Opinião
O Facebook usou como cobaias cerca de 690 mil
usuários enviando para um grupo apenas notícias de conteúdos notadamente
positivos e para outro apenas notícias classificadas como negativas. E sem que os
usuários soubessem, o Facebook xeretou as mensagens postadas avaliando o
comportamento de cada um conforme o grupo ao qual pertenciam. O fato aconteceu
em 2012 e veio a público recentemente gerando protestos. Os donos do Facebook
alegaram ser uma mera pesquisa prevista pela política de uso da rede pré-aprovada
pelos usuários. Cá para nós, é preciso ser muito leso para não ver que o
objetivo da experiência (se já não for uma prática) é a indução do
comportamento de massa associado ao estímulo provocado pelas notícias. Na
Holanda há uma iniciativa de mobilização propondo um boicote temporário ao uso
do Facebook (vejam no link
- abaixo - notícia sobre o assunto).
Trata-se de uma situação onde a realidade se
mostra quase tão fantástica quanto a imaginação e que nos estimula a viajar
pelo admirável mundo das tecnologias da informação e comunicação. Afinal,
as possibilidades reais decorrentes da evolução dessas tecnologias efetivamente
margeiam a ficção. Porém, bem mais importante é assumir que estas são questões
da contemporaneidade e que demandam respostas e alternativas da sociedade, sob
pena de nos colocarmos a mercê dos rumos determinados exclusivamente pela
tecnologia, o que significa, em realidade, a mercê daqueles que se apropriam e
controlam a tecnologia.
Mais importante ainda é que a sociedade tem
como responder tais questões e definir, ela própria, os seus rumos e suas
alternativas. As situações geradas pela evolução tecnológica não são favas
contadas e nem estão isentas da nossa intervenção. Até porque a própria
evolução tecnológica provoca transformações tão radicais que mesmo os cenários
que ela produz podem se tornar anacrônicos em curtíssimos intervalos de tempo
(na semana passada recebi aviso que o Orkut acabou!). E as questões que
permanecerão exigindo respostas ainda serão aquelas que se referem aos
princípios da nossa organização social e à nossa história como humanidade,
qualquer que seja o estado da arte da tecnologia. No caso específico, o que
precisamos responder é abriremos mão de um poder público e de âmbito universal,
no qual estamos incluídos, em favor dos interesses corporativos de algumas mega
corporações privadas.
É essa escolha que está em foco quando tratamos
da necessidade de um controle social dos meios de comunicação, da democratização
da informação e da comunicação, da viabilização prática do Marco Civil através
da sua regulamentação, entre outras questões que vem sendo discutidas em alguns
fóruns populares e que, naturalmente, batem de frente com as experiências de
manipulação de massa realizadas pelo Facebook.
Ainda há os que discursam sobre um suposto reino de liberdade
e de isenção, representado pela internet, que estaria sendo maculado pela
intervenção do Estado sobre a liberdade dos indivíduos através da Lei
12.965/2014 que estabeleceu o Marco Civil. Este caso do Facebook é uma
oportunidade que deveria servir para reflexão desses incautos que acham que na
internet qualquer um faz ou diz o que quer, quando quer. Bobinhos!