Crônicas de militante
Era ano de Congresso Constituinte – 1988. Vários de nós, empregados em empresas estatais, estávamos em Brasília trabalhando no convencimento dos parlamentares para a aprovação da proposta de anistia aos trabalhadores de empresas estatais demitidos pela participação em movimento grevista. Alguns eram voluntários dedicando suas férias ou folgas em prol do movimento, outros eram dirigentes ou representantes sindicais liberados, e outros eram os próprios demitidos, aqueles que se dispuseram a participar da base de atuação montada no Congresso Nacional pelas entidades de categoria formando o “Comitê das Estatais”.
O
convencimento ou lobby não era simples nem agradável. Tínhamos que abordar,
tentar conversar e convencer a votar em favor da anistia justamente os
parlamentares conservadores, a maioria deles representantes dos grupos ou das
causas que motivaram as greves. Eles, por sua vez, sabiam que a parte maior dos
que os abordavam eram figuras de destaque, cabeças ou lideranças dos
movimentos grevistas em suas empresas nos diversos estados do Brasil, militantes
ativos no movimento sindical e também nos diferentes partidos de esquerda.
Certo
dia, a nossa missão era abordar um parlamentar ex-militar, liderança no golpe
de 64, um destacado constituinte, senador de um partido da direita, que sabia
bastante sobre a militância de esquerda e suas representações, seus inimigos,
em especial a CUT.
Fomos
recebidos com respeito e cordialidade, e ouvidos com atenção. O senador fez algumas ponderações e contestações sobre
como ele via o histórico da nossa atuação, sempre procurando algum elemento ou
motivação que permitisse nos despachar sem contradizer a sua fama de, embora
conservador, democrata.
Para o senador aquela também não era uma tarefa simples. Nossa abordagem era cuidadosa, identificando-nos com a causa da anistia, sem referências ideológicas ou partidárias. Não dávamos motivos para ele nos despachar. Éramos representados pelos colegas mais experientes e julgados com melhor preparação para as abordagens dos parlamentares considerados especiais pela sua representatividade política no congresso ou no seu partido.
Para o senador aquela também não era uma tarefa simples. Nossa abordagem era cuidadosa, identificando-nos com a causa da anistia, sem referências ideológicas ou partidárias. Não dávamos motivos para ele nos despachar. Éramos representados pelos colegas mais experientes e julgados com melhor preparação para as abordagens dos parlamentares considerados especiais pela sua representatividade política no congresso ou no seu partido.
Conversa
vai e vem, transmitimos a nossa mensagem. O senador foi cordial todo o tempo
com os jovens rebeldes. Com um braço sobre os nossos ombros nos dava tapinhas
camaradas nas costas enquanto com a mão aberta do outro braço afagava carinhosamente
o nosso peito entre a camisa e o paletó. Parecia um conselheiro mais velho
orientando um jovem querido, um filho, sobrinho ou parente próximo.
Sabíamos
porém que a raposa buscava os nossos broches de militância, do sindicato, da
CUT ou do partido. Ele sabia que estava falando com militantes mais
experientes, que era nossa prática ostentar estes adereços e que possivelmente estariam
escondidos sob o paletó durante a entrevista.
Felizmente
esta situação era prevista, aliás, justamente por conta destas situações a
nossa organização determinava quem deveria ser abordado, por quem e, se
possível, quando isto deveria ocorrer, Mesmo assim, nesse dia foi por um triz.
O meu companheiro estava com uma estrelinha do PT na parte inferior do paletó.
Por sorte, bem no fundo, quase no sovaco, e o senador não detectou.
A
visita valeu. Depois o senador recebeu outras visitas e foi talvez a figura
principal na defesa da nossa proposta de emenda que foi vitoriosa e anistiou os
demitidos das estatais, entre eles, nós, os demitidos do setor de Telecom.