quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Filtro de canalhas

Opinião 


A participação, o apoio e a tolerância omissa ou silenciosa diante de movimentos que clamam pelo retorno à ditadura corrupta, torturadora e assassina e, ainda, a indiferença aos atos de sabotagem da nação que estão sendo realizados pela direita e extrema-direita nesse período de transição são manifestações inequívocas de fascismo.

Os votos na extrema direita foram injustificáveis no primeiro turno e no segundo turno, mesmo assim, poderíamos até supor que nem todos foram votos ideológicos. Contudo, se antes ainda era admissível o benefício da dúvida, agora não é mais. O tempo e os fatos filtram e exibem os canalhas.

O destino deles será o lixo da história, mas ainda em seus tempos de existência precisam ser acusados, julgados, e os condenados levados em cana, extirpados da convivência social. Sem anistias ou perdões.

Se não cobrarmos e apoiarmos que o governo eleito atue para que isso aconteça agora, que outra oportunidade existirá?  ### (Jorge – 30/11/2022).


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Quem não conhece que te compre!

Opinião

Observo que o juiz Mandão vem se transformando numa espécie de herói da vez para alguns esquerdistas precipitados. Dado que a eleição de Lula provocou um vácuo temporário nos poderes executivo e legislativo, o judiciário restou como a referência institucional da estrutura republicana brasileira e, nesse cenário, a reação do agora presidente do TSE às práticas da extrema direita, desde antes do pleito presidencial, projetam a figura do juiz como esteio desse nosso arremedo de democracia liberal.

Será uma boa prática se os esquerdistas pisarem devagarinho no chão do palco onde se desenrola o drama político brasileiro, onde atores diversos performam múltiplos e contraditórios personagens. Alguns parecem ter esquecido, mas o reverenciado juiz fez sua história política nas hostes da direita conservadora, e seu último posto antes do STF foi o de ministro do governo golpista Temer. Além do mais, uma das suas primeiras atuações já empossado no STF foi contribuir para a prisão de Lula.

Como não existe vácuo político, o ex-ministro golpista parece vestir os atributos ideais da sonhada terceira via infrutiferamente buscada pela direita que já trocou olhares de amores com outros magistrados, a saber: o Batman brasileiro do mensalão, Joaquim Barbosa, e o patético juiz de primeiro piso defenestrado pela própria justiça como “juiz ladrão”.

Por mais convenientes que possam ter sido algumas das suas decisões, o juiz e ex-ministro golpista não consegue disfarçar o autoritarismo que exala pelos seus poros e que deveria estar longe dos ideais e projetos da esquerda. Esse endosso quase cego, e até alienado, que observo em esquerdistas precipitados rendendo homenagens ao juiz mandão é um equívoco, uma canoa furada que não tardará a fazer água, logo ali na frente, no início do mandato do novo governo. (elaborado em 24/11/2022)

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Chamando pelo nome: extrema-direita

 Opinião


Aderi à proposta de não usar mais termos derivados do nome do velho tarado da moto apondo-se os sufixos " ...ista" ou "...ismo".

Sei que a bronca contra o Bozo é grande. Espezinhá-lo em sua derrota e carimbar seus simpatizantes é tentador, mas fazer isso será dar crédito e valorizar uma figura escrota e medíocre cujo futuro deve ser o ostracismo e o lixo histórico.

Ainda não é uma campanha, embora eu gostaria que fosse.

Sempre usarei "extrema-direita" ou "extrema-direitistas" em vez dos costumeiros termos “bolso ... ismo” ou “bolso ... istas”.

É muito cômodo para os simpatizantes, eleitores ou partidários do Bozo serem identificados diretamente com o nome daquela figura porque isso disfarça ou esconde os seus valores.

Fascistas por opção, eles passam a ser identificados apenas como discordantes da "esquerda", do "comunismo", do petismo ou coisa que o valha, enquanto os seus valores reais, aqueles nos quais eles votam e apoiam, misturam-se e se escondem atrás dessas designações pastosas e genéricas associadas ao seu “mito”.

Assim, referir-se a eles como “extrema-direita” e “extrema-direitistas”, em vez de esconde-los atrás do nome do tarado da moto, é importante porque desnuda suas verdadeiras opções e obriga essa galera a mostrar e até pensar (coisa difícil) sobre o que realmente elas são ou apoiam, sem disfarces.

Assumir-se como extrema-direita será a opção de cada um, mas não deixarei que me venham com essa fantasia de que somos iguais, apenas com opções diferentes de voto e blá, blá, blá. Extremistas de direita! Que vão, então, praticar e render loas ao fascismo lá, na puta que os pariu! ##### (escrito em: 11/11/2022).

Expectativa e desejo

 Opinião

 

Há uma distinção entre as questões: o que se espera e o que se deseja do governo Lula.  Elas se relacionam, mas são distintas. O eleitor cuja motivação foi além da vontade de escorraçar a extrema-direita do governo talvez esteja refletindo sobre elas, e será bem fácil cair na armadilha de confundi-las.

 A expectativa em relação ao governo resultará de análises de vários fatores: das condições que determinaram a formação da frente ampla que foi vitoriosa; dos grupos e forças políticas que compuseram a frente e de seus interesses; do resultado eleitoral específico e como um todo; do quadro socioeconômico do país; do desmonte do Estado realizado pela extrema-direita derrotada;  da fome e miséria que assola mais de 30 milhões de brasileiros; além do quadro socioeconômico e sociopolítico internacional que está distante de ser um mar de rosas. 

Cada um desses aspectos é um mundo de possibilidades analíticas, congruentes ou conflitantes, que até serão simplificadas pelo pragmatismo imposto pela realidade. Contudo, ainda assim, esse é um campo onde os conflitos decorrem de divergências de opiniões e não, necessariamente, de disputas.

Outra questão é o que se deseja do governo, e isso vai além dos princípios comuns que determinaram as alianças entre grupos distintos que se identificam exatamente por desejos distintos. Daí, pode ser até que ocorram convergências de propósitos, mas o natural e legítimo é que esses grupos disputem o governo que elegeram em aliança.

Mesmo que as circunstâncias que envolverem o governo em determinada situação política possam estar dentro de certas expectativas, cada grupo trabalhará (ou deveria) para que as respostas ou iniciativas governamentais apontem na direção de suas metas políticas. Esse é essencialmente um campo de disputas, e é aqui a porca torce o rabo e histórias se repetem.

Apesar da correção política do discurso de Lula que não existem dois brasis e da sua convocação para a união social, a realidade não é assim. Existem vários brasis, e os trabalhadores, as categorias, os grupos sociais buscarão se organizar e lutar embalados pelas palavras de ordens que sintetizam as suas reivindicações.

