Opinião
Estou certo que o dia 8 de março de
2019 ficará como um marco nas transformações políticas da nossa sociedade. O
Dia Internacional das Mulheres finalmente brotou como uma manifestação de luta
por direitos sociais das mulheres brasileiras. Sempre mascarada, apropriada e
glamourizada pelas forças dominantes (que fazem o seu papel) essa data tem sido
registrada como o “Dia da Mulher” e tratada de formas completamente
desvinculadas de suas origens. As celebrações do seu simbolismo nas lutas das
mulheres trabalhadoras sempre ficaram restritas a círculos de militantes em
algumas organizações e sem muita expressão nos demais ambientes sociais. Esse
cenário mudou em 2019.
Essa mudança de patamar se faz bem
tarde e, infelizmente, a um custo altíssimo. Transbordam as notícias sobre os
espancamentos e assassinatos onde a descrição dos perfis das vítimas virou um
clichê: pobres, jovens, negros, mulheres. A família Bozo com um histórico de
ações e de comportamentos que endossam a manutenção e agravamento desse clichê foi
levada ao poder nas últimas eleições. Uma direita fascista e historicamente acanhada
encontrou espaço para se abrir e vazou purulenta, como um furúnculo estimulado
por uma pomada de basilicão. A jovem vereadora carioca, Marielle Franco, figura
de referência nas lutas pelos direitos sociais, foi metralhada em 14 de março
de 2018, assim como o seu motorista Anderson Gomes. Violência que prossegue
pela indolência com que vem sendo tratada a apuração do covarde e múltiplo
assassinato. Sem dúvidas, pagamos um preço alto. E ainda há muito que fazer e conquistar.
As mulheres brasileiras,
indistintamente, se alinham pelas marcas de preconceitos e discriminações históricas
da nossa sociedade, isso é um fato. Mas, também é verdade que se distinguem por
suas situações socioeconômicas, pelo grau de conscientização dos seus papeis e,
também, pelos seus valores e opções políticas. As mulheres que optaram por
eleger a família Bozo não estavam nas ruas. Também aquelas que atendem como
cordeiros e sem qualquer crítica às determinações
de certos pastores religiosos lá não estavam. Assim como faltaram outras por estarem
realizando tarefas e compromissos que as apartam da possibilidade de
mobilização. Uma apartação que, muitas vezes, até as impede de tomar conhecimento
que tais mobilizações estão sendo promovidas.
Contudo, ainda assim, o 8 de março de
2019 desabrochou – em todo o país - de um jeito que não será mais possível
esconder. Irreversível. Não haverá outros 8 de março sem a moçada nas ruas.
Quem esteve aqui, no Rio de Janeiro, em passeata desde a Candelária até a
Cinelândia constatou essa afirmação. Outros saberão pelas notícias e imagens.
Arrisco dizer que nem mesmo as celebrações do 1º de Maio romperam barreiras de
alienação no grau que ocorreu ontem com a marcha promovida pelas organizações
de mulheres. #####
Imagens de Junia Versiani
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