Opinião
É muito bom e importante para o nosso país a ocorrência destas
manifestações. Ao lado da questão específica do preço das passagens, o
movimento jogou por terra o tradicional lenga-lenga sobre a passividade da população
brasileira. O povo está aí, unido e vitorioso, ocupando as ruas em passeatas e
agitações com as suas palavras de ordem em manifestações que sempre foram típicas
dos militantes e partidos de esquerda, muitas vezes alvos de chacotas e rotulados
como agitadores e radicais exatamente por tais práticas. Avançamos!
As manifestações devem ser apoiadas e seria muito bom que continuassem. Elas
têm poder e mostram que é possível forçar o posicionamento dos governos na
direção da vontade popular.
As mobilizações cresceram em um solo fértil criado pelas opções
políticas do governo do PT e nos espaços vazios das ruas deixados não só pela
sua militância, mas também pelas lideranças da CUT e da UNE. Estes últimos deixaram
a interminável e nada atraente tarefa de ressoar as indignações e
reivindicações dos seus representados e adotaram um alinhamento político sem
críticas em troca de confortáveis cargos nas instâncias do poder estatal e do
usufruto de verbas oficiais.
Os protestos também assanharam os
partidos da direita representados especialmente pelo PSDB, além da parcela conservadora
e preconceituosa da sociedade que nem se organiza politicamente, mas que não
engoliu as expressivas vitórias de Lula e Dilma, muito menos o sucesso e os
índices de aprovação popular de seus mandatos.
Os partidos de direita, sem propostas, espreitam os acontecimentos e torcem
pelo caos total na expectativa de colocar o prejuízo na conta da Dilma durante
a próxima campanha eleitoral. Os preconceituosos,
sem uma direção apontada pelos partidos de direita, aproveitam para divulgar o
seu preconceito. Muitos até participaram das passeatas, mas estariam bem mais
confortáveis se fossem marchas da família com deus pela liberdade (as
minúsculas aqui são propositais).
Apesar de muito importante, as mobilizações ainda refletem um estágio
primário de consciência política, na medida em que hostilizam generalizadamente
a organização partidária, uma conquista histórica obtida à custa de muitas
lutas e sacrifícios ao longo da história brasileira. As ditaduras e os
caudilhismos políticos florescem neste ambiente de geleia geral e alienação.
É interessante observar que basta esticar um pouco a conversa e as
mesmas pessoas que apontam o apartidarismo como mérito dos protestos começam a
discursar sobre os pontos que deveriam ser reivindicados, as questões que
deveriam ser prioritárias, bem como o que deveria ou precisaria ser ou não ser
feito. Com raríssimas exceções, todos
querem pautar os temas das mobilizações à luz de suas escolhas, ou seja,
ninguém quer a participação dos partidos, mas todos querem apontar a direção
política do movimento.
Mas este salto de qualidade – de todos nós – virá da experiência e das
lutas. Ele não ocorrerá com um partido assumindo o carro de som e dizendo o que
fazer ou para onde ir, tão pouco será aprendido em livros ou textos políticos. Muito
menos pelos editoriais e pareceres divulgados nos jornais, rádios e TVs. A
realidade dará conta das contradições e cuidará de identificar e acolher ou
rechaçar os movimentos organizados, incluindo os partidos políticos, a partir
das posições e ações no campo das lutas sociais.
As grandes centrais sindicais perderam este trem. Acho correta a
avaliação do PSTU que seria a oportunidade de convocar uma greve geral, mas também acho que elas já não tem autoridade política para tal. Uma greve geral
seria efetivamente um passo de gigante desperto. Seria uma advertência na
medida em que vivemos um momento sensível da situação econômica, quando a crise
que só mostrava a sua face internacional bate mais forte e com maior
insistência nas portas do nosso país que já não navega em mares de
tranquilidade econômica como ocorreu no governo anterior.
A crise é real e consistente, e não tenhamos dúvidas que serão os
trabalhadores – e consequentemente a parcela mais sacrificada de toda a
sociedade - os primeiros a serem imolados como oferendas aos deuses do modo de
produção capitalista.
Arrocho salarial, desemprego, redução de proteções legais do
trabalhador, flexibilização das obrigações dos empregadores etc. são
procedimentos padrão adotados pelos dirigentes do sistema com o objetivo de
preservação das suas taxas de lucro e nenhuma ação do governo atual, em que
pese a incontestável importância de algumas de suas políticas sociais, indica
que o enfrentamento da crise se dará sob a óptica prioritária do interesse dos
trabalhadores.
Assim, devemos endossar as mobilizações e trabalhar para a vitória das
mesmas. Fazer a hora sem esperar acontecer para, então, tentar retomar as
mobilizações. Se o governo petista quisesse esta seria uma chance de sair da
prisão em que ele próprio se meteu com suas alianças e compromissos políticos.
Naturalmente há problemas e aspectos difíceis de tratar. As invasões do
tráfico, da delinquência e da indigência, assim como as infiltrações de grupos
fascistas organizados promovendo a baderna e o vandalismo são uma realidade. Mas,
estes serão expurgados pela efetiva politização do movimento. Eles não resistem
à política e o próprio movimento dará conta deles. Não será a polícia.
Polícia é força armada do estado e o estado está privatizado, não é dos
trabalhadores. Ela não está aí para defender o patrimônio público, embora até o
faça. Está aí para defender a propriedade privada e preparada para dar porrada
nos manifestantes. Não há polícia simpática nem democrática. Ela obedece a
ordens de comando (e nem sempre) e só abaixa o cassetete quando teme levar
porrada da multidão de manifestantes.
No mais, vamos tentar avançar. Sigo na linha do PSTU – Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado. São militantes que além despertarem
para a necessidade e importância das mobilizações, há algum tempo decidiram
realizá-las, bem antes do junho de 2013. Na luta pelo passe-livre, mas também
pela educação, pelos salários dos professores, contra a privatização das
empresas, contra a entrega do petróleo, pelos salários dos motoristas de
ônibus, contra governantes e parlamentares picaretas e solidários com
trabalhadores do outro lado do mundo.