terça-feira, 31 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (12)


Opinião


Estou entre os emocionalmente abalados com essa crise do coronavirus. Mas, não desesperado. Qualquer sentimento de autocomiseração é logo afastado quando levanto o olhar do umbigo e me dou conta dos tantos que não têm o mínimo de suporte e condições para atravessar essa crise. Ainda assim, vendo os prognósticos de alguns especialistas sobre as possíveis decorrências dessa situação, mesmo as otimistas, isento de alarmismos e de supervalorização do caos, sinto-me triste.

Minhas angústias não passam pelo risco, no meu caso relativamente grande devido à idade, de uma eventual contaminação. Pretendo ainda viver mais um tanto, mas me considero no lucro em termos de longevidade. Uma premissa que me permite encarar e tratar o risco com naturalidade, sem negar o cagaço nem a insegurança.

Contudo, penso nas outras gerações e, sem falso altruísmo, penso nos mais próximos. Meus netinhos  também estão vivenciando o afastamento social. Protegidos na medida do possível, mas sem fazer ideia do que está ocorrendo, em que pese as proteções que privilegiadamente eles podem desfrutar, não compreendem porque, de uma hora para outra, foram levados a um confinamento domiciliar e apartados do mundo que para eles não tinha limites.

Alguns especialistas alertam que não voltaremos à sociedade que deixamos antes do isolamento. Compreendo essa avaliação, mas  não penso nela como inusitada. Afinal, “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio” – reflexão heraclitiana acertada e elaborada desde 500 A.C. Tudo flui, e assim como a sociedade pós-isolamento será outra, os meus pequeninos também já não serão os mesmos pequeninos. Mas, o vovô aqui gostaria que essa nova sociedade não fosse determinantemente distópica. Mas, uma sociedade com um mínimo de oportunidades para que eles possam projetar os seus sonhos e viverem os seus momentos de felicidade enquanto tentam construir o melhor para suas vidas.

No mais, sigo puto da vida, submetendo-me ao necessário afastamento provocado por esse sacana desse bichinho que não mede mais do que 0,0000001 metros. Controlo minhas vontades, meus desejos. Abraçar, beijar, cafungar e cheirar meus netinhos. Sempre fiz esse exercício de tentar deixá-los impregnados com a lembrança do meu cheiro (bom ou mau). Uma lembrança inconsciente porque aquelas conscientes serão naturalmente esquecidas com tempo.

Será pensando naqueles pequerruchos  e em nome de um futuro desejado melhor para eles que mais tarde cumprirei uma obrigação. Irei pra janela me manifestar contra esse grupo de filhos das putas que louvam os torturadores e assassinos que praticaram o golpe civil-militar de 31 de março de 1964 implantando uma ditadura em nosso país. Não passarão!
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segunda-feira, 30 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (11)


 Opinião


Se forem mantidas as tendências, daqui a dois dias, no dia primeiro de abril, o Brasil contabilizará cerca de 5000 infectados e mais de 200 mortos pelo coronavírus. São números que refletem os casos  oficialmente confirmados, mas há estimativas, não oficiais, de quantidades maiores.

Um ex-ministro da saúde, médico sanitarista e atualmente pesquisador da Fiocruz, exemplificou a gravidade do quadro. Segundo o médico, nos meses de fevereiro e março nos últimos anos, em todo o país, tem sido de 250 casos a média de internações diagnosticadas como pneumonia viral. Já em fevereiro e março de 2020, antes mesmo do término de março, o registro era de 2250 casos. Certamente, afirma o médico, muitos dos casos decorrem do coronavírus sem estarem contabilizados na quantidade total de infectados.

Ainda assim, a quantidade de casos prosseguirá em curva ascendente e a tendência da situação, nesse momento, é ainda de se tornar mais grave até que apareçam resultados das medidas que estão sendo adotadas.

 Os relatos sobre os óbitos são tristes. Os procedimentos fúnebres precisam ser agilizados, o tempo para as cerimônias é reduzido e pré-determinado e o número de presentes limitado em torno de dez pessoas, São condicionantes impostos para reduzir as chances de novas contaminações.

Mais doloroso ainda, é que os casos fatais são tipicamente de idosos já com alguma fragilidade de saúde e com vida recente dependente do acompanhamento por familiares. Contudo, a porra da contaminação pelo coronavírus impõe o isolamento dos pacientes graves, sem qualquer contato com a família, mesmo nos períodos derradeiros de vida. As mediações desses pacientes com o mundo exterior tem sido realizadas pelos agentes de saúde que acabam absorvendo uma carga emocional para a qual não estão preparados, tornando-se eles próprios vítimas colaterais da situação.

Sinto como se estivéssemos nessa situação há uma eternidade, mas sei que infelizmente ainda é cedo para prognósticos. O afastamento social é uma necessidade e não dispomos nesse momento de alternativa melhor, embora a namoradinha do Brasil classifique como “egoísmo”. Atual secretária de cultura do governo federal, ela faz coro ao chamado imbecil para o suicídio que o ex-capitão boquirroto vem promovendo. Parece que a namoradinha resolveu responder ao grito de Cazuza: “Brasil, mostra sua cara!”  exibindo ela sua verdadeira cara e seus valores.

