domingo, 14 de dezembro de 2014

Eu e o violão – nossas primeiras notas


Leituras para distrair

Em casa o violão está ali, nu, despido de sua capa que está na cadeira ao lado.

Lembrei que, quando eu era menino, em nossa casa ouvíamos um programa de rádio, possivelmente da Radio Nacional, cujo nome era algo parecido com “alma das coisas”. 

No programa o personagem principal era um objeto de uso doméstico, uma panela, um relógio etc. que narrava a sua história. Em cada programa um determinado objeto contava como foi parar ali, onde estava, narrava a sua relação com o ambiente, com outros objetos, com as pessoas em sua volta etc.

Fiquei imaginando que se o violão tiver uma “alma” como aqueles objetos das historias do rádio talvez esteja pensando com suas cordas, visto que não tem botões, “por que será que esse filho da puta me deixou aqui, desse jeito?”.

Ele certamente não sabe, mas eu segui a orientação de uma amiga querida. Um violão pelado, ao seu lado, impõe uma intimidade e permite que, a qualquer hora, você possa pegá-lo e treinar.

Achei uma boa sugestão e adotei. E aqui estamos, eu e esse aparelho que será para mim, mais tarde, um instrumento musical, embora não saiba exatamente quando.

Por ora estamos aqui. Vou me aproximar e autoritariamente tentar realizar os blim – blões da minha lição. Seguir à risca todas as instruções da professora. Tomara que dê certo.

Não estou muito preocupado com o violão. Se ele tiver uma alma ela saberá bem mais do que eu como estas coisas ocorrem e tratará disto.






quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Comentários pós-eleitorais - 2014

Opinião

A recente e acirrada disputa nas eleições presidenciais provocou ressentimentos entre os eleitores, mas também estimulou debates e aumentou a quantidade de pessoas tratando de política, ou seja, de escolhas. Até mesmo entre alguns que são useiros e vezeiros em declarar que “odeiam política”. 

Outro produto do acirramento foi provocar em alguns debatedores a explicitação das suas posições políticas que estavam veladas, tanto por conveniência e vontade, como por ignorância ou falta de oportunidade de reflexão sobre elas.

Ao defender ou fazer proselitismo da sua opção de voto, muita gente declarou ou deixou escapar quais são realmente os seus valores políticos, via de regra associados aos seus princípios éticos. Ao mesmo tempo, outras pessoas descobriram que valorizavam princípios políticos e éticos que nem mesmo elas sabiam ou haviam considerado.

Ainda sem fazer juízo das opções políticas de cada um, tomara que o saldo tenha sido uma quantidade maior de pessoas dispostas a continuar argumentando em defesa de suas posições e se arriscando, naturalmente, às possíveis réplicas ou exposições de contradições que as suas ideias possam conter. O futuro dirá se o saldo foi positivo.

A grande mídia do Rio de Janeiro e de São Paulo (não sei nos demais estados) e os grupos que ela representa não digeriram a derrota e promovem um clima pós- eleitoral como se quisessem reverter o resultado das urnas. Perdedores, numa espécie de tapetão eleitoral, agregaram até conclamações à intervenção militar, expressões minoritárias, diga-se de passagem, mas que não foram explicitamente, nem veementemente rejeitadas pelas importantes lideranças políticas da oposição.

O PSDB, partido representante da oposição, que nunca teve projeto alternativo, aferra-se exclusivamente em discursos de denúncias de corrupção no governo eleito. Visto que algumas denúncias são justificadas e, além do mais, são amplificadas por um fabuloso suporte de propaganda, esta prática tem trazido resultados favoráveis. A oposição avançou fortemente em áreas populares e de trabalhadores, cooptando estes espaços com um discurso reacionário, conservador e de rejeição às propostas socializantes. Tudo indica que esta será a linha de ação permanente da direita enquanto o governo eleito não der mostra de alterações nos rumos de sua gestão.

Por outro lado, há eleitores filiados ao PT, partido que liderou a candidatura vitoriosa, que reagem a qualquer oposição e crítica recebida, ignorando as mazelas que envolvem o governo reeleito. Fechados em um casulo partidário, não cobram autocrítica de suas lideranças e acusam qualquer opositor de colaboração com posições reacionárias e golpistas. Desconsideram que o resultado da votação recente, bem mais do que uma escolha de candidatos ou de partidos, foi uma manifestação de rejeição de projetos políticos e de práticas partidárias de ambos os lados concorrentes.

É preciso superar o maniqueísmo das discussões da campanha eleitoral aproveitando o engajamento político resultante da mesma provocando a continuidade dos debates e, quem sabe, transformando este debate em algum tipo de intervenção concreta. Tratar sobre a Reforma Política pode ser um caminho. Mesmo nos marcos da organização capitalista da produção, este tema, incluindo a discussão se a proposta de realizá-la é um fato ou um factoide, carrega consigo enorme parte das divergências e conflitos de ideias que agitaram os debates eleitorais entre os eleitores que se enfrentaram nas cozinhas, nos escritórios, nos bares, nas portarias, nas empresas, nas filas dos transportes e nas praças.

