Opinião
Hoje deve estar complicado lá, para o
lado de São Jorge. Para nós, alguns dias santificados são de feriado e lazer, mas
para os santos o “day after” deve ser uma complicação total. A moçada não
alivia a barra e carrega nos pedidos de proteções e graças apelando para os poderes que imaginam
que os santos possam ter. Assim, lá no barracão ou escritório das santidades, hoje deve ser dia de separar os
agradecimentos dos pedidos, de organizar esses últimos cuja quantidade certamente
será infinitamente maior que os primeiros, de separar o válidos dos inválidos, enfim, uma trabalheira, sem falar na operacionalização.
Tudo bem que aqui, no Rio de Janeiro,
o santo guerreiro poderá pedir uma ajuda a São Sebastião com quem divide o
cargo de padroeiro. Porém, tem o caso da Inglaterra, Portugal e outros países
onde ele também é padroeiro, tem mais de uma matrícula, e onde estão todos igualmente enfrentando
pandemias de coronavírus. Não consta que os fiéis desses lugares sejam mais parcimoniosos
que os daqui nesses assuntos de rezar por proteção.
Mas, tem assunto que nem São Jorge
nem São Sebastião vão dar jeito. “É coisa
dos home”, lembrando Aldir Blanc e João Bosco. “ ... A fome tem que ter raiva pra interromper, a raiva
e a fome de interromper, e a fome e a
raiva é coisa dos home”. E parece que ainda não acumulamos fome e raiva bastante para
interromper esse processo político maluco que estamos vivendo. Maluco,
entenda-se bem, no sentido figurado, nas
suas manifestações caricatas. Porque seus efeitos e propósitos obedecem a projetos elaborados, organizados e
criteriosos para fazer do país uma nação de categoria inferior, com uma sociedade
de porão, encolhida em quartinho de fundos e sem janelas para o futuro.
A trupe Bozo está dando o máximo de
si para expressar sua mediocridade. Entreter a população, mostrar que há
estágios da condição humana que podem ser mais miseráveis do que a contaminação
viral, esse parece ser o seu papel nessa crise e, justiça seja feita, está desempenhando com afinco.
Parece que os ministros da trupe revezam-se na tarefa de se mostrarem imbecis. Em plena crise pandêmica um ministro faz piada
com a morte da sogra de um médico equatoriano. “Morte suspeita” foi a piadinha
do ministro. Mas, pasmem! Não foi conversa privada grampeada, foi em mensagem
pública que ele mesmo divulgou.
Outro ministro não deixou por menos. Um
filósofo de fama internacional apontou contradições expostas pela pandemia. Todas
as ações de recuperação da ordem capitalista estão sendo realizadas pelo Estado e com recursos públicos
seguindo uma lógica que nega completamente os aclamados valores do pensamento
neoliberal. Aliás, um fato de constatação obvia e irrefutável. Porém, como se
disputasse um concurso de estultice, o ministro do governo Bozo fez artigo em
blog intitulado “Chegou o comunavírus”
acusando filósofo, professor da universidade de Londres , de usar a pandemia
para "instaurar o comunismo, o mundo sem nações nem liberdade, um sistema feito
para vigiar e punir".
Tá bão ou quer mais?
Volta e meia um desses idiotas da
trupe entra em processo de fritura e conflito com o chefe, como está ocorrendo
nesses dias. Mas essas defecções ministeriais, tanto as ocorridas como as
anunciadas, não me parecem sinalizar ratos abandonando navio que afunda,
Parecem mais baratas alvoroçadas por alguma perturbação em sua tranquilidade. A barata da vez é juiz de primeiro piso.
Essas baratas que estão saindo buscarão
e logo acharão agasalho em outro bueiro de restos e sujeira. É da natureza
delas ziguezaguear de um bueiro para outro. Mas, o foco de onde saíram permanece
imundo, e para lá outras baratas convergirão. É esse foco que precisa de uma
limpeza e desinfecção em regra. Dessas que mesmo sendo
realizada com o uso de luvas, obriga-nos a lavar, lavar e lavar as mãos ao
terminar. Tal limpeza é realizada com muita mobilização política – nossa tarefa.
E tem que ter raiva para interromper.
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