Em vez de chamar as pessoas para as ruas, esse povo que votou no fascismo e que ainda não se arrependeu poderia muito bem organizar uma festa e confraternizar, juntinhos, bem próximos, como uma demonstração de confiança em suas teses. Poderia juntar suas panelas e armas, abraçar-se e dançar coladinhos ao som das marchas militares que tanto apreciam, num grande baile celebrando sua mediocridade e estupidez. Quem sabe, na baía de Guanabara, naquele palácio bonito da Ilha Fiscal. Aliás, o nome original da ilha Fiscal era ilha dos Ratos.

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domingo, 29 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (10)


Opinião


Hoje é domingo e mesmo que o dia peça um cachimbo para relaxar, isolado e com os serviços de entrega abarrotados de solicitações, nem mesmo tenho a quem pedir. A necessidade impôs uma ida ao mercado que fiz cercada de precauções, e no caminho fui pensando com os meus botões. Porém, sem qualquer criatividade, minhas reflexões não foram além do que deve estar na cabeça de milhões de pessoas no Brasil e no mundo: até quando vai durar essa merda?

Engraçado é que comecei a escrever esse texto, sem uma ideia completa de onde chegaria, mas minha diretriz era não gastar letras com referências ao ex-capitão Bozo e sua trupe. Afinal, tenho feito isso em outros textos. Mas, fui traído pelo subconsciente.  Até quando vai durar essa merda?

Na rua e no mercado achei as pessoas menos tensas, mais relaxadas, diferentes dos primeiros dias de isolamento. Lembrei do fotógrafo Sebastião Salgado, esse profissional especial que tem registrado e divulgado para o mundo tanto as atrocidades praticadas pela humanidade entre si, como as maravilhas naturais do planeta.

Em entrevista que não tenho como resgatar, Salgado foi questionado  sobre as coisas que mais o impressionaram em suas experiências. Segundo ele, entre outras ele se impressionava com a capacidade de adaptação do ser humano. Ele já tinha visitado acampamentos e cidades que viviam horrores inimagináveis, contudo, ainda assim, as pessoas buscavam alguma maneira de auto-organização  e de tocar suas vidas, mesmo que viver não fosse além de sobreviver.

O fotógrafo relatou que viu cidades (acho que se referia à Guerra da Bósnia) onde o genocídio era a prática corrente, e ainda assim as famílias tentavam levar suas vidas, indo fazer compras e desenvolver outras atividades . Até as crianças iam para as escolas, num cenário onde podiam ser assassinadas ou assaltadas e estupradas por um vizinho. Nunca esqueci esse depoimento.

Essa vontade inquebrantável de viver é uma característica do ser humano. Naturalmente não estou fazendo qualquer comparação de cenário entre a experiência que estamos vivendo com o coronavírus e aquelas registradas pelo fotógrafo, mas é interessante observar que vamos nos ajeitando, nos arrumando.

Esse comportamento não deve ser interpretado como indiferença, ao contrário, é justamente devido à sensibilidade à dor que vamos adotando uma indolência que nos permite suportá-la. Até onde eu sei, os faquires praticam exercícios que os permitem, por vontade própria, alcançarem um estado de indolência física. Parece que em certas circunstâncias os seres humanos em geral são levados inconscientemente a um plano de indolência social, talvez como forma de sobreviver e conseguir superar seus sofrimentos. Trata-se, acho, de uma característica que se desenvolve de forma distinta em cada um de nós. Em alguns ela se desenvolve como fé religiosa, não é o meu caso. Eu tenho esperanças.  

Hoje é domingo e pede cachimbo, mas optarei por uma cachaça e prosseguirei com minhas divagações esperançosas. Superar essa etapa e prosseguir buscando um mundo melhor. Com o mesmo sonho lírico de Riobaldo nas grandes veredas:

“ Para que eu carecia de tantos embaraços? Pois os próprios antigos não sabiam que um dia virá, quando a gente pode permanecer deitada em rede ou cama, e as enxadas saindo sozinhas para capinar roça, e as foices, para colherem por si, e o carro indo por sua lei buscar a colheita, e tudo, o que não é o homem, é sua, dele, obediência?”

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Nota:
O destaque da fala de Riobaldo eu copiei do livro “A Foice e o Robô: As Inovações Tecnológicas e a Luta Operária” - autor Eduardo Albuquerque – Ed. Página 7 – SP - 1990.

sábado, 28 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (9)


Opinião


A natureza não está dando mole para a humanidade. Mas, não se pode dizer que fomos pegos de surpresa. As possibilidades de uma pandemia como a que estamos passando já foram apontadas por especialistas. Há vídeos sobre o assunto na web com premonições tão acertadas que até superam fantasias e ficções.

Diferentemente do  tsunami no Japão, em 2011, quando a natureza se manifestou com uma fúria incontrolável, sem dar qualquer chance de reação, nesse caso do coronavírus a humanidade teve e tem chances de reagir à adversidade natural. Os mecanismos de enfrentamentos além de serem possíveis e realizáveis, estiveram e estão condicionados quase exclusivamente à decisões políticas, ou seja, à escolhas sobre o modelo de organização social que os grupos humanos preferem adotar.

