Opinião
Redigido em 08/11/2020
A vitória
de Biden, talvez mais do que outros eventos da conjuntura, exige uma análise
dialética. A lógica formal, instrumento útil em muitas situações, não consegue dar conta
desse fato que explode em contradições.
A derrota
do Donald, ainda está longe, muito, muito longe de representar uma derrota do
que há de pior do imperialismo mundial capitaneado pelo imperialismo americano.
Ao mesmo tempo significa, de fato, a derrota de um dos pilares de sustentação
do nosso governo Pateta e, talvez, a derrota dos piores valores socioculturais
da sociedade americana. Fato positivo.
Contudo, a candidatura
(e vitória) Biden foi promovida, apoiada, divulgada e sustentada pelo que há mais
opressor do domínio capitalista mundial, desde o seu nascimento como candidato,
uma vitória da ala mais à direita do
partido Democrata.
Em torno da
candidatura Biden estão os representantes principais do poderio
econômico-financeiro e bélico dos EUA, incluindo conglomerados de imprensa e as
gigantes empresas de redes sociais da
internet.
Praticamente
todos os setores que promoveram a política internacional dos EUA como xerife do
mundo nas últimas décadas, incluindo a promoção de golpes, guerras, derrubadas
de governos e invasões de países aglutinam-se em torno da candidatura Biden e direcionarão
suas políticas de governo. Os Bush, Obama, FBI, CIA, Pentágono – todo mundo lá.
Trump foi, e
o trumpismo é um câncer político. Célula desordenada e descontrolada gerada
dentro do próprio sistema que, felizmente, parece estar numa enorme crise
política que seria muito bom se fosse aprofundada. Nosso papel deveria ser divulgar
e apregoar essa crise americana, uma secessão política dentro do núcleo do
capitalismo, como oportunidade de avanço político.
Em vez
disso, estamos apregoando a vitória do Biden como uma vitória da democracia.
Nada mais equivocado. Teve gente que bateu palmas quando as redes de imprensa
em conluio cassaram as denúncias de suposta fraude feitas pelo Trump. Acredito
que o Trump estava armando, mas quem deu à imprensa o direito daquele tipo de
intervenção? E se fosse o Biden? Isso é democracia?
Valorizar a
vitória do Biden sobre o Trump como uma vitória do bem sobre o mal, nos termos
em que está ocorrendo, é contribuir para a reorganização do sistema e do regime de composição de forças
que tem mantido o mundo ocidental, particularmente o latino-americano, sob opressão permanente.
A derrota
do Trump foi um fato positivo e a vitória do Biden é uma merda! Vamos encarar
essa contradição de frente. Formalmente parece um beco sem saída, mas
dialeticamente a saída é pela superação da contradição e isso teria chances de
ocorrer com um agravamento dos conflitos
no núcleo capitalista que precisaria ser estimulado e promovido.
Os arremedos de contestações recentes aqui, na
America Latina, são superimportantes, mas não contarão com qualquer condescendência
do governo Biden que não passe pela submissão às suas imposições.
E no Brasil,
não tenhamos dúvidas, se Trump não avançou sobre a America Latina, Biden não
deixará passar essa oportunidade, especialmente porque as iniciativas foram do
nosso próprio governo Pateta e das forças armadas vassalas nacionais. Arreganharam
as portas para o uso militar do território e fronteiras brasileiras para os
interesses imperialistas contra nossos vizinhos.
Isso não é
uma teoria da conspiração, mas porque são fatos concretos, e essa é a história
política do Biden e das forças que o apoiam. Essa é a denúncia que precisaria
ser feita ao mesmo tempo em que se falar da derrota de Trump. Essa é a
contradição.
O conjunto
político Biden/Trump foi participante e promotor ativo do golpe de 2016 que
gerou o câncer Bozo. Assim – aderindo a opinião de outros analistas – concordo que
a burguesia nacional está a busca de um Biden tupiniquim para 2022. Assim como
nos EUA o câncer Donald, aqui o câncer Pateta tem atrapalhado a dinâmica de
desenvolvimento do sistema que o criou. Os avanços contra as proteções sociais
não foram suficientes, as privatizações estão mal das pernas.
O aplauso
das classes dominantes nacionais para a vitória Baiden nada tem a ver com
democracia. Ela busca um substituto do Pateta extraído do próprio grupo que
promoveu o golpe de 2016. Um candidato de consenso e ungido até pela esquerda.
Nem sequer Lula e PT estarão dentro dessas confabulações, muito menos qualquer
representação popular efetivamente transformadora e de esquerda.
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