Opinião
A
situação dos preços dos combustíveis decorre diretamente das escolhas do
governo. Antes tínhamos a Petrobras, além de todas as suas funções e
potencialidades, como um instrumento de realização de políticas de salvaguarda
e proteção de áreas estratégicas como a do transporte rodoviário de cargas. O
governo Temer, com seu objetivo de acabar com a Petrobras ou entregá-la ao
capital privado, desprotegeu completamente o setor, até o ponto de provocar a
crise dos caminhoneiros.
Para
uma ideia do porte e proporções do setor em crise. Conforme o anuário CNT do
Transporte 2017 a frota empresarial de transporte de cargas rodoviário é de
cerca de 1.088.358 veículos de propriedade de 111.743 empresas; 22.865 veículos
de propriedade de 2764 cooperativas e 553.643 veículos de propriedade de
374.029 autônomos. [1]
São
procedentes as reivindicações dos caminhoneiros, mas o movimento é uma
autodefesa dos patrões, donos das grandes empresas de transportes. Um locaute
que arrasta consigo os caminhoneiros autônomos fazendo parecer uma greve classista
de trabalhadores. Um locaute que está se mostrando poderoso porque nem mesmo a
vitoriosa greve geral de abril de 2017 foi capaz de provocar a instabilidade
política e a inquietação pública que a paralisação dos caminhoneiros está
provocando.
A
minha interpretação leva à questão sobre o apoio ou a contestação do movimento.
Faço uma leitura discordante daquela que fazem o meu partido PSTU e também o
PSOL. No caso do PSTU, tanto partido como a central sindical CSP Conlutas estão
proclamando “todo o apoio à greve dos
caminhoneiros” e chamando as demais centrais para se agregarem ao movimento
de uma greve geral. Para o PSTU, chamar o movimento dos caminhoneiros de locaute
seria “fazer o jogo da direita”.
Discordo
das concepções do PSTU e do PSOL sobre a greve, mas concordo integralmente com
o chamado de uma greve geral e acho que esse ponto é o mais importante. Apenas um forte abalo social nos dará alguma
chance de transformar o quadro político, ou seja, a correlação de poderes. Não
tenho esperança em eleições sem a chacoalhada política que precisamos.
Assim,
vejo com reservas e não endosso, às cegas, o movimento dos caminhoneiros. Esse
setor, tanto o patronal como a parcela de trabalhadores autônomos, foram aliados
poderosos do projeto conspirador que derrubou Dilma e instituiu o governo Temer,
inclusive foram abonadores do que mais tarde foram as reformas trabalhistas [2]
e nada indica que mudaram as suas posições.
Eu
gostaria de estar enganado, mas quem quiser me convencer que tente se aproximar
do movimento com algum símbolo que indique solidariedade entre trabalhadores ou
com outras pautas de luta – inclusive com o chamado à greve geral em apoio aos caminhoneiros.
Tenho certeza que será rechaçado e as manifestações de fascismo brotarão ali, feito
tiririca após a chuva, em terreno baldio.
Apesar
das situações contraditórias, não tenho dúvidas nem indecisão na opção. A
paralisação dos caminhoneiros é uma crise no campo dos apoiadores do golpe e não
endosso “todo apoio à greve dos caminhoneiros”.
Concordo
que a crise criada por essa paralisação pode ser a oportunidade para uma
saudável, transformadora, revitalizante e benéfica Greve Geral. Nesse aspecto o PSTU acerta em cheio. Infelizmente também
seria a oportunidade para um recrudescimento da repressão contra a sociedade, quem sabe trazendo para o cenário um ator político que tem estado sem papel e que anda
saliente para se mostrar no palco – as forças armadas de repressão. Mas, o que
fazer! É a dialética quem determina a organização social, não é a lógica formal.
Greve Geral neles!
[1]
Anuário CNT do Transporte 2017 –
Estatísticas consolidadas
http://anuariodotransporte.cnt.org.br/2017/
- acesso em 26/05/2018
[2]
Declaração pública oficial da
Confederação Nacional do Transporte, em 13/04/2016, apoiando o impeachment da
presidenta Dilma Rousseff – entre as razões:
a sua
incapacidade de solucionar “a grave
crise econômica que assola o país, com reflexos danosos ao setor transportador
brasileiro e empregos” e de sua falta de “autoridade para liderar o processo de reformas necessárias ao
desenvolvimento do país”.
http://www.cnt.org.br/imprensa/noticia/notaa-a-imprensa-cnt-declara-apoio-ao-impeachment-da-presidente-dilma-rousseff-cnt
- Acesso em 26/05/2018.
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