Um governo para todos não fará o país caminhar na direção da redução das desigualdades sociais, muito menos faze-lo saltar o enorme fosso de atraso e discriminação em que chafurdaram a nossa sociedade. Lula sabe disso, certamente bem melhor do que muitos de nós.

 As possíveis alternativas na tentativa de correção da enorme deformidade na distribuição de nossas riquezas, que levou a miséria e que tornou famintos 30 milhões de brasileiros, certamente conflitarão com os desejos dos grupos que apoiaram a derrota da extrema-direita, mas que acumularam suas fortunas beneficiando-se justamente dessas distorções.

 Lula já declarou explicitamente que seu governo não será um governo do PT, nem poderia. Não acho que será simples para o Partido dos Trabalhadores tratar as contradições que emergirão dessa situação, mas não sendo petista não me cabe discutir os encaminhamentos partidários. Cabe-me, isso sim, embora possa esperar que o governo Lula seja assim ou assado, empurrá-lo para que aponte suas baterias na direção das metas políticas que nunca saíram do meu cardápio de desejos.

Revogação das reformas trabalhista e previdenciária; reforma agrária; redução de jornada de trabalho sem redução de salários; Fim da destruição ambiental; demarcação das terras indígenas; Educação, saúde, moradia e serviços públicos para todos; revisão de privatizações e do pagamento da dívida ao sistema financeiro; investigação e punição dos fascistas que destruíram o estado nacional e assassinaram lideranças de trabalhadores.

Eu estou no campo dos que desejam um governo que seja, antes de tudo, instrumento de avanço e progresso social, e entre os que acreditam que o principal, se não for único, suporte político com o qual o governo poderá contar será a mobilização social cuja chama deve ser mantida acesa.

Desde já, estou no lado oposto daqueles que acham que as mobilizações de reivindicações perturbam a governabilidade e, especialmente, repudio o discurso conservador, fácil, leviano, malicioso e recorrente que acusa os reivindicantes de estarem fazendo o jogo da direita e do fascismo. ##### (escrito em: 07/11/2022)

domingo, 23 de outubro de 2022

Uma loirinha enforcada

 Leituras para distrair

 

O cervejeiro carioca típico gosta da bebida geladíssima, nem importa muito qual seja. Uma lagger de baixa graduação alcoólica, desde que não seja aguada, serve. Eu chamo de “cerveja de praia”. O atributo principal não é a composição, mas a temperatura da ceva. Cu de foca! Aquela que for assim será bem recebida.

Não sou cervejeiro, mas presto atenção, até porque o boteco é um fascínio, e algo que me intriga nas andanças que faço é a falta de um substituto, além da ignorância sobre as antigas salmouras.

Quando criança, criança mesmo, não jovem adolescente, as padarias e botequins faziam picolés. O mercado do picolé ainda não era dominado pelas multinacionais, e as geladeiras das padarias e botequins tinham os mecanismos para congelar rapidamente aquelas pastas e líquidos resultantes de receitas caseiras. Tinham as salmouras que eram compartimentos com água em alta concentração salina e que giravam cumprindo a função manter pela geladeira um fluxo de água resfriada abaixo do ponto de congelamento – parte do processo de fabricação e armazenamento dos picolés.

Quando faltavam cervejas geladas para o atendimento aos fregueses mais exigentes, era frequente a prática de amarrar um barbante no gargalo da garrafa de cerveja e mergulhá-la na salmoura. Em poucos minutos a ceva estava lá, geladinha para ser consumida.

Não era qualquer boteco que fazia isso, nem qualquer freguês recebia essa deferência. A imersão na salmoura perturbava outras atividades do estabelecimento e, geralmente, apenas clientes frequentes contavam com esse tipo de cortesia do proprietário ou responsável.

As geladeiras atuais, em sua maioria mantidas pelo próprio fornecedor de bebidas, permitem a oferta quase permanente de cervejas bem geladas, embora faça parte do ritual carioca sempre reclamar que a cerveja está quente. Mas, desconheço alternativa para o resfriamento rápido se, porventura, a geladinha desejada não estiver disponível. Desconheço, não quer dizer que não exista. Tenho perguntado por aí sobre a alternativa para a salmoura e a garrafa enforcada pelo barbantinho, os atendentes mais novos sequer ouviram falar sobre isso.

Até então não recebi resposta que valesse considerar. Agarro-me ao prazer de lembrar daquelas garrafas imersas nas salmouras dos picolés para o resfriamento, parte do ritual de lamber uma ceva. Antigos tempos, quando ao se pedir uma cerveja havia a opção de casco claro ou escuro.

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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Preâmbulos eleitorais

Opinião 


As iniciativas do tipo divulgação do “manual de maldades” do Bozo são interessantes, mas acho que geralmente são interpretadas a partir de uma premissa equivocada. Partem da premissa que os eleitores bozominions desconhecem esses registros e que estão sendo enganados. Isso é um equívoco.

 Os eleitores bozominions sabem quem é o Bozo, sabem sobre os seus atos e mesmo quando não concordam integralmente eles endossam e dão apoio e sustentação ao seu líder político. Trata-se de uma opção política ideológica pela extrema direita e de repúdio a esquerda e suas teses.

 Não há um enfrentamento do verdadeiro contra o falso. São poucos os iludidos sobre quem é o Bozo e as teses que ele representa. Praticamente ninguém ignora o que o cara é. Eles, os eleitores do Bozo, defendem esse modo de ser e as teses associadas porque acreditam e avaliam que assim será melhor para eles. Consequentemente, o Bozo é a melhor escolha.

 Por pensar assim, acho que as tais coletâneas de “maldades” do Bozo são registros importantes, porém, quando trabalhadas a título de revelação de um perfil oculto, são de pouco valor e surtem pouco efeito.

 Precisamos travar um combate ideológico a partir de uma realidade prática, embora eu não tenha receita sobre como fazer. É preciso convencer outros que um contrato social com as cláusulas da esquerda é melhor e abre a possibilidade de ser mais vantajoso para todos do que um contrato com as cláusulas da direita cuja única possibilidade é a barbárie.  Isso é diferente de apontar o Bozo como o disfarce de algum vampiro que se consumirá em chamas se for exposto à luz da verdade. (Jorge – 05/10/2022)

 

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Um Rio de fascistas! Pensei nisso com os resultados eleitorais, mas em seguida fiz autocrítica: não devo confundir a cidade com o estado. Fui conferir. Autocrítica porra nenhuma. O carioca votou no Bozo, como a maioria dos municípios do estado, inclusive minha terra, Saigon.

Essa faceta fascistoide já vem se manifestando há algum tempo com as repetidas mobilizações que ocorreram na Princesinha do Mar. Mas, sempre ficou no ar uma contestação – é o povo da zona sul, riquinhos etc. O resultado eleitoral dirimiu dúvidas que pudessem persistir.  

