terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Fim do trecho em obras?

 

Leituras para distrair

 Estava entre os que pensam no retorno a uma normalidade pós-pandemia. Uma volta às atividades interrompidas desde a primeira quinzena de março de 2020, como foi o meu caso e de um grande número de pessoas.

Pensava nas restrições e cuidados pandêmicos como um "desvio por motivo de obras". Um desconforto temporário e com retardos implicando em reprogramação dos agendamentos. Para mim, em algum momento encontraríamos outra placa indicando " fim do trecho em obras " e um novo desvio, desta vez para retorno à normalidade do percurso que fora interrompido.

Não penso mais assim. Não por conta exclusiva de reflexões individuais, seria uma pretensão. Mas, pelas oportunidades de conversas entre companheiros, e acesso às reflexões de outros que sequer conheço. Reflexões que circulam nesse mar de informações viabilizado pela tecnologia e agitado pelo quadro trágico de um vírus que, com uma significativa contribuição de agentes governamentais, só em nosso país já tragou cerca de 600 mil vidas.

Não entramos em um desvio para uma rota alternativa e temporária. Entramos em novo caminho com características distintas das que conhecíamos e que vamos identificando na medida em que prosseguimos.

Mais adiante, a pandemia propriamente dita será uma paisagem ultrapassada e a rota a seguir também não será mais aquela de antes. A vida anterior à pandemia terá passado, assim como passará a própria pandemia. Precisamos nos adaptar a essa ideia. Insistir na expectativa de retorno a algo que ficou no passado será um equívoco. Devemos nos empenhar na preparação e atenção para esse novo caminho.

Penso no conselho de um psicólogo (B.F. Skinner) ao tratar sobre a velhice. "A velhice é, em parte, como um outro país. Você poderá viver bem lá, se se preparou com antecedência". Aprender desde já sobre novos hábitos, costumes e necessidades. A mudança virá. Assim, buscar saber como é a vida por lá irá ajudar-nos quando a mudança acontecer.

Também o fim da pandemia virá, mas será como a vida em outro local. Relações profissionais e pessoais, obrigações e relações familiares, estudos, trabalhos, viagens, projetos, enfim, todos esses significados que compõem a nossa vida pessoal e em sociedade serão impactados. Precisamos nos preparar desde já.

Umas das pouquíssimas coisas que não mudarão com a pandemia serão o determinismo da morte e a exploração capitalista. A vida humana ainda é finita, e no capitalismo continuará tratada como mercadoria, no processo interminável da exploração dos trabalhadores pela classe capitalista visando à apropriação por essa última da riqueza produzida pela primeira.

Porém, um fato interessante emergirá como novo, embora não o seja, em relação aos tempos pandêmicos. Precisaremos explicitar certas escolhas porque não poderemos mais usar a pandemia como desculpa. Aonde ir ou o que fazer. Onde estar, quando e com quem.

Escolher e criar subterfúgios e justificativas naturalmente não será uma novidade, afinal, sempre fizemos isso. Mas, a pandemia terá nos deixados "mal" acostumados porque não somos cobrados em nossas afirmativas ou negações quando a usamos como desculpa. Interessante! Um pouco mais a frente as razões precisarão ser outras, mais claras ou explícitas.  Isso será um grande e curioso exercício.  *####*