Ainda assim, mesmo que as melhores escolhas não tenham sido feitas, temos a oportunidade de mitigar os efeitos da pandemia e de corrigir aquelas opções. Isso significa, na prática, distribuir uma acumulação indecente de riqueza e recursos e significa, também, assumir práticas solidárias,  estabelecendo para os tempos futuros um acordo social que se contraponha ao modelo atual. Um modelo que se mostra frágil e incompetente nesses tempos de necessidades globais, tempos de crise. Então, temos escolhas.

Busquem nas agências de notícias internacionais. Não é preciso recorrer aos jornais de esquerda e sites socialistas. Busquem nas agências tradicionais e vejam a situação dos EUA e a zona total que está rolando por lá. Sem um sistema de saúde pública sob o controle e coordenação estatal, as autoridades americanas não conseguem sequer confirmar a quantidade de infectados cujas estimativas já ultrapassam 100.000 mil.

O governador do estado e, particularmente, o prefeito da cidade de Nova Iorque não saem da televisão. Ambos estão com um pau no cú  tentando explicar o que  vão fazer diante de uma situação que exige em uma estrutura pública de saúde, mas que está montada em bases exclusivamente privadas, o serviço de saúde mais caro do mundo.

Há o relato da BBC News de um sujeito que retornou da China e temendo estar contagiado foi a uma sala de emergências em Miami. Lá foi diagnosticado com resfriado comum e teve prescrições médicas. Duas semanas depois recebeu notificação que devia mais de 3 mil dólares ao hospital. Aí o sujeito adoeceu de fato!

Caricaturas a parte, certamente os EUA encontrarão suas saídas. Afinal, trata-se de uma sociedade rica, uma riqueza acumulada a custa de guerras e da exploração de outros países, diga-se de passagem. Assim, eles já estão comprando médicos e enfermeiros. O Departamento de Estado americano está oferecendo visto e contratação para os profissionais de saúde tratarem da pandemia coronavírus. Vejam cópia de matéria da revista Época, de hoje:

 “ ...  A notícia provocou o temor de que os EUA estejam tentando tirar médicos de países que já estão sofrendo com a pandemia do coronavírus e poderiam ficar sem mão de obra qualificada em um momento de extrema necessidade..”

Avaliando esse cenário é pertinente perguntar: e em nosso pobre Brasil, que escolhas faremos?  

Estamos como uma nau de insensatos. Um sequelado na direção do país e uma corja que o cerca tentando levar-nos para um caminho cujo único destino é a barbárie. Para esses filhos das putas a sociedade brasileira não passa de  ratos e crianças, e assim como o flautista de Hamelin querem guiar-nos  para o suicídio ou aprisionamento.

É mais do que hora da galera que elegeu esse pulha repensar suas escolhas. É preciso e possível mudar. A natureza e a história estão nos dando essa chance.


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sexta-feira, 27 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (8)


Opinião


Por cacoete de formação, passei a registrar os números oficiais de infectados e mortos pelo coronavírus e a construir meus gráficos e linhas de tendências. Sei que os números reais distanciam-se dos oficiais do ministério da saúde, mas contento-me com esses últimos. Algumas revistas e jornais têm publicado gráficos da evolução da pandemia através dos quais é possível comparar sua evolução no Brasil com a Itália e o mundo

Naturalmente quaisquer comparações precisam ser cuidadosas, relativizadas, contextualizadas, evitando-se conclusões falsas e até absurdas. Então, mesmo feitas todas essas ressalvas, os números assustam. Uma relativização não elaborada, mas simples, é analisar a evolução de casos em quantidade de dias a partir do primeiro dado registrado. Por exemplo, no Brasil, 25 dias após o primeiro caso de contaminação, são contabilizados 1128 casos. Na Itália, após 25 dias da primeira contaminação a quantidade de infectados era 59.138. Já a quantidade de mortos 9 dias após a primeira morte registrada, no Brasil são 77 casos e na Itália foram 79. Hoje, na Itália, passados 32 dias da primeira morte registrada, o número de óbitos é de 8.215 casos numa população de 80.589 infectados..

Esses números só não assustam os que forem insensíveis qualquer que seja o caso ou ignorantes que não conseguem elaborar um mínimo de projeção sobre as possibilidades (não certeza) de evolução da pandemia. Entre os primeiros estão alguns que compreendem o quadro, mas, insensíveis, atuam maliciosamente valorizando exclusivamente os seus interesses. Entre os últimos estão aqueles que potencialmente podem ser utilizados como massa de manobra pelos primeiros. Sem generalizações, quem quiser saber dos primeiros busquem os empresários que estão colados nas teses da trupe Bozo, além do próprio líder da trupe. Já a massa de manobra está entre aqueles que apesar, de tudo, seguem apoiando o presidente Bozo , ele próprio, um vírus social. .

Tentando elaborar um mínimo de crítica sobre o quadro geral, entre amigos temos trocado ideias em videoconferências, sem a pretensão de conclusões apressadas ou definitivas. Fazemos brincadeiras sobre a situação de cada um e sobre nossas dificuldades técnicas e intelectuais no uso das ferramentas teleinformáticas. Ontem conversamos sobre o impacto dos pronunciamentos do ex-capitão boquirroto. A esse propósito, comentamos sobre as repercussões no comportamento geral. Um desgaste na imagem do apoiador de torturadores ou uma adesão às suas teses?