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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Um discurso e um método


Opinião
Caro amigo,

A propósito da sua observação sobre a dificuldade de votar na Dilma no segundo turno, suas insatisfações com o PT etc., o que tenho a dizer é que defini o meu voto fazendo uma revisão e leitura da minha própria experiência de vida.

Sugiro que você faça o mesmo, use este método. Quem contestará a sua experiência?

Dos meus 63 anos completos, os quinze primeiros foram anos de saudável infância e adolescência. Felizmente sem a necessidade de conhecimento nem de crítica política.

Vivenciei parte dos 20 anos de ditadura em nosso país sujeito aos custos, às frustrações, às alienações e às dificuldades que aquela conjuntura impôs aos jovens da nossa geração, mesmo aos que não estavam engajados em grupos organizados de resistência. Uma ditadura servil e doutrinada pelo governo americano e representada internamente por uma quadrilha generais escrotos, cujos projetos políticos não passavam de mesquinhos planos pessoais, e que não iam muito além do próprio poder, mas pelos quais, ainda assim, mataram e torturaram.

Seguiram outros 15 anos desde o fim da ditadura, com Sarney, Collor, passando por Itamar Franco até FHC/PSDB.

Este foi um período de lutas sociais na tentativa de compensar o tempo perdido. Período de submissão governamental total às determinações das empresas e governos dos chamados países centrais representados pelo FMI. Foi, também, um período de avanço na organização dos trabalhadores, um período em que empenhei grande parte da vitalidade associando-me aos que lutavam para a melhoria da qualidade de vida da sociedade em que vivo.

Tive a sorte de me capacitar em uma profissão que foi valorizada durante um bom tempo, fato que permitiu um razoável conforto em minha vida privada, mas, infelizmente, esta não era a condição geral. Desempregos e projetos frustrados eram uma rotina nos ambientes que eu conheci.

Um marco representativo desse arrocho e crise social ocorreu em 2003, no Rio de Janeiro, quando na Marques de Sapucaí formou-se uma fila de 15 mil pessoas, integrada por muitos jovens e adultos com formação escolar completa de nível médio, de nível superior e até pós-graduação, para concorrer a uma vaga para gari na prefeitura do Rio de Janeiro, na empresa de limpeza urbana. 

Foi o PSDB quem governou os últimos oito anos deste período, e o seu governo, presidido por FHC, foi um governo voltado de costas para o Brasil. O presidente FHC, como bem o disse Maria da Conceição Tavares, servia aos imperativos estadunidenses tal e qual um vice-cônsul do Clinton.

E foi o PSDB, seguindo os ditames do Império, quem entregou a riqueza nacional representada pelas estatais aos grupos privados nos leilões das privatizações. Leilões que terminavam em festas promovidas pelo governo do PSDB comemorando as vitórias da sua política lacaia e servil ao neoliberalismo.

Vale do Rio Doce, Usiminas, Volta Redonda, a Telebrás e a Embratel, foram-se todas. Para promover o leilão da Embratel, o governo FHC/PSDB anunciou a oferta de sua venda como: “a joia da coroa".

Após FHC, nos últimos 12 anos, vivenciei os governos do PT que ajudei a fundar, mas do qual me desliguei há mais de 20 anos. Bem longe de um governo dos trabalhadores pelo qual ainda luto, os governos do PT têm sido deformados, comprometidos e cheios de defeitos.

Contudo, houve uma particularidade que não pode ser negada. Na contramão dos governos do PSDB, desenvolveram programas com políticas sociais que reduziram a miséria do Brasil. Repito! Reduziram a miséria do Brasil.

Muitos não têm uma noção clara do significado da quantidade de pessoas que foram efetivamente beneficiadas nestes últimos doze anos. Foram quarenta milhões de pessoas. O equivalente à metade da população atual da Alemanha, 2/3 da população da França, ou da população da Itália, ou do Reino Unido, ou, se quiser, quatro vezes a população atual da Suécia.

Por conta de tais programas, no mês de setembro de 2014 a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) anunciasse formalmente a saída do Brasil do Mapa Mundial da Fome.

Os jovens que amadureceram neste período não precisaram ficar reféns dos seus empregos e profissões - nem de seus patrões, mesmo considerando a crise econômica internacional que o sistema capitalista tem atravessado.

No meu ambiente de trabalho (minha aposentadoria é recente) pude assistir – e com muita satisfação - a liberdade de movimentação dos "meninos", colegas de trabalho, deslocando-se entre empresas e buscando melhores condições de emprego. Comparei este cenário com o período equivalente que vivi junto com outros contemporâneos, quando fomos praticamente escravos em nossos empregos porque as chances de arrumar algum outro eram quase zero. Um fato era de conhecimento geral: quem saísse de uma empresa saía do sistema (telecom), e quem saía do sistema não voltava mais.


Qualquer um pode ratificar o que estou afirmando. Os que forem da minha idade que busquem o exemplo em suas áreas de atividades profissionais ou mesmo entre os seus familiares.

