terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Fungível ou Não Fungível? Eis uma questão

 

Leituras para distrair

 

Pode ser que você esteja efetivamente conectado às novidades do mundo contemporâneo, particularmente as decorrentes das novas tecnologias. Quem sabe, até,  olhe com desdém outros, como eu, que estando ainda atrelados a invisíveis grilhões geracionais atrasam o passo sem conseguir acompanhar a corrida frenética da humanidade para um futuro que ninguém discutiu se deveria ser o nosso objetivo.

Pois bem, qualquer que seja o seu grupo, sugiro como atividade interessante uma visita à exposição no Centro Cultural Banco do Brasil RJ – CCBB, intitulada  “Década dos Oceanos - I Mostra Nacional de Criptoarte”.

Se buscarmos informações sobre a tal exposição vamos encontrar a seguinte descrição:

 

  Através de 27 artes digitais, na forma de NFTs “ ... “ A exposição propõe um espaço para o debate sobre as novas fronteiras da arte contemporânea e apresenta a primeira geração brasileira de artistas digitais que usam a plataforma blockchain para validação da sua produção”

 

Se você entendeu, ponto pra você! Mas eu admito que fiquei feito um babaca, dado que não me adiantou muito traduzir “blockchain” como “cadeia de blocos” e muito menos ao saber que “NFT “ significa  non - fungible tokens” ou “ tokens não-fungíveis

A exposição em si é um monte de telas, tipo TVs enormes, com imagens, a maioria em movimento, representando paisagens ou cenas referentes a oceanos e coisas associadas. Para o babaca aqui, ou leigo, se quiserem, não pareceu coisa muito diferente das inúmeras animações you tube que recebemos via zap, salvo, naturalmente, o gigantismo e a qualidade das produções. Mas, o meu interesse em nenhum momento esteve atrelado às imagens ou obras. Eu fiquei invocado com a tal da criptoarte, o blockchain e aquelas coisas “não fungíveis”.

Até onde consegui saber (passei mais tempo no google do que na exposição), blockchain refere-se a um conjunto de computadores e de softwares que formam uma rede com um sistema de processamento, armazenamento e transmissão de informações em códigos (criptografados), nos quais a segurança das informações é extremada e garantida.

Essa estrutura já é utilizada entre grandes corporações para tratar seus negócios e mesmo para o processamento interno de informações. É essa a estrutura utilizada para as negociações com as moedas virtuais chamadas de “bitcoins” ou criptomoedas, mas agora estão sendo adotadas para uso em “artes digitais” e, assim, denominadas de criptoartes.

Uma das características desses mecanismos é que, ainda com objetivo de segurança, o que circula nas redes não são as informações em si, mas um código ou senha que representa o conjunto de informações denominado “ token”.

Podendo representar vários dados, o token pode representar um produto, um serviço, um pagamento, um meio de pagamento, e até mesmo um ativo economicamente tangível.

Com essa concepção, um vídeo criado por um artista pode ser representado ou “validado” por um token e circular numa blockchain sem o risco de ser copiado,  garantindo a exclusividade de sua propriedade e a impossibilidade de replicação da obra. No limite, sem entrar na discussão sobre o que isso significa em termos de valores sociais, o uso dessas tecnologias garante até a manutenção do princípio da escassez da obra.

Um token que represente dinheiro, por exemplo as bitcoins, pode ser gasto, consumido em partes ou integralmente. Bens com essa característica na linguagem jurídica são chamados de bens “fungíveis”. Os que não podem ser gastos ou consumidos, integralmente ou em partes, são os “não fungíveis”. Os tokens que representam as obras de artes são do tipo “não fungíveis” ou NFT – “ non - fungible tokens”. Foi essa porra que fui ver no CCBB.

Buscando saber sobre o assunto, vi notícias que já existem casos de leilões de criptoartes com peças negociadas no valor de  dezenas de milhões de dólares.

Eu não faço juízo sobre valor de produtos artísticos. Trata-se de uma discussão que foge da intenção aqui. Mas, faço um juízo negativo da valorização de objetos artísticos  apenas pela condição de serem propriedade exclusiva ou da raridade e escassez da obra. Acho uma valorização escrota e sem sentido. Não sinto o constrangimento em expressar: F... -se os que valorizam isso (o “f ...” não é de fungível).

