Opinião
Amanhã será
1º de Maio. Tradicionalmente dia de trabalhadores saírem às ruas em
confraternização, grande parte deles sem mesmo saber a gênese de suas
celebrações. Uma festa disputada. Memória de lutas contra a opressão, o 1º. de Maio
sempre teve um simbolismo fortíssimo, tão forte que o empenho em roubar o seu
simbolismo da memória dos trabalhadores é permanente.
No sistema
de produção capitalista, onde os trabalhadores se agregam como classe explorada
pelo capital, as corporações que representam esse último têm uma preocupação
constante em que os trabalhadores não tenham a consciência do papel que
representam nesse sistema, ou seja, não tenham consciência de classe. E as
corporações trabalham intensamente para isso.
As donas do
capital têm plena consciência do que representam e dos seus interesses, dos
interesses e vontades de sua classe, mas isso não ocorre entre os
trabalhadores. Os trabalhadores sofrem concretamente a opressão, têm força e
poder para transformar essa realidade, mas não refletem objetivamente sobre o mecanismo de exploração que os
submete – falta-lhes consciência de classe.
As organizações
de trabalhadores que querem superar esses obstáculos apontam as direções das
lutas, organizam movimentos reivindicatórios, resgatam memórias de lutas, e é
nesse contexto que se enquadra o simbolismo do 1º. de Maio. Antes de tudo, uma
data que evoca as lutas e greves dos trabalhadores, além do caráter
internacional da sua classe.
Certamente
esse tipo de ação bate de frente com os donos do capital que recorrem às suas
armas no enfrentamento dessa organização, e sua arma principal é o Estado
administrado pelo poder econômico. Conforme a necessidade, essa arma é
utilizada desse ou daquele jeito. Ora como instrumento de repressão contra os
trabalhadores em suas manifestações e, em outras circunstâncias, como um
solvente de suas iniciativas de organização viabilizado através da cooptação de
lideranças sindicais e políticas.
Em nossa
história já houve momentos em que mobilizações pela jornada de oito horas de
trabalho quando vigorava a prática de 10 a 12 horas por dia; pela abolição do trabalho infantil quando vigorava
a prática de contratação pelas fábricas de crianças de seis anos; pela a
proteção ao trabalho da mulher, entre outras, eram fortemente representadas em
manifestações no 1º. de Maio e, usualmente, reprimidas pelas forças do Estado.
Em outros
momentos, a arma Estado foi usada de forma mais eficiente. Foi utilizada para transformar o
1º. de Maio em uma festa alienada das lutas dos trabalhadores. Infelizmente, esse
tipo de ação sempre passa, antes de mais nada, pela cooptação de dirigentes
sindicais pelegos e traidores de categorias e de classe.
Não cabe
resgatar a memória das lutas dos trabalhadores, nem a história dessa data tão
importante. Contudo, é triste verificar que nesse ano de coronavírus a
cooptação parece ter chegado a um ponto que dificilmente será superado.
A pandemia
do coronavírus ficará para sempre na história do nosso país como um marco do
ano 2020 e infelizmente, o 1º. de Maio
desse ano também ficará. Mas, não apenas
como um 1º. de Maio de isolamento social, mas também como um 1º. de Maio de lembranças
vergonhosas e desonrosas para a história do movimento dos trabalhadores.
As centrais
sindicais, com exceção da CSP Conlutas e a INTERSINDICAL celebrarão o 1º. de Maio
de 2020 do tipo festa do Estado, fato que não traz muita novidade. A cooptação
de dirigentes pelegos, que em vez de estarem à frente das categorias como
porta-vozes de suas reivindicações, assumem o papel de mestres de cerimônias de
festinhas bancadas pelo governo local tem sido recorrente.
Contudo, esse
ano a parada é quente. Até o coronavírus deve estar espantado com tanta
sem-vergonhice dos dirigentes sindicais. Esses calhordas estão promovendo um
evento com o lema:
1º. de Maio
Solidário – Saúde – Emprego - Renda.
E estão convidando para o evento,
entre outros, nada mais nada menos do que:
Fernando Henrique Cardoso (PSDB); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ);
a ex-candidata presidencial Marina Silva
(Rede); o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); o presidente do do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. os governadores do Rio de
Janeiro, Wilson Witzel (PSC) e de São Paulo, João Doria (PSDB)
Sim – no
mesmo cenário de Reforma Trabalhista, Desemprego, Reforma da Previdência,
Privatizações – as centrais sindicais estão fazendo “isso”.
Quem não
acreditar busque saber. Os sites das centrais referem-se aos convidados de uma
forma genérica como “políticos”, mas a informação está escancarada em alguns
jornais das centrais, incluindo no órgão de mídia que representa a CUT (RBA – Rede Brasil Atual).
Não vale
gastar palavras classificando esses hospedeiros que carregam e espalham o vírus
do peleguismo entre os trabalhadores. Pra quem é, bacalhau basta. O espaço aqui restante será ocupado para a convocação de uma manifestação classista – um verdadeiro
1º. de Maio - Vamos à luta!
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Cartaz de convocação para o 1o. de Maio de 2020 pelas centrais: CSP Conlutas e INTERSINDICAL |