segunda-feira, 15 de outubro de 2018

História para ninar gente grande


Leituras para distrair


Aprendi que com as particularidades da nossa formação ainda não tivemos tempo bastante para formar uma cultura que pudesse se chamar “brasileira”. Esse ser “brasileiro” ao qual geralmente nos referimos é mais um desejo do que uma realidade.


Resultamos de um monte de nações chamadas de indígenas que foram invadidas e desfeitas, quando não foram dizimadas, com a chegada dos portugueses. De africanos de nações e de culturas distintas e milenares que foram degredados e jogados aqui, escravizados, misturados entre si como lixo orgânico. E cerca de trezentos anos se passaram desde Cabral antes que a população dominante e de origem colonizadora pensasse na formação de uma nação. Assim, somos crianças em nossa formação cultural.

Sem dúvidas, temos ingredientes suficientes e de qualidade para uma boa massa cultural, mas ainda não chegamos lá. Não temos liga suficiente, ainda estamos esfarinhados. Olhamos uns para os outros nas ruas, mas ainda não nos reconhecemos. Falta essa coisa mágica, imaterial. Falta aquele algo intangível. Outros povos conseguiram isso. Alguns através da religião, outros por etnia, outros por condições geográficas. Os brasileiros ainda não conseguiram. Teremos tempo para formar essa liga antes que sejamos destruídos ou que nos autodestruamos? Esse é um desafio.

Faço esse comentário estimulado pelo vídeo com o samba da Mangueira para o Carnaval de 2019. O link para ouvi-lo está no final desse texto. Vejam que lindo. Estamos precisando de coisas assim.

A Mangueira parece ser um bom exemplo do que tento dizer. Não estou demonstrando preferências nem exclusões. Apenas exemplificando. Os mangueirenses de formações, valores  ou índoles distintas se vêm na Mangueira. Honrados e inescrupulosos, recatados e libertinos, honestos e vigaristas, canalhas e valorosos. Não são iguais, óbvio. Mas, identificam-se com a nação mangueirense.

Precisamos de uma “Mangueira Brasil” para a consolidação de uma cultura. Algo que nos permita olhar para o outro com alguma identidade apesar das diferenças e, talvez, a partir dessa identidade construir um espaço público. Por algum tempo até pensei que a nossa seleção de futebol fosse um símbolo desse ajuntamento necessário. Já não penso assim. Somos ainda um monte de gente com características e hábitos comuns, mas sem algo que queiramos preservar e construir como projeto.


Clique no link para ouvir o samba da Mangueira 2019



A autoria do samba é de Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino. A parceria venceu a decisão   em 13/10/2018. O enredo  da escola será “História pra ninar gente grande”.



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