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EXPOSIÇÃO - DÉCADA DOS OCEANOS - 1ª MOSTRA NACIONAL DE CRIPTOARTE

CCBB RJ – de 30 de novembro de 2023  a  26 de fevereiro de 2024

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Puxando conversas - humanidade

Opinião 

Aprendi a não gostar do termo “humanidade” porque, salvo, talvez,  o seu significado biológico,  ele idealiza algo que não se verifica materialmente. Pior do que isso, ele generaliza e encoberta a realidade das relações sociais que, por sua vez,  são determinadas pelos nossos papéis no modo que nos organizamos para produzir os bens básicos da nossa subsistência. Atualmente, o modo de produção capitalista.

 No mundo real não existe uma “humanidade”, existem pessoas que  se organizam para suprir suas necessidades vitais e que, atualmente, salvo algumas poucas comunidades, estão divididas em classes sociais conforme o papel de cada um na produção, na propriedade e na troca de mercadorias.

 Apoiado nessas premissas, penso que há um fator que fica escondido, como se estivesse disfarçado, em quase todas as intervenções que tenho acompanhado sobre a tragédia na Palestina: o papel do capitalismo e suas decorrências.

 Estamos, sim, diante de uma tragédia que “não nasceu no vácuo” como expressou o secretário geral da ONU, mas quando se discorre sobre as causas do conflito, dificilmente são alegadas as decorrências do modo de produção capitalista, com sua dinâmica e os seus atores, entre eles as mega corporações cujos interesses determinam as políticas governamentais que provocam discriminação, apartação, segregação, guerras e coisas do gênero. O capitalismo fica dissimulado, nunca vem à tona, como se ele não tivesse importância. Nunca é debatido.

 Sem desqualificar as vítimas civis israelenses assassinadas pelo Hamas nem os assassinatos em massa de palestinos que o governo israelense está praticando, arrisco dizer que tais horrores e tragédias estão abstraídos da motivação central dessas disputas, qual seja, a manutenção de uma ordem na relação de poderes mundiais que é a ordem capitalista ou o capitalismo.

 Vale ressaltar que essa abstração não retira o realismo triste e trágico da chamada questão palestina. Não desfaz as atrocidades que tenham sido cometidas pelo Hamas e, muito menos, o genocídio que "Bibi" Netanyahu vem praticando com as bençãos de Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França) ,  Rishi Sunak (Inglaterra) e  Olaf Scholz (Alemanha), para não citar outros.

 Contudo, essa abstração distrai nossos olhares, muitos até conformados ao assistir genocídios em horários da tarde nas TVs. Navios de guerra da China “visitam” o Kwait; aviões da Russia com mísseis hipersônicos monitoram esquadra americana no Mar Negro; porta aviões dos EUA nas proximidades de Israel; navio de guerra da Inglaterra nas proximidades do conflito; bombardeio do aeroporto de Damasco por Israel. Parece que tudo está organizado e esperando um estopim. Ficamos hipnotizados e ninguém debate que essa suruba bélica resulta de uma rearrumação do capitalismo.

 O capital em suas várias formas precisa explorar, circular, acumular e repetir o ciclo. Para o capitalismo vidas humanas não importam, fodam-se os judeus e os palestinos. Essa é a sua lógica que não é uma lógica do bem contra o mal, de palestinos contra judeus. É a natureza de um modo de produção que inventamos e que precisamos superar. Ainda assim estamos entupidos de narrativas sobre a origem dos conflitos na Palestina, afogados em histórias da Bíblia, Torá e Alcorão quando deveríamos estar forçando um questionamento:

 O que faz os principais governos ocidentais empenharem-se na manutenção daquele Forte Apache, encravado no Oriente Médio e chamado Israel?

 Afinal, quem acredita que foi o assassinato de um duque lá na puta que pariu que provocou a primeira guerra mundial? 

