domingo, 29 de junho de 2014

Plano Nacional de Educação - um gol de letra na Copa


Opinião

Ganhando ou perdendo a Copa teremos importantes gols para comemorar, mesmo que eles tenham ocorrido em disputas ofuscadas pelos enfrentamentos festivos entre as seleções da FIFA. Passado o caso do projeto Andar de Novo (Exoesqueleto) que só ganhou alguns segundos  de atenção das TVs durante a abertura da Copa, outro gol que mereceria ser comemorado com fogos, festas, danças, fantasias e beijos nas praças públicas, nas praias e nos estádios foi a aprovação pelo Congresso do Plano Nacional de Educação – PNE  e a sua sanção, como Lei 13.005/14, pela presidenta da República no último 25/06/2014 (link para acesso ao final deste texto).

A Lei do PNE é um gol de uma partida que não iniciou ontem. Trata-se de uma Lei cuja história é sustentada pela dedicação de gerações de militantes que lutaram pela valorização da Educação no Brasil desde a Constituinte de 1933, que fizeram de tudo para avançar nos subsequentes períodos democráticos e que bancaram os enfrentamentos durante as ditaduras do Estado Novo e do Golpe de 64. Embates que viabilizaram a articulação das várias entidades que formaram, em 1986, o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública – FNDEP e que fizeram constar no art. 214 da Constituição a obrigação de existência de uma Lei contendo um plano decenal, com diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a Educação no país, o Plano Nacional de Educação.

Resulta dessa luta o fato da nossa Constituição explicitar que o PNE deve ser elaborado de forma a se alcançar:  a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria da qualidade do ensino; a formação para o trabalho; a promoção humanística, científica e tecnológica do País; o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto.

A Lei do PNE não é um consenso mesmo entre os que a defendem, mas os seus adversários certamente não estão entre os que buscam aumentar a distribuição da riqueza nacional, e nunca é demais repetir: produzida pelos trabalhadores brasileiros.

As distâncias entre os projetos e as realizações práticas são sempre enormes, especialmente no caso dos projetos políticos. Mas, isso não é surpresa, é um dado da realidade. Não é por  acaso que o primeiro PNE, elaborado para o período 2001 – 2011,  foi tímido e com resultados que deixaram muito a desejar. E também não é por acaso que o projeto de PNE que deveria vigorar nos dez anos seguintes apesar de ter sido encaminhado para a discussão em 2010, só agora, quatro anos após, foi aprovado. Não foi um gol fácil resultado de um craque artilheiro plantado em posição especial esperando para chutar, nem mérito de um driblador miraculoso que venceu sozinho seus marcadores. Foi um gol construído por um conjunto, gol catimbado, com idas e vindas, e com muitos passes até a sua conclusão.

O PNE atual traz consigo uma meta importantíssima que foi barrada no Plano anterior. Ele obriga que até o fim da sua vigência, em 2024, devam ser alocados para a área de Educação os recursos de 10% do PIB nacional, escalonados de forma que 7% já sejam alocados até o quinto ano, 2019.  E outro fato que não pode deixar de ser mencionado é a iniciativa do governo federal de comprometer a priori ganhos oriundos da exploração do petróleo do Pré-sal vinculando-os à formação de recursos para a Educação. Considerando que o PIB nacional hoje é da ordem de 4,2 trilhões de reais,  dez por cento significa uma bufunfa de respeito. São  420 bilhões de reais – o que é muita grana em qualquer lugar do mundo. Alguns jornais informam que poucos países têm este tipo de comprometimento, tanto no volume como na obrigação legal de realizar estes investimentos.

A existência do PNE por si só não resolve os problemas dos trabalhadores nem as carências do setor Educação. É preciso transformá-lo em realizações práticas que, conforme a própria Lei, se desdobram em ações estaduais e municipais o que não será fácil. Cada merreca desses 420 bilhões será disputada e poderá ir parar no salário do professor, na merenda escolar, no computador da escola pública, na construção dos campi universitários, nos projetos de pesquisas, mas também poderá ir parar nos cofres das empreiteiras, nos bolsos dos donos das arapucas privadas de ensino, dos seus representantes e capachos infiltrados na administração pública, nos intermediários, nas campanhas e nos bolsos de governantes e parlamentares comprometidos com grupos de poder  e de interesses  privados que, a propósito, já estão organizados para abocanhar suas boladas. O posicionamento e a mobilização política da nossa sociedade determinará o lado para o qual a balança penderá.

O fato é que o PNE é um instrumento importante e a sua  existência assim como as suas possibilidades de desdobramentos são um avanço político. Pelo menos nessa área existirão elementos consistentes para referenciar os debates, as opiniões, as tomadas de posições, as escolhas e a participação direta, se for o caso, em vez do blá, blá, blá, frouxo, preconceituoso, despolitizado e desinformado que polui o tráfego de mensagens eletrônicas e mediocriza os bate-boca sobre política.

Ainda um outro ponto importante. Foi criada uma base de informações que pode ser acessada por um site denominado Observatório do PNE que pretende concentrar as informações sobre os desdobramentos do assunto. Eu recomendo que, no mínimo, seja acessado um curto vídeo sobre o funcionamento do Observatório (quem se der ao trabalho, observe no vídeo os grupos que construíram o Observatório).

No mais, eu gostaria de concluir com uma mensagem do tipo “agora é só correr pra galera”, mas infelizmente não é assim. Ainda tem muito jogo pela frente.




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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Com quantos bytes se faz uma Copa?

