terça-feira, 25 de agosto de 2015

Onde essa criança aprendeu isso?


Leituras para distrair
“Aberto laboratório de computador quântico em Shanghai”. Eu li esta notícia recentemente, na internet e, embora ciente que sempre haverá uma distância razoável entre a realidade e as manchetes jornalísticas, fico impressionado. Há seis anos comentei sobre um livro que trata da computação quântica (Resenha Q - Bits), um assunto que na ocasião ainda parecia estar mais próximo da ficção. Contudo, as notícias sobre o estado da arte nesta área sugerem que os avanços tem sido rápidos e que há uma possibilidade real da construção, em breve, da tal máquina.

O assunto ainda parece tema para nerds ou cientistas, mas até bem pouco tempo quase ninguém fazia ideia, também, do que eram bits, bytes ou pixels, produtos que hoje são vendidos no comercio ambulante mesmo que poucos saibam exatamente o significado técnico dos mesmos, banalizados pelo seu valor de uso, como a Aspirina. Dispositivos eletrônicos de memória de massa, os minúsculos pen drives, foram apelidados de “chupa-cabra” e são comercializados entre as bancas de livros usados na saída do metro Carioca, no Rio Janeiro com os seus preços na faixa de dez a trinta reais conforme a quantidade de “megas” ou “gigas” que são capazes de armazenar.

A anunciada computação quântica promete ser uma revolução, bem mais do que apenas um avanço tecnológico ou uma atualização de versão de funcionalidades do celular. As velocidades de bilhões de operações por segundo realizadas atualmente com os “bits” serão superadas em muito pelos “quantum bits”, ou Q Bits. Esta “coisas” além de assumirem os valores “um” e “zero”, como fazem os bits tradicionais, podem assumir também um terceiro estado, indeterminado, que é, ao mesmo tempo, “um” ou “zero”, e tudo se passa como uma mágica que permitirá um aumento estupendo nas atuais velocidades das operações. Não importa como, acredite, este atributo permitirá um aumento tão grande na capacidade de processamento de informações que a sua chegada já ameaça os mais modernos sistemas de criptografia (codificação e senhas) eletrônica.

As possibilidades advindas destes avanços tecnológicos geralmente nos estimulam a buscar as interpretações dos renomados cientistas e técnicos numa vã tentativa de antever o mundo futuro.  Mas, com este objetivo, talvez a melhor direção seja dirigir os nossos olhares para as crianças e os artistas. Veja a reação de uma criança de colo, que nem mesmo sabe falar, ao pegar um celular. Faz gestos de pressionar pontos ou deslocar imagens em uma tela de sensibilidade ao toque, quase tão instintivos como o de levar a mamadeira à boca. Buscam respostas da tela com gestos que ninguém ensinou. E vejamos também com atenção os artistas, pintores, escritores, músicos, poetas. Mas, não com uma visão restrita de quem busca adivinhar o futuro em bola de cristal. Faça as filtragens que quiser, mas tente abrir a mente à compreensão. Eu não sei a receita, muito menos saberia ensinar, mas aprendi que nenhum cientista do passado conseguiu conjecturar sobre a realidade atual com tanto acerto e significado como fizeram os artistas com suas metáforas, suas ficções, dúvidas e assombramentos (Link para a matéria: Aberto laboratório de computador quântico em Shanghai).



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domingo, 23 de agosto de 2015

"ai, ai, ai, família é mãe e pai"


Opinião
Em meio a desestímulos, greve de professores nas universidades, manifestações de baixa estima e conflito de opiniões, o Brasil vai executando o seu Plano Nacional de Educação – PNE agora com a elaboração dos planos estaduais e municipais. Infelizmente este não é o tema que ocupa as manchetes dos noticiários e, assim, não é replicado nas conversas populares cotidianas. Mas, em âmbito mais restrito, entre grupos específicos de interesse, os debates estão ocorrendo e as informações estão disponíveis.

Um surto conservador estimulado pela conjuntura política tem se manifestado em todo o país e o centro dos debates tem sido as diversidades, especialmente aquelas representadas pela palavra "gênero". A ação conservadora nas câmaras parlamentares municipais e estaduais tem sido tão expressiva que em várias situações a palavra “gênero” foi simplesmente excluída de qualquer parte de texto dos planos de educação aprovados. Na prática isto significa que as estruturas de educação e ensino submetidas a estas leis deverão passar longe das discussões sobre as diversidades em suas múltiplas formas.

No último dia 11/08/2015 a câmara de vereadores de São Paulo aprovou em primeira votação o plano municipal da cidade que é possivelmente a mais importante do país sob a óptica política. Nas galerias, chamados de fascistas pelos grupos mais progressistas,  os manifestantes conservadores gritavam "ai, ai, ai, família é mãe e pai". A palavra “gênero” foi excluída do texto.

A disputa prossegue. Qual a educação que buscamos? Uma educação formadora de um ser humano com visão abrangente, observador e crítico, independentemente de suas escolhas políticas, ou queremos uma educação apenas geradora de mão de obra com qualidade e especializada para um sistema de produção que determina currículos, uma educação que forma especialistas, tecnocratas, competidores sem visão crítica da sociedade em que vivem?

Queremos uma educação “para o mercado” que acolhe ou descarta educandos conforme o estado da arte das tecnologias e a demanda circunstancial dos interesses do sistema capitalista de produção, ou queremos formar o ser humano sem preconceitos, solidário,  idealizador e capaz de construir uma sociedade justa?

Acho uma discussão interessante, mas o que valorizo aqui é a divulgação dos planos e dos debates em torno deles. E na sua cidade o Plano já foi elaborado, o resultado final foi legal, você sabe o que rolou por aí?