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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Gaza - ainda tomando partido

Opinião 


Em postagem anterior, aqui, nesse blog, eu publiquei:

 embora consciente que essa não é a opção política de toda a população israelense, o fato é que Israel tornou-se um estado racista e empenhado numa limpeza étnica cuja vítima principal tem sido as populações palestinas 

Recebi discordâncias dessa afirmação. De minha parte, gostaria sinceramente de estar enganado, e vou além: gostaria que conjuntura política, tão conturbada, afetasse o rumo dos acontecimentos e negasse minhas avaliações. Contudo, até lá eu reafirmo essas avaliações.

No cenário atual eu tenho procurado não ser abalado pelas narrativas e notícias.  Praticamente todas, de um lado e de outro, e também de alguns outros, estão contaminadas de preconcepções, quando não são simplesmente falsas, fakes, montagens oportunas.

Isso não muda fatos históricos já filtrados e reafirmados por suas próprias consequências, entre eles a política que tem sido adotada pelo estado de Israel em relação a população palestina.

O apartheid israelense é uma realidade inquestionável, Gaza e Golan são exemplos vivos (enquanto ainda existirem palestinos vivos) e, a continuar assim, na medida em que a onda fascista mundial, já conhecida no Brasil, contaminou também parte da sociedade israelense na escolha de lideranças políticas, não será absurdo imaginar que os palestinos estão ameaçados de uma “solução final” dado que estão no limite de suportarem a vida em guetos.

 

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Gaza - Tomando partido (2)

Opinião 


A situação na Palestina divide opiniões. É uma pena que tenha sido necessária uma tragédia provocada pelo grupo Hamas contra a população civil israelense para que o mundo dedicasse um pouco de atenção para a outra tragédia que vêm ocorrendo há anos e provocada pelos sucessivos governos de Israel contra a população civil Palestina. A essa altura dos acontecimentos não acho que  caiba resgatar aqui fatos históricos. As fontes são várias e consistentes.

Não há um sistema internacional para a medição e comparação de tragédias. Uma única vida perdida em um conflito é tão importante quanto qualquer quantidade perdida em outra situação. Não há equiparações por relação aritmética, não se trata de conferência de estoques.

Já expressei minha visão sobre o Estado de Israel representado por seus sucessivos governos. Embora consciente que essa não é a opção política de toda a população israelense, o fato é que Israel tornou-se um estado racista e empenhado numa limpeza étnica cuja vítima principal tem sido as populações palestinas. Qualquer que seja a proporção de opinião da população israelense, essa tem sido a pratica resultante de seus governos, todos escolhidos num processo que aquela população aceita como democrático.

Não acho que deveria haver dois estados na região. Até aqui sou adepto da solução de um estado único, laico, multinacional e com direção política determinada por seus habitantes de qualquer etnia ou religião – um cidadão um voto. Obviamente isso significaria o fim do estado de Israel nos termos atuais.

Ao mesmo tempo, não titubeio ao avaliar o ato do Hamas no dia 7 de outubro. Foi um ato violentíssimo e covarde na medida em que deliberou pelo massacre de população civil desarmada. Não, repito, não contaria com o meu voto caso eu tivesse essa opção. Eu não ignoro as justificativas para a atuação do Hamas, e se estivesse por lá, no centro das decisões, eu precisaria escolher. Sorte minha, não estava.

Não caio na armadilha de discutir se é terrorismo ou não. Terrorismo  é uma expressão que nada diz e que serve às circunstâncias. O status quo, os poderes instituídos e vigentes, usualmente denominam de “terrorismo” as ações violentas contra si e lançam mão da consigna: contra a violência e contra o terrorismo – como se isso fosse um dever sagrado e inquestionável. Mas, nunca se dispõem a debater as razões de um ou de outro. Afinal, por que “terrorismo”  ou  por que  “violência”?

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sábado, 14 de outubro de 2023

Gaza - Tomando partido

Opinião 

Não sou um jogador nessa partida, estou mais para espectador, torcedor e ainda meio perdido porque as ocupações do estádio são confusas. Busco o melhor lugar de observação e onde eu possa também manifestar minhas reações, minhas emoções.

Faço questão de ressalvar minha ignorância para aprofundar discussões sobre o que tenho aprendido e avaliado, ainda assim, incluo-me entre aqueles que apostam que a saída para o complexo labirinto de questões na região da Palestina seria a formação de um estado único, multinacional e laico, modelo África do Sul pós-apartheid e baseado na experiência histórica das lutas sul-africanas contra a discriminação racista naquelas paragens.