Cariocas são bonitos, bacanas, sacanas, dourados, modernos, espertos, diretos, não gostam de dias nublados, nascem bambas, nascem craques, têm sotaque, são alegres, atentos, tão sexys, tão claros, não gostam de sinal fechado... e são fascistas! (Jorge – 03/10/2022)

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 Amanhã vestirei vermelho quando sair para votar. Minha camisa tem impressos os nomes de referências políticas admiradas: Carlos, Frederico, Wladimir, Rosa e Leão.

Sairei, não apenas por uma expectativa de vitória da esquerda no primeiro turno e que eu gostaria muito que ocorresse, mas porque há um enfrentamento explícito de posições políticas. Eu não tenho dúvidas sobre o meu lado e acho importante expressar isso. Fiz assim outras vezes, amanhã também.

Vermelho já foi cor do poder e dos poderosos, mas foi apropriado e tornou-se historicamente a cor do movimento dos trabalhadores. Cor conquistada. Geralmente associada à necessidade de lutas intensas por direitos e de muito sangue derramado nessas lutas.

Quem repete emburrecidamente que a nossa bandeira nunca será vermelha deveria buscar as origens da cor da bandeira brasileira em vez de se idiotizar com aquele discurso de: verde das nossas matas, amarelo do ouro, azul do céu e branco da nossa paz e que vermelho é coisa de comunista.

O barrete frígio vermelho, um pequeno gorro parecido com o chapeuzinho de Saci Pererê ou dos Smurfs tem sua origem simbólica no valor Liberdade. Foi a forma de identificação dos revolucionários na Revolução Francesa, e está presente no brasão de diversos países e também nas bandeiras de diversos estados brasileiros, inclusive na da cidade do Rio de Janeiro.  Aliás, está presente também em nossa moeda, que não é colorida, na cabeça da efígie que representa a República.

Então, essa babaquice com a cor vermelho resulta da estupidez ignorante ou do medo da liberdade e das lutas de outros para conquistá-la.

Eu não usarei um barrete frígio vermelho para ir votar. Pareceria um Gargamel disfarçado de vovô Smurf ou um Saci Pererê caricato. Mas, farei questão de avermelhar-me, afinal: vermelho é a cor dos trabalhadores! (Jorge – 01/10/2022)


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O filósofo Luis Sergio C. Sampaio, já falecido, dizia sobre o futuro do Brasil que nosso destino não seria brilhar na categoria “Luxo”, mas na categoria “Originalidade”. É por aí. Em meio à complexidade de fatos, de relações e de narrativas políticas, artistas fazem uma síntese musical da podridão desse período nojento que passamos (“Hino” ao inominável). Traduzem em uma canção tudo que vem nos engasgando e que precisamos vomitar. Uma pessoa amiga disse que ficou com a música na cabeça por horas. “Arte no Brasil é foda mesmo!” ela disse. De fato, esse “não sair da cabeça” é autodefesa do organismo que quer expurgar o que não presta e nos intoxica. Chegaremos lá! (Jorge – 18/09/2022).

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O “Hino” ao Inominável é uma peça impressionante e emocionante. Um registro histórico trágico de tempos imundos de um país onde a canalhice assumiu forma e chegou ao poder. Essa figura nefasta não merece tanto, nem mesmo esse registro. O lixo da história será o seu destino onde será largado e esquecido. Outros já foram, esse lhes fará companhia no processo de putrefação. Ainda assim, existem aqueles que louvam e saúdam a sua existência. Mas, o país vomitará essa droga que ainda o intoxica. (Jorge – 18/09/2022)

  https://youtu.be/OuQKqWIcF1U

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Não boto mão no fogo assegurando inviolabilidade do voto aqui ou em qualquer lugar do mundo, seja ele eletrônico, impresso ou oral. Ventríloquos existem. Concordo que maior fiscalização reduz as possibilidades de fraudes. Contudo, daí a endossar gandolas golpistas que se arvoram zeladores da integridade das eleições vai uma distância enorme.

Oxigênio para Manaus, vacinas para a pandemia, proteção da Amazônia, segurança pública no Rio de Janeiro são exemplos cabais e recentes de incompetência desses gandolas e de suas responsabilidades por expor ao ridículo instituições armadas que comandam. Um elenco que buscam aumentar agora com essa iniciativa de Comissão da Verdade Eleitoral. Piada grotesca se não fosse uma vergonha trágica. (Jorge – 14/09/2022).

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Hoje, 13/09, é Dia Nacional da Cachaça. Celebramos a oficialização da fabricação e comercio da bebida no Brasil, após uma revolta de donos de engenhos contra a proibição dessas atividades na colônia imposta pela coroa portuguesa.

A destilaria e consumo de bebidas alcoólicas são partes da história da humanidade, e algumas nações assumem esses produtos entre os seus valores culturais (uísque, rum, tequila, vodca, saquê). Infelizmente, por aqui “cachaceiro” é termo ofensivo, e a cachaça é rejeitada preconceituosamente apesar de estar entre os principais elementos da cultura popular.

Há grupos que se organizam para reverter esse quadro, a Confraria de Cachaça Copo Furado do Rio de Janeiro é um deles. Unidos beberemos, sozinhos também! É o nosso brinde de confrades.  (Jorge – 13/09/2022).

http://blogdojorsan.blogspot.com.br/2016/09/um-golpe-goncalense.html

 

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Parte da galera que em 2016 e 2018 tentou criminalizar toda a esquerda política está aparvalhada. Os que eles acusaram vêm sendo absolvidos por falta de provas; seus agentes acusadores são agora culpados de farsa; os que elegeram como substitutos morais dos que afastaram exibem riquezas sem comprovar origens e transacionadas por mecanismos típicos de criminosos. Tudo apurado pela mesma estrutura jurídica que elevaram às alturas quando atendia aos seus objetivos.

Alguns tentam resgatar acusações da época, mas a ululante inconsistência e falsidade lógica de suas argumentações só revelam ignorância política e flagrante burrice. Buscam, desesperadamente, justificativas para os seus votos de ontem. A história está oferecendo uma oportunidade de retratação. (Jorge – 11/09/2022)

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Não há como ignorar a massa de adeptos que o Bozo ou Lula representam. Análises podem ser feitas, razões, motivações, mas o Brasil está significativamente representado nesses grupos que se identificam por valores comuns.

