sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Gaza - ainda tomando partido

Opinião 


Em postagem anterior, aqui, nesse blog, eu publiquei:

 embora consciente que essa não é a opção política de toda a população israelense, o fato é que Israel tornou-se um estado racista e empenhado numa limpeza étnica cuja vítima principal tem sido as populações palestinas 

Recebi discordâncias dessa afirmação. De minha parte, gostaria sinceramente de estar enganado, e vou além: gostaria que conjuntura política, tão conturbada, afetasse o rumo dos acontecimentos e negasse minhas avaliações. Contudo, até lá eu reafirmo essas avaliações.

No cenário atual eu tenho procurado não ser abalado pelas narrativas e notícias.  Praticamente todas, de um lado e de outro, e também de alguns outros, estão contaminadas de preconcepções, quando não são simplesmente falsas, fakes, montagens oportunas.

Isso não muda fatos históricos já filtrados e reafirmados por suas próprias consequências, entre eles a política que tem sido adotada pelo estado de Israel em relação a população palestina.

O apartheid israelense é uma realidade inquestionável, Gaza e Golan são exemplos vivos (enquanto ainda existirem palestinos vivos) e, a continuar assim, na medida em que a onda fascista mundial, já conhecida no Brasil, contaminou também parte da sociedade israelense na escolha de lideranças políticas, não será absurdo imaginar que os palestinos estão ameaçados de uma “solução final” dado que estão no limite de suportarem a vida em guetos.

 

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Gaza - Tomando partido (2)

Opinião 


A situação na Palestina divide opiniões. É uma pena que tenha sido necessária uma tragédia provocada pelo grupo Hamas contra a população civil israelense para que o mundo dedicasse um pouco de atenção para a outra tragédia que vêm ocorrendo há anos e provocada pelos sucessivos governos de Israel contra a população civil Palestina. A essa altura dos acontecimentos não acho que  caiba resgatar aqui fatos históricos. As fontes são várias e consistentes.

Não há um sistema internacional para a medição e comparação de tragédias. Uma única vida perdida em um conflito é tão importante quanto qualquer quantidade perdida em outra situação. Não há equiparações por relação aritmética, não se trata de conferência de estoques.

Já expressei minha visão sobre o Estado de Israel representado por seus sucessivos governos. Embora consciente que essa não é a opção política de toda a população israelense, o fato é que Israel tornou-se um estado racista e empenhado numa limpeza étnica cuja vítima principal tem sido as populações palestinas. Qualquer que seja a proporção de opinião da população israelense, essa tem sido a pratica resultante de seus governos, todos escolhidos num processo que aquela população aceita como democrático.

Não acho que deveria haver dois estados na região. Até aqui sou adepto da solução de um estado único, laico, multinacional e com direção política determinada por seus habitantes de qualquer etnia ou religião – um cidadão um voto. Obviamente isso significaria o fim do estado de Israel nos termos atuais.

Ao mesmo tempo, não titubeio ao avaliar o ato do Hamas no dia 7 de outubro. Foi um ato violentíssimo e covarde na medida em que deliberou pelo massacre de população civil desarmada. Não, repito, não contaria com o meu voto caso eu tivesse essa opção. Eu não ignoro as justificativas para a atuação do Hamas, e se estivesse por lá, no centro das decisões, eu precisaria escolher. Sorte minha, não estava.

Não caio na armadilha de discutir se é terrorismo ou não. Terrorismo  é uma expressão que nada diz e que serve às circunstâncias. O status quo, os poderes instituídos e vigentes, usualmente denominam de “terrorismo” as ações violentas contra si e lançam mão da consigna: contra a violência e contra o terrorismo – como se isso fosse um dever sagrado e inquestionável. Mas, nunca se dispõem a debater as razões de um ou de outro. Afinal, por que “terrorismo”  ou  por que  “violência”?

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sábado, 14 de outubro de 2023

Gaza - Tomando partido

Opinião 

Não sou um jogador nessa partida, estou mais para espectador, torcedor e ainda meio perdido porque as ocupações do estádio são confusas. Busco o melhor lugar de observação e onde eu possa também manifestar minhas reações, minhas emoções.

Faço questão de ressalvar minha ignorância para aprofundar discussões sobre o que tenho aprendido e avaliado, ainda assim, incluo-me entre aqueles que apostam que a saída para o complexo labirinto de questões na região da Palestina seria a formação de um estado único, multinacional e laico, modelo África do Sul pós-apartheid e baseado na experiência histórica das lutas sul-africanas contra a discriminação racista naquelas paragens.

