sábado, 20 de outubro de 2018

A alegria continua!


Leituras para distrair


Em vésperas de completar um ano, encerram as  audições do Samba do Castelinho, a roda de samba realizada semanalmente no Castelinho do Flamengo, RJ, conduzida por um grupo de artistas brilhantes e especiais,  Anderson Balbueno, Jorge André, Bianca Calcagni, Marquinho China, Leonardo Pereira, Ana Costa e Paulão 7 Cordas. Sem intenção de esmiuçar outras razões, fico com aquelas apresentadas pelos próprios realizadores. Completou-se um ciclo cuja experiência aponta para a necessidade de modificações.


Meu  propósito, em que pese a modesta repercussão dessas anotações, é registrar  a experiência maravilhosa que compartilhamos em cada segunda-feira do Samba do Castelinho, além de render merecida homenagem aos seus artistas permanentes. Com eles e com os tantos visitantes que se apresentaram ao longo desse tempo vivenciamos momentos inusitados de poesia, melodia, alegria, conversas e emoções. Momentos de resgate da beleza e qualidade do samba brasileiro e da história do samba carioca que, arrisco dizer, dificilmente encontrarão  exemplos similares na cidade, nos tempos atuais.

Maravilhosa em sua composição geográfica e ocupada por uma população angustiada que fez dela uma “cidade partida”, o Rio de Janeiro ainda conta com a possibilidade de fazer do samba o fio de costura e integração de  uma malha social desigual e cheia de conflitos e contradições. Quem duvidar disso que busque as narrativas das poesias e melodias dos sambistas, esses cronistas inigualáveis do cotidiano. Dificilmente um cientista social  faria melhor e, certamente, nunca  de forma tão bela. Mas, a possibilidade precisa ser transformada em realidade, e um bom caminho seria insistir em experiências como o Samba do Castelinho.

Ficará conosco uma boa lembrança. Artistas que exibiram com maestria as suas sensibilidades e talentos. Nós que apaixonados seguimos com eles, admirados com sua arte e respeitosos por sua capacitação profissional. Todos embalados no feitiço e na magia do samba. A experiência feliz do ambiente amigável e descontraído que marcou todas as reuniões. Um samba em nossa sala, como sempre foi a proposta. Beliscando um tira-gosto e bebericando uma cerveja ou uma cachaça, como fizemos. A sensação boa de identificação com o outro ao cantar em coro um samba conhecido ou entoar juntos um alegre e tradicional “lalaiá-raiá”.

Aos amigos Anderson, Jorge André, Bianca, Marquinho China, Leo, Ana Costa e Paulão, muito obrigado! Naturalmente a lida tão sofrida continuará vindo para as ruas, todos os dias. Mas,  sabemos que uma de nossas armas para enfrentá-la é o samba, porque a existência dele é a garantia de continuidade da nossa alegria. ###






Foto copiada do Facebook do Samba do Castelinho

Nota: 
A primeira audição do Samba do Castelinho ocorreu em 27/11/2017. A saideira está programada para 22/10/2018 - Ver também Samba do Castelinho



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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

História para ninar gente grande


Leituras para distrair


Aprendi que com as particularidades da nossa formação ainda não tivemos tempo bastante para formar uma cultura que pudesse se chamar “brasileira”. Esse ser “brasileiro” ao qual geralmente nos referimos é mais um desejo do que uma realidade.


Resultamos de um monte de nações chamadas de indígenas que foram invadidas e desfeitas, quando não foram dizimadas, com a chegada dos portugueses. De africanos de nações e de culturas distintas e milenares que foram degredados e jogados aqui, escravizados, misturados entre si como lixo orgânico. E cerca de trezentos anos se passaram desde Cabral antes que a população dominante e de origem colonizadora pensasse na formação de uma nação. Assim, somos crianças em nossa formação cultural.

Sem dúvidas, temos ingredientes suficientes e de qualidade para uma boa massa cultural, mas ainda não chegamos lá. Não temos liga suficiente, ainda estamos esfarinhados. Olhamos uns para os outros nas ruas, mas ainda não nos reconhecemos. Falta essa coisa mágica, imaterial. Falta aquele algo intangível. Outros povos conseguiram isso. Alguns através da religião, outros por etnia, outros por condições geográficas. Os brasileiros ainda não conseguiram. Teremos tempo para formar essa liga antes que sejamos destruídos ou que nos autodestruamos? Esse é um desafio.

