sábado, 26 de maio de 2018

Vivendo e aprendendo


Opinião

A situação dos preços dos combustíveis decorre diretamente das escolhas do governo. Antes tínhamos a Petrobras, além de todas as suas funções e potencialidades, como um instrumento de realização de políticas de salvaguarda e proteção de áreas estratégicas como a do transporte rodoviário de cargas. O governo Temer, com seu objetivo de acabar com a Petrobras ou entregá-la ao capital privado, desprotegeu completamente o setor, até o ponto de provocar a crise dos caminhoneiros.

Para uma ideia do porte e proporções do setor em crise. Conforme o anuário CNT do Transporte 2017 a frota empresarial de transporte de cargas rodoviário é de cerca de 1.088.358 veículos de propriedade de 111.743 empresas; 22.865 veículos de propriedade de 2764 cooperativas e 553.643 veículos de propriedade de 374.029 autônomos. [1]

São procedentes as reivindicações dos caminhoneiros, mas o movimento é uma autodefesa dos patrões, donos das grandes empresas de transportes. Um locaute que arrasta consigo os caminhoneiros autônomos fazendo parecer uma greve classista de trabalhadores. Um locaute que está se mostrando poderoso porque nem mesmo a vitoriosa greve geral de abril de 2017 foi capaz de provocar a instabilidade política e a inquietação pública que a paralisação dos caminhoneiros está provocando.

A minha interpretação leva à questão sobre o apoio ou a contestação do movimento. Faço uma leitura discordante daquela que fazem o meu partido PSTU e também o PSOL. No caso do PSTU, tanto partido como a central sindical CSP Conlutas estão proclamando “todo o apoio à greve dos caminhoneiros” e chamando as demais centrais para se agregarem ao movimento de uma greve geral. Para o PSTU, chamar o movimento dos caminhoneiros de locaute seria “fazer o jogo da direita”.

Discordo das concepções do PSTU e do PSOL sobre a greve, mas concordo integralmente com o chamado de uma greve geral e acho que esse ponto é o mais importante.  Apenas um forte abalo social nos dará alguma chance de transformar o quadro político, ou seja, a correlação de poderes. Não tenho esperança em eleições sem a chacoalhada política que precisamos.

Assim, vejo com reservas e não endosso, às cegas, o movimento dos caminhoneiros. Esse setor, tanto o patronal como a parcela de trabalhadores autônomos, foram aliados poderosos do projeto conspirador que derrubou Dilma e instituiu o governo Temer, inclusive foram abonadores do que mais tarde foram as reformas trabalhistas [2] e nada indica que mudaram as suas posições.

Eu gostaria de estar enganado, mas quem quiser me convencer que tente se aproximar do movimento com algum símbolo que indique solidariedade entre trabalhadores ou com outras pautas de luta – inclusive com o chamado à greve geral em apoio aos caminhoneiros. Tenho certeza que será rechaçado e as manifestações de fascismo brotarão ali, feito tiririca após a chuva, em terreno baldio.  

Apesar das situações contraditórias, não tenho dúvidas nem indecisão na opção. A paralisação dos caminhoneiros é uma crise no campo dos apoiadores do golpe e não endosso “todo apoio à greve dos caminhoneiros”.

Concordo que a crise criada por essa paralisação pode ser a oportunidade para uma saudável, transformadora, revitalizante e  benéfica Greve Geral. Nesse aspecto o PSTU acerta em cheio. Infelizmente também seria a oportunidade para um recrudescimento da repressão contra a sociedade, quem sabe trazendo para o cenário um ator político que tem estado sem papel e que anda saliente para se mostrar no palco – as forças armadas de repressão. Mas, o que fazer! É a dialética quem determina a organização social, não é a lógica formal. Greve Geral neles!
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[1]
Anuário CNT do Transporte 2017 – Estatísticas consolidadas

[2]
Declaração pública oficial da Confederação Nacional do Transporte, em 13/04/2016, apoiando o impeachment da presidenta Dilma Rousseff – entre as razões:
a sua incapacidade de solucionar “a grave crise econômica que assola o país, com reflexos danosos ao setor transportador brasileiro e empregos” e de sua falta de “autoridade para liderar o processo de reformas necessárias ao desenvolvimento do país”.

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