O ídolo dos milicianos trouxe para a ordem do dia a manifestação de mais um preconceito discriminatório, ao lado dos tantos que tem sido a suas referências de valores sociais. Agora a discriminação dos idosos. Sem constrangimentos essa pústula com mandato presidencial faz aflorar mais uma doença social que até aqui era mantida controlada. Já tem velhinhos xingados e sofrendo constrangimentos nas ruas.

Também conversamos sobre a falta de protagonismo da esquerda. Essa avaliação é quase consensual, embora existam divergências sobre as causas dessa situação. Mas há concordância sobre a tomada do discurso pela direita política.   As dissidências, os conflitos, as referências dessa ou daquela posição que estão sendo divulgadas na mídia de massa são (oportunamente) referências da direita. Esse é, entre outros, mais um dos obstáculos que a esquerda precisa superar

Enfim, apesar das dificuldades, geralmente concentradas entre a cadeira e o computador ou celular, acho que deveríamos insistir nessa prática dos encontros virtuais. Sugiro que outros também o façam. Parece um bom exercício nesses tempos de coronavírus.

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quinta-feira, 26 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (7)


Opinião


Quando menino morávamos ao lado de um cemitério, e um comercio local típico eram as funerárias. A vizinhança toda se conhecia. O fulano, o beltrano, o sicrano donos dos comércios tal e qual, bem como os seus familiares. Uma organização social bem diferente dos dias de hoje quando vizinhos de portas em corredor de edifício são completamente estranhos.


Em uma das funerárias trabalhava o filho do proprietário, um moleque pouco mais velho que os da minha idade. A rapaziada local inventou que ele ficava na porta da funerária, na beira da rua principal, incentivando os idosos a atravessarem a rua cujo tráfego nem era intenso, mas não havia sinal (semáforo) naquele trecho.

 Dizia-se que ao ver idosos aguardando a oportunidade de atravessar a rua, mesmo vendo que vinha um veículo, o cara tapava a boca com uma das mãos e falava baixinho, mas alto o suficiente para o pedestre ouvir: “Pode ir que dá!” ou então “Aproveita, essa é a boa ... vão agora!”  Além de outras frases de estímulo que a galera criava. Segundo a rapaziada, ele fazia isso para turbinar o negócio do pai na venda de caixões e coroas de flores. Um atropelamento sempre seria uma oportunidade.

Essas conversas rolavam geralmente à noite, quando nos encontrávamos em uma das esquinas  e, naturalmente,  sempre com a presença do guia de velhinhos que ficava puto da vida, mas participava da gozação.

Eu nunca imaginei que um dia assistiria à representação trágica e real daquela invenção de moleques gonçalenses. Foi dela que lembrei ao ver o ex-capitão boquirroto estimulando os brasileiros a irem para as ruas e serem atropelados pelo coronavírus. Tudo para turbinar o negócio dos seus apoiadores.

Vão! É só uma gripezinha! Levem as crianças! Abram o comercio e as escolas! O ex-capitão incorporou o agente funerário que estimulava os velhinhos  a atravessarem a rua na frente dos carros. Mas, o fez  sem dissimulações. Bem alto e em pronunciamento nacional, ele exortou os brasileiros: Vão ... vão se fuder!

O ato do presidente funerário assustou até alguns que bancaram política e economicamente  sua marcha para o poder. O ato também provocou um efeito indesejado para esses apoiadores. Ele permitiu que a moçada que entregou o seu voto ao defensor  de torturadores veja a merda que fez.

Os seus  partidários espertos e ideológicos, na linha criminosa das fake news, até já forjaram vídeos para sustentar o pronunciamento do boquirroto.  Ao mesmo tempo, os seus partidários otários são usados como  buchas de canhão e tentam  divulgar os falsos vídeos. Mas, felizmente, esses buchas estão passando vergonha e constrangimentos porque são ridicularizados pelos destinatários que pensam e que refletem.

Por mim, quem achar que as medidas preventivas são indevidamente alarmantes deveria pegar a sua família e sair para as ruas. Há restaurantes abertos, até com promoções. Que vão às praias, estão vazias. Façam piqueniques.  Espirrem, tussam entre si, abracem-se. Façam-se de exemplo. Organizem-se em grupos e façam festas e encontros. Só não venham me visitar. Busquem alternativas. Atravessem  a rua, eu estimularei: Vão... vão  para a puta que os pariu!

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quarta-feira, 25 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (6)


Opinião

Hoje é dia 25 de março, e para o Brasil inteiro essa data remete à famosíssima rua de S. Paulo, um centro comercial que em ocasiões especiais chega a receber 1 milhão de visitantes em um único dia. O nome da rua refere-se à data em que D. Pedro I impôs ao país a sua primeira constituição, em 1824.

Enquanto a constituição de 1988 ficou conhecida como a “cidadã”, aquela imposta em 1824 foi a constituição “mandioca”. Esse apelido decorreu do fato que ela instituiu um tipo de eleição onde só votava quem tivesse terras e escravos – quem tivesse mandioca.