Ainda que com limitações e bem distante do que é possível, é incontestável que nos tempos atuais tem sido possível aos jovens que já alcançaram a classe média viverem a sua juventude. Viajam, fazem planos, escolhem formações profissionais alternativas àquelas tradicionais que garantiam a vaga de trabalho ao final do curso. Os jovens assumem atitudes e se defrontam com oportunidades que eram impensáveis nos tempos que vivenciei, salvo, naturalmente, algumas exceções.

Novamente convido os da minha idade a olharem em volta e verificarem se as minhas afirmações são falsas.

Estes jovens não vivenciaram as crises nem o desmonte do Brasil realizado pelo PSDB. Querem mais para suas vidas, e com razão. Infelizmente, alguns deles se iludem achando que quem destruiu será capaz de aprimorar. Especialmente porque não estamos em um paraíso, mas em uma conjuntura inundada denúncias de corrupção no Estado, e corrupção no Estado é responsabilidade do governo, esteja ele comprometido, ou não, com a corrupção.

Casos e escândalos de corrupção também ocorreram no período FHC/PSDB, assim como anunciam hoje os casos do PT, um atrás do outro. Porém, salvo se você pretender anular o seu voto, será um equívoco infantil tentar usar o indicador "muita ou pouca corrupção" como critério de escolha entre os candidatos. Como se fosse possível avaliar qual foi o maior roubo ou quem é menos ladrão.

É claro que a corrupção é uma questão importante e que deve influenciar o nosso voto. Porém, pilantras e trambiqueiros sempre estarão infiltrados nos ambientes onde os recursos, as riquezas, circulam. Assim, em vez de se orientar pelas palavras de ordem de acusação e defesa, é muito mais objetivo buscar comparar como os governos dos candidatos trataram o assunto. O que fizeram a respeito? Este será um bom critério, um bom método. Os fatos estão aí e podemos compartilhar e confrontar as nossas experiências sem cair na armadilha de um debate alienado sobre quem roubou mais ou menos.

Os escândalos e os casos de roubos de patrimônio que vieram a público nos governos PSDB foram sempre abafados e não foram sequer investigados. O ministério público era tão comprometido com o governo do PSDB que o procurador geral da república recebeu o apelido jocoso de engavetador geral da república.

Consta que dos 600 inquéritos que recebeu, o engavetador aceitou apenas 50 e os demais foram engavetados. Entre eles os que tratavam das denúncias sobre a compra de votos para a aprovação da emenda de reeleição de FHC.

Em 1999 veio ao conhecimento público um conjunto de mais de 50 fitas de áudio com gravações de conversas do então Ministro das Comunicações, do presidente do BNDES e de diretores do Banco do Brasil e da Previ, gravações mostrando que o leilão de privatização das empresas do grupo Telebrás foi viciado.

As revelações foram tão constrangedoras que derrubaram o ministro e outros envolvidos, mas não houve clamor indignado da grande mídia, nem investigações da Polícia Federal, nem houve campanha da Veja, nem do jornal O Globo. Nem delações premiadas, nem instauração de CPI, nem cassações e, muito menos, julgamentos no STF.

Em contraponto, hoje são frequentes e diárias as prisões e o desmantelamento de quadrilhas que corroem o Estado. São fatos utilizados como propaganda antigovernamental, mas, contraditoriamente, tem sido o resultado da ação de um órgão federal com liberdade de atuação garantida por compromisso público e explícito da presidenta respaldando a ação da Polícia Federal e assumindo a palavra de ordem “investigação, processo e prisão para os corruptos” mesmo que alguns, ou muitos, estejam escondidos no próprio governo ou no partido que governa.

Quando isto ocorreu nos governos FHC/PSDB? E não foi por falta de roubo, nem de corrupção, nem de corrupto, nem de ladrão.

 Divulga-se que Policia Federal realizou menos de 100 operações nos governos PSDB contra mais de 1000 realizadas nos anos PT.

Se algo não mudou para melhor, então vivi em um mundo paralelo.

E a Petrobrás, esse monstro que está na berlinda das denúncias corrupção? Eu não tenho dúvidas que deve ter muito ladrão e safado tentando se dar bem em torno do montão de grana que a Petrobras representa. Aliás, repito, ladrão aparece é onde tem grana.

Pois bem, sobre a Petrobrás, a boa notícia é que ela ainda é pública. Não é totalmente publica porque o PSDB entregou 40% da Petrobrás para os acionistas privados, e só não entregou o resto porque não deu tempo. Tentaram até mudar o seu nome para Petrobrax para facilitar a privatização completa, mas o povo, felizmente, elegeu Lula presidente antes que isto ocorresse.

A má notícia é que ela possivelmente vai dançar no caso de um governo PSDB for eleito.

Neste cenário, eu não consigo, nem em sonho, pensar em votar no PSDB e no seu candidato. Aécio? Never!

O meu partido, o PSTU, recomenda aos seus militantes a anulação do voto. Para o PSTU o voto é um gesto político que fortalece quem o recebe e não devemos fortalecer nenhuma das alternativas que estão disputando o segundo turno. Precisamos, sim, fortalecer cada vez mais a organização e a luta dos trabalhadores e da juventude, pois é na luta que reuniremos condições para mudar nosso país.

