Leituras para distrair
Pode ser que você esteja efetivamente conectado às novidades
do mundo contemporâneo, particularmente as decorrentes das novas tecnologias.
Quem sabe, até, olhe com desdém outros,
como eu, que estando ainda atrelados a invisíveis grilhões geracionais atrasam
o passo sem conseguir acompanhar a corrida frenética da humanidade para um
futuro que ninguém discutiu se deveria ser o nosso objetivo.
Pois bem, qualquer que seja o seu grupo, sugiro como
atividade interessante uma visita à exposição no Centro Cultural Banco do
Brasil RJ – CCBB, intitulada “Década dos
Oceanos - I Mostra Nacional de Criptoarte”.
Se buscarmos informações sobre a tal exposição vamos
encontrar a seguinte descrição:
“ Através de 27 artes
digitais, na forma de NFTs “ ... “ A exposição propõe um espaço para o debate
sobre as novas fronteiras da arte contemporânea e apresenta a primeira geração
brasileira de artistas digitais que usam a plataforma blockchain para validação
da sua produção”
Se você entendeu, ponto pra você! Mas eu admito que fiquei
feito um babaca, dado que não me adiantou muito traduzir “blockchain” como
“cadeia de blocos” e muito menos ao saber que “NFT “ significa “ non - fungible tokens” ou “ tokens
não-fungíveis “
A exposição em si é um monte de telas, tipo TVs enormes, com
imagens, a maioria em movimento, representando paisagens ou cenas referentes a
oceanos e coisas associadas. Para o babaca aqui, ou leigo, se quiserem, não
pareceu coisa muito diferente das inúmeras animações you tube que recebemos via
zap, salvo, naturalmente, o gigantismo e a qualidade das produções. Mas, o meu
interesse em nenhum momento esteve atrelado às imagens ou obras. Eu fiquei
invocado com a tal da criptoarte, o blockchain e aquelas coisas “não
fungíveis”.
Até onde consegui saber (passei mais tempo no google do que
na exposição), blockchain refere-se a um conjunto de computadores e de
softwares que formam uma rede com um sistema de processamento, armazenamento e
transmissão de informações em códigos (criptografados), nos quais a segurança das
informações é extremada e garantida.
Essa estrutura já é utilizada entre grandes corporações para
tratar seus negócios e mesmo para o processamento interno de informações. É
essa a estrutura utilizada para as negociações com as moedas virtuais chamadas
de “bitcoins” ou criptomoedas, mas agora estão sendo adotadas para uso em
“artes digitais” e, assim, denominadas de criptoartes.
Uma das características desses mecanismos é que, ainda com
objetivo de segurança, o que circula nas redes não são as informações em si,
mas um código ou senha que representa o conjunto de informações denominado “
token”.
Podendo representar vários dados, o token pode representar um
produto, um serviço, um pagamento, um meio de pagamento, e até mesmo um ativo
economicamente tangível.
Com essa concepção, um vídeo criado por um artista pode ser
representado ou “validado” por um token e circular numa blockchain sem o risco
de ser copiado, garantindo a
exclusividade de sua propriedade e a impossibilidade de replicação da obra. No
limite, sem entrar na discussão sobre o que isso significa em termos de valores
sociais, o uso dessas tecnologias garante até a manutenção do princípio da
escassez da obra.
Um token que represente dinheiro, por exemplo as bitcoins,
pode ser gasto, consumido em partes ou integralmente. Bens com essa
característica na linguagem jurídica são chamados de bens “fungíveis”. Os que
não podem ser gastos ou consumidos, integralmente ou em partes, são os “não
fungíveis”. Os tokens que representam as obras de artes são do tipo “não
fungíveis” ou NFT – “ non - fungible tokens”. Foi essa porra que fui ver no
CCBB.
Buscando saber sobre o assunto, vi notícias que já existem
casos de leilões de criptoartes com peças negociadas no valor de dezenas de milhões de dólares.
Eu não faço juízo sobre valor de produtos artísticos.
Trata-se de uma discussão que foge da intenção aqui. Mas, faço um juízo
negativo da valorização de objetos artísticos
apenas pela condição de serem propriedade exclusiva ou da raridade e
escassez da obra. Acho uma valorização escrota e sem sentido. Não sinto o
constrangimento em expressar: F... -se os que valorizam isso (o “f ...” não é
de fungível).
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EXPOSIÇÃO - DÉCADA DOS OCEANOS - 1ª MOSTRA NACIONAL DE
CRIPTOARTE
CCBB RJ – de 30 de novembro de 2023 a 26
de fevereiro de 2024