O texto original da “mandioca” foi elaborado por uns caras que o imperador designou logo após declarar a independência, um arremedo de constituinte. O grupo elaborou um projeto e levou para o imperador assinar, mas ele não gostou porque mexia com seus poderes. Ficou puto da vida, chutou o pau da barraca, mandou prender alguns dos constituintes, reuniu outra meia dúzia de caras e fez, ele mesmo, a constituição que queria e empurrou-a goela a baixo do país, com mandioca e tudo. Aliás, o imperador entubou bem a mandioca que já constava no texto censurado.

Ontem, o ex-capitão presidente em pronunciamento na TV fez lembrar a mandioca.. O boquirroto deu um “foda-se!” para os trabalhos que a sua própria equipe vem elaborando e divulgando. Chutou o pau da barraca. Vamos todos para as ruas! Mandem as crianças para os colégios! Uns velhinhos podem se dar mal, a gente tenta cuidar deles, tá okey? Sou atleta, sujeito homem, e pra mim esse tal de coronavírus é só uma gripezinha!

A noite de 1824 em que o imperador mandou os seus milicianos enfiarem a mandioca nos constituintes e prender alguns deles ficou conhecida como a Noite da Agonia. Acho que os brasileiros não infectados com o vírus Bozo e alguns que estão convalescendo dessa contaminação foram dormir com a sensação de uma noite também de agonia. O ex-soldado boquirroto é a própria expressão de um vírus, de uma doença. Uma  doença social, anterior à Covid-19,  que acometeu a nossa sociedade. Uma pandemia nacional cuja contaminação foi bastante para se expressar eleitoralmente e levá-lo ao poder. Ele e as suas circunstâncias.

A pandemia Bozo naturalmente gerou uma crise. Seus eleitores não sabem o que fazer. Tal e qual doentes depressivos estão conscientes do seu mal e de que cura está dentro de cada um mas, não conseguem alcançá-la. Sentem pânico. Medo da “esquerda” e “ódio ao PT”.

Os apoiadores do projeto político Bozo estão cabreiros. Apostaram na astúcia de levar um Chapolin ao poder, mas não contaram com tanta estultice. O sujeito é a caricatura da caricatura. Não são apoiadores amadores. Orientam-se por uma cartilha liberal de autoria internacional e vão empurrando para levar seu projeto adiante. Manifestam-se aqui e acolá. Federações industriais, representantes nas casas legislativas, no pode judiciário, nas corporações financeiras, nas grandes mídias. Tentam constranger o boquirroto, mas sem negá-lo porque  ele  ainda é útil para os seus propósitos.

Um grupo especial de empresários faz coro direto de apoio ao Chapolin. Uma canalha que ver a grana rápido e que se  dirige aos seus empregados: Saiam pra rua e venham trabalhar! Encher nossos bolsos!  Venham queimar suas vidas em nossas fornalhas. Contaminem-se, desde que não encostem em nós! Não podemos é deixar a máquina capitalista parar!

Assim vamos e outro dia de agonia passará. Meus planos furaram. Hoje seria data de aniversário do meu falecido (e muito querido) pai. Eu e meu irmão bebericaríamos umas cachaças nas praias da cidade onde ele mora. Ironicamente foi o vírus quem isolou a humanidade revertendo a prática científica. Precisei cancelar nossa programação. Se passarmos por essa celebraremos depois. Fica pra outra. No meu caso, há vírus de diversos tipos para combater.

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terça-feira, 24 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (5)


Opinião 


Sei de pessoas próximas que moram em localidades distintas, distantes de capitais e com tratamentos de saúde e medicação monitorados pela saúde pública. São sexagenárias, e nesses dias de exceção elas foram visitadas por agentes de saúde que lhes levaram os medicamentos para que não saíssem de casa expondo-se à contaminação pelo coronavírus e para que cumprissem as orientações do isolamento cautelar.

Seria leviano e uma estupidez apontar  esses casos específicos como representativos da prática e da qualidade do serviço social em nosso país. Contudo, vale dizer que não são casos isolados. E mais do que isso, vale refletir sobre quais são os elementos concretos que dão suporte a essas ações e que permitem essa prática, que deveria ser  padrão em todas a unidades de administração da saúde pública.

Com essa premissa, para quem tiver curiosidade e um momento de folga, sugiro buscar a  Constituição do Brasil  e ler uma de suas partes mais bonitas e importantes: o Artigo 194 do Título VIII (Da Ordem Social).  O acesso é simples, uma busca na web e chega-se lá.

A leitura é breve, curtinha, nem é preciso cair dentro. É lá que está instituído um conceito que poucos conhecem: a: SEGURIDADE SOCIAL. Trata-se de um conjunto que integra um tripé: Saúde – Previdência Social – Assistência Social. Coisas distintas que formam o conceito de seguridade   e cujos detalhes se desdobram nos artigos seguintes ao 194.

 É a garantia estabelecida no conceito de Seguridade Social que suporta o atuação daqueles agentes de saúde que visitaram os beneficiados para entregar as suas medicações. Infelizmente, porém, é a nossa ignorância sobre esse conceito  que estimula propostas que fodem a população, entre outras, aquelas que se justificam como decorrentes do tal “déficit da Previdência”.  Os argumentos dessas propostas misturam os conceitos para convencer aqueles que não têm noção dos significados dessa garantia constitucional. A recente reforma da previdência usou e abusou dessa ignorância.