Isso daria fim ao atual estado de Israel que é incontestavelmente um estado somente judeu e para judeus, assim como a África do Sul do apartheid era um estado de brancos e só para brancos, onde negros eram cidadãos de segunda classe e sem direitos.

Não ignoro que esse tipo de escolha tem contra si um estigma muito forte porque traz embutido o fim do estado de Israel que, mesmo sendo apenas um simbolismo redutor, é dificílimo superar, um obstáculo para fazer avançar qualquer debate. Ainda assim, a solução na qual aposto é a de um estado laico, multinacional e com direção política determinada por seus habitantes de qualquer etnia ou religião – um cidadão um voto.

Essa é uma alternativa tem sido apontada por importantes analistas do setor ainda que seja de difícil de adoção no quadro atual de composição das forças políticas e armadas, mas estou convencido que deveríamos lutar por ela e divulga-la buscando adeptos.

Com um discurso bem mais competente, em artigo recente, Illan Pappé, um professor da Universidade de Exeter (Inglaterra) se expressou assim:

“... há uma alternativa. Na verdade, sempre houve: uma Palestina dessionizada, liberta e democrática do rio ao mar; uma Palestina que acolha de volta os refugiados e construa uma sociedade que não discrimine com base na cultura, religião ou etnia. Esse novo Estado trabalharia para corrigir, tanto quanto possível, os males do passado, em termos de desigualdade econômica, roubo de propriedade e negação de direitos. Isso pode anunciar um novo amanhecer para todo o Oriente Médio... (texto publicado originalmente publicado no  Palestine Chronicle - acesso em 13/10/2023)


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Meus fantasmas

Leituras para distrair 

Gosto de estar com os meus fantasmas. Eles me iluminam, não me assombram Não enchem o meu saco apontando caminhos nem me recriminando pelos percursos que fiz. Fazem-me companhia e com que eu sinta que eles estão na área, comigo.

Sinto saudades, mas já não é mais aquela falta trágica, doída de ferida recente. Hoje é uma saudade suave, consciente que a vida passa, e acabo unindo mundos onde se misturam os meus fantasmas e os queridos presentes. Sou a  ligação desses mundos. Quero continuar assim, entre eles, e do jeito que convivemos até aqui. Virá o dia em que também serei fantasma, não me apoquento com isso, a ideia não tira o meu sono. Quero seguir com a experiência atual, ela me faz feliz.


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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ainda sobre Gaza e a Palestina

 Opinião

Quais  foram os principais objetivos dos ataques do 11 de setembro de 2001 nos EUA? Mostrar que o gigante imperialista, apesar de sua imensa fortaleza, não é inatacável? Forçar novas leituras do contexto geopolítico mundial e denunciar o papel dos EUA? Trazer o medo e insegurança para dentro das fronteiras e lares americanos que se consideravam inatingíveis, o mesmo medo sentido em lares distantes e levados pela política externa americana?

Os ataques foram planejados com antecedência. Certamente também foram avaliadas as consequências adversas para os seus executores e para as populações que diziam representar. Um custo altíssimo foi pago. Vidas.

Os objetivos foram alcançados? Em parte, avalio que sim. Não faço ideia, nem poderia, da relação custo/objetivos, mas certamente há um EUA e uma sociedade americana pós 11 de setembro diferentes. Ambos menos senhores de si quanto às suas possibilidades e isenções decorrentes dos seus atos. Quem sabe, até, menos arrogantes.

Estou vendo assim, por ora, os acontecimentos em Israel e Gaza. Suponho que não haja qualquer reação israelense que não tenha sido prevista pelo Hamas. Salvo, naturalmente, um gesto de busca de entendimento e solução para o conflito, mas esse tem probabilidade zero. No mais, nada será novidade, nem mesmo a extinção efetiva da população de Gaza. O Hamas, por deliberação direta ou instrumentalizado por outras forças políticas, decidiu pagar o preço. Afinal, a moeda é a própria população palestina.