Eu concordo plenamente com tais premissas, mas não seguirei a recomendação porque uma eventual volta do PSDB ao governo será um retrocesso, um pesadelo, muito pior do que as dificuldades que enfrentamos com o PT. 

Pode ser que outros tenham tido experiências diferentes. Vivi a minha vida e não a de outros. E sempre haverá aqueles que apenas não tiveram a experiência, nem a informação e nem análise suficiente para uma visão crítica. Não tenho como corrigir isto. Possivelmente estes serão os mais jovens, e isto não é surpreendente. 

Contudo, sob a óptica da minha experiência, avalio que os últimos 12 anos, comparados aos anteriores que vivenciei, foram sem qualquer dúvida os melhores para a sociedade brasileira.

O nosso país tem problemas de infraestrutura sérios, agravados porque a infra existente não dá conta dos milhões de brasileiros que evoluíram da miséria absoluta e ingressaram na sociedade política com suas demandas.

Faltam profissionais capacitados para ocupar as vagas especiais entre as milhões anuais que foram criadas reduzindo a taxa de emprego para patamares invejáveis.

Há uma recente classe média que passou a disputar as poltronas nas aeronaves e os balcões de cafezinhos nos aeroportos sob o olhar de desdém e despeito da elite tradicional faz valer a sua força política reforçando as exigências de recursos governamentais para saúde e educação.

Há uma juventude descendente de trabalhadores que usufruíram da conjuntura positiva que marcou os anos dos governos do PT e que ainda era infante e adolescente no período PSDB e que, felizmente, assim como eu, não enfrentaram carências. Entraram na sociedade política munidas apenas dos seus sonhos, desejos e projetos.

E há, naturalmente, um enorme grupo de ainda excluídos referenciando-se pela lei do toma lá da cá e pelos imperativos de força e violência que dominam as marginais do sistema capitalista e que não foram alcançados pelos projetos sociais de compensação.


Existem problemas, sim, e muitos. E não tenho a expectativa que as transformações necessárias virão com a reeleição da Dilma. Até porque o PT deve à sociedade uma declaração explícita de “me culpa” por conta das prevaricações de um conjunto enorme de seus representantes.

Tenho a certeza que as transformações desejadas   serão conquistadas na marra, na agitação, nas ruas. E esses jovens que ainda não se formaram politicamente serão formados na luta e nos enfrentamentos pelos seus direitos. E, como preconizou Marx, elas precisarão ser revolucionárias:

 ““...  a revolução, portanto, é necessária não apenas porque a classe dominante não pode ser derrubada de nenhuma outra forma, mas também porque somente com uma revolução a classe subversiva poderá se desembaraçar de toda a antiga imundície (merda) e de se tornar capaz de uma nova fundação da sociedade (A ideologia alemã).

Dito isto, companheiro, use a sua própria experiência como método de avaliação e decida!

Você acredita que quem sempre apregoou a defesa do liberalismo econômico vai realizar ações visando manter e ampliar as políticas sociais do governo do PT?

Você coloca expectativas em um governo cujos próceres sempre alardearam que as conquistas sociais garantidas na Constituição conflitam com a nossa capacidade de produção, e que a política de elevação do salário mínimo deve ser descontinuada?

Você acredita, realmente, que Armínio Fraga vai liderar a implantação de políticas públicas em defesa de indígenas e quilombolas, conforme o Aécio escreveu no documento para acomodar politicamente o apoio recebido da seringueira que teve a candidatura promovida pelo Itaú e Citibank?
  
Enfim, escolha quem você quiser, é um direito seu. Mas não me venha com falsas justificativas se a sua escolha contradisser todo o discurso ético com o qual você sempre procurou se identificar.

Abraços, Jorge

Rio, 17/10/2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Internet, sim! Marionete, não!

Opinião 

O Facebook usou como cobaias cerca de 690 mil usuários enviando para um grupo apenas notícias de conteúdos notadamente positivos e para outro apenas notícias classificadas como negativas. E sem que os usuários soubessem, o Facebook xeretou as mensagens postadas avaliando o comportamento de cada um conforme o grupo ao qual pertenciam. O fato aconteceu em 2012 e veio a público recentemente gerando protestos. Os donos do Facebook alegaram ser uma mera pesquisa prevista pela política de uso da rede pré-aprovada pelos usuários. Cá para nós, é preciso ser muito leso para não ver que o objetivo da experiência (se já não for uma prática) é a indução do comportamento de massa associado ao estímulo provocado pelas notícias. Na Holanda há uma iniciativa de mobilização propondo um boicote temporário ao uso do Facebook (vejam no link - abaixo - notícia sobre o assunto).
  
Trata-se de uma situação onde a realidade se mostra quase tão fantástica quanto a imaginação e que nos estimula a viajar pelo admirável mundo das tecnologias da informação e comunicação.  Afinal, as possibilidades reais decorrentes da evolução dessas tecnologias efetivamente margeiam a ficção. Porém, bem mais importante é assumir que estas são questões da contemporaneidade e que demandam respostas e alternativas da sociedade, sob pena de nos colocarmos a mercê dos rumos determinados exclusivamente pela tecnologia, o que significa, em realidade, a mercê daqueles que se apropriam e controlam a tecnologia. 