Isso daria fim ao atual estado de Israel que é incontestavelmente um estado somente judeu e para judeus, assim como a África do Sul do apartheid era um estado de brancos e só para brancos, onde negros eram cidadãos de segunda classe e sem direitos.

Não ignoro que esse tipo de escolha tem contra si um estigma muito forte porque traz embutido o fim do estado de Israel que, mesmo sendo apenas um simbolismo redutor, é dificílimo superar, um obstáculo para fazer avançar qualquer debate. Ainda assim, a solução na qual aposto é a de um estado laico, multinacional e com direção política determinada por seus habitantes de qualquer etnia ou religião – um cidadão um voto.

Essa é uma alternativa tem sido apontada por importantes analistas do setor ainda que seja de difícil de adoção no quadro atual de composição das forças políticas e armadas, mas estou convencido que deveríamos lutar por ela e divulga-la buscando adeptos.

Com um discurso bem mais competente, em artigo recente, Illan Pappé, um professor da Universidade de Exeter (Inglaterra) se expressou assim:

“... há uma alternativa. Na verdade, sempre houve: uma Palestina dessionizada, liberta e democrática do rio ao mar; uma Palestina que acolha de volta os refugiados e construa uma sociedade que não discrimine com base na cultura, religião ou etnia. Esse novo Estado trabalharia para corrigir, tanto quanto possível, os males do passado, em termos de desigualdade econômica, roubo de propriedade e negação de direitos. Isso pode anunciar um novo amanhecer para todo o Oriente Médio... (texto publicado originalmente publicado no  Palestine Chronicle - acesso em 13/10/2023)


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Meus fantasmas

Leituras para distrair 

Gosto de estar com os meus fantasmas. Eles me iluminam, não me assombram Não enchem o meu saco apontando caminhos nem me recriminando pelos percursos que fiz. Fazem-me companhia e com que eu sinta que eles estão na área, comigo.

Sinto saudades, mas já não é mais aquela falta trágica, doída de ferida recente. Hoje é uma saudade suave, consciente que a vida passa, e acabo unindo mundos onde se misturam os meus fantasmas e os queridos presentes. Sou a  ligação desses mundos. Quero continuar assim, entre eles, e do jeito que convivemos até aqui. Virá o dia em que também serei fantasma, não me apoquento com isso, a ideia não tira o meu sono. Quero seguir com a experiência atual, ela me faz feliz.


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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ainda sobre Gaza e a Palestina

 Opinião

Quais  foram os principais objetivos dos ataques do 11 de setembro de 2001 nos EUA? Mostrar que o gigante imperialista, apesar de sua imensa fortaleza, não é inatacável? Forçar novas leituras do contexto geopolítico mundial e denunciar o papel dos EUA? Trazer o medo e insegurança para dentro das fronteiras e lares americanos que se consideravam inatingíveis, o mesmo medo sentido em lares distantes e levados pela política externa americana?

Os ataques foram planejados com antecedência. Certamente também foram avaliadas as consequências adversas para os seus executores e para as populações que diziam representar. Um custo altíssimo foi pago. Vidas.

Os objetivos foram alcançados? Em parte, avalio que sim. Não faço ideia, nem poderia, da relação custo/objetivos, mas certamente há um EUA e uma sociedade americana pós 11 de setembro diferentes. Ambos menos senhores de si quanto às suas possibilidades e isenções decorrentes dos seus atos. Quem sabe, até, menos arrogantes.

Estou vendo assim, por ora, os acontecimentos em Israel e Gaza. Suponho que não haja qualquer reação israelense que não tenha sido prevista pelo Hamas. Salvo, naturalmente, um gesto de busca de entendimento e solução para o conflito, mas esse tem probabilidade zero. No mais, nada será novidade, nem mesmo a extinção efetiva da população de Gaza. O Hamas, por deliberação direta ou instrumentalizado por outras forças políticas, decidiu pagar o preço. Afinal, a moeda é a própria população palestina.

A ação do Hamas promoveu uma aglutinação de apoios políticos a Israel. Agora sem fingimentos, o Hamas deu motivos. Violência injustificável, um ataque armado e letal contra uma população civil desarmada. Então, já não é preciso disfarçar que Gaza é um campo de concentração, a atenção total é sobre as vítimas do ataque.

