sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Um tal João Cândido Felisberto

Opinião
Hoje foi dia de mais um amanhecer calmo e bonito na baía de Guanabara, visto da minha janela. Além do tráfego, a agitação maior ficou por conta dos preparativos para uma festa de lançamento da camisa da seleção brasileira que ocorrerá no aterro do Flamengo. Mas, esta manhã teve um significado especial porque assinalou 103 anos da revolta da Chibata, assim batizada pelo jornalista Edmar Morel. Um movimento deflagrado por marinheiros brasileiros, em 22 de novembro de 1910, que determinou o fim dos castigos físicos, incluindo o açoite por chibatas, até então praticados pela Marinha do Brasil a título de punição disciplinar.
Os marujos, liderados, entre outros, pelo marinheiro João Cândido, assumiram em motim o comando da esquadra brasileira que na época era terceira maior do mundo. Combateram os oficiais que resistiram ao levante, ocuparam os comandos das embarcações, situaram-nas em pontos estratégicos da baía da Guanabara, e puseram a cidade do Rio de Janeiro, centro político do país, sob a mira de canhões e encaminharam um ultimato ao governo do presidente da república Hermes da Fonseca exigindo que as suas reivindicações fossem acatadas. Enquanto isto, aquela “corja”, como eram considerados pelos oficiais e pela hierarquia naval, manejava com uma surpreendente maestria e destreza as moderníssimas embarcações, recém-adquiridas pelo Brasil, diante dos olhos espantados de um poder encurralado e de uma população apavorada e curiosa que assistia o desenrolar dos acontecimentos.
Os marujos foram vitoriosos e fizeram o governo ceder. Não eram revolucionários, não tinham projetos de poder, assim, logo que foram formalizadas as ordens para o cumprimento de suas reivindicações, num gesto de obediência ao poder instituído, devolveram o comando das embarcações. Pagaram com suas vidas por isto porque a vingança covarde do Estado não demorou a se manifestar. Os marinheiros, especialmente os líderes do movimento, foram expulsos, torturados, fuzilados e até traficados como escravos. Condenados ao esquecimento e à rejeição por uma Marinha que celebra o vergonhoso golpe 1964, mas que sempre relutou em reconhecer aqueles que deveriam ser enaltecidos como heróis nacionais.
Alguns brasileiros terão ouvido falar ou, a rigor, ouvido cantar, as referências à revolta da Chibata na letra e música do samba “O mestre-sala dos Mares”, de João Bosco e Aldir Blanc, e uma boa parte dos ouvintes provavelmente nem sabe o que o evento representou.  Ainda são poucas as reverências ao fato, e a sua dimensão política é subavaliada quando reduzida à questão dos castigos físicos. Mas, parece que será assim que a sociedade brasileira recuperará e recomporá a sua história, através de seus cantos, suas crônicas, seus cordéis, seus enredos festivos, em narrativas tão populares quanto os seus verdadeiros heróis. Talvez seja um bom caminho para evitar imaginá-los como super-heróis, acima do bem e do mal.
Há uma estátua do João Candido instalada num canto da Praça XV, no Rio de Janeiro, desde 2008, quando o presidente Lula sancionou a lei concedendo a anistia post-mortem dos marinheiros de 1910. Talvez um prefeito desses, dos quais existem tantos por aí, venha a deslocá-la, ou relaxe a sua manutenção, mas ela está em um bom lugar - nas pedras do cais, como alguém já ressaltou. Sempre que passo pela Praça XV caminho próximo à estátua, e aconselho outros para que façam o mesmo. Nada de preces, promessas, pedidos, esconjuros ou mandingas, mas pensando na barra pesada que aqueles companheiros enfrentaram. Nas situações e nas atuações dos diversos personagens. Nos contextos em que os fatos se desenrolaram, tomando isto como motivação para as nossas vidas nos cenários atuais. Como um estímulo para assumirmos o comando e determinarmos as manobras dessa embarcação que compartilhamos, mesmo que seja necessário um motim.

sábado, 16 de novembro de 2013

Pra não deixar de falar das flores


Tenho bronca do Ives Gandra, aprendi a não gostar dele quando estava envolvido com as questões político-jurídicas de Telecom. Tive a oportunidade de trabalhar e conviver com pessoas especiais no seu empenho para a  construção de uma sociedade sem exclusões e com outras que, além do mais, eram profissionais da área jurídica com capacitação excepcional demonstrada e submetida à prova em diversos embates que realizamos. Estes profissionais sempre foram para mim uma referência e contrapunham-se em intenções e gestos aos do Ives Gandra que sempre fez um papel que chamávamos de "pena de aluguel".

Mas, também aprendi que ele é competente e faz o seu papel com excelência. Assim, considerando os diversos aspectos do caso mensalão, não deixo de imaginar se ele está cumprindo uma missão, alugando a pena, ou defendendo uma tese por uma efetiva convicção. Isto é possível porque, afinal de contas, a tese defendida por ele é a que garante a manutenção do seu espaço de atuação.

Qualquer que seja a hipótese, eu concordo que ele apresenta questões procedentes e que questionam em termos técnicos, até que eu aprenda outras noções, o processo cagado que foi conduzido pelo STF sob a liderança do Barbosa com a participação dos demais juízes. Não chamo de conivência porque sei que conivência traduz uma omissão de quem não teria a obrigação legal de atuar e, no caso, acho que impedir a cagada era uma obrigação dos demais juízes.

É interessante observar que no caso do mensalão STF atuou como um tribunal de exceção, procedimento que sempre foi divulgado nos discursos de propaganda dos grupos mais conservadores como uma prática esperada da esquerda política caso assumisse o poder.

O fato é que a situação criada pelo STF é de instabilidade  e indesejável para os grupos conservadores, mesmo aqueles que caíram de porrada no PT. Deve ser neste contexto que se enquadram as manifestações do Ives Gandra. 

Agora, quem pariu o Mateus que o embale. Qual será a regra? Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!