Mais importante ainda é que a sociedade tem como responder tais questões e definir, ela própria, os seus rumos e suas alternativas. As situações geradas pela evolução tecnológica não são favas contadas e nem estão isentas da nossa intervenção. Até porque a própria evolução tecnológica provoca transformações tão radicais que mesmo os cenários que ela produz podem se tornar anacrônicos em curtíssimos intervalos de tempo (na semana passada recebi aviso que o Orkut acabou!). E as questões que permanecerão exigindo respostas ainda serão aquelas que se referem aos princípios da nossa organização social e à nossa história como humanidade, qualquer que seja o estado da arte da tecnologia. No caso específico, o que precisamos responder é abriremos mão de um poder público e de âmbito universal, no qual estamos incluídos, em favor dos interesses corporativos de algumas mega corporações privadas. 

É essa escolha que está em foco quando tratamos da necessidade de um controle social dos meios de comunicação, da democratização da informação e da comunicação, da viabilização prática do Marco Civil através da sua regulamentação, entre outras questões que vem sendo discutidas em alguns fóruns populares e que, naturalmente, batem de frente com as experiências de manipulação de massa realizadas pelo Facebook.

Ainda há os que discursam sobre um suposto reino de liberdade e de isenção, representado pela internet, que estaria sendo maculado pela intervenção do Estado sobre a liberdade dos indivíduos através da Lei 12.965/2014 que estabeleceu o Marco Civil. Este caso do Facebook é uma oportunidade que deveria servir para reflexão desses incautos que acham que na internet qualquer um faz ou diz o que quer, quando quer. Bobinhos!  

Publicitários da Holanda convidam pessoas a ficar 99 dias sem Facebook


 99daysoffreedom.com 



domingo, 29 de junho de 2014

Plano Nacional de Educação - um gol de letra na Copa


Opinião

Ganhando ou perdendo a Copa teremos importantes gols para comemorar, mesmo que eles tenham ocorrido em disputas ofuscadas pelos enfrentamentos festivos entre as seleções da FIFA. Passado o caso do projeto Andar de Novo (Exoesqueleto) que só ganhou alguns segundos  de atenção das TVs durante a abertura da Copa, outro gol que mereceria ser comemorado com fogos, festas, danças, fantasias e beijos nas praças públicas, nas praias e nos estádios foi a aprovação pelo Congresso do Plano Nacional de Educação – PNE  e a sua sanção, como Lei 13.005/14, pela presidenta da República no último 25/06/2014 (link para acesso ao final deste texto).

A Lei do PNE é um gol de uma partida que não iniciou ontem. Trata-se de uma Lei cuja história é sustentada pela dedicação de gerações de militantes que lutaram pela valorização da Educação no Brasil desde a Constituinte de 1933, que fizeram de tudo para avançar nos subsequentes períodos democráticos e que bancaram os enfrentamentos durante as ditaduras do Estado Novo e do Golpe de 64. Embates que viabilizaram a articulação das várias entidades que formaram, em 1986, o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública – FNDEP e que fizeram constar no art. 214 da Constituição a obrigação de existência de uma Lei contendo um plano decenal, com diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a Educação no país, o Plano Nacional de Educação.

Resulta dessa luta o fato da nossa Constituição explicitar que o PNE deve ser elaborado de forma a se alcançar:  a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento escolar; a melhoria da qualidade do ensino; a formação para o trabalho; a promoção humanística, científica e tecnológica do País; o estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto.

A Lei do PNE não é um consenso mesmo entre os que a defendem, mas os seus adversários certamente não estão entre os que buscam aumentar a distribuição da riqueza nacional, e nunca é demais repetir: produzida pelos trabalhadores brasileiros.

As distâncias entre os projetos e as realizações práticas são sempre enormes, especialmente no caso dos projetos políticos. Mas, isso não é surpresa, é um dado da realidade. Não é por  acaso que o primeiro PNE, elaborado para o período 2001 – 2011,  foi tímido e com resultados que deixaram muito a desejar. E também não é por acaso que o projeto de PNE que deveria vigorar nos dez anos seguintes apesar de ter sido encaminhado para a discussão em 2010, só agora, quatro anos após, foi aprovado. Não foi um gol fácil resultado de um craque artilheiro plantado em posição especial esperando para chutar, nem mérito de um driblador miraculoso que venceu sozinho seus marcadores. Foi um gol construído por um conjunto, gol catimbado, com idas e vindas, e com muitos passes até a sua conclusão.

