Opinião
Dia desses li uma matéria bem
interessante sobre a experiência de um artista alemão que colocou um monte de
celulares ativados em um carrinho de mão e saiu puxando o carrinho pelas ruas de
uma cidade. Com isso ele enganou o aplicativo do Google (Google Maps) que
interpretou a concentração de celulares como um congestionamento de trânsito.
Na medida em que o sujeito puxava o carrinho, o Google indicava uma faixa
vermelha de via congestionada e, consequentemente, a rua ficou completamente vazia
e sem trânsito porque as pessoas passaram a buscar alternativas para o
congestionamento. No final desse texto tem link para a matéria e vídeo com a
experiência do artista.
Sem aprofundar as análises, a matéria
sobre o cara que enganou o Google Maps aponta alguns aspectos importantes desse
mundo novo e virtual. O texto chama atenção para o
que ele atribui como novas formas de mercantilização na produção capitalista que,
além de determinarem comportamento e opiniões,
viabilizam o exercício do poder e o controle do conhecimento.
Outra novidade, interessantíssima, foi apresentada pela Microsoft e que até viralizou na web: um software que produz
um holograma (imagem em 3 dimensões) de um apresentador que pode se apresentar
discursando em qualquer idioma, mas com a dicção e a entonação do apresentador
original. Algo impressionante, sem dúvidas, mas cabe a pergunta: quem além das grandes corporações privadas lucrará com isso?
Trata-se de um assunto sobre o qual vale refletir, mas geralmente o próprio fascínio pelas novas funcionalidades tecnológicas desvia a nossa atenção de pensar sobre elas. Deixamos de considerar como essas inovações se prestam mais para a criação de novos mecanismos de exploração do que para uma melhoria efetiva no bem estar dos seres humanos.
Esse tema deveria ser bem explorado, especialmente no momento quando a humanidade – ou parte significativa dela –
está acuada em suas casas por conta do coronavírus. O quanto e como essas
inovações contribuíram positivamente para a humanidade até o aparecimento do
coronavírus? E agora, durante a pandemia e depois, no período pós pandemia?
Não se trata de demonizar ou navegar
contra a corrente, o que seria impossível, mas de fazer balanços. Geralmente nas conversas não faltam exemplos de potenciais usos das modernas tecnologias
para a satisfação e gozo da humanidade, mas na prática não se vê muito mais do
que o aprimoramento de meios visando extração do mais valor na produção capitalista.
O conhecimento científico, como qualquer outro, é um produto social, assim como as inovações tecnológicas construídas a partir dele.
Nada mais justo do que questionar quem
está se apropriando e aproveitando efetivamente dos benefícios desse
conhecimento.
NOTAS
[1]
Google Maps Hacks by Simon Weckert – Acessado em
27/04/2020 em < http://www.simonweckert.com/googlemapshacks.html>
[2]
Demo: The magic of AI neural TTS and holograms at
Microsoft Inspire 2019 – Acessado em 27/04/2020 em <https://www.youtube.com/watch?v=auJJrHgG9Mc>
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