Faço esse comentário estimulado pelo vídeo com o samba da Mangueira para o Carnaval de 2019. O link para ouvi-lo está no final desse texto. Vejam que lindo. Estamos precisando de coisas assim.

A Mangueira parece ser um bom exemplo do que tento dizer. Não estou demonstrando preferências nem exclusões. Apenas exemplificando. Os mangueirenses de formações, valores  ou índoles distintas se vêm na Mangueira. Honrados e inescrupulosos, recatados e libertinos, honestos e vigaristas, canalhas e valorosos. Não são iguais, óbvio. Mas, identificam-se com a nação mangueirense.

Precisamos de uma “Mangueira Brasil” para a consolidação de uma cultura. Algo que nos permita olhar para o outro com alguma identidade apesar das diferenças e, talvez, a partir dessa identidade construir um espaço público. Por algum tempo até pensei que a nossa seleção de futebol fosse um símbolo desse ajuntamento necessário. Já não penso assim. Somos ainda um monte de gente com características e hábitos comuns, mas sem algo que queiramos preservar e construir como projeto.


Clique no link para ouvir o samba da Mangueira 2019



A autoria do samba é de Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino. A parceria venceu a decisão   em 13/10/2018. O enredo  da escola será “História pra ninar gente grande”.



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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A única justificativa do voto fascista é a opção pelo fascismo



Opinião


Eu não nego genericamente as análises que tentam mostrar as razões das escolhas pelo candidato Bozo. Tenho discordâncias aqui e acolá, algumas de conteúdo, outras de forma. Algumas de porte e outras nem tanto.  Contudo, nenhuma dessas análises justifica o fato de alguém entregar o voto a uma candidatura de cunho explicitamente fascista.

Se brancos, negros, gays, heterossexuais, mulheres, homens, cisgêneros, transgêneros ou coisa que o valha votaram ou votarão no Bozo, isso não deveria ser um destaque de argumentação. Os votos não poderiam ser gatos, cachorros nem marcianos. Afinal, a sociedade é assim. Múltipla, diversa. Quem acha que não pode ser assim é exatamente o pensamento fascista.

Mas, não estou falando em tese, nem por hipóteses. Estou falando na candidatura fascista que venceu no primeiro turno e está colocada para o segundo turno. Essa candidatura se revela e se expressa através de teses tais como:

“eu defendo a ditadura”, “eu vou fechar o congresso”, “(negros) não servem nem para procriar”, “não te estupro porque você não merece”, “agente vai varrer esses vagabundo daqui”, “o erro foi torturar e não matar”, “viadinho tem que apanhar”.

São desnecessários outros exemplos, mas vale resgatar o brado retumbante do candidato diante de uma plateia de milhões de pessoas

“ pela memória do coronel Carlos Brilhante Ustra!”.

Ustra foi um torturador que levou crianças, filhos e familiares de torturados, para presenciar sessões de torturas ( e não me venham com réplicas dizendo que são factoides ou fake news).

É comum entre os da minha geração termos amigos que foram aprisionados por essa ditadura que o candidato faz apologia. Então, como é possível ir a uma urna e deliberadamente depositar o voto dando representação a um candidato desse naipe?

Amigos, o nome disso é fascismo. E as pessoas que estão entregando o seu voto a candidatura do Bozo, por ignorância ou opção consciente, é porque afirmam ou reafirmam que o fascismo os representa.

Fascismo eu não discuto. Combato!

A minha moral é trotskysta. Acho que só os fins justificam os meios, o que não significa aceitar qualquer meio nem qualquer fim. E não se pode aceitar meios que contrariam os fins desejados.

Assim, não faz sentido justificar a finalidade de uma sociedade melhor, usando como meio a eleição de um  candidato que apregoa sem constrangimentos elogios a torturadores. Um candidato  que diz que a homossexualidade é doença  e falta de porrada, além de outras verborragias de cunho fascista.