A ação do Hamas promoveu uma aglutinação de apoios políticos a Israel. Agora sem fingimentos, o Hamas deu motivos. Violência injustificável, um ataque armado e letal contra uma população civil desarmada. Então, já não é preciso disfarçar que Gaza é um campo de concentração, a atenção total é sobre as vítimas do ataque.

As narrativas que tenho ouvido fazem parecer que até o último dia 7/10 a vida seguia tranquila e ordeira na região de Gaza, até que um grupo de extremistas resolveu invadir o território israelense com mísseis e tropas armadas assassinando e raptando civis.

No 11 de setembro americano houve algo parecido. Todo o mundo contra Bin Laden! Tudo que foi orquestrado pela máquina de guerra dos EUA foi endossado, justificado, aprovado. Guantánamo, Afeganistão, Iraque. Contudo, também outros fatos ocorreram. O rei foi despido, verdades vieram à tona, a falsa democracia americana já não engana ninguém. Se o mundo ganhou ou ganhará com isso é questão não respondida.

E em Gaza? Estamos no meio dos acontecimentos e a moçada local está literalmente no calor deles. As críticas que ouço ao governo de Israel, em maioria, resumem-se em apontar a culpa do sistema de inteligência israelense por não detectar com antecedência o ataque palestino. Quase ninguém aponta com clareza  a história da permanente e recorrente violência do estado de Israel contra a população palestina, incluindo a manutenção do campo de concentração de Gaza. É como se não existisse uma população palestina que atormentada pela opressão israelense, entre os seus espasmos de reação gerou deformidades como o Hamas.

Nós assistimos em casa, vemos a guerra pela TV, em certos momentos até abaixamos o volume para que o som das explosões não incomode.

 

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Gaza - 07 de outubro de 2023

Opinião 

(Rio, 08/10/2023) - Podemos estar no limiar de uma enorme tragédia. O genocídio da população de Gaza por um proto-fascismo israelense.

Netanyahu conseguiu um grande tento, uma justificativa para a sua guerra étnica. A propaganda israelense provavelmente invadirá as mídias populares no Brasil, mas a realidade permanecerá.

Gaza é um enorme campo de concentração mantido pelo poder israelense e, agora, na iminência de se tornar um campo de extermínio. Tomara que eu esteja errado.

 

Conversas com 3 amigos

[11:43, 08/10/2023] – Amigo 1

Olá Santos. Vc está  certo sobre o que é Gaza. Dá muita raiva ver a cobertura da mídia brasileira e internacional. E a posição dos governos americano e europeus.  E também do governo brasileiro. O cinismo de dizer que não se pode atacar civis, quando Israel não faz outra coisa há mais de  70 anos.

Netanyahu vai fazer uma guerra de extermínio. Mas há uma questão nova: pela primeira vez os combatentes palestinos de Gaza conseguiram romper o muro, entrar em cidades e tomá-las e fazendo reféns israelenses. Esse fato é uma derrota para Israel e expressa o fato de que a moral do exército de Israel está mais baixa do que se esperava.

 

[11:54, 08/10/2023] jorgedesouzasantos:

Estou entre aqueles que pensam sobre qual o propósito estratégico do Hamas com esse ataque. Não sei avaliar nem consigo especular.

 

[12:01, 08/10/2023] – Amigo 1:

Na verdade, acho que o Hamas segurou o mais que pôde a raiva dos habitantes de Gaza. Mas o que pode ter levado a essa incursão são os acordos em marcha entre países árabes e muçulmanos para reatar relações e normalizar o status quo de Israel e da limpeza étnica com a manutenção do campo de concentração de Gaza. Arabia Saudita está em tratativas para fazer um acordo. Alguns estados do Golfo já fizeram. Isso significaria cirtae (*?*) ainda mais os apoios que o Hamas ainda tem.

 

[08:12, 08/10/2023] – Amigo 2:

Foi o que me veio à cabeça ao ver a notícia. O massacre da Faixa de Gaza.

O Jornal Nacional foi uma vergonha. O assunto dominou o tempo todo com a visão de Israel e de sionistas. Foram várias reportagens em Tel-Aviv, Londres, Brasil, etc. Depoimentos de brasileiros residentes em Israel (judeus, claro), inclusive um personagem ferido.

