Leituras para distrair
Conheci uma
figura que dizia existir sob a baía de Guanabara uma população alienígena, e
que havia alguns portais de passagem entre o nosso mundo, terrestre, e o
alienígena, subaquático. Quando soube da história eu tomei como piada. Não a
tese de um mundo submarino, mas o fato de haver alguém que descaradamente
propagava aquela história, até que eu conheci o sujeito.
Não foi um conhecimento ocasional, brincalhão. Não
ocorreu em um boteco, bebendo umas cachaças, nem em conversas fiadas de
esquinas. Longe disso. Foi em um grupo de
trabalhos de engenharia que coordenei com profissionais de diferentes empresas,
todos reconhecidamente competentes entre os seus pares.
Alguns já se
conheciam, eram colegas de trabalho, outros começavam a se conhecer. Achei que
era sacanagem, que eram conversas de aproximação e coisas do tipo. Cuidadoso,
antes de outra reação, procurei saber mais sobre o novo colega e se, de fato,
tratava-se apenas de uma brincadeira entre trabalhadores. Não era assim. O
sujeito era bem conhecido em seu local de trabalho, ele e suas teses. Eu era um dos mais novos a
ter contato com ele que, conforme fiquei sabendo, tinha até um histórico importante
de trabalhos profissionais.
Sempre cuidadoso,
busquei me aproximar e a recepção foi amigável e tranquila. Não havia segredos entre
ele e seus companheiros de empresa. Todos conheciam suas histórias, e ele
estava acostumado com a perplexidade dos novos ouvintes e até com a gozação de alguns
dos seus colegas quando tratavam do assunto.
Fiz o que pude
para viabilizar uma aventura pelo tal portal, mas minha viagem nunca ocorreu. Devo
dizer em defesa do então colega que todos os impedimentos foram circunstanciais,
e nenhum decorreu de objeções dele em comprovar suas histórias. Ele sempre
esteve disposto a me levar para conhecer o tal mundo desde que atendidas algumas
obrigações, que eu nunca soube exatamente quais eram, para a realização da
passagem.
A vida profissional
nos separou. O sujeito trabalhava em outra empresa e não sei qual fim levou,
possivelmente estará aposentado, se ainda estiver vivo. Hoje, vejo a baía de
Guanabara da qual tenho visão privilegiada (não tinha na ocasião) e imagino se
a população da Atlântida carioca, que perdi a oportunidade de conhecer, continua
por lá. Pensei nisso durante a queima de fogos na última virada de ano: Icaraí,
Flamengo, Copacabana, suponho que deve ter sido uma aporrinhação para os
extraterrenos.
As vezes
penso se deveria ter dedicado mais atenção para desvendar aquela história do
meu colega maluquinho, mas sempre será uma lembrança boa. Gosto disso, ainda mais quando penso que a história nasceu
de um sujeito que o senso comum costuma rotular como “normal”. Trabalhador,
responsável, formação técnica profissional, emprego formal etc. Não tenho
autorização nem lembrança para publicar nomes, mas foram várias as testemunhas
que viveram essa história comigo e que entrou para o meu acervo de histórias para
distrair.
Lembro de
outra, essa mais conhecida, que está até no Google. Entre os tantos
profissionais normais com quem trabalhei, cruzei com um que criava Sacis, e que chegou
mesmo a formar uma Associação de Criadores. Que tal?
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