O PNE atual traz consigo uma meta importantíssima que foi barrada no Plano anterior. Ele obriga que até o fim da sua vigência, em 2024, devam ser alocados para a área de Educação os recursos de 10% do PIB nacional, escalonados de forma que 7% já sejam alocados até o quinto ano, 2019.  E outro fato que não pode deixar de ser mencionado é a iniciativa do governo federal de comprometer a priori ganhos oriundos da exploração do petróleo do Pré-sal vinculando-os à formação de recursos para a Educação. Considerando que o PIB nacional hoje é da ordem de 4,2 trilhões de reais,  dez por cento significa uma bufunfa de respeito. São  420 bilhões de reais – o que é muita grana em qualquer lugar do mundo. Alguns jornais informam que poucos países têm este tipo de comprometimento, tanto no volume como na obrigação legal de realizar estes investimentos.

A existência do PNE por si só não resolve os problemas dos trabalhadores nem as carências do setor Educação. É preciso transformá-lo em realizações práticas que, conforme a própria Lei, se desdobram em ações estaduais e municipais o que não será fácil. Cada merreca desses 420 bilhões será disputada e poderá ir parar no salário do professor, na merenda escolar, no computador da escola pública, na construção dos campi universitários, nos projetos de pesquisas, mas também poderá ir parar nos cofres das empreiteiras, nos bolsos dos donos das arapucas privadas de ensino, dos seus representantes e capachos infiltrados na administração pública, nos intermediários, nas campanhas e nos bolsos de governantes e parlamentares comprometidos com grupos de poder  e de interesses  privados que, a propósito, já estão organizados para abocanhar suas boladas. O posicionamento e a mobilização política da nossa sociedade determinará o lado para o qual a balança penderá.

O fato é que o PNE é um instrumento importante e a sua  existência assim como as suas possibilidades de desdobramentos são um avanço político. Pelo menos nessa área existirão elementos consistentes para referenciar os debates, as opiniões, as tomadas de posições, as escolhas e a participação direta, se for o caso, em vez do blá, blá, blá, frouxo, preconceituoso, despolitizado e desinformado que polui o tráfego de mensagens eletrônicas e mediocriza os bate-boca sobre política.

Ainda um outro ponto importante. Foi criada uma base de informações que pode ser acessada por um site denominado Observatório do PNE que pretende concentrar as informações sobre os desdobramentos do assunto. Eu recomendo que, no mínimo, seja acessado um curto vídeo sobre o funcionamento do Observatório (quem se der ao trabalho, observe no vídeo os grupos que construíram o Observatório).

No mais, eu gostaria de concluir com uma mensagem do tipo “agora é só correr pra galera”, mas infelizmente não é assim. Ainda tem muito jogo pela frente.




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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Com quantos bytes se faz uma Copa?

Leituras para distrair


Li no jornal Tele.síntese, uma ótima publicação especializada em telecomunicações, uma matéria publicada em 24/06/2014 com o título: 

 TRÁFEGO DE DADOS DA OI DURANTE A COPA JÁ BATE 35 MILHÕES DE FOTOS


Para mim foi apenas uma curiosidade, mas como vivemos uma fase de imersão total nas novidades tecnológicas de comunicações, mesmo sem autorização para tal, divulguei o link da matéria supondo que haveriam outros interessados em sua leitura.

Após a leitura, pensando em amigos que teriam interesse na mesma,  resolvi fazer alguns registros na tentativa de acrescentar informações sobre a palavra “byte” o verbete principal da matéria. Adianto, porém, que considero os meus registros ainda menos importantes que a matéria em pauta e que passaríamos todos muito bem sem ambos. De qualquer forma, seguem os registros.

Com quantos bytes se faz uma Copa?

No dia-a-dia trocamos informações através da fala, através de sinais, de imagens e através da escrita. No caso da escrita, usamos o alfabeto latino que contém 26 letras. As letras são símbolos que combinamos formando palavras e mensagens usando as regras do nosso idioma, e com as quais tentamos representar as nossas ideias, os nossos pensamentos. Um receptor que conheça as regras que utilizamos conseguirá captar e ler as mensagens que transmitimos. As palavras do nosso idioma não são limitadas em quantidade de letras e podem ter tamanhos diversos, assim como podem ter letras repetidas na sua formação.

Na comunicação e no processamento eletrônico de mensagens, genericamente chamadas de “dados”, as máquinas conversam entre si também formando palavras e mensagens e usando um alfabeto para tal. Porém, o alfabeto que utilizam contém apenas dois símbolos, o símbolo “0” e o símbolo “1”.

Esses símbolos são as “letras” do alfabeto que as máquinas utilizam para a comunicação e processamento de dados, e eles são chamados de “bit”. Assim, as máquinas formam as palavras e as mensagens usando dois tipos de bits: o bit “0” e o bit “1”.

Diferentemente da nossa escrita onde existem palavras com quantidades diferentes de letras, nas linguagens para a comunicação e processamento de dados o comprimento das palavras é padronizado, isto é, elas sempre têm a mesma quantidade de símbolos ou de bits. O tamanho padrão utilizado atualmente é de oito bits, e como só existem dois tipos de bits (zero e um) naturalmente eles se repetem para compor uma palavra de oito bits.

A título de exemplo: na língua portuguesa a palavra ARARA tem o comprimento de cinco símbolos ou letras, e usa apenas dois tipos de símbolos, “A” e “R”, que se repetem na sua formação. Uma palavra “eletrônica”, não importa o seu significado, pode ter a formação: 00101110.  Trata-se de uma palavra que tem o comprimento padrão de oito símbolos ou bits e, naturalmente, usa os dois símbolos, zero e um, que se repetem na palavra.