Leituras para distrair


Li no jornal Tele.síntese, uma ótima publicação especializada em telecomunicações, uma matéria publicada em 24/06/2014 com o título: 

 TRÁFEGO DE DADOS DA OI DURANTE A COPA JÁ BATE 35 MILHÕES DE FOTOS


Para mim foi apenas uma curiosidade, mas como vivemos uma fase de imersão total nas novidades tecnológicas de comunicações, mesmo sem autorização para tal, divulguei o link da matéria supondo que haveriam outros interessados em sua leitura.

Após a leitura, pensando em amigos que teriam interesse na mesma,  resolvi fazer alguns registros na tentativa de acrescentar informações sobre a palavra “byte” o verbete principal da matéria. Adianto, porém, que considero os meus registros ainda menos importantes que a matéria em pauta e que passaríamos todos muito bem sem ambos. De qualquer forma, seguem os registros.

Com quantos bytes se faz uma Copa?

No dia-a-dia trocamos informações através da fala, através de sinais, de imagens e através da escrita. No caso da escrita, usamos o alfabeto latino que contém 26 letras. As letras são símbolos que combinamos formando palavras e mensagens usando as regras do nosso idioma, e com as quais tentamos representar as nossas ideias, os nossos pensamentos. Um receptor que conheça as regras que utilizamos conseguirá captar e ler as mensagens que transmitimos. As palavras do nosso idioma não são limitadas em quantidade de letras e podem ter tamanhos diversos, assim como podem ter letras repetidas na sua formação.

Na comunicação e no processamento eletrônico de mensagens, genericamente chamadas de “dados”, as máquinas conversam entre si também formando palavras e mensagens e usando um alfabeto para tal. Porém, o alfabeto que utilizam contém apenas dois símbolos, o símbolo “0” e o símbolo “1”.

Esses símbolos são as “letras” do alfabeto que as máquinas utilizam para a comunicação e processamento de dados, e eles são chamados de “bit”. Assim, as máquinas formam as palavras e as mensagens usando dois tipos de bits: o bit “0” e o bit “1”.

Diferentemente da nossa escrita onde existem palavras com quantidades diferentes de letras, nas linguagens para a comunicação e processamento de dados o comprimento das palavras é padronizado, isto é, elas sempre têm a mesma quantidade de símbolos ou de bits. O tamanho padrão utilizado atualmente é de oito bits, e como só existem dois tipos de bits (zero e um) naturalmente eles se repetem para compor uma palavra de oito bits.

A título de exemplo: na língua portuguesa a palavra ARARA tem o comprimento de cinco símbolos ou letras, e usa apenas dois tipos de símbolos, “A” e “R”, que se repetem na sua formação. Uma palavra “eletrônica”, não importa o seu significado, pode ter a formação: 00101110.  Trata-se de uma palavra que tem o comprimento padrão de oito símbolos ou bits e, naturalmente, usa os dois símbolos, zero e um, que se repetem na palavra.

Embora existam máquinas que trocam informações com palavras de tamanhos diferentes, a palavra de oito bits é padronizada internacionalmente nas comunicações e processamento de dados, e este padrão recebe o nome de “byte”. Assim, byte significa uma palavra de oito bits, e no parágrafo anterior o exemplo foi o byte “00101110”.

No seu funcionamento as máquinas emitem sequências de bytes, ou seja, sequências de palavras de oito bits que obedecem a um conjunto de regras de linguagem, que são chamadas de “protocolo”, para que o receptor, que também conhece o protocolo, possa ler as mensagens.

Se monitorássemos uma sala com 10 pessoas, gravando tudo que elas falassem ao longo de certo período, por exemplo, durante quatro horas, e depois contássemos todas as palavras proferidas, sem preocupação com o significado, repetições etc., se apenas contabilizássemos a quantidade de palavras, teríamos uma medida da atividade de comunicação que ocorreu na sala. E se as 10 pessoas conversassem, cada uma delas com uma média de 30 palavras a cada 20 segundos, contabilizaríamos uma atividade de cerca de 216.000 palavras.

Se a gravação fosse impressa representando cada pessoa por uma caixinha e assinalando para cada uma a mensagem que ela emitiu, um observador que não conhecesse as regras da língua portuguesa veria apenas sequências de letras do alfabeto sendo transmitidas de uma caixinha para a outra, enquanto outro observador que nem conhecesse o alfabeto latino veria sequências incompreensíveis de símbolos sendo trocadas entre as caixinhas.

No caso de máquinas trocando informações, se elas forem gravadas e impressas, assim como no exemplo da sala de fofocas, um observador que não tenha conhecimento do protocolo verá apenas sequências incompreensíveis de zeros e de uns sendo trocadas entre as caixinhas. Uma caricatura de como seria isto é aquele conjunto de símbolos do filme Matrix que corre na tela sem cessar - muito divulgada para ser utilizada como proteção de tela de micro.

A matéria  matéria em pauta diz que foram registrados nos primeiros dez dias da Copa um tráfego, ou seja, uma atividade de troca de mensagens de dados de 32 terabytes.


Um terabyte equivale a 1024 gigabytes, mas na linguagem comum despreza-se os trocados e diz-se que equivale a 1000 gigabytes. O prefixo giga significa “bilhão”, assim, um terabyte significa um trilhão de bytes, ou seja, um numeral representado pelo algarismo um seguido de  doze zeros: 1 000 000 000 000. Então a atividade registrada foi da ordem de 32 trilhões de bytes (256 trilhões de bits).

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