segunda-feira, 24 de junho de 2019

O discurso enganoso do dono da Band


Opinião


O presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação, João Carlos Saad, em evento recente que a emissora patrocinou para empresários, criticou a atuação da farsa a jato,  especificamente a consequente destruição de empresas junto com carreiras, profissões, nomes e milhões de empregos. O pronunciamento do empresário tem sido enaltecido e divulgado junto com o pacote de notícias sobre o vazamento de conversas que  desmascaram as ações do juiz de primeiro piso e do moço do PowerPoint.

Sem dúvidas é importante que críticas dessa natureza surjam de parte de representantes de setores que notadamente foram parceiros, se não quisermos chamá-los de cúmplices, dessa conjuntura que vivemos. É correta a análise que o empresário faz ao comparar a situação do Brasil com a de outros países cujas empresas participaram do processo de corrupção e nem por isso foram destruídas. O presidente da Band se referiu especificamente ao caso da recuperação judicial da Odebrecht. Contudo, há alguns aspectos do pronunciamento do empresário que são enganosos e que precisam ser avaliados com a crítica pertinente. Pelo menos em três questões, a saber:

Questão 1
Segundo o dono da Band, a elite (empresários) tem elementos para reverter o quadro. Nenhuma das empresas holandesas, japonesas ou americanas envolvidas com corrupção foi destruída. As empresas devem ser tratadas como os hindus tratam as vacas. São sagradas, tem compromisso social.

A afirmação do empresário é incompleta e quase totalmente correta, exceto no caso em que ele aponta os compromissos sociais das empresas. A prática tem demonstrado exatamente o contrário. Não é o caso de esticar aqui, mas qualquer um sabe que no sistema produção capitalista o compromisso da empresa privada é com o lucro de seus proprietários e acionistas. Essa história de compromisso social da empresa é conversa pra boi dormir, ou vaca, sejam sagrados ou não.  Mas, esse não é o aspecto mais enganoso. O aspecto mais enganoso é a omissão do empresário em não apontar a destruição que estamos sofrendo como o resultado de uma ordem internacional que vê o crescimento econômico da sociedade brasileira como uma ameaça. Não estou falando de socialismo nem comunismo. Estou falando de um mecanismo de disputa típico do modo de produção capitalista que busca o monopólio como instrumento de poder. O crescimento econômico da sociedade brasileira representaria a possibilidade de uma perturbação na ordem política e na repartição da riqueza internacional  que não interessa aos grupos econômicos identificados com os países centrais,  particularmente com os EUA. Daí vem a sabotagem que tem como alvo a estrutura política nacional e que promove a chegada ao poder de figuras que assumem a função de destruir por dentro a organização socioeconômica do país e suas possibilidades de crescimento, mesmo quando essa organização se faz nos modos estritamente capitalistas.

Questão 2
Segundo o dono da Band, a empresa (Odebrecht) teve que se corromper para lidar com o monopólio público. A empresa não teve escapatória. O que o empresário privado deveria fazer não negociar?

Essa afirmação do dono da Band é falsa. A empresa se corrompeu porque tinha administradores corruptos e isso nada tem a ver com o monopólio público. A empresa tinha escapatória, sim. Especialmente uma empresa do porte da Odebrecht. Não estamos falando de um Zé das Couves que presta um serviço de pequeno porte e é achacado por um administrador público. Uma nota pública destacada nos meios de comunicação, uma denúncia que fosse. Quem sabe uma declaração protegida por todas as ressalvas necessárias e orientada por assessorias jurídicas milionárias que permitem à empresa uma atuação em âmbito internacional certamente alteraria completamente o quadro. O cenário seria outro completamente diferente. O dono da Band sabe disso. Fizeram isso quando se organizaram para derrubar a presidenta eleita. Ocorre que os administradores da empresa optaram pela corrupção.

Questão 3
Segundo o dono da Band, essa doença não veio do setor privado. Não há denúncias de corrupção da Odebrecht no setor privado.

De fato, a empresa não é intrinsecamente corrupta, mas o dono da Band está subestimando a inteligência da audiência ou dizendo o que ela quer ouvir. Ora, no setor privado as regras tratam tudo como negociação e incluem aí a corrupção se for necessária. A questão da “corrupção” aparecerá sempre na relação com a administração pública porque é dela que se exige ética e de quem se cobra práticas lícitas e transparentes. No âmbito privado as regras são outras. Lá, a corrupção se disfarça em adjetivos glamourosos. A chamada espionagem industrial e comercial se operacionaliza basicamente por mecanismos de corrupção. Gestores que obtêm resultados positivos para os seus patrões são premiados sem críticas sobre suas práticas que são adjetivadas de “expertise”. Outros que não conseguem isso ou, porventura, são suspeitos de favorecerem direta ou indiretamente o outro lado são demitidos. Não existem denúncias de corrupção porque o jogo prossegue sem que ninguém queira mudar suas regras. Imputar ao setor público a responsabilidade exclusiva por uma prática que exige, necessariamente, dois lados é uma desfaçatez, um truque para esconder a responsabilidade de uma das partes e manter vantajosamente o Estado como refém de um estigma, um corrupto incorrigível, um inimigo público em vez de uma propriedade pública.