Mostrou com detalhes um prédio em Israel atingido, com marcas de queimado e depoimento.

Várias vezes apareceu um prédio grande sendo destruído totalmente, cena de demolição, sem qualquer comentário, sequer informando onde era. Apenas na última reportagem foi dito que era em Gaza e que a destruição foi represália.

No final, teve um rápido depoimento de um palestino brasileiro. A última reportagem foi a única não tão tendenciosa.

Eu me pergunto quais foram o objetivo e a estratégia do ataque?

Entendo que o contexto é ruim para os palestinos. Mas a ação me parece suicida. É certo que vai haver represália em grau máximo. O que será conquistado pelo Hamas? Maior apoio entre os sobreviventes?

As forças de defesa de Israel vão sair chamuscadas desse episódio .

Falharam muito em não prever nem neutralizar de imediato. É o maior gasto per capita, vivem se jactando de ter alta tecnologia (e têm mesmo, mas ...). E o massacre que deve vir vai ter cores nazistas. Mais do que já tem.

 

[00:37, 08/10/2023] – Amigo 3:

Caro Jorge, discordo em todos sentidos.

Sempre fui a favor de duas pátrias, mas os palestinos nunca as quiseram.

Depois de ontem, não mais!

Se houver qualquer revanchismo, aquilo que vc chama de extermínio, ele se deverá unicamente aos que se comportaram a vida toda como terroristas.

Para melhor conhecer os meandros dessa guerra sem fim e aumentar o seu vasto e bom conhecimento,  aconselho assistir o filme Golda, hoje ainda em cartaz.

Nunca a frase dela abaixo foi mais atual. (“ _Se os palestinos baixarem as armas, haverá paz. Se os israelenses baixarem as armas não haverá mais Israel_ “)

 

[11:50, 08/10/2023] jorgedesouzasantos:

Oi amigão,

Não vejo a vida em duas cores, felizmente. Tento compreender a complexidade e as nuances das situações e relações sociais. Não tenho a presunção de imaginar a agonia da moçada que está nesse momento recebendo bombas na cabeça, mas penso nela. Assim como não deixo de pensar no inferno da vida da galera que vive sufocada pelo estado de Israel  na região que os interesses de corporações capitalistas chamaram de Palestina. Podemos elaborar interpretações dos fatos históricos, mas os fatos estão aí, inquestionáveis. 

Uma onda fascista se alastra pelo mundo, esse é um fenômeno do nosso século, e em algumas partes desse mundo ela entra em fase com situações vigentes. Reforça-se. É o caso, infelizmente, da situação em Israel, Netanyahu e asseclas, levados ao poder por escolhas eleitorais. Sabemos o que é isso.

Este cenário e os fatos históricos é que me trazem a expectativa da tragédia. A tentativa de limpeza étnica praticada por sucessivas lideranças israelenses é um dado da realidade, ao mesmo tempo em que uma população inteira foi deixada ao “deusdará” pelas grandes principais forças políticas internacionais. No mais, embora eu não endosse práticas e eventos, o que vemos é a galera palestina tentando resistir. Não justifico. Uma única vida não justificaria tudo que tem ocorrido e que temos assistido.

Estou entre aqueles que perguntam qual terá sido o objetivo dos ataques do Hamas, e também entre aqueles que veem nos fatos uma oportunidade para Netanyahu justificar e levar adiante sua guerra étnica. Gaza tem chances enormes de se tornar um campo de extermínio. Triste! Reitero o que disse antes, tomara que eu esteja errado. Abraços. ###

 

[12:22, 08/10/2023] – Amigo 3:

É importante lembrar que Gaza, assim como toda a península do Sinai, essa em passado mais distante, estavam ocupadas (ganhas como resultado de uma guerra ) por Israel e depois foram devolvidas aos egípcios e palestinos com a intensão de haver uma paz permanente na região.

Nada disso deu certo e mesmo com esses territórios serem ganhos em guerras da qual Israel foi provocada e não a iniciou.

Essa ideia fixa dos palestinos do Hamas de exterminar Israel e recusar-se a negociar a paz entre eles só levará mesmo a uma grande catástrofe de ambos os lados, sendo que os maiores prejudicados serão aqueles de menor poderio bélico, infelizmente.

