quinta-feira, 17 de julho de 2014

Internet, sim! Marionete, não!

Opinião 

O Facebook usou como cobaias cerca de 690 mil usuários enviando para um grupo apenas notícias de conteúdos notadamente positivos e para outro apenas notícias classificadas como negativas. E sem que os usuários soubessem, o Facebook xeretou as mensagens postadas avaliando o comportamento de cada um conforme o grupo ao qual pertenciam. O fato aconteceu em 2012 e veio a público recentemente gerando protestos. Os donos do Facebook alegaram ser uma mera pesquisa prevista pela política de uso da rede pré-aprovada pelos usuários. Cá para nós, é preciso ser muito leso para não ver que o objetivo da experiência (se já não for uma prática) é a indução do comportamento de massa associado ao estímulo provocado pelas notícias. Na Holanda há uma iniciativa de mobilização propondo um boicote temporário ao uso do Facebook (vejam no link - abaixo - notícia sobre o assunto).
  
Trata-se de uma situação onde a realidade se mostra quase tão fantástica quanto a imaginação e que nos estimula a viajar pelo admirável mundo das tecnologias da informação e comunicação.  Afinal, as possibilidades reais decorrentes da evolução dessas tecnologias efetivamente margeiam a ficção. Porém, bem mais importante é assumir que estas são questões da contemporaneidade e que demandam respostas e alternativas da sociedade, sob pena de nos colocarmos a mercê dos rumos determinados exclusivamente pela tecnologia, o que significa, em realidade, a mercê daqueles que se apropriam e controlam a tecnologia. 

Mais importante ainda é que a sociedade tem como responder tais questões e definir, ela própria, os seus rumos e suas alternativas. As situações geradas pela evolução tecnológica não são favas contadas e nem estão isentas da nossa intervenção. Até porque a própria evolução tecnológica provoca transformações tão radicais que mesmo os cenários que ela produz podem se tornar anacrônicos em curtíssimos intervalos de tempo (na semana passada recebi aviso que o Orkut acabou!). E as questões que permanecerão exigindo respostas ainda serão aquelas que se referem aos princípios da nossa organização social e à nossa história como humanidade, qualquer que seja o estado da arte da tecnologia. No caso específico, o que precisamos responder é abriremos mão de um poder público e de âmbito universal, no qual estamos incluídos, em favor dos interesses corporativos de algumas mega corporações privadas. 

É essa escolha que está em foco quando tratamos da necessidade de um controle social dos meios de comunicação, da democratização da informação e da comunicação, da viabilização prática do Marco Civil através da sua regulamentação, entre outras questões que vem sendo discutidas em alguns fóruns populares e que, naturalmente, batem de frente com as experiências de manipulação de massa realizadas pelo Facebook.

Ainda há os que discursam sobre um suposto reino de liberdade e de isenção, representado pela internet, que estaria sendo maculado pela intervenção do Estado sobre a liberdade dos indivíduos através da Lei 12.965/2014 que estabeleceu o Marco Civil. Este caso do Facebook é uma oportunidade que deveria servir para reflexão desses incautos que acham que na internet qualquer um faz ou diz o que quer, quando quer. Bobinhos!  

Publicitários da Holanda convidam pessoas a ficar 99 dias sem Facebook


 99daysoffreedom.com