O Artigo 194 é onde está determinada a responsabilidade dos poderes públicos e da sociedade para assegurar os direitos associados  ao tripé:  Saúde, Previdência Social e Assistência Social. É lá, ainda , que o parágrafo único estabelece como princípios, entre outros: a  universalidade da cobertura e do atendimento da seguridade; a irredutibilidade do valor dos benefícios e a   diversidade da base de financiamento.

Foram difíceis as batalhas na Constituinte em 1987/88 para a garantia desses direitos. Sem eles, hoje precisaríamos comprá-los sob a forma de serviços das corporações privadas. E eles vêm sendo permanentemente ameaçados e degradados. Contudo, são esses direitos que estão obrigando o empenho governamental para assegurar o enfrentamento da crise de saúde que estamos vivenciando.

Já virou lugar comum nesses dias de coronavírus o anúncio da situação especialmente positiva da sociedade brasileira por contar com um Sistema Único de Saúde, o SUS, que é parte integrante da Seguridade Social e que abriga todo e qualquer cidadão. Nessa hora de sufoco, a população não conta com um puto de níquel, sequer, dos grupos privados. Todos os recursos são públicos e direcioná-los para uma cobertura universal do atendimento é um direito nosso.

Passada essa crise, a onda para a privatização da Seguridade Social retornará. Tomara que possamos (quem sobrar) nos apresentar como uma sociedade mais instruída sobre nossas possibilidades e direitos, e que as ações daqueles agentes de saúde que citei no início do texto sejam uma prática corriqueira e nacional.
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segunda-feira, 23 de março de 2020

A vida em tempos de coronavírus (4)


Opinião


Se o homem desaparecesse por completo da superfície do planeta este ficaria mais bonito. Reconhecer isto é reconhecer um fracasso. Talvez, depois que tudo serenar, a humanidade perceba que é possível um outro começo, mais próximo dos sonhos de Greta, com menos aviões, menos consumo, trabalho a partir de casa, mais solidariedade e mais harmonia.” [Jose Eduardo Agualusa -Jornal O Globo -  21/03/2020)

Esse é um trecho de artigo publicado pelo escritor angolano sobre as ironias e paradoxos decorrentes da pandemia coronavírus. A “Greta” citada no texto é a menina sueca Greta Thunberg,  ativista ambiental cujo protesto viralizou na internet.

O artigo é interessante, o que não é uma novidade considerando seu autor, mas impliquei com a parte que destaquei. Não há como discordar do sonho utópico, mas não compartilho da mesma expectativa.  Impliquei porque tenho ouvido outras pessoas repetirem essa expectativa de “conversão social” que, para mim, chega a ser pueril. Salvo se estiverem imaginando que a crise virótica levará a humanidade ao limiar da extinção.

É duro aceitar, mas o sonho utópico que compartilhamos traz consigo o imperativo de uma mudança radical e revolucionária das relações sociais, especificamente no modo de produção e distribuição das riquezas. Sendo enxuto e direto: uma superação do modo de produção capitalista. Porém, até o momento, tudo que assistimos nega essa possibilidade. Ao contrário, o que estamos vendo é a reafirmação dos valores capitalistas, mesmo diante da crise.

A leitura atenta das notícias mostra que as determinações governamentais em quase todos os países, sem risco de erros, apontam para o suporte e sustentação dos valores capitalistas dominantes no período pré-virus. Isso não mudou. Está nos jornais, nas margens das notícias apavorantes sobre o avanço da contaminação.

Partidos assumidos como radicalmente neoliberais pedem verbas públicas para reforçar capital de giro das empresas; especuladores de fundos financeiros são elogiados por seus ganhos no período do corona; socorro aos bancos são 11 vezes mais do que os direcionados a população mais pobre; o SUS disputa caixa com empresas em busca de capital de giro, e a mais recente: governo chegou a autorizar as demissões “temporárias” por 4 meses (está voltando atrás após a repercussão do absurdo da medida).

Todas as medidas apontam para suporte ao capital e às corporações do sistema capitalista cujos mecanismos estão tão ativos como sempre. Movimentações financeiras especulativas de toda a natureza, a busca de apropriação oportuna de recursos e a corrida por abrigo nos cofres públicos desses picaretas. Liberais de meias tigelas.

Não nos enganemos. Sairemos da crise, mas precisamos sair fortes e organizados para a luta política e as transformações que queremos. Não se trata de luta do bem contra o mal, mocinho contra bandido,   nem de arrependimentos e conversão de consciências. Trata-se da necessidade de superar um modo de produção que foi engendrado pela própria sociedade, mas que não tem futuro. Um sistema sem espaço para sonhos nem para a felicidade que só terão alguma chance em uma sociedade que deixe o capitalismo para trás.

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domingo, 22 de março de 2020

A vida em tempos de coronavirus (3)


Opinião


O Aterro do Flamengo está estranhíssimo. As pistas de rolagem que sempre fecham aos domingos e feriados estão abertas, mas quase não tem trânsito. As pistas internas de pedestres e onde fazemos as nossas caminhadas estão praticamente vazias. A praia está vazia e monitorada por helicópteros do exercito ou marinha.

