quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Nossa cara na foto

 Opinião

O modo capitalista de produção impõe uma estrutura de classes que estão em luta permanente, embora a nossa consciência coletiva ainda não tenha se dado conta da natureza dessa estrutura e dessa luta.  E por não compreender isso, não conseguimos ver que nossas necessidades mais importantes são necessidades comuns porque são necessidades da classe a qual pertencemos.

Sem essa compreensão, participamos da luta de classes empunhando bandeiras diversas e com objetivos que geralmente são setoriais e específicos. São bandeiras reais, importantes e de necessidades imediatas, mas que não têm a abrangência necessária para nos identificar como um corpo único no campo de lutas. Sem essa compreensão, pode até acontecer de muitos estarem combatendo entre si próprios.

Infelizmente, é assim que já estamos na batalha da disputa eleitoral nesse ano quando, além do poder político institucional, que é o objetivo básico das eleições nas democracias liberais, também estará em disputa uma definição institucional do perfil ideológico majoritário em nossa sociedade. A polarização é tão expressiva e está tão consolidada que, além da candidatura político-partidária, o voto de 2022 traduzirá também a nossa opção sobre valores políticos fundamentais da sociedade brasileira.

Certamente eu não ignoro os partidos políticos que se apresentam como alternativas para o dilema da escolha Lula versus Bozo, entretanto seria um equívoco sobrestimar o peso dessas alternativas na atual conjuntura.

As questões de gênero, sexo, raça, posição socioeconômica, religião, educação, censuras, violência policial, expressões artísticas, além de outras, que têm marcado debates recentes estarão, por força de circunstâncias, implicitamente em avaliação no próximo pleito eleitoral, como uma espécie de plesbicito subliminar,

As eleições não mudarão o Brasil real, elas não têm esse poder. A nossa sociedade continuará dinâmica, diversa, contraditória, carente e miserável. Mas, após as eleições a sociedade brasileira sairá com uma cara social institucional menos difusa e melhor retratada pelo voto. Isso mudará a foto da nossa cara na carteirinha do clube das sociedades mundiais. E nesse aspecto o país não será mais o mesmo.

A luta de classes prosseguirá porque nenhuma das escolhas que fizermos levará à destruição do modo capitalista de produção que prosseguirá no seu processo fundamental e autofágico: transformar tudo, incluindo a vida, em mercadoria. E aqueles cuja única mercadoria para a troca e garantia de subsistência é a sua força de trabalho continuarão explorados e constituídos em classe trabalhadora, mesmo que não tenham uma clara consciência do que isso significa.

A luta será mais difícil ainda se os eleitores endossarem o governo de caráter fascista que já está no poder, e a possibilidade de reversão parecerá uma barreira intransponível. Mas, o enfrentamento continuará porque o conflito de interesses de classes não é uma invenção da esquerda, ele é parte intrínseca do capitalismo. As organizações da esquerda, tomara, deverão continuar em seu papel de organizar e liderar os trabalhadores nessa luta que é de classes. #####