Essa ideia de extermínio, expressão que só é empregada de um lado e claramente proclamada pelos terroristas que Israel não não deve existir.

Matar a sangue frio mais de 200 pessoas, em sua maioria estrangeiros que participavam de uma festa rave no sul de Israel, bem demonstra de que lado vem a intenção de extermínio. Por isso deve-se usar essa expressão com parcimônia e com um melhor conhecimento da situação.

Por que será que dos 7 países árabes no entorno de Israel nenhum deles aceita fornecer um mm de seu território aos palestinos?

 

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Uma no cravo, outra na ferradura

Opinião

 

Esse aforismo tradicionalmente exprime a intenção de dolo, de engano e falsificação. Mas, aplica-se também à necessidade circunstancial de quem precisa lidar com situações contraditórias e ameaçadoras entre si. Para o governante público não deveria ser uma novidade, e certamente não o é para o governo Lula que, possivelmente, terá esse pau no cu como marca histórica do seu terceiro mandato. 

Provocar o debate sobre a autonomia do Banco Central foi uma bola dentro. Além de bater de frente com a elite financeira sem ficar isolado (encontrará adeptos mesmo dentro da camada de capitalistas), marcou um ponto especial ao tomar para si a iniciativa da pauta política que, até aqui, vinha sendo determinada quase exclusivamente pela extrema-direita. Isso mudou. 

Os grandes jornais e TVs estão dando porrada no Lula esquerdista. Nesse Lula que fala em trabalhadores, sindicatos, direitos trabalhistas e reconhecimento das demandas sociais, atropelando o cercadinho dos tetos de gastos públicos. Sem dúvidas, o discurso do Lula 3 está reconhecidamente mais assertivo em relação as pautas sociais que os dos Lulas 1 e 2, embora os imperativos e conflitos de escolhas ainda não tenham aflorado nessas áreas. 

Longe de saber o que vai na cabeça do sapo barbudo, suponho que ele conta com algum apoio da direita enquanto satisfizer suas aspirações, mas sabe que o suporte real de enfrentamento com a extrema-direita, que é popular, precisará também ter um caráter popular e terá que vir da população militante, a mesma que o manteve politicamente vivo durante o cárcere, e que lhe deu os votos e o apoio popular para a presidência. 

Sem esse tipo de apoio, não nos iludamos, o governo Lula estará fudido. Ele não irá encontrá-lo na Faria Lima, nem nos Liras ou Pachecos do parlamento. Muito menos no cenário internacional onde ele é, atualmente, uma referência, mas onde também se desenvolvem outras disputas. Daí esse Lula chão de fábrica. 

Então, é hora de mobilizações. Lula tem mandado algumas mensagens. O movimento popular organizado precisa responder ao seu chamado. Formulando, propondo e forçando as suas pautas que estão contidas no programa geral de governo. 

Esse é, a meu juízo, o papel das forças de esquerda que participaram da geleia geral  que tirou a extrema-direita do poder. Se o movimento popular que apoiou Lula não o fizer, a direita ocupará esse lugar. Não com o objetivo de melhorias da situação social, mas como mote e discurso fácil para a negação do governo. 

A questão ambiental, circunstancialmente, é uma área favorável ao Lula onde há um espaço enorme de atuação sociopolítica e com respaldo político interno e internacional. Essa área poderá ser uma cunha de avanço e afirmação política, mas a extrema-direita também poderá contar com esse trunfo. Não o fez até agora, quem sabe, por incompetência. 

Do seu lado, a burguesia nacional é tão escrota que não tem sequer um projeto de afirmação. Sente vergonha de si própria, e a submissão servil, canina no pior sentido, é o seu horizonte. 

Portanto, apesar dos pesares, há o que fazer. Há uma deliberação a tomar: qual direção? E o papel dos militantes organizados em seus partidos e grupos é forçar no sentido da esquerda. O líder político Lula saberá responder, embora não possamos afirmar o mesmo o seu entorno político. E se Lula não souber, vai dançar. Mas, ele sabe disso e seguirá fazendo o seu papel, ora baterá no cravo e outra na ferradura. 


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