Engraçado é que aqui, nesse retiro espiritual, sinto-me como se estivesse fazendo as caminhadas matinais. Isso porque estamos ainda no início dessa crise e eu só penso no momento em que ela irá acabar, o mesmo sentimento que tenho quando dou os primeiros passos nas caminhadas que odeio fazer. Será que falta muito pra acabar essa merda?

A natureza vista da minha janela continua linda – e sem gente. Com tempo para pensar bobagem, reflito. A vida no planeta sem o ser humano é uma realidade já imaginada, já concebida. O ser humano em momento nenhum sequer ameaçou o planeta, mas sim a sua própria existência como espécie. De fato, a extinção planetária é um evento previsto astronomicamente, mas num prazo de tempo cuja escala escapa da nossa compreensão, e não decorrente da ação humana.

O inusitado, sem ser novidade para o ser humano, é que, apesar de todas as potencialidades de intervenção na natureza para o seu benefício, um atributo negado às demais espécies conhecidas, só nós  desenvolvemos ações que podem implicar em nossa autoextinção.

É irônico que os alertas sobre a necessidade de uma alteração radical no modo de ocupação humana do planeta tem sido divulgados pelos próprios seres humanos. Contudo, é uma outra espécie, uma porrinha dum vírus, quem está impondo uma alteração no comportamento de parte significativa das populações. É irônico também que a pausa para meditação provocada por essa merdinha de vírus se faça da maneira mais tosca, radical e imbecil: a morte de uma porrada de gente sem excluir, no limite, a possibilidade concreta de uma extinção em massa.

CARLOTA, LEVANTA E ME SERVE UM CAFÉ, QUE O MUNDO ACABOU!

Um amigo querido me lembrou dessa exclamação enviando para mim um vídeo do Eduardo Dussek cantando Nostradamus (1980). Obrigado amigo!

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sábado, 21 de março de 2020

A vida em tempos de coronavirus (2)


Opinião

Ontem assisti entrevista do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Ele é membro das Academias Francesa, do Vaticano e Brasileira de Ciências. Renomado e premiado pesquisador, autor de livros interessantíssimos, ele é coordenador do projeto “exoesqueleto”. Um personagem cujas opiniões eu gosto de acompanhar. A entrevista me impressionou, não pela novidade das informações, mas porque elas assumem uma proporção mais relevante (no caso, assustadora) quando divulgadas por pessoas que, para nós, são referências de autoridade em suas opiniões.
Para o Nicolelis  essa será a crise mais complexa que o país já enfrentou, opinião na mesma linha das declarações da primeira ministra Angela Merkel referindo-se à Alemanha. Mas, em nosso caso, ressalta o cientista, temos um governo que é incapaz de compreender o que estamos enfrentando.
Assustadoras e quase desesperadoras são as simulações de cálculos que ele faz a partir de projeções que foram divulgadas pelo NY Times para os EUA. Projeções conservadoras apontam 35% de infectados na população, com 1% de mortalidade desse conjunto. Na Alemanha, segundo a ministra Angela Merkel, as expectativas são de 50% de infectados na população, e na Itália a mortalidade está em 8% dos infectados.
Esses números (50% e 1%) se aplicados para os 200 milhões de brasileiros, teríamos a hipótese de 100 milhões de infectados e um milhão de mortos. Tô fudido! Penso eu com os meus botões.
Nicolelis aponta o SUS como um fator a nosso favor. O SUS se caracteriza por um serviço público que tem uma rede capilar. Se não houvesse o SUS, estávamos roubados”. Contudo, complementa, as decisões necessárias  não podem ser tomadas por pessoas que não acreditam no Estado, que criaram a mitologia de que a intervenção do Estado é maléfica. Ele também chama atenção para o fato que o único país em condições de fornecer um apoio efetivo a Brasil seria a China. Porém, as relações com aquele país estão sendo achincalhadas por autoridades brasileiras. Aliás, sobre esse assunto, ontem, 20/03/2020, a Band TV publicou editorial com crítica contundente e correta ao ministro das relações exteriores qualificando-o explicitamente como um “idiota” que ocupa cadeira tão importante.
Para o pesquisador deveríamos criar uma comissão nacional  de crise formada por mentes mais capacitadas nas áreas específicas necessárias para combater a pandemia que é multidimensional – não é só saúde, ela tem dimensões econômicas, sociais, geopolíticas e  de logística.
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A vida em tempos de coronavirus (1)


Opinião


Hoje completará 07 dias desde que configurei-me no modo “antiviral”. Sem estresse, nem paranoia, assumi um autoisolamento parcial. Caminho pela manhã ao ar livre no Aterro e, se muito necessário, faço alguma compra. No mais, fico em casa trocando zap, assistindo Youtube, Now e Netflix. Estudo alguns assuntos e tento fazer anotações (esse texto é um resultado desse exercício). Cancelei as atividades programadas e aulas na UFF também tiveram o início adiado. Faço um esforço para passar o dia ativo e sem cair na tentação de bebericar umas deliciosas cachaças do meu pequenino acervo. Atendendo às restrições de circulação, até a praia está proibida a partir de hoje, possivelmente interromperei a caminhada diária.