O resultado da escolha pelo Bozo  já está acontecendo nas ruas. Já é notícia nos jornais. Não é invenção nem discurso petistas, de comunistas ou coisa que o valha.

Isso me entristece porque quem apoiou com o voto esse tipo de alternativa, se não o fez por engano, é porque também traz o fascismo dentro de si.

Nem considero aqui o que a candidatura do Bozo representa em termos socioeconômicos para a nossa sociedade, particularmente para os trabalhadores brasileiros.

Os interesses das grandes corporações capitalistas não foram alterados. Para eles o importante é imobilizar o país e chupar nossas riquezas. O Bozo é um instrumento. Se funcionar, tudo bem. Se não funcionar, vai para o lixo, como foi o Collor de Mello. Enquanto o Bozo lhes serve, eles  garantem recursos para que realize o seu papel de capataz e as fantasias eróticas dos seus leões de chácaras. A propósito, aqueles meninos saradões que se afirmam dando porrada em mulheres e gays – cá para nós, não precisa ser especialista para ver que ali tem homossexualidade enrustida e castrada.

Rigorosamente não há muito segredo.  Sem opções que atendam com satisfação os nossos projetos precisamos fazer escolhas. Ocorre que uns escolhem uma alternativa mesmo que a considerem frágil e insuficiente. Outros não se constrangem em levar um fascista ao poder. Os primeiros admitem e assumem a sua escolha. Os últimos tentam por todos os meios disfarçar ou descaracterizar a sua, elaborando teses que a justifiquem. Afinal, votar em um fascista não é uma opção política, mas uma declaração de princípios de vida.

Não nos enganemos, a única justificativa para um voto fascista é a opção pelo fascismo. Tomara que essa não tenha sido a sua opção. Se foi, ainda dá tempo. Pule fora dessa!  
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terça-feira, 2 de outubro de 2018

Direita brasileira – uma opção pelo fascismo


Opinião

Tenho participado de conversas sobre o fenômeno eleitoral do capitão candidato. Como ele se justifica, quais aspectos caracterizam o fenômeno, etc. Concluí que essas não são as questões mais importantes para mim, nesse momento.


Com justificativas de anticorrupção, antipetismo, antiestatismo, anti-isso e antiaquilo, vejo que alguns estão fazendo uma enxertia de seus projetos políticos, tipicamente de direita tradicional, usando o capitão candidato como o “porta - enxertos” ou, como se chama em jardinagem, o cavalo. Porém, o ponto relevante é que fazem essa opção sem qualquer constrangimento diante do fato de estarem cultivando uma alternativa que deveria ser intolerável. Endossam explicitamente o preconceito e discriminação dos miseráveis, a misoginia, a homofobia,  o racismo, a tortura, a ditadura de 64, além de outras aberrações escrotas e desprezíveis. Enfim, optam pelo fascismo.

Para mim, essa escolha é  um fato mais importante do que as análises sobre o fenômeno sociológico do capitão candidato porque eu não quero me relacionar com as pessoas  que estão fazendo tal opção.

Caminhando para os 70 anos, acumulei relações queridas com pessoas de pensamentos e crenças diversas, e constato que algumas pessoas dessas relações estão manifestando a intenção do voto fascista. Reflito se, a essa altura da vida, essas  divergências deveriam ter um peso tão alto. Concluo que sim porque são valores que a meu juízo sustentam e justificam a própria existência. Então, não pretendo conviver com pessoas que fizerem a opção pelo voto fascista.

Não renegarei as histórias dessas relações de amizade, familiares, de companheirismo ou coleguismo. Não acho que tenham sido um engano ou decepção. Tampouco farei juízo sobre o caráter de quem fizer essas opções, nem realizarei cerimônias de celebração do fim do pacto. Ao contrário, guardarei a memória de convivências boas e felizes, e vivenciarei os afastamentos que porventura ocorrerem como grandes perdas. Mas, não tenho como ocultar o que sinto. Sinto nojo! Repulsa! Não pretendo discutir nem entender as razões do voto fascista. Foda-se o fenômeno Bolsonaro! Apenas não quero conversa com quem fizer tal opção.
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