Somos uma sociedade fraturada. Isso não ocorreu de repente, levamos 200 anos para chegar a esse estado de exposição. E essas fraturas não serão calcificadas com tolerância, convencimento de ideias ou superioridade eleitoral. Só a realidade das lutas para vencer necessidades que são muitas e comuns nos permitirá alguma integridade social. Lutar contra a exploração une os trabalhadores, as famílias, nos faz companheiros. Esse é o caminho. (Jorge – 10/09/2022)

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Os brutos também amam e canalhas também envelhecem. Alguns vivem mais e melhor que todos, e à custa de vidas de muitos que sequer tiveram a oportunidade de chegar à idade adulta.

A velhinha, que o noticiário se empenha em mostra-la como simpática e dedicada funcionária pública, representou o que há de mais escroto nas relações políticas internacionais: o poder imperial capitalista. Conforme a própria primeira ministra britânica: “ela foi a rocha sobre a qual se construiu o Reino Unido moderno”.

Eu nem diria que se foi tarde, porque o sistema tem suas salvaguardas. Não há vácuo na opressão. O rei morreu! Viva o rei! De qualquer forma, foi. Menos uma! (Jorge - 09/09/2022)

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Face ao espetáculo circense montado para o sete de setembro no Rio, os acidentes com paraquedistas despertaram piadas e chacotas em vez de empatia e solidariedade com os acidentados. É uma pena! Esse é o resultado de gandolas medíocres abandonarem seus compromissos institucionais e exibirem-se como integrantes da trupe Bozo. Seus atos ridicularizam as instituições que representam.

Carequinha, inesquecível artista gonçalense, apesar do estigma da sua profissão - palhaço - tratou com mais respeito e honradez a simbologia das forças armadas. Sai de baixo! Um amigo resgatou essa lembrança para mim. (Jorge – 08/09/2022)

 

https://youtu.be/7NHjtP0oa1w

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Duzentos anos após o Grito do Ipiranga, o presidente brasileiro, em palanque público e ao lado de autoridades internacionais, dá o grito do imbroxável arrogando esse título para si, e até puxando um coro de auto aclamação. 

Fica fácil, então, entender o escândalo da compra milionária das próteses penianas e remédios para a disfunção sexual para as forças armadas, e tudo indica que o priapismo presidencial está iniciando uma disputa simbólica com o insepulto coração do ex-imperador.

A propósito, a exposição do coração tem um título:  Um coração ardoroso: vida e legado de D. Pedro I. Já imaginou se o coração perder a disputa? (07/09/2022)

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No sete de setembro o Bozo estará com um pau no cú.  Por um lado, ele não tem sustentação política para o proclamado golpe, por outro, se ele se mostrar tchutchuca, será ridicularizado por aliados e oposicionistas na imagem que lhe é mais cara: a do machista valentão.

Lá em Saigon, uma máxima popular ensinava o seguinte: se você estiver mal em uma briga, dê porrada em tudo e todos que estiverem em volta, transformando a briga em confusão. Briga tem lado e responsável, tem ganhador e perdedor. Confusão é confusão. Talvez o Bozo tenha algum assessor daquelas bandas. (06/09/2022)


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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Pachamama

Opinião

 

Somos a última geração com alguma chance de salvar a Amazonia”. Estava escrito em um cartaz e levei um susto. Não tinha pensado nisso, e acho que é uma afirmativa verdadeira.

A ecologia nunca foi minha praia. Talvez a minha falta de empatia com os animais tenha contribuído para manter fechado o portal da minha relação com o mundo natural não humano. Não faço distinção entre gato, cachorro, barata e passarinho, além de outros. Não maltrato, mas quero distância. O meu interesse, quando se manifestou, foi por aspectos da natureza inanimada.

Só acordei para o assunto diante da evidente degradação do planeta ameaçando continuidade da espécie humana, decorrência direta de práticas da produção capitalista. No caso particular da Amazônia brasileira, destruição acelerada e até patrocinada pelos dirigentes fascistas no governo atual.

 Fruto desse despertar ecológico, deparei-me com uma questão que até então desconhecia: “ a natureza como sujeito de direitos.

 Afinal, que porra é essa?  Um rio pode questionar e cobrar legalmente a responsabilidade de um Estado que deveria protege-lo, mas deixou que ele fosse degradado?

Aprendi que essa questão não é novidade, e que tem sido tratada por estudiosos de diferentes áreas, embora ainda não esteja na boca do povo.  Em minha ignorância nunca soube que a constituição do Equador estabelece, desde 2008:

 Art. 72. A natureza ou Pachamama onde se reproduz e se realiza a vida, tem direito a que se respeite integralmente sua existência e a manutenção e regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos. (e por aí vai ...)

Li em artigos (seguem alguns links) que mais de 30 países já incorporaram institutos similares em suas legislações. Aqui, na América do Sul, o Chile seria  o exemplo mais recente, porém um plesbicito, em 04/09/2022, rechaçou o texto constitucional como um todo.

Na Colômbia, desde 2018, a Amazônia colombiana tem direito jurídico; na Índia, desde 2017, os rios Ganges e Yamuna tem direitos como pessoas jurídicas; a Bolívia, desde 2010, reconhece direitos da Pachamama; na Nova Zelândia o rio Whanganui é reconhecido como pessoa jurídica.

Os exemplos são vários (sugiro leitura dos links) e também é enorme a quantidade de questões que se desdobram daí. Utopia! Dirão uns. Outros replicarão que também foram considerados utópicos os direitos de mulheres, crianças, indígenas, negros etc.

O fato é que essas questões precisam ser levadas para as conversas de famílias, das esquinas, dos churrascos, dos intervalos de trabalho e também dos botecos. Precisam ser amaciadas, arredondadas pelo saber das ruas. Depois os rábulas e bacharéis elaborarão os formatos técnicos.

A propósito, lembrei também da minha antipatia por saladas. Suponho que tenha sido agravante para o afastamento e retardamento da minha consciência pachamâmica. 

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https://elefanteeditora.com.br/o-chile-reconhece-os-direitos-da-natureza/ - Acessado em 05/09/2022

 

https://www.conjur.com.br/2008-nov-09/natureza_tornar_sujeito_direitos#:~:text=A%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20da%20Rep%C3%BAblica%20do,estrutura%2C%20fun%C3%A7%C3%B5es%20e%20processos%20evolutivos. - Acessado em 05/09/2022

 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Nossa cara na foto

 Opinião

O modo capitalista de produção impõe uma estrutura de classes que estão em luta permanente, embora a nossa consciência coletiva ainda não tenha se dado conta da natureza dessa estrutura e dessa luta.  E por não compreender isso, não conseguimos ver que nossas necessidades mais importantes são necessidades comuns porque são necessidades da classe a qual pertencemos.

