em <https://itmidia.com/pesquisadoras-da-samsung-criam-deepfakes-a-partir-de-uma-unica-imagem/> - Acessado em 31/05/2019.

[2]
 “Dali Lives - The Master of Surrealism is Back” – Publicado por The Dalí Museum , em 26/04/2019. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=MZ2X-fSIPSU&feature=youtu.be>  Acessado em  31/05/2019.

[3]
“As mentiras profundas” – Reportagem de Carlos Rydlewsky para Valor Econômico (EU& Fim de semana) em 24/05/2019 – Disponível em < https://www.valor.com.br/cultura/6272493/inteligencia-artificial-garante-potencial-destrutivo-deepfakes-nova-categoria-das-fake-news> Acessado em 31/05/2019

[4]
“Inteligência Artificial” – Blog do jorsan - Disponível em <http://blogdojorsan.blogspot.com/2018/11/inteligencia-artificial.html > - Acessado em 31/05/2019.

sábado, 25 de maio de 2019

O Águia de Haia e o Carcará de Dallas


Opinião

Rui Barbosa gravou seu nome na história política brasileira, mas sua popularização decorreu principalmente da sua atuação na 2ª Conferência Internacional da Paz na cidade de Haia (Holanda) em 1907. Sem ufanismos e longe de qualquer juízo ou endosso da história política do baixinho baiano, ninguém negará a importância e o significado da sua participação na tal conferência onde representou nosso país.

Ao tratar sobre a formação de uma Corte Permanente de Justiça Arbitral que seria responsável pela resolução de controvérsias internacionais, e a qual  estariam submetidos todos os Estados soberanos, Rui subiu nas tamancas e criou polêmica contrapondo-se à proposta de uma corte formada majoritariamente pelas grandes potencias de época. A qualidade da sua intervenção repercutiu internacionalmente e a consistência de seus argumentos custou-lhe antipatias e críticas na reunião. Críticas principalmente devidas ao topete do baixinho folgado que em vez de se por “em seu lugar” ousava questionar os mandatários do mundo de então. Sua argumentação foi de tal valor que os caras optaram por um “cala boca” convidando o Brasil para ocupar um assento permanente na corte que queriam formar. O convite foi rejeitado pelo Barão do Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores. Rio Branco argumentou que aceitar o convite seria negar a tese do delegado brasileiro, e endossou o discurso do baixinho: o governo brasileiro não subscreveria nenhum projeto que ofendesse a igualdade entre os Estados.

Esses fatos estão registrados na historiografia nacional e internacional através das mais diversas referências para quem se interessar por detalhes.

Seja com a tradicional imagem romântica e heroica dos livros escolares, ou com uma realística  imagem crítica e não ufanista de Rui Barbosa, com ou sem distorções nos relatos, os brasileiros estarão à vontade, sem risco de constrangimentos para lembrar, comentar, citar ou até celebrar, se for o caso,  os valores defendidos por seu representante naquele importante fórum internacional. A  valorização da autoestima, do amor-próprio, da altivez, da dignidade e do orgulho da sociedade  brasileira sempre esteve subjacente aos relatos históricos das intervenções de Rui Barbosa em Haia.

Infelizmente, o mesmo não se poderá dizer do papel ordinário, submisso, vil, rasteiro e bajulador do ministro da economia da trupe Bozo, na semana passada, 15 ou 16/05/2019, na cidade de Dallas (EUA). O filtro da mídia tradicional fez passar apenas o conteúdo das posições do ministro que, afinal, não são uma novidade: entregar para o capital privado tudo que os trabalhadores brasileiros construíram a custa de muito suor e luta.

Porém, a mídia alternativa e as funcionalidades tecnológicas atuais permitem que os brasileiros vejam e qualifiquem o papel de quem os representou. A vassalagem foi tão expressiva e deprimente que passa a impressão inicial de uma publicação falsificada. Quem dera fosse, mas não tem edição nem montagens. Está aí pra quem quiser ver e julgar  (link abaixo). Os que imaginavam que ser caricato e burlesco era atributo exclusivo do capitão Bozo, assistam ao ministro que o representa.

Infelizmente, ainda não temos como visualizar a intervenção de Rui que lhe consignou o apelido de Águia de Haia. Quem sabe um dia, com recursos da tecnologia seja possível criar uma representação virtual da sua intervenção. Independentemente disso, ficará o registro desse carcará fedorento e vergonhoso que, em Dallas,  anunciou aos seus pares de rapina a entrega da riqueza nacional como num banquete de carniceiros.

Definitivamente esse projeto não nos interessa. Não se trata de trocar o presidente. Fora todos!


Vídeo copiado da web - sem autorização - Site Focus.jor
Acessado em 25/05/2019

Vamos construir a Greve Geral em 14 de junho de 2019


sexta-feira, 24 de maio de 2019

Aperitivos da luta – Saideira


Opinião

Vamos mudar essa realidade louca e triste que estamos vivendo. Vamos chocalhar a árvore das estruturas políticas. Vamos para as ruas  exigir dos governos – qualquer que seja a sua natureza – a nossa participação através de Conselhos Populares, de plebiscitos  e, especialmente, da participação direta de trabalhadores na gestão das organizações e instituições.