As narrativas que tenho ouvido fazem parecer que até o último dia 7/10 a vida seguia tranquila e ordeira na região de Gaza, até que um grupo de extremistas resolveu invadir o território israelense com mísseis e tropas armadas assassinando e raptando civis.

No 11 de setembro americano houve algo parecido. Todo o mundo contra Bin Laden! Tudo que foi orquestrado pela máquina de guerra dos EUA foi endossado, justificado, aprovado. Guantánamo, Afeganistão, Iraque. Contudo, também outros fatos ocorreram. O rei foi despido, verdades vieram à tona, a falsa democracia americana já não engana ninguém. Se o mundo ganhou ou ganhará com isso é questão não respondida.

E em Gaza? Estamos no meio dos acontecimentos e a moçada local está literalmente no calor deles. As críticas que ouço ao governo de Israel, em maioria, resumem-se em apontar a culpa do sistema de inteligência israelense por não detectar com antecedência o ataque palestino. Quase ninguém aponta com clareza  a história da permanente e recorrente violência do estado de Israel contra a população palestina, incluindo a manutenção do campo de concentração de Gaza. É como se não existisse uma população palestina que atormentada pela opressão israelense, entre os seus espasmos de reação gerou deformidades como o Hamas.

Nós assistimos em casa, vemos a guerra pela TV, em certos momentos até abaixamos o volume para que o som das explosões não incomode.

 

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Gaza - 07 de outubro de 2023

Opinião 

(Rio, 08/10/2023) - Podemos estar no limiar de uma enorme tragédia. O genocídio da população de Gaza por um proto-fascismo israelense.

Netanyahu conseguiu um grande tento, uma justificativa para a sua guerra étnica. A propaganda israelense provavelmente invadirá as mídias populares no Brasil, mas a realidade permanecerá.

Gaza é um enorme campo de concentração mantido pelo poder israelense e, agora, na iminência de se tornar um campo de extermínio. Tomara que eu esteja errado.

 

Conversas com 3 amigos

[11:43, 08/10/2023] – Amigo 1

Olá Santos. Vc está  certo sobre o que é Gaza. Dá muita raiva ver a cobertura da mídia brasileira e internacional. E a posição dos governos americano e europeus.  E também do governo brasileiro. O cinismo de dizer que não se pode atacar civis, quando Israel não faz outra coisa há mais de  70 anos.

Netanyahu vai fazer uma guerra de extermínio. Mas há uma questão nova: pela primeira vez os combatentes palestinos de Gaza conseguiram romper o muro, entrar em cidades e tomá-las e fazendo reféns israelenses. Esse fato é uma derrota para Israel e expressa o fato de que a moral do exército de Israel está mais baixa do que se esperava.

 

[11:54, 08/10/2023] jorgedesouzasantos:

Estou entre aqueles que pensam sobre qual o propósito estratégico do Hamas com esse ataque. Não sei avaliar nem consigo especular.

 

[12:01, 08/10/2023] – Amigo 1:

Na verdade, acho que o Hamas segurou o mais que pôde a raiva dos habitantes de Gaza. Mas o que pode ter levado a essa incursão são os acordos em marcha entre países árabes e muçulmanos para reatar relações e normalizar o status quo de Israel e da limpeza étnica com a manutenção do campo de concentração de Gaza. Arabia Saudita está em tratativas para fazer um acordo. Alguns estados do Golfo já fizeram. Isso significaria cirtae (*?*) ainda mais os apoios que o Hamas ainda tem.

 

[08:12, 08/10/2023] – Amigo 2:

Foi o que me veio à cabeça ao ver a notícia. O massacre da Faixa de Gaza.

O Jornal Nacional foi uma vergonha. O assunto dominou o tempo todo com a visão de Israel e de sionistas. Foram várias reportagens em Tel-Aviv, Londres, Brasil, etc. Depoimentos de brasileiros residentes em Israel (judeus, claro), inclusive um personagem ferido.

Mostrou com detalhes um prédio em Israel atingido, com marcas de queimado e depoimento.

Várias vezes apareceu um prédio grande sendo destruído totalmente, cena de demolição, sem qualquer comentário, sequer informando onde era. Apenas na última reportagem foi dito que era em Gaza e que a destruição foi represália.

No final, teve um rápido depoimento de um palestino brasileiro. A última reportagem foi a única não tão tendenciosa.