Sem essa compreensão, participamos da luta de classes empunhando bandeiras diversas e com objetivos que geralmente são setoriais e específicos. São bandeiras reais, importantes e de necessidades imediatas, mas que não têm a abrangência necessária para nos identificar como um corpo único no campo de lutas. Sem essa compreensão, pode até acontecer de muitos estarem combatendo entre si próprios.

Infelizmente, é assim que já estamos na batalha da disputa eleitoral nesse ano quando, além do poder político institucional, que é o objetivo básico das eleições nas democracias liberais, também estará em disputa uma definição institucional do perfil ideológico majoritário em nossa sociedade. A polarização é tão expressiva e está tão consolidada que, além da candidatura político-partidária, o voto de 2022 traduzirá também a nossa opção sobre valores políticos fundamentais da sociedade brasileira.

Certamente eu não ignoro os partidos políticos que se apresentam como alternativas para o dilema da escolha Lula versus Bozo, entretanto seria um equívoco sobrestimar o peso dessas alternativas na atual conjuntura.

As questões de gênero, sexo, raça, posição socioeconômica, religião, educação, censuras, violência policial, expressões artísticas, além de outras, que têm marcado debates recentes estarão, por força de circunstâncias, implicitamente em avaliação no próximo pleito eleitoral, como uma espécie de plesbicito subliminar,

As eleições não mudarão o Brasil real, elas não têm esse poder. A nossa sociedade continuará dinâmica, diversa, contraditória, carente e miserável. Mas, após as eleições a sociedade brasileira sairá com uma cara social institucional menos difusa e melhor retratada pelo voto. Isso mudará a foto da nossa cara na carteirinha do clube das sociedades mundiais. E nesse aspecto o país não será mais o mesmo.

A luta de classes prosseguirá porque nenhuma das escolhas que fizermos levará à destruição do modo capitalista de produção que prosseguirá no seu processo fundamental e autofágico: transformar tudo, incluindo a vida, em mercadoria. E aqueles cuja única mercadoria para a troca e garantia de subsistência é a sua força de trabalho continuarão explorados e constituídos em classe trabalhadora, mesmo que não tenham uma clara consciência do que isso significa.

A luta será mais difícil ainda se os eleitores endossarem o governo de caráter fascista que já está no poder, e a possibilidade de reversão parecerá uma barreira intransponível. Mas, o enfrentamento continuará porque o conflito de interesses de classes não é uma invenção da esquerda, ele é parte intrínseca do capitalismo. As organizações da esquerda, tomara, deverão continuar em seu papel de organizar e liderar os trabalhadores nessa luta que é de classes. #####

sábado, 11 de junho de 2022

Se aqui tá assim, imagine lá, na frente!

 

Opinião

Dia desses uma amiga disse: tudo está insuportável. De fato, compartilho, assim como outros companheiros, esse sentimento de “insuportabilidade”. Um cansaço e decepção grandes, um desânimo doentio que parece aumentar a cada fato da conjuntura sociopolítica que vivemos. 

No meu caso, tento buscar algo que dê conta dessas sensações na medida em que não consigo reverter as suas causas. Faço isso enquanto posso. 

Sei que parece presunção, mas ainda acredito que a minha resistência, nos termos minúsculos que consigo exerce-la, tem alguma importância na luta geral pelos valores que defendo, além, naturalmente, de ser fundamental para algum conforto, se não for para a minha saúde mental. 

Assim, tento manter-me conversando entre companheiros e também com outros que não o são. Questionando e contribuindo para a formulação de críticas e de questões dos interesses que valorizo; divulgando ideias; participando aqui e acolá nas oportunidades que aparecem, mesmo que apenas fazendo número com a presença; servindo como referência para outros que olham ao redor contando com a minha companhia; praticando ações de solidariedade  dentro das minhas possibilidades; dando concretude a uma massa de população que justifica o empenho de incontáveis companheiros em enfrentamentos diretos, e até com perdas de vidas, em nome dos valores sociais que defendemos. 

Quando penso em outros que sequer conheço e que estão nas verdadeiras frentes de luta, sinto-me na obrigação de manter o meu posto, ainda que ele seja de uma insignificante e confortável retaguarda. 

Se aqui está assim, imagine lá, na frente! Lá estão lutadores cuja maioria sequer teve a oportunidade de escolher estar ali. Foram tragados pela violência de um sistema que se apoia na discriminação e exploração social, além do extermínio dos inconvenientes. Lá as barbáries se multiplicam e quase se banalizam. 

Nos centros urbanos as comunidades pobres estão se formando como guetos, longe de qualquer amparo social e submetidas a todo tipo de mazelas e submissões. A lei é local dos grupos mais fortes. 

Acumulam-se miseráveis e famintos. Uns poucos sobrevivem. Ergue-se um país de entregadores. Massa de explorados e desprotegidos de legislações trabalhistas. Populações são violentadas diariamente. Alguns morrem em chacinas, algumas delas praticadas por agentes do Estado, “em nome da lei”. 

No campo, as grandes corporações intoxicam e envenenam indiscriminadamente ambientes e populações. Tudo em nome do agronegócio. As comunidades, cuja rebeldia nem chega a passar da denúncia, sofrem retaliações que incluem ameaças diretas, agressões, destruição de propriedades comuns, até escolas, e assassinatos de seus representantes. 

As riquezas construídas com o produto do trabalho da população são entregues às corporações privadas. São privatizadas. E as riquezas naturais são destruídas em nome dos interesses dessas mesmas corporações. 

Florestas e rios são apagados dos mapas e, com estes, os seus habitantes: fauna, flora e seres humanos. Os processos são diversificados. Os indígenas foram transformados em inimigos internos do país. Caçados, expurgados dos seus habitats e exterminados. 

Militantes e lideranças que fazem o enfrentamento direto denunciando e tentando organizar alguma resistência a esse caos civilizatório desaparecem. As situações são tratadas com naturalidade pelas autoridades. 

Esse é o cenário da frente de batalha. Lá estão os combatentes diretos. Acordam sem saber se terão o que se alimentar ou se retornarão às suas casas após um dia de lutas. É desanimador e dói muito. Quase intolerável. Mas, por doloroso e insuportável que seja esse estado de coisas, essa é justamente a razão pela qual não dá para desistir. Não dá para deixar a galera abandonada lá, na frente, onde o bicho está realmente pegando. ###

 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Em cima daquele morro só não passa quem?

 Opinião

Não é o caso de se discutir a importância da disputa eleitoral para a presidência. Mas, a prioridade da batalha eleitoral Bozo x Lula não deveria ofuscar e, muito menos, esconder outras concomitantes e que não foram interrompidas. A privatização da Eletrobras é uma dessas disputas. Aliás, já saiu do pente e até da agulha o projétil seguinte. Já foi disparada a privatização da Petrobras. 

