domingo, 19 de março de 2017

Como nos livrar dessa quadrilha que tomou de assalto o país?

Opinião

Essa tem sido uma dúvida entre os que lutaram contra o golpe de 2016 que assaltou o poder. Que tentam enfrentar um projeto que avança para reverter conquistas sociais importantes através das suas reformas previdenciária e trabalhista, que pretende liberar sem restrições propriedade de terras para empresas internacionais, cassar o direito de greve dos servidores públicos, além privatizar o que ainda resta de patrimônio público nacional.

Para mim, neste momento, a resposta mais adequada está apontada pelo PSTU, entre outros. A promoção e realização de uma forte Greve Geral, já! O caminho para barrar essa quadrilha é provocar uma sensível instabilidade em seu poder com movimentações nas ruas e paralisação da produção. A situação atual não se caracteriza apenas por um poder executivo tomado pelo golpe. Mas, também por um legislativo que foi seu agente direto e que revelou a sua natureza no próprio processo do impeachment. Por um poder judiciário que já deu mostras cabais de parcialidade em suas decisões, e tudo isso sustentado pela  propaganda controlada por um poderosíssimo sistema de comunicações. A saída é uma mobilização popular.

 Mas, a mobilização popular que precisamos não deve ocorrer em torno da palavra de ordem “Lula 2018” porque esse tipo de mobilização não afetará a estrutura de poder que precisamos combater. Ao contrário, levará o jogo para o campo do adversário e com regras feitas por eles.  Muito menos deve se confundir  com os movimentos conservadores que preconceituosamente  criminalizam a política e os ideais de distribuição da riqueza.  A palavra de ordem precisa ser “Greve Geral já!”. “Fora todos junto com as reformas!”. Por um governo sustentado em Conselhos Populares!”. Assim teremos alguma chance de balançar o poder.

Discordo da avaliação do PSTU sobre o caráter dos acontecimentos de 2016. Se foi golpe, ou não. Mas, no campo da esquerda política, essa questão perde importância diante da discussão sobre alternativas para superar a situação atual. E é corretíssimo cobrar dos partidos e de seus militantes que joguem  todas as suas fichas na construção de uma greve geral em vez de priorizarem candidaturas e de amarrarem as centrais sindicais em cabresto. Só a CSP Conlutas não conseguirá realizar uma greve geral de sucesso, embora vá brigar muito por ela.

A palavra de ordem Lula 2018 realmente apavora os golpistas, contudo por mais sedutora e simbólica que seja a figura de Lula, cuja liderança é incontestável, priorizar tal palavra de ordem significa repetir o modelo de coalizão com a mesma corja que tirou Dilma do poder. Infelizmente, é nessa direção que o PT tem apontado seus esforços, na contramão da vontade de seus militantes,  conforme se constata  por suas ações subsequentes ao golpe, suas coalizões parlamentares e a sua opção, cada vez mais transparente, de abandonar a denúncia do golpe e priorizar uma candidatura Lula, puxando o freio do movimento, quando deveria cair dentro na construção de uma greve geral.

Lula e o PT não estão excluídos de um protagonismo especial na liderança dos trabalhadores. Mas, Lula e o seu partido precisariam fazer uma nova Carta aos Brasileiros. Não como aquela que buscou ganhar a confiança dos banqueiros, empresários e da burguesia, e que deu no que deu. Mas, uma carta aos brasileiros trabalhadores colocando-se como liderança num movimento por um projeto socialista, sem vender a alma pela possibilidade de vitória eleitoral. E uma carta dessa natureza precisa ser validada nas ruas. Não pode terminar com conclamações do tipo “confie no meu carisma e vote em mim”. Precisa terminar com um grito de luta, uma conclamação para a Greve Geral já! Porque parece que esquecemos que a greve é a arma do trabalhador! 

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segunda-feira, 13 de março de 2017

A suposta probidade da ditadura

Opinião

Se o crédito for dado a certos relatos, parecerá que o Temer chegou ao poder pelo seu brilhantismo político ou apoio popular. A impressão que se tem é que esse Matheus não foi parido. Ninguém quer embalá-lo.

Sei que ninguém pode decidir pelo outro. Mas, eu acho que o país merece um pedido de desculpas em vez dos esperneios golpistas que se recusam a assumir a responsabilidade pelo que fizeram e chegam a louvar uma suposta probidade dos governos da ditadura.

Para quem gosta de resgatar histórias, sugiro pesquisar sobre “José Carlos de Assis”. Economista, doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política e ganhador duas vezes do Prêmio Esso de Jornalismo.

Foi autor de três importantes livros que desvendaram os podres da corrupção de alto escalão no Brasil da década de 1970, durante a ditadura militar.  Os três livros foram editados pela Paz e Terra. Seus títulos: A Chave do Tesouro: Anatomia dos escândalos financeiros: Brasil, 1974-1983; Os Mandarins da República: Anatomia dos escândalos na administração pública, 1968-1984 e A Dupla Face da Corrupção. São registros de uma enorme relação de escândalos no período da ditadura.

Casos relatados nos capítulos de A Chave do Tesouro: Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. 


Ôps!  No meio de tanto esquecimento sobre a história do Brasil, eu mesmo esqueci de resgatar algo importante.  “Governos militares” que às vezes são identificados como “milicos”, “milicada”, “gorilas” e outros apelidos que buscam simpaticamente mediar e amenizar as suas imagens junto à sociedade brasileira, foram aqueles probos senhores e senhoras que tomaram o poder político através das armas e mancomunados com potência estrangeira que chegou a mobilizar frota bélica para o sucesso do seu golpe (golpe de 64, não confundir com o golpe de 2016). Foram os facínoras que prenderam, espancaram, torturaram e assassinaram brasileiros exclusivamente conforme as suas conveniências e interesses.  Ah! Estes, também, até hoje não pediram desculpas à nação.

Aliás, esse assunto me trouxe à lembrança o ex-ministro da ditadura Shigeaki Ueki.

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