Eu me pergunto quais foram o objetivo e a estratégia do ataque?

Entendo que o contexto é ruim para os palestinos. Mas a ação me parece suicida. É certo que vai haver represália em grau máximo. O que será conquistado pelo Hamas? Maior apoio entre os sobreviventes?

As forças de defesa de Israel vão sair chamuscadas desse episódio .

Falharam muito em não prever nem neutralizar de imediato. É o maior gasto per capita, vivem se jactando de ter alta tecnologia (e têm mesmo, mas ...). E o massacre que deve vir vai ter cores nazistas. Mais do que já tem.

 

[00:37, 08/10/2023] – Amigo 3:

Caro Jorge, discordo em todos sentidos.

Sempre fui a favor de duas pátrias, mas os palestinos nunca as quiseram.

Depois de ontem, não mais!

Se houver qualquer revanchismo, aquilo que vc chama de extermínio, ele se deverá unicamente aos que se comportaram a vida toda como terroristas.

Para melhor conhecer os meandros dessa guerra sem fim e aumentar o seu vasto e bom conhecimento,  aconselho assistir o filme Golda, hoje ainda em cartaz.

Nunca a frase dela abaixo foi mais atual. (“ _Se os palestinos baixarem as armas, haverá paz. Se os israelenses baixarem as armas não haverá mais Israel_ “)

 

[11:50, 08/10/2023] jorgedesouzasantos:

Oi amigão,

Não vejo a vida em duas cores, felizmente. Tento compreender a complexidade e as nuances das situações e relações sociais. Não tenho a presunção de imaginar a agonia da moçada que está nesse momento recebendo bombas na cabeça, mas penso nela. Assim como não deixo de pensar no inferno da vida da galera que vive sufocada pelo estado de Israel  na região que os interesses de corporações capitalistas chamaram de Palestina. Podemos elaborar interpretações dos fatos históricos, mas os fatos estão aí, inquestionáveis. 

Uma onda fascista se alastra pelo mundo, esse é um fenômeno do nosso século, e em algumas partes desse mundo ela entra em fase com situações vigentes. Reforça-se. É o caso, infelizmente, da situação em Israel, Netanyahu e asseclas, levados ao poder por escolhas eleitorais. Sabemos o que é isso.

Este cenário e os fatos históricos é que me trazem a expectativa da tragédia. A tentativa de limpeza étnica praticada por sucessivas lideranças israelenses é um dado da realidade, ao mesmo tempo em que uma população inteira foi deixada ao “deusdará” pelas grandes principais forças políticas internacionais. No mais, embora eu não endosse práticas e eventos, o que vemos é a galera palestina tentando resistir. Não justifico. Uma única vida não justificaria tudo que tem ocorrido e que temos assistido.

Estou entre aqueles que perguntam qual terá sido o objetivo dos ataques do Hamas, e também entre aqueles que veem nos fatos uma oportunidade para Netanyahu justificar e levar adiante sua guerra étnica. Gaza tem chances enormes de se tornar um campo de extermínio. Triste! Reitero o que disse antes, tomara que eu esteja errado. Abraços. ###

 

[12:22, 08/10/2023] – Amigo 3:

É importante lembrar que Gaza, assim como toda a península do Sinai, essa em passado mais distante, estavam ocupadas (ganhas como resultado de uma guerra ) por Israel e depois foram devolvidas aos egípcios e palestinos com a intensão de haver uma paz permanente na região.

Nada disso deu certo e mesmo com esses territórios serem ganhos em guerras da qual Israel foi provocada e não a iniciou.

Essa ideia fixa dos palestinos do Hamas de exterminar Israel e recusar-se a negociar a paz entre eles só levará mesmo a uma grande catástrofe de ambos os lados, sendo que os maiores prejudicados serão aqueles de menor poderio bélico, infelizmente.

Essa ideia de extermínio, expressão que só é empregada de um lado e claramente proclamada pelos terroristas que Israel não não deve existir.

Matar a sangue frio mais de 200 pessoas, em sua maioria estrangeiros que participavam de uma festa rave no sul de Israel, bem demonstra de que lado vem a intenção de extermínio. Por isso deve-se usar essa expressão com parcimônia e com um melhor conhecimento da situação.

Por que será que dos 7 países árabes no entorno de Israel nenhum deles aceita fornecer um mm de seu território aos palestinos?

 

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