Se a pandemia deixou de ser o foco das atenções, as eleições presidenciais são a atração que a sucedeu desviando a atenção dos debates, enquanto as mesmas forças que leiloaram o Brasil nos governos tucanos dos anos 90 do século passado tentam passar a boiada da privatização da Eletrobras. 

O absurdo da privatização da Eletrobras extrapola todas as situações anteriores. Não se trata "apenas" da entrega de um patrimônio público de valor quase inestimável em troca de uma merreca. O processo segue seu rumo sustentado por legislação superpovoada de jabutis que visam beneficiar poderes políticos e empresariais sem quaisquer disfarces de seus objetivos. Não é o caso de detalhá-los aqui, mas são de assustar qualquer um que não seja parvo ou mal intencionado. Isso pode ser confirmado na leitura da própria legislação que regulamenta o processo e, até mesmo, e por incrível que pareça nas matérias publicadas na mídia tradicional. As análises mais consistentes fazem cair o queixo. 

Não bastasse isso, não existe uma linha sequer de projeção sobre qual e como será a política pública energética que orientará o setor sem a propriedade da Eletrobras pelo Estado. 

É isso mesmo! Não há nada – absolutamente nada – consistente sobre quais são os planos de governo ou políticas de Estado a vigorar no dia seguinte à privatização da Eletrobras. Como será o país após entregar para corporações privadas uma empresa que é, a rigor, o sistema que faz a integração dos sistemas elétricos em todo o território nacional e responsável por 30% da capacidade de geração e de 40% da rede de transmissão de energia elétrica do país. 

Voltamos aqui ao ponto inicial. Sem desconsiderar o embate eleitoral no qual já estamos imersos, vale perguntar: o conjunto de forças que representam a candidatura Lula, incluindo o próprio candidato, está dando a prioridade correta à questão da privatização da Eletrobras? 

Não faço juízo de valor das intenções porque não tenho, por ora, informações suficientes para tal. Contudo, não sou quadrado nem redondo, e vejo o que está ocorrendo como qualquer um interessado pode fazê-lo. A boiada da privatização da Eletrobras está passando diante dos nossos olhos, e a galera que dispõe dos berrantes, cordas, montarias e outros dispositivos que poderiam desviar e impedir esse estouro está deixando passar. A prioridade exclusiva parece ser a eleição para a presidência de um país ... sem a Eletrobras, quiçá sem a Petrobras.  

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terça-feira, 19 de abril de 2022

Anotações político-eleitorais de abril

Opinião 

Se nada extraordinário ocorrer no processo eleitoral 2022 até lá, o Brasil elegerá um congresso majoritariamente fisiológico, com alto grau de corrupção, conservador e até reacionário em costumes.

Com grande representação dos grupos patronais e financeiros e sem qualquer compromisso com as camadas carentes da população, nem com algum projeto de desenvolvimento nacional, qualquer que ele seja, branco, banco, bala, boi e bíblia continuarão sendo as representações parlamentares principais do simulacro de democracia brasileira.

A sequência de fatos que desembocou na destituição da Dilma, a subsequente prisão de Lula, a farsa da Lava-Jato, o inchaço de militares em boquinhas na administração pública federal, as tragédias provocadas pela ocupação de importantes cargos da administração federal por militares sem a competência para tal, além das recentes e constrangedoras denúncias sobre o uso de verbas militares – tudo isso desnudou por completo os corpos políticos das forças armadas e o do poder judiciário. Exibiu a verdadeira natureza dos chamados suportes dos governos democráticos. E isso não mudará em decorrência do processo eleitoral. 

Será com essas instituições que o presidente eleito governará, seja ele Bozo ou Lula.  A essa altura do campeonato, a disputa dificilmente incluirá outra terceira via com potencial eleitoral, além das que já estão apresentadas, seja ela de centro, direita ou até de esquerda.

Há, ainda, outro elemento, o principal: a população. Esse é um sujeito poderoso e dotado potencialmente de força política quase insuperável, mas infelizmente ainda inconsciente dela e ainda muito pouco organizado. O pouco avanço de iniciativas de organização fora das tradicionais organizações sindicais e partidárias, excluindo o MST, está entre aquelas que se aglutinam em torno das chamadas pautas identitárias.

Essas organizações expressam demandas que são aderentes àquelas das populações mais necessitadas, é verdade, mas isso se dá mais por uma decorrência natural e subjetiva do que por uma iniciativa política. A nossa precariedade socioeconômica é de tal ordem que a menor movimentação em prol de melhoria nas relações sociais identifica-se obrigatoriamente com uma necessidade básica da população carente.

As organizações e movimentos identitários, em grande parte das vezes, desconsideram a natureza classista da organização social, e essa prática esconde conflitos reais advindos das diferenças de classes e que existem até mesmo dentro das próprias organizações (assunto a ser desdobrado, embora não aqui).

As pesquisas até agora apontam chances razoáveis de uma vitória do Lula, mas esse quadro deverá ser alterado significativamente, contra o Lula, com o início da campanha oficial.  Aliás, é impressionante, mas já há sinais de recuperação do Bozo, por incrível que pareça, até nas avaliações sobre a sua gestão na pandemia. A vitória do Bozo é uma possibilidade real.

Se aprovado politicamente por uma vitória eleitoral, o ex-capitão boquirroto terá o caminho livre para prosseguir em suas práticas e tentativas de destruição do país. Sua vitória escancarará o país para a barbárie e para a derrubada das poucas barreiras de proteção e obstáculos que a organização social ainda conseguiu manter mesmo durante o seu primeiro mandato.

Os seus financiadores terão a oportunidade de aparar arestas e reorganizar condições de apropriação das riquezas públicas e entrega ao capital monopolista nacional e internacional, um projeto que foi frustrado por conta da própria incompetência da figura que elegeram para representá-los.

É claro que o país não acabará por conta disso. O Brasil é uma nação rica e com muitos recursos naturais, em que pese o pauperismo da sua população. Além do mais, a própria dinâmica da política cria oportunidades inusitadas de transformações que estão além das prospectivas dos mais competentes analistas.

A oposição ao governo e regime não será tarefa fácil, até porque as principais forças políticas atuais assumidas como oposição, ao implodirem as manifestações de rua sob a palavra de ordem "Fora Bozo!" e optarem por valorizar as articulações eleitorais, abriram mão de denunciar o caráter criminoso do governo em seu primeiro mandato.  Não terão autoridade política para contestar um governo eleito num processo que elas foram as primeiras a validar.

Ainda assim, apesar da imensa frustração, muitos prosseguiremos organizando ou praticando a oposição. Mesmo os que se sentirem abatidos e caírem em desânimo participarão de alguma forma porque atualmente não há como isolar-se politicamente. A vida urbana e até a vida rural mais afastada sempre estarão em permanente contato com o cotidiano da política.