Apareceu uma doença que mata gente branca e de classe média, sem discriminação, e estamos todos apavorados. Enquanto só estava morrendo preto e pobre por causas diversas, o mundo não ligava muito, mas o bicho pegou. Ainda assim, as medidas que vêm sendo tomadas e noticiadas cuidam do “mundo visível”, expressão que tomei do professor Boaventura de Sousa Santos. Uma parte enorme da população que é “invisível”, no mundo e aqui no Brasil, está aos cuidados do azar. Eu não consigo pensar em nossa situação sem fazer essas vinculações

Em minha tribo familiar as coisas estão ainda – FELIZMENTE - sob controle, embora todos inseguros por conta das notícias, e bem atrapalhados com as aulas das crianças interrompidas. Na verdade, considerando o cenário, estamos privilegiados pelos recursos que ainda temos acesso. Durante a semana fizemos uma conversa em vídeo conferência pelo celular onde pude ver e brincar com os netinhos. Vamos levando.

Em torno de mim a cidade está vazia e o ambiente tenso. As notícias se tornam assustadoras na medida em que passam os dias e a contaminação progride ameaçando-nos mais de perto. Além de buscar me proteger, tento estar preparado emocionalmente para o que está por vir. Considerando as datas das primeiras contaminações no Brasil, estamos entrando nos prazos de notificações de óbitos e isso deverá afetar as nossas reações emocionais.

Enfim, vamos em frente. Hoje eu deveria estar no Mercado de Peixe bebendo umas cachaças e cervejas com amigos, mas estou aqui, escrevendo essa merda de registro.  Virusinho filho da puta!

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sexta-feira, 6 de março de 2020

Agruras de março, mais um verão


Opinião


Vejam que impressionante  (mais abaixo) a matéria da Carta Capital – Original da AFP – France Presse, de 06/03/2010. Segundo a ONU, 90% da população mundial tem preconceito contra as mulheres.

Não bastasse a exploração intrínseca ao modo de produção capitalista sobre todos os trabalhadores, as trabalhadoras enfrentam adicionalmente batalhas culturais seculares da discriminação de gênero. Servindo adequadamente às classes dominantes e ao sistema de poder político vigente, esses aspectos culturais  se expressam sob a forma de penalidades econômicas sobre as mulheres,  tanto na remuneração de suas tarefas como na desconsideração e desqualificação de suas capacitações profissionais.

Assim, deveríamos considerar um desrespeito para com a história das trabalhadoras a glamourização do dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher. Essa data foi estabelecida  para ser reverenciada e celebrada pelos trabalhadores de todos os gêneros como um marco simbólico de suas lutas. A glamourização é um insulto contra esse propósito.

A prática dos presentinhos, das florzinhas, dos convites para almoços e jantares, dos elogios, das mensagens com cumprimentos e cortesias babacas (agora potencializadas pelo zap) que, no fundo, reafirmam a discriminação precisam ser estancadas. São práticas que só contribuem para disfarçar essa marginalização covarde – inclusive praticada por muitas mulheres que em seus comportamentos repetem os mesmos assédios , destratos e práticas de exploração.

Dia 8 de março é dia de celebrar a luta. E de refletirmos, cada um de nós (não me excluo), de todos os gêneros, o tanto que estamos impregnados dessa herança preconceituosa e escrota, e o tanto que a praticamos inconscientemente porque não paramos para a reflexão.

Sugiro a leitura da matéria da France Presse. Leitura abaixo ou através do link.
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90% da população mundial tem preconceito contra as mulheres, diz ONU


 AFP -  6 DE MARÇO DE 2020

Em torno de 90% da população mundial, sem importar o sexo, têm preconceito contra as mulheres, revela um estudo da ONU divulgado nesta quinta-feira, dias antes do Dia da Mulher.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) analisou 75 países, que representam 80% da população global, e concluiu que nove a cada dez pessoas, inclusive mulheres, têm preconceito de gênero.
Estes preconceitos incluem que os homens são melhores políticos e líderes de negócios; que ir à universidade é mais importante para os homens; ou que deveriam ter um tratamento preferencial em mercados de trabalho competitivos.
Os países no topo da lista são Paquistão, onde 99,81% têm ao menos um preconceito em relação às mulheres, Qatar e Nigéria, ambos com 99,73%.
Os países com população menos sexista são Andorra, 27,01%; Suécia, 30,01%; e Holanda, 39,75%.
Em França, Reino Unido e Estados Unidos, os índices de quem tem ao menos um preconceito sexista são de 56%, 54,6% e 57,31%, respectivamente.
Na Espanha, o percentual é de 50,50%.
Na América Latina, a pior situação ocorre no Equador (93,34%), seguido por Colômbia (91,40%), Brasil (89,50%), Peru (87,96%) e México (87,70%).
Argentina, Chile e Uruguai se situam entre 75,4% e 74,6%.
Os números revelam “novas pistas sobre as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam para obter a igualdade”, apesar de “décadas de progresso”, destaca o relatório.
“O trabalho tem sido eficaz para garantir o fim das brechas na saúde ou na educação, mas agora deve evoluir para abordar algo muito mais desafiante: um viés profundamente arraigado, tanto em homens como em mulheres, contra a igualdade genuína”, disse o administrador do PNUD, Achim Steiner.
A agência pede aos governos e instituições que trabalhem para mudar estes preconceitos e práticas discriminatórias através da educação. ####