Leituras para distrair
... Fica
proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
(Thiago
de Mello – Estatutos do Homem – Poeta amazonense)
Recebi
esse vídeo (abaixo) de um querido companheiro dos tempos de Embratel. Lindo vídeo. Eu já
tinha assistido, ainda assim fiquei emocionado. Nem falo dos arrepios que tomam
conta da pele – mesmo dos comunistas avermelhados pela ideologia do folclore - quando estamos por lá, na Amazônia. Ele é
simbólico para muitos de nós. Refiro-me à minha “geração” de trabalho na
Embratel, naturalmente. Outros vídeos que fossem elaborados, em outras áreas e
temáticas, provavelmente teriam efeito similar [1].
Individualmente
tivemos a oportunidade de vivenciar nossas carreiras profissionais em um local
e período importantes. Um período de construção, do fazer o que nunca foi feito
e de poder ver o feito. Temos a consciência de que fizemos o nosso melhor, e
que esse melhor foi dado em troca de algo bom e para ser compartilhado por
muitos. Nesse mesmo tempo, crescemos e aprendemos. Sentimos orgulho e
autoestima. De formas variadas deixamos nossas marcas. Somos felizardos. Não são
todas as pessoas que têm essa oportunidade. Algumas chegam a ter, mas por
razões diversas não conseguem aproveitá-las, não conseguem usufruir delas. Isso
valoriza o nosso sentimento.
Em grupo
a oportunidade foi quase única. Empregamos nosso trabalho em uma empreitada
para construir um país melhor. Em uma empresa que representava a sociedade e que
trabalhava para ela. Sabíamos disso. Sempre sentimos orgulho em nos apresentar
como trabalhadores daquela que era um querido símbolo nacional. A simples
menção do seu nome, onde estivéssemos, era bastante para sermos distinguidos
com respeito e cortesia.
Naturalmente
esse processo ocorreu com distorções e equívocos, além de conflitos (muitos) entre
empregados e as direções da empresa. Mas, nunca fomos alienados em relação a
esses aspectos e situações. Éramos trabalhadores empregados de uma empresa
pública, sob a égide de relações de trabalho capitalistas, e enfrentamos essas
contradições. Ao final, foram mais lições que aprendemos.
O corporativismo
entre os trabalhadores da nossa empresa sempre foi uma marca forte. Chegou a
ser uma dificuldade na integração com outros trabalhadores da área de telecomunicações.
Mas, felizmente, superamos e, primeiro, veio a compreensão de fazermos parte de
uma categoria e, depois, uma consciência classista. Éramos, genericamente, trabalhadores. Um grande avanço. Fomos exemplos e fizemos história. Mas, no
aspecto profissional praticamos um corporativismo sadio que nos fazia cobrar,
uns dos outros, o melhor que se pudesse dar. O produto do nosso trabalho não
podia deixar a desejar. Trabalhador cagão não se criava nas equipes!
A fibra
óptica atravessando parte da Amazônia foi certamente o último projeto oriundo
desse espírito de brasilidade. Uma marca que impregnou a empresa tão
intensamente, a ponto de viabilizar o projeto, mesmo num período onde a ela já
era de propriedade privada, e seus caminhos ditados pelos interesses
particulares de acionistas proprietários.
Esse é
o sentimento que muitos de nós ainda trazem consigo. Uma sensação de bem-estar.
Um orgulho e vaidade despretensiosos, sem soberba nem presunção. Uma sensação
boa de poder ter sido um bom profissional e cidadão.
Hoje vivemos,
infelizmente, outros tempos. No caso da Amazônia, outros interesses e outros
sujeitos buscam destruir ou se apropriar do que foi realizado com esforço e
sacrifício de tantos, de muitos além de nós. Desde as gigantescas antenas
“billboards” da tropodifusão, até o ousado e moderno “cabinho” de fibras” que, parecendo
um cipó que busca o seu caminho natural, em vários trechos caminha em
zigue-zag, num truque para mitigar a agressão à floresta.
Circunstancialmente,
essa mesma Amazônia, cujos projetos elaborados por servidores públicos de telecomunicações
trataram com tanto respeito e dedicação para integrá-la, está sendo objeto de
interesses privados e literalmente queimada e destruída por esses interesses.
Não tem
jeito. A alternativa é enfrentar. Se alguma transformação positiva tiver que
ocorrer, não tenhamos dúvidas, surgirá na nossa capacidade e decisão de lutar.
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