Há, também, a possibilidade do Lula ganhar e não levar. Seria uma vitória eleitoral precedida de golpe. Essa possibilidade me intriga e, embora seja uma possibilidade de grandes chances, não consigo especular com alguma clareza sobre as possíveis decorrências desse fato.

Finalmente, havendo uma vitória do Lula, qualquer que seja o mérito que se der a ela, será entendida como uma vitória de oposição que governará em condições muito adversas: sem apoio parlamentar suficiente; contrariedade das mesmas corporações econômico-financeiras que derrubaram o governo Dilma em 2016; antagonismo dos militares; o país numa enorme crise econômica, incluindo o desemprego, inflação e ascensão de movimentos grevistas; uma máquina estatal corroída e quase destruída pelo governo Bozo; uma crise internacional imprevisível que inclui até uma guerra de proporções mundiais entre suas possibilidades. Barra pesada!

Estou entre os críticos da alternativa Lula. Tomara que esteja enganado, mas acho que o PT será uma decepção para os seus próprios militantes, especialmente se o nível de confronto com a direita exigir do partido uma resposta classista. Mas, essa é uma questão para os petistas,  não me cabe desenvolve-la,  cito apenas para marcar posição. Votarei na candidata Vera Lucia do PSTU, meu partido, uma candidatura declaradamente socialista e colocada como opção de voto para os trabalhadores.

Avalio  que a vontade e empenho dos militantes petistas, além da representação simbólica do partido estão mais à esquerda do que as opções e projetos políticos dos seus dirigentes atuais, e não é por outra razão que se dá a intolerância e o ódio antipetista. O PT é a principal  força de oposição eleitoral à situação política atual e, se houver segundo turno, salvo alguma situação que esteja em contradição com os meus princípios políticos, votarei na candidatura de oposição que provavelmente será o Lula.

Assim vejo o momento atual. Mais do que nunca, estou convencido da necessidade de estarmos de olho pregado na realidade. Será ela que apontará caminhos, e o que importará serão as escolhas que fizermos. 

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sexta-feira, 18 de março de 2022

Para ocupar a oficina do diabo (3)

 Opinião

 

Cabeça vazia, oficina do diabo. Claro e objetivo, como costumam ser os aforismos populares. Segue, então, sugestão para irmos ocupando essa oficina.

 

Para aqueles que gostam do tema Políticas de Telecom e Informática (TI), sugiro a leitura de uma matéria da revista Piauí - Edição 186, Março 2022, do jornalista Fernando Eichenberg, com o título " O guru do Datagrama - Como a França jogou no lixo a chance de inventar a internet" (link abaixo). 

A matéria é um tributo ao nonagenário engenheiro Louis Pouzin (1931) cujo nome, apesar do pioneirismo dos seus trabalhos na área de TI, não é considerado entre aqueles que hoje são chamados " pais da internet". Isso em decorrência das políticas adotadas pelos governos franceses em período histórico recente. 

Pouzin é reconhecido por suas iniciativas na criação de redes e na busca de uma redes de redes usando " datagramas puros". Os " datagramas" ou " pacote de dados" são formas de organizar as informações trocadas entre os terminais de uma rede de computadores. Uma rede de datagramas puros dispensa o uso de computadores intermediários para organizar essas informações, tarefa que é realizada nos próprios terminais da rede. 

Foi a partir do uso dos " datagramas puros" que se criou o mecanismo de  interconexões entre computadores diferentes: os chamados protocolos TCP/IP, suportes da atual internet. Os criadores desses protocolos, os engenheiros americanos Robert Kahn e Vinton Cerf, são identificados como os " pais da internet", mas o francês Louis Pouzin não recebeu esse crédito, embora tenha obtido outros importantes reconhecimentos por seus méritos. 

O interessante da matéria reproduzida na Piauí não são os aspectos tecnológicos, nem esse é o foco da matéria. Mas, um esboço do tipo linha do tempo de certas questões, disputas e decisões dos governos franceses que desconsideraram trabalhos, conduzidos por Pouzin, que já estavam em fases adiantadas e que até contribuíram para os estudos dos criadores do TCP/IP, como eles próprios explicitam em seus artigos científicos. Teria sido Vinton Cerf quem apelidou Pouzin de " guru dos datagramas". 

É surpreendente verificar os desacertos e contradições nas disputas de interesses e nas decisões dos governos de um país com um histórico  de valorização de políticas de longo prazo para o setor. O mesmo presidente Giscard D'Estaing que detonou os trabalhos que vinham sendo realizados por Pouzin, foi quem criou, em 1976, um grupo específico para " fazer progredir as reflexões sobre os meios de conduzir a informatização da sociedade", uma decisão importante que resultou no então famoso  Relatório Nora-Minc que foi referência de debates em diversos países (a matéria da Piauí não aborda o assunto do relatório Nora). 

Valorizo a matéria da Piauí porque ela estimula pensar sobre as situações e experiências aqui, no Brasil, especialmente nesses momentos em que andamos no vale das sombras da morte política. Não haverá vara ou cajado que nos console e nos faça avançar, se não for um comprometimento político que, nesse caso, significa buscar entender as questões de fundo sem se deixar inebriar pelas seduções dos avanços tecnológicos. 

Também não é o caso de se agasalhar na nostalgia do déjà vu. Ao contrário, os desafios renovam-se a cada dia, e essas reflexões devem ser um esforço para não deixarmos romper o frágil fio de possibilidades para o nosso país tão desgastado por sabotagens e boicotes de importantes iniciativas que nada ficariam a dever as de outros países, tanto em conteúdo como em capacitação e empenho dos seus formuladores. Os exemplos deixo-os para outras conversas, e para não desviar a atenção da matéria cuja leitura estou sugerindo.

 

Segue link para a matéria da Piauí: 

< https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-guru-do-datagrama/> - Acessado em 18/03/2022.

sábado, 5 de março de 2022

Para ocupar a oficina do diabo (2)

 Opinião

 

Cabeça vazia, oficina do diabo. Claro e objetivo, como costumam ser os aforismos populares. Segue, então, sugestão para irmos ocupando essa oficina. 


Quem seria doidão o suficiente para abonar informações advindas de cada um dos lados de opositores em uma guerra? Avançar por esse caminho no caso do conflito da invasão da Ucrânia pela Rússia certamente não é uma boa opção. De qualquer forma, as agências ocidentais de notícias já apontam centenas de casos de óbitos. O tempo afirmará a verdade. Uma vítima que fosse já justificaria todo e qualquer esforço para reverter o quadro. Mas, infelizmente, a realidade política das sociedades humanas não contempla essa avaliação. 

