sexta-feira, 17 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (29)


Opinião


Toda sociedade convive com elementos internos que trabalham contra as possibilidades do seu desenvolvimento. São elementos da própria sociedade que a agridem e que trazem consigo um potencial de auto-apodrecimento e de subsequente autodestruição. As sociedades convivem com esses elementos, mas usualmente estão imunes, porque também são portadoras de anticorpos que destroem ou isolam esses agentes doentios impedindo sua propagação. 

Quando por alguma razão essa proteção falha, a podridão se espalha em proporção suficiente para que a sociedade se apresente adoecida, fragilizada, com baixa imunidade e com a contaminação expressa em partes diversas do corpo social. A nossa sociedade está assim. Temos um gravíssimo problema de saúde, além do coronavírus e anterior a ele.

Tudo indica que esse processo de ruptura das barreiras de proteção social iniciou em 2013. Sem ações políticas que a contivesse, a doença se espalhou liberando agentes que já eram doentios, mas que estavam contidos, e criando outros por mecanismos de contaminação. O resultado está aí, ou melhor, está aqui. Esse processo de autodestruição do país e. consequentemente, da nossa sociedade, está sendo levado a cabo por personagens a quem a própria sociedade entregou poderes através de votos.

As manifestações da doença ocorrem de formas diversas e distintas. As tentativas do ex-capitão boquirroto de transformar o Brasil em uma “bozotown”, incitando seus seguidores ao suicídio coletivo,  é a ação de um indivíduo doente, mas também é manifestação de uma doença social quando seus prosélitos fazem carreatas de apoio, tal e qual os suicidas seguidores de Jim Jones há quase cinquenta anos na Guiana. Assim como como apoiar a entrega da soberania e das riquezas nacionais ao capital privado, de todo e qualquer jeito, ou a destruição dos direitos trabalhistas e dos direitos sociais. Levar o país ao caos e à morte, é desse jeito que essa doença evolui.

Assim, o quadro circense que teve clímax ontem com a troca de fascista no ministério da Saúde não deveria surpreender – estamos doentes. Outro fascista entrou no cenário.  Ele não precisa ter atributo especial. Estar próximo politicamente, sustentar ou apoiar esse projeto já qualifica, ou melhor, desqualifica o sujeito, entre eles o tal ministro que substitui o anterior.

Mas, a sociedade estar adoecida não quer dizer que ela não possa reagir, e no caso da sociedade brasileira ainda temos recursos para tal. Felizmente. Somos uma quantidade relevante de agentes sadios,  em número suficiente para varrer esse vírus fascista do corpo social. Uma corja que precisa ser extinta e os seus remanescentes, que sempre existirão, precisam estar isolados politicamente.

Buscamos aqui e ali como fazer, mas ainda não encontramos o jeito. Já deveríamos ter aprendido que essa transformação não ocorrerá através de eleições, mas alguns ainda pensam assim. Naturalmente temos uma contradição para tratar – o isolamento social imposto pelo coronavírus conflita com a necessidade de irmos para a rua tratar dessa doença política. Um remédio prejudica o outro. Mas, isso não é novidade na medicina e, muito menos, na política. Chegaremos lá.

Não temos uma bozoquina milagrosa, feito aqueles remédios propagandeados em nome das bigfarmas do patrão americano. Nada que nos salve desse mal que avança, além da nossa vontade de fazer um mundo melhor. Claro que só a vontade não basta, mas será ela que nos empurrará para frente até derrubarmos essa canalha.

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