O medo e a insegurança fazem a população tender para as alternativas da direita política. Não ignoramos isso, mas a população não é suicida. A sociedade brasileira percebe a necessidade de transformações, sente na carne.

É natural que a população em seu conjunto reflita as mesmas dúvidas, conflitos e contradições que habitam nossas individualidades. O jeito de superar isso é botando o bloco na rua. Passeatas e greves não representam desordem nem anarquia, são manifestações públicas de vontade da população e dos trabalhadores em geral.  Um modo direto e alternativo de ação política. Único modo de intervir nas decisões dos representantes formais da sociedade, mas que sem essa intervenção – na prática e por razões diversas - acabam representando os interesses  de grupos privados. O resto é aguinha de batata, conversa fiada, blá... blá...blá de whatsapp que não muda nada.

Educação, Reforma da Previdência, Privatização, Discriminações, o trabalhador fica feito cego no meio de tiroteio. Vê grupos esparsos, aqui e ali, chamando-o para a participação e denunciando suas causas. Ao mesmo tempo, ele tem hora certa para pegar no batente ou para chegar  em casa, descansar sair cedo no dia seguinte. Isso quando não tem outro compromisso de segunda jornada. Passa direto pelas manifestações. Enfim, estamos enrolados num conjunto de pautas específicas, identitárias ou locais que acabam virando armadilhas. Claro que elas precisam ser tratadas, mas devem ser  incluídas numa perspectiva de alteração da estrutura política. Não fazer isso é aceitar uma pauta imposta por outros.

Esse cenário de “cada um pra si” é bom para a direita porque despolitiza o tratamento das questões. Daí a importância de uma forte e vigorosa Greve Geral que aponte contra a reforma da previdência, mas que também unifique as lutas. Vamos viabilizar  essa greve tendo em mente que ela será uma etapa de outras muitas mobilizações que trabalharemos para acontecer.

Vamos construir a Greve Geral em 14 de junho de 2019

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Aperitivos da luta – Outra dose


Opinião

A sociedade que queremos será construída e sustentada com o fruto do nosso trabalho, mas também com a apropriação e distribuição das grandes fortunas acumuladas através de lucros indecentes advindos do roubo do trabalho alheio. Governar para todo mundo não significa embrulhar num mesmo pacote os trabalhadores e as grandes corporações garantindo os ganhos dessas últimas.  Sem essa de “carta compromisso” com os donos do capital.  Ao contrário. Vamos é repartir esse bolo!

Estamos tão impregnados da propaganda capitalista que a afirmação acima até soa como anacrônica, mas é atualíssima. A desesperadora situação que vivenciamos não é inusitada nem exclusiva. Ela é a versão brasileira de uma onda que tem caracterizado a ordem política internacional. Nos países centrais e no pós-guerra, as elites que representam o atual sistema de produção até chegaram a acordar algum nível de compartilhamento social de ganhos econômicos. Porém, elas próprias chutaram o pau da barraca e, logo que puderam, mandaram aquele modelo pra casa do chapéu. Retrocedem ao seu projeto parasitário de enriquecimento chupando o sangue dos trabalhadores sem qualquer contrapartida.

A história está aí. A social democracia europeia foi pro cacete. Não completou 80 anos. Ainda não foi extinta porque isso não ocorre da noite para o dia, mas o trato foi desfeito. Ao mesmo tempo, o poder imperial americano faz o que quer. Quem não obedecer toma bomba na cabeça. A rigor, essa lei do mais forte sempre valeu, mas sempre foi disfarçada pelo mito de uma sociedade livre suportada por uma democracia burguesa, ou liberal, como queiram. Ocorre que o mito está sendo abandonado por seus próprios propagandistas.

Por nossa vez, deslocados e retardados no espaço e no tempo históricos, patinamos nessa América Latina, entre ditaduras, torturas e extinção da população considerada inservível. Chegamos tarde para a festa da democracia burguesa que já está acabando enquanto ainda lutamos por direitos sociais primários e ocupando terras em nome de uma reforma agrária que nunca ocorreu, enquanto nossos militantes sociais são covardemente assassinados. Mas, mudaremos  esse quadro. Mais do que mudar governos, mudaremos a classe que está no poder.


Vamos construir a Greve Geral em 14 de junho de 2019

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Aperitivos da luta – Abrindo os trabalhos


Opinião

A reforma da previdência é recheada de aspectos que prejudicam os trabalhadores.  A maioria da população já está convencida disso, por mais que o governo faça as suas farsantes alegações e propaganda. Contudo, essa reforma segue passando por caminhos e ambientes onde não temos voz. Vamos, sim, derrotar essa reforma e imobilizar as ações desse governo, mas levaremos nossa luta para além da reforma. Não nos bastará trocar governantes por representantes mais qualificados, mesmo que representem uma oposição ao projeto atual, se essa troca for realizada  mantendo-se os marcos que determinam o enganoso projeto da democracia liberal.