Estamos afogados em imagens, observações, opiniões e avaliações sobre a "guerra da Ucrânia". Para nós, uma guerra pela TV. Para mim, um revival das invasões ao Iraque lideradas pelo EUA em 1991 e 2003. Na primeira vez liderando uma coalizão internacional abonada pela ONU, e em 2003 quando os xerifes anglo-saxões (EUA e Inglaterra) simplesmente mandaram a ONU para a puta que a pariu, e destruíram o Iraque com o pretexto mentiroso que o país produzia e escondia armamento de destruição em massa. Foram 150 mil iraquianos mortos contra 50 ou 100 americanos. 

Essas guerras foram ou são justas? Quem inventou historia que existe guerra justa? Existe uma ética da guerra?

 Foi pensando nisso que achei oportuno resgatar e divulgar que tais questões foram o tema da aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Bioética da Escola Nacional de Saúde da Fiocruz em setembro de 2017 proferida pelo cientista político e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Luis Fiori. 

Já divulguei essa aula (link) em outras ocasiões para alguns colegas, mas repito o gesto pela oportunidade dos acontecimentos. A aula propriamente dita inicia no minuto 44:20. A parte preliminar até pode ser pulada, mas adianto que é ótima, onde o professor comenta alguns aspectos conjunturais e aqueles que o levaram a se interessar e aprofundar-se no estudo do tema. 

Para o professor Priori, a invasão do Iraque de 2003 determinou o fim de um universalismo ético que, bem ou mal, determinava uma ordem política internacional que mudou, assim como ratificou a intervenção da Rússia na Síria em 2015/2016, mas essas observações estão nas preliminares da aula. 

A aula faz um resgate histórico interessantíssimo mostrando a "guerra" como um fato recorrente e característico da formação social do homo sapiens; aborda qual teria sido a gênese do conceito de uma ética da guerra – guerra justa; e como as sociedades se organizaram adotando aqueles conceitos até o cenário atual, século XXI de organização geo-politica do mundo. 

Trata-se de um excelente resgate histórico feito por um pesquisador competente e consistente, super-reconhecido entre os seus pares. Não caberia aqui uma resenha, a aula fala por si. Arrisco dizer que afetará diretamente o seu olhar sobre os conflitos em que estamos imersos.

 

"José Luis Fiori abre Programa de Bioética da ENSP" – Aula inaugural em 01/09/2017 – Acesso em 28/02/2022 <https://www.youtube.com/watch?v=8b4yOwi4JFg&t=2707s>

sexta-feira, 4 de março de 2022

O cogumelo e a rosa

 Leituras para distrair

Sei bem pouco de outros da minha geração sobre as lembranças dos tempos da Guerra Fria. Os acontecimentos correntes fizeram-me ver que nunca conversei muito sobre isso, e também que algumas lembranças ficaram. 

As lembranças mais nítidas são dos testes atômicos que eram realizados pelos Estados Unidos (EUA) e pela União Soviética (URSS) em regiões relativamente isoladas do mundo. 

Não tínhamos acesso à TV e as notícias chegavam por jornais e rádio. Sabíamos mais dos testes nucleares americanos, e os jornais publicavam imagens do pavoroso "cogumelo atômico", sempre com ameaças da possibilidade de uma merda daquelas explodir sobre nossas cabeças a qualquer momento. A figura lírica da "Rosa de Hiroshima" foi criada pelo Vinícius em 1946, logo após as bombas em Hiroshima e Nagasaki, mas só viria a ser popularizada nos anos 70 com o Ney Matogrosso. Naquela época, o terror era o tal cogumelo. 

Outra lembrança marcante, essa de um fato mais específico, foi a da "crise dos mísseis em Cuba", quando os EUA impuseram um bloqueio naval para impedir a chegada de uma frota soviética que estava a caminho da ilha com materiais para a construção de uma base de mísseis. 

Após a invasão frustrada dos EUA à ilha de Cuba (Baia dos Porcos), o governo da ilha tratou com a URSS a instalação de uma base de mísseis balísticos, praticamente no quintal dos EUA. Para os americanos a autodeterminação do povo cubano era uma ameaça ao seu território, e bloquearam o acesso à ilha enquanto para lá se dirigiam navios soviéticos, e o impasse chegou ao limiar de um conflito nuclear (qualquer coisa parecida com a crise atual envolvendo Ucrânia, OTAN (leia-se EUA) e Rússia não será coincidência). 

Foram dias de grande pavor, acho que para o mundo. Ainda crianças não compreendíamos o que estava ocorrendo. Ouvíamos sobre o risco de uma tal guerra atômica e destruição total do mundo. No meu caso, decorávamos os afluentes do rio Amazonas, mas sem qualquer visão sobre geografia política. Mal sabia sobre o Peru onde nascia o rio Amazonas, e muito menos sobre os Estados Unidos, União Soviética ou Cuba. 

A minha iniciante escolarização de ginasial já estava além da precária escolarização primária dos meus pais, desse modo não havia muita informação em casa. Lembro-me de um professor que, sem muito sucesso, esforçou-se em traduzir para a nossa turma de escola sobre o que estava ocorrendo. 

Hoje percebo que em minha imaginação infantil não tinha sequer noção sobre escala de tempo. Na crise dos mísseis, as bombas de Hiroshima e Nagasaki tinham explodido sobre os japoneses a menos de 20 anos, precisamente 17 anos se contabilizarmos o período de 1945 até 1962. Para os adultos da minha infância tinha sido "ontem".  

Para uma melhor comparação: o 11 de setembro 2001, derrubada das torres gêmeas do WTC, já está mais distante para nós do que a distância em tempo entre a bomba sobre Hiroshima e a crise dos mísseis de Cuba para os nossos pais. Fico tentando imaginar como deve ter sido angustiante para a galera daquela geração (nossos pais) a ameaça de um conflito atômico no qual todos iriam se fuder, e sem qualquer chance de reagir. O conflito OTAN – Rússia - Ucrânia parece estar trazendo de volta esse tipo de pesadelo. 

É claro que a guerra não é uma novidade na história da humanidade. Ela é o limite da política que, por sua vez, reflete uma luta entre as classes sociais. Mas, é foda quando sabemos a classe dominante, visando manter o seu status, está sacrificando até a continuidade da espécie, destruindo o seu suporte ecológico. Nessas condições, uma autodestruição imediata, atômica, já não parece tão absurda. 

A idade afasta de mim o que seria um natural medo da morte – cago pra ela. Mas, entristece-me a ideia que os meus netos, já obrigados a viver com as restrições de condições ambientais do planeta, tenham também que crescer e conviver com essa porra dessa ameaça. Penso bastante nisso. Tomara que tudo não passe de apreensões infundadas de um vovô velhinho e superprotetor.  

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