VÍDEO: Dono da Band critica destruição da economia e de empresas como Odebrecht pela Lava Jato – disponível em:

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Trazer o governo para as ruas


Opinião


Não cobro de ninguém autocrítica ou reavaliações a propósito das revelações sobre as práticas do juiz de primeiro piso e o moço do powerpoint realizadas pelos jornalistas do Intercept. Cada um que faça segundo as suas convicções e valores. Os fatos são claros e não se trata de “minha opinião”. O embuste judiciário é evidente.


A farsa a jato está cagada.  Cagou-se ela própria. Qualquer observador lúcido concluirá que eventuais resultados positivos relativos à corrupção foram efeitos colaterais de outros objetivos. Quem insiste em valorizar esse aspecto faz o papel do menino crédulo e otimista que presenteado com um punhado de estrume vagueia pela casa procurando, em vão, por um cavalo que não existe.

A operação propriamente dita está desmascarada  e revelada como uma trama criminosa. Um plano de quadrilha que, disfarçando-se de propósitos moralistas, contribuiu para o golpe parlamentar destituindo uma presidenta eleita, determinou a prisão política  do ex-presidente Lula sem provas que a justificasse e viabilizou a eleição da trupe Bozo. Não bastasse isso, criou, ainda,  um ambiente favorável para o despertar da direita fascista brasileira. Essa doença crônica que se manifesta de tempos em tempos atrasando os esforços de construção de uma sociedade livre e solidária.

Na sequência dos efeitos da farsa está, também, o espantoso e servil  posicionamento da trupe fardada agregada ao capitão Bozo. Tal e qual uma milícia em âmbito nacional e em conluio com a elite, ela dá suporte para reformas trabalhista e previdenciária que não passam de mecanismos para o aumento da exploração dos trabalhadores brasileiros. Uma trupe fardada que endossa o projeto de entrega das riquezas nacionais ao capital privado sediado no império americano.  Uma servidão de tal ordem que surpreende  até mesmo aqueles  que sempre ressalvaram o caráter “nacionalista” dos golpistas torturadores de 64.

Naturalmente essa indignação não basta para mudar a realidade. A mudança não se imporá pela lógica dos argumentos, mas pela mobilização e arrebatamento dos debates e do próprio governo   para as ruas. Atrás da mobilização é que virão os argumentos, as considerações e a consequente e necessária alteração do quadro. Danem-se os apoiadores desse projeto fascista! Queremos uma sociedade diferente para nós  e para as nossas gerações e lutaremos por ela. Copiando Rosa Luxemburgo: “Tenho uma malfadada ânsia de felicidade e estou disposta a regatear o meu quinhão cotidiano com a teimosia de uma mula”.

O enfrentamento contra a reforma da previdência é necessário e continua.

É urgente organizarmos outra Greve Geral. 

terça-feira, 11 de junho de 2019

Mais do que nunca. Greve Geral neles!


Opinião


As notícias recentes sobre as armações do juiz de primeiro piso com o moço do powerpoint provocam um abalo na estrutura do governo. Contudo, não tenho expectativa de qualquer alteração nos posicionamentos e valores políticos daquela enorme galera que se mobilizou no dia 26 de maio para gritar apoios ao capitão Bozo e ao que ele representa. Simbolizadas pela expressão de um  ódio incontido e doentio ao PT, foram manifestações dos mais diversos tipos de preconceitos e discriminações sociais, além de reacionárias a qualquer proposta mais progressista de organização social.

Também não tenho expectativa que o sistema político responsável por impulsionar com sucesso, até aqui, as manifestações da direita, esteja assistindo de braços cruzados as mobilizações para uma Greve Geral com potencial para ser vitoriosa. Especialmente quando ao mesmo tempo surgem revelações que favorecem um ambiente de mobilização crítica ao governo que esse sistema controla.

Há muito em jogo. A situação política no Brasil é peça importante de uma  disputa internacional de interesses, assim como as manifestações de caráter fascistas que vivenciamos também não são estranhas ao cenário internacional. A moçada que hoje está com a brocha na mão, vendo desmoronar sobre os seus pés de barro os ídolos para quem empunharam cartazes de apoio, não quer saber de reflexões políticas e revisão de seus valores. Ela quer outros suportes, outras justificativas para seus comportamentos reacionários. Quer argumentos para se adornar de verde e amarelo e saír novamente gritando por morte aos que consideram indigentes sociais. Justificativas e argumentos que serão fornecidos pelos mesmos esquemas que funcionaram até aqui  para agitar essas mobilizações. Esquemas que, ao que tudo indica, permanece intocável.

Com essa visão,  é fundamental trabalharmos para o sucesso da Greve Geral. A próxima e outras que precisam vir. Isso significa falar sobre ela em todos os espaços e oportunidade. A nossa tarefa imediata é criar um ambiente que imponha um refluxo nas manifestações públicas da direita. Levar o fascista assumido ou aspirante a um constrangimento que o faça se recolher, a sentir vergonha dos seus valores e calar por conta disso.

Esse projeto não nos interessa. Não se trata de trocar o presidente. Fora todos!

Vamos à Greve Geral em 14 de junho de 2019