Não é novidade que o governo atual representa uma elite de indivíduos e corporações para quem trabalhadores e a sociedade em geral são objetos. Para ela, quem não tiver algum valor de uso será excluído. O fato novo é que essa elite já não disfarça mais o seu projeto de exclusão. Mesmo as tradicionais regras e mecanismos que sempre mimetizaram uma república democrática estão sendo jogados no lixo. Os golpes e chicanas institucionais visando a reversão das sucessivas derrotas eleitorais sofridas pela elite são comprovação desse fato. A elite burguesa nacional não teve constrangimentos em atropelar  regras que ela própria estabeleceu até conseguir um resultado favorável com a eleição de uma cópia 1,99 do BozoBoss made in USA.

Aqui e acolá, ambos parecem cômicos e caricatos, mas são adequados aos projetos das elites, cada qual em seu respectivo picadeiro. No caso da trupe Bozo verde e amarela a sua tarefa é tentar destruir rapidamente e a baixo custo, sem a necessidade de prestação de contas, tudo que a sociedade brasileira tem construído com o suor de seus trabalhadores. Se a trupe virar imprestável, seja pelo seu êxito ou fracasso, poderá  até ser descartada pelas próprias forças que a levou ao poder. Para os trabalhadores trata-se de um enorme mal a ser combatido e derrotado. Não nos iludamos. A história está esfregando os fatos em nossa cara.


Vamos construir a Greve Geral em 14 de junho de 2019

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Pãezinhos



Opinião


"Idiotas úteis", "imbecis" e "massa de manobra". O presidente Bozo reagiu assim à greve nacional pela Educação referindo-se aos estudantes, professores e trabalhadores da área que fizeram uma manifestação de repercussão internacional. Sem noção do que estava falando – o que não é uma novidade – o Bozo ocupante da presidência travestiu-se de uma Maria Antonieta tupiniquim.

Se não tem pão, então comam brioches”.  Esse teria sido um comentário da rainha francesa diante das manifestações de uma população faminta que reivindicava pão para sua alimentação. A rainha foi decapitada e entrou para a história como símbolo da futilidade e insensibilidade da monarquia derrubada pela Revolução Francesa em 1789.

Os pesquisadores investigam a autoria real da frase atribuída à rainha que perdeu a cabeça (literalmente). Porém, no caso da antonieta tupiniquim essa dúvida não existirá. A declaração foi registrada por todos os recursos disponíveis da atual tecnologia. "Sorria, você está sendo filmado", e o presidente Bozo vomitou a sua medíocre intolerância para com os “imbecis” que se manifestaram em todo o Brasil no último dia 15 de maio.

Ele estava numa festa em casa dos seus senhores e protegido por uma lambição de adeptos que tentavam uma cerimônia de veneração. O presidente Bozo sentiu-se a vontade para espernear. Afinal, sua festa estava sendo melada pela segunda vez. Na primeira pelas manifestações do prefeito de Nova Yorque que divulgou em seu tuiter - “Se você quer invadir nossa cidade e se gabar de destruir o meio ambiente, ou sobre como você é um 'homofóbico orgulhoso', então os nova-iorquinos te criticarão por essa porcaria” [1] - Agora, contornados os constrangimentos, a água no chope da festa foi por conta das manifestações em defesa da Educação. O presidente Bozo não resistiu. Vomitou sua ignorância, seu preconceito e o seu ódio contra a sociedade que ele deveria representar.

A manifestação do Bozo fez-me lembrar do bispo do Araguaia, Dom Pedro Casaldáglia. Ao voltar de uma viagem à Nicarágua, nos idos de 1986, ele fez uma ode a outro Bozo, de nome Reagan, então presidente do EUA [2]:

“...

É preciso pensar humanamente o mundo. Não banques o Nero.
Não estas filmando, mico das telas. És o mandatário de uma grande nação.
Eu direi ao seu povo que limpe para sempre a merda que a tua bota de cowboy grudou em sua bandeira.
E lhe direi que saiba, quando vota, que pode estar vendendo muito sangue e sua honra.
Embriagastes o mundo de coca-cola, mas resta algum lúcido para dizer-vos não.
O lucro e o poder de suas armas não podem atingir maior valor do que o canto arrebatado de um menino de cor.
...”


Caramba! É como se  Dom Pedro Casaldáglia estivesse falando hoje e para o capitão Bozo, dia seguinte à greve nacional pela Educação.

Não conseguiria fazer uma ode, mas registro minha exclamação: 
Te cuida Bozo fascista. A greve geral já está na pista!



[1]
PREFEITO DE NOVA YORK VOLTA A ATACAR BOLSONARO NAS REDES SOCIAIS - Bill de Blasio afirmou que, se é 'radical' se levantar contra a "ideologia destrutiva" de Bolsonaro, então "somos radicais orgulhosos" – Época – 11/05/2019 – Disponível em <https://epoca.globo.com/prefeito-de-nova-york-volta-atacar-bolsonaro-nas-redes-sociais-23659187> - Acessado em 16/05/2019

[2]
Nicarágua – Combate e profecia – Dom Pedro Casaldáglia – Editora Vozes – 1986 - RJ

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