Embora existam máquinas que trocam informações com palavras de tamanhos diferentes, a palavra de oito bits é padronizada internacionalmente nas comunicações e processamento de dados, e este padrão recebe o nome de “byte”. Assim, byte significa uma palavra de oito bits, e no parágrafo anterior o exemplo foi o byte “00101110”.

No seu funcionamento as máquinas emitem sequências de bytes, ou seja, sequências de palavras de oito bits que obedecem a um conjunto de regras de linguagem, que são chamadas de “protocolo”, para que o receptor, que também conhece o protocolo, possa ler as mensagens.

Se monitorássemos uma sala com 10 pessoas, gravando tudo que elas falassem ao longo de certo período, por exemplo, durante quatro horas, e depois contássemos todas as palavras proferidas, sem preocupação com o significado, repetições etc., se apenas contabilizássemos a quantidade de palavras, teríamos uma medida da atividade de comunicação que ocorreu na sala. E se as 10 pessoas conversassem, cada uma delas com uma média de 30 palavras a cada 20 segundos, contabilizaríamos uma atividade de cerca de 216.000 palavras.

Se a gravação fosse impressa representando cada pessoa por uma caixinha e assinalando para cada uma a mensagem que ela emitiu, um observador que não conhecesse as regras da língua portuguesa veria apenas sequências de letras do alfabeto sendo transmitidas de uma caixinha para a outra, enquanto outro observador que nem conhecesse o alfabeto latino veria sequências incompreensíveis de símbolos sendo trocadas entre as caixinhas.

No caso de máquinas trocando informações, se elas forem gravadas e impressas, assim como no exemplo da sala de fofocas, um observador que não tenha conhecimento do protocolo verá apenas sequências incompreensíveis de zeros e de uns sendo trocadas entre as caixinhas. Uma caricatura de como seria isto é aquele conjunto de símbolos do filme Matrix que corre na tela sem cessar - muito divulgada para ser utilizada como proteção de tela de micro.

A matéria  matéria em pauta diz que foram registrados nos primeiros dez dias da Copa um tráfego, ou seja, uma atividade de troca de mensagens de dados de 32 terabytes.


Um terabyte equivale a 1024 gigabytes, mas na linguagem comum despreza-se os trocados e diz-se que equivale a 1000 gigabytes. O prefixo giga significa “bilhão”, assim, um terabyte significa um trilhão de bytes, ou seja, um numeral representado pelo algarismo um seguido de  doze zeros: 1 000 000 000 000. Então a atividade registrada foi da ordem de 32 trilhões de bytes (256 trilhões de bits).

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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ordem e Progresso

Leituras para distrair


Ontem, 29/05/2014, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, ocorreu uma “Ouvidoria Itinerante”, evento onde vários órgãos públicos ofereceram serviços aos transeuntes, tais como: registro de nascimento, casamento, identificação civil, orientações e atendimento de reclamações sobre direitos do consumidor, emissão de carteiras de trabalho etc. Além da Ouvidoria do Ministério Público Estadual, responsável pela iniciativa, também participavam o Procon, o Ministério de Trabalho, Detran, Bombeiros, PM e outros. Muito legal!

Tomei conhecimento do evento ao passar, observando uma caminhonete, tipo Van, que funcionava como posto de atendimento do Ministério do Trabalho. A Van estava toda pintada com uma representação estilizada da Bandeira Nacional, bem chamativa, destacando-se o círculo azul da bandeira, enorme, com as palavras Ordem e Progresso.

Por curiosidade e já estimulado por observações anteriores, fui conferir a representação da bandeira e, não deu outra! As palavras Ordem e Progresso estavam pintadas em preto, cor inexistente na Bandeira Nacional, quando deveriam estar pintadas em verde. Enfim, a representação estava errada. Conversei com um dos atendentes da tenda vizinha, do Ministério Público, e que parecia ser um estudante. A pedido dele, fomos até a Van do Ministério de Trabalho, mas ele sequer identificou o erro, na verdade, ele nem fazia ideia que estava errado.

Com minhas opções socialistas, trotskistas, estou bem longe de me referenciar pelos símbolos nacionais que não desqualifico, mas que valorizo apenas em circunstâncias bem específicas. Símbolo por símbolo, eu preferiria que a praça estivesse enfeitada de bandeiras vermelhas representando a luta e a busca da solidariedade internacional entre trabalhadores.  Porém,  mesmo assim, acho que erros de tal natureza e em tais circunstâncias não deveriam ocorrer. Afinal, não era uma decoração de muro ou de asfalto de rua comemorando a Copa do Mundo, mas um carro oficial de um ministério da República divulgando um dos quatro símbolos nacionais no centro de uma das principais capitais do país repleta de visitantes e em um momento marcado pelo chauvinismo e pela enorme quantidade de propaganda estimulando e convocando a população, paradoxalmente, a torcer pelas “cores” do Brasil.

