Leituras para distrair
Aprendi que
com as particularidades da nossa formação ainda não tivemos tempo bastante para
formar uma cultura que pudesse se chamar “brasileira”. Esse ser “brasileiro” ao
qual geralmente nos referimos é mais um desejo do que uma realidade.
Resultamos
de um monte de nações chamadas de indígenas que foram invadidas e desfeitas,
quando não foram dizimadas, com a chegada dos portugueses. De africanos de
nações e de culturas distintas e milenares que foram degredados e jogados aqui,
escravizados, misturados entre si como lixo orgânico. E cerca de trezentos anos
se passaram desde Cabral antes que a população dominante e de origem
colonizadora pensasse na formação de uma nação. Assim, somos crianças em nossa
formação cultural.
Sem
dúvidas, temos ingredientes suficientes e de qualidade para uma boa massa
cultural, mas ainda não chegamos lá. Não temos liga suficiente, ainda estamos
esfarinhados. Olhamos uns para os outros nas ruas, mas ainda não nos
reconhecemos. Falta essa coisa mágica, imaterial. Falta aquele algo intangível.
Outros povos conseguiram isso. Alguns através da religião, outros por etnia,
outros por condições geográficas. Os brasileiros ainda não conseguiram. Teremos
tempo para formar essa liga antes que sejamos destruídos ou que nos
autodestruamos? Esse é um desafio.
Faço
esse comentário estimulado pelo vídeo com o samba da Mangueira para o Carnaval
de 2019. O link para ouvi-lo está no final desse texto. Vejam que lindo.
Estamos precisando de coisas assim.
A
Mangueira parece ser um bom exemplo do que tento dizer. Não estou demonstrando
preferências nem exclusões. Apenas exemplificando. Os mangueirenses de
formações, valores ou índoles distintas se vêm na Mangueira. Honrados
e inescrupulosos, recatados e libertinos, honestos e vigaristas, canalhas e
valorosos. Não são iguais, óbvio. Mas, identificam-se com a nação mangueirense.
Precisamos
de uma “Mangueira Brasil” para a consolidação de uma cultura. Algo que nos permita
olhar para o outro com alguma identidade apesar das diferenças e, talvez, a
partir dessa identidade construir um espaço público. Por algum tempo até pensei
que a nossa seleção de futebol fosse um símbolo desse ajuntamento necessário.
Já não penso assim. Somos ainda um monte de gente com características e hábitos
comuns, mas sem algo que queiramos preservar e construir como projeto.
Clique no link para ouvir o samba da Mangueira 2019
https://www.youtube.com/watch?v=s91TcNhfYtY&feature=youtu.be -
Acessado em 15/10/2018
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