O fato concreto e realmente relevante foi a prestação dos serviços que estava sendo ofertada e realizada, sem importar as cores com as quais pintaram a bandeira. Em tempos de torcida, torço para que não seja apenas uma ação pontual no tempo e espaço e que seja repetida, ampliada e aprimorada. Porém, não há como deixar de perceber que esses erros são emblemáticos, simbólicos. Revelam uma falta de cuidados e uma espécie de descaso, de não comprometimento. Parafraseando Chico Buarque e Ruy Guerra, é como se as mãos estivessem distantes do peito, refletindo distância entre intenção e gesto.

No mais, passei e fiz questão de pegar um exemplar de uma cartilha intitulada “Violação de Direitos da Pessoa Idosa”, bem interessante, onde poderei me orientar com dicas sobre violência física, violência psicológica, violência sexual, abandono, negligência, abuso financeiro, autonegligência etc. Enviarei cópia para um grande companheiro que aniversariará amanhã e comemorará no Orquídea, em Niterói.

E ainda reforçando a caricatura de aposentado sem ter o que fazer, lembrei-me que quando houver oportunidade conferirei as bandeiras vendidas nas lojas Bee, no saguão do aeroporto internacional do Galeão, no Rio. Até bem pouco tempo, quando estive por lá, as coisas estavam pretas na infra do aeroporto e também nas letrinhas das bandeiras.

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sábado, 11 de janeiro de 2014

Desforra de medíocres: demitir Carlos Augusto


Opinião
A Embratel despertou o fantasma da perseguição e censura à manifestação do pensamento e do cerceamento à liberdade de organização e expressão dos seus empregados. Em 10/01/2014 demitiu Carlos Augusto Moreira, engenheiro, liderança na organização dos trabalhadores da Embratel no Rio de Janeiro, um dos fundadores da extinta associação de empregados, AEBT RJ, ex-diretor sindical, no SINTTEL RJ, e atual representante dos empregados eleito para o Conselho Deliberativo da fundação de seguridade Telos. Um empregado com 38 anos de trabalho na área de engenharia onde se destacou, se fez respeitar, conhecer e admirar como um dedicado e competente profissional, atributos reconhecidos por suas chefias imediatas, pelos colegas próximos e das demais áreas com as quais interagiu, assim como por profissionais das muitas empresas da área de telecom com as quais a Embratel se relaciona e junto às quais foi representada, sem reparos, pelo então empregado Carlos Augusto. Ele foi demitido porque, mesmo sem a proteção de uma estabilidade sindical,  não se omitiu de expressar suas opiniões ao longo da campanha salarial no final de 2013, nem de divulgar aos empregados que a diretoria da Embratel, no início de 2014, e por sua exclusiva conveniência, enfiou pela goela dos trabalhadores uma alteração no plano de benefícios da Telos.

A Embratel aprovou em âmbito nacional a sua proposta na campanha salarial 2013, mas ainda assim, como em anos anteriores, contabilizou os votos de rejeição da sua proposta pelos trabalhadores dos simbólicos prédios Mackenzie e Camerino, onde Carlos Augusto trabalha (va) e sempre foi uma referência imediata para os demais trabalhadores. A Telos, por sua vez, extinguiu o atual plano de benefícios e valorizou a decisão divulgando-a como uma “aprovação do Conselho Deliberativo”. Mas os empregados foram informados pelo seu representante, o companheiro Carlos Augusto, que a mudança foi imposta pela Embratel sem qualquer discussão ou debate. Foi mais uma “chave de galão” imposta em num conselho de representação distorcida, onde o representante dos trabalhadores é figura solitária.

São os gestores de recursos humanos que representam a Embratel, tanto nas negociações sindicais, como naquelas junto à Telos, e eles falharam em dissimular as políticas efetivas do grupo empresarial que controla a atual empresa. Não que tais políticas sejam uma novidade, mas esses gestores são reconhecidamente medíocres e incompetentes, e se prostraram parvos diante da atuação eficaz e comprometida do nosso colega.  Assim, melindrados  em sua estupidez, e antes que eles próprios fossem dispensados como néscios inúteis, promoveram uma desforra com a demissão do Carlos Augusto alegando uma suposta reorganização empresarial.

Entretanto, tão grave quanto a demissão, é que tais fatos ocorrem nas barbas de um governo cuja presidenta guerrilhou contra a ditadura e sucede dois mandatos de um ex-líder sindical em movimentos que transformaram relações de trabalho no Brasil. O atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e a sua esposa, ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, certamente estão envolvidos com a provável candidatura da ministra ao governo do Paraná, mas também é certo que vários integrantes do atual governo, nos planos executivo e legislativo, estadual e federal, são egressos da categoria dos trabalhadores de telecom e obtiverem seus mandatos e cargos a partir do endosso político da categoria. Assim, é imperativo que tais personagens façam ecoar este acontecimento nas esferas de governo e chamem à atenção do casal de ministros para que dividam as suas preocupações com o que está ocorrendo na atual Embratel: perseguição e demissão de representantes dos trabalhadores. Combater esses avanços autoritários é tarefa de todos nós.
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