sábado, 20 de maio de 2017

Diga não à farra do boi. Quem irá para as ruas seremos nós!

Opinião

O filósofo Vladimir Safatle, em palestra promovida pela editora Boitempo, em 2016, após a saída da presidenta Dilma[1], manifestou posição que o golpe de 2016 era um golpe sem comando e que abriria um campo para degladiação onde os grupos que o promoveram iriam “... lutar por uma forma bisonha de hegemonia”. A análise do filósofo parece estar correta, pelo menos no que se refere à disputa. Em minha versão, o que está ocorrendo no caso do empreendedor corrupto Joesley versus a dupla corrupta Aécio - Temer parece ser um golpe dentro do golpe, fato que não é novidade na história das relações políticas. Não sei exatamente quais são as afinidades ou conflitos entre os grupos golpistas, muito menos sei distingui-los. Sei apenas que um fudeu o outro.

Para mim, não importa quem eles sejam. Importa é que eles continuam com o objetivo comum de seguirem fudendo os trabalhadores e a sociedade em geral com as suas reformas previdenciária e trabalhista, entre outras. Travar o combate contra essas reformas deve ser a nossa meta imediata, e isso passa por não dar qualquer espaço para que elas aconteçam. As especulações sobre o golpe dentro do golpe ficam para os meus amigos golpistas (sim, tenho alguns) que se perdem nessas análises.

As teorias das conspirações são muitas. Eu mesmo posso criar algumas. Por exemplo, seria uma tentativa do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF) de recuperação das suas imagens que foram notadamente embaçadas pelo depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro. O ex-operário, analfabeto e incapaz, como alguns de seus opositores costumam qualificá-lo, ridicularizou o MP e a PF naquela audiência que viralizou nas redes sociais da web.

Outra teoria seria supor que alguém está trocando duas cabeças por uma. A caçada ao Lula, independentemente de terem sido comprovadas as acusações sobre ele, é indisfarçável, . As delações contra Aécio e Temer disfarçariam o papel medíocre que os seus acusadores fazem perante a opinião pública, demonstrariam uma justiça supostamente igual para todos e criaria um clima de conforto para que o abate da caça seja consumado e Lula levado em cana.

Mas, são teorias, deixo que os meus amigos golpistas façam a análise. Devem entender dessas coisas. Se tivessem consumido um décimo do tempo que estão consumindo para saber quem está comendo o rabo de quem entre o povo do pato amarelo, talvez não apoiassem o golpeachment de 2016. Não precisariam esperar o flagrante da corrupção do empreendedor Joesley como prova que as votações do golpeachment foram compradas. Quem sabe, meus amigos golpistas seriam, hoje, um número menor.

Voltando às reformas, é óbvio que qualquer sistema previdenciário exige reavaliações e ajustes, assim como o desenvolvimento dos meios de produção exigem reavaliações nas relações de trabalho. Contudo, quando necessárias, as atualizações devem ser realizadas sob a óptica do aumento do bem estar dos trabalhadores e da sociedade que são, efetivamente, os produtores da riqueza. Devemos caminhar no sentido de promover a distribuição da riqueza que produzimos e isto significa aprimorar as regras e aperfeiçoá-las em vez de precarizá-las.

As reformas do pato amarelo que os golpistas tentam aprovar, com ou sem Temer, sustentam-se em referências completamente diferentes. Elas ignoram tudo que já foi estudado, afirmado e confirmado sobre o nosso sistema previdenciário, um exemplo mundial, diga-se de passagem. Mas, não o fazem por ignorância, apenas são realizadas sob outra óptica, a dos parasitas acionistas do grande capital. Assim, usam os seus poderosos recursos de comunicação para divulgar uma referência falsa de insustentabilidade sistema previdenciário para viabilizar um estado sem compromisso social e, consequentemente, de uma sociedade sem solidariedade entre os seus membros.

No mesmo balaio estão as reformas trabalhistas. Segundo o juiz Jorge Souto Maior, do TRT de São Paulo, em depoimento no Senado Federal, não se trata de algumas reformas, querem aprovar açodadamente todo um novo código trabalhista com pelo menos 201 dispositivos prejudiciais para o trabalhador[2]. Um código que, segundo o senador Paulo Paim afirmou na mesma oportunidade, dizendo que tem documentos para comprovar, teve a sua revisão final (já aprovada na Câmara os Deputados) elaborada nos escritórios da Confederação Nacional da Indústria (CNI), num sábado à tarde.

E não para por aí. Na Câmara dos Deputados já existe projeto da bancada ruralista[3] propondo fazer do trabalhador rural uma espécie de autônomo que pode trabalhar em troca de salário ou remuneração de qualquer espécie, ou seja, na prática, em troca de casa e comida, como um escravo[4].

Conheço gente que avalia as tais reformas como “... reformas estruturantes indispensáveis para viabilizar o País, que não foram ainda feitas pela omissão covarde de governos populares que ficaram 13 anos no poder”. Como alguém, por pouco conhecimento que tenha do nosso país, avalia positivamente a possibilidade de o empregado ser levado a uma “negociação” direta com o seu patrão e onde o “negociado” passa a valer sobre o “legislado”? 

E quem se iludir achando que há garantias na proposta de reformas, busque mais detalhes assistindo a intervenção do juiz do trabalho (citado antes), já na fase dos debates na comissão do Senado.

Recebi um zap que sintetiza a situação das negociações na forma que querem aprovar. O zap dizia “Se até o presidente da república dançou ao negociar com o tal empreendedor Joesley, imagine eu com o meu patrão!”.

Por isso, é fundamental lançar mão da arma que dispomos, e ela se chama Greve Geral. Será um equívoco acreditar na tal da normalidade das instituições, assim como será um equívoco apostar esperanças em uma liderança messiânica que nos salvará em uma eleição presidencial.  Ainda que houvesse, nem haveria tempo porque não podemos deixar espaço. Não basta trocar o presidente, é preciso botar pra fora todos. Os nossos representantes que lá estão e que sustentam os enfrentamentos não se sentirão agredidos.









[1] Intervenção do filósofo Vladimir Safatle - Mesa de abertura do II Salão do Livro Político, intitulada "Que democracia?" – Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=7T953DTcpBw&t=204s> - Acesso em 19/05/2017.

[2] Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e Assuntos Economicos do Senado CES) - 3ª. Audiência (conjunta) Pública do Ciclo  de Debates sobre a proposta de Reforma Trabalhista, em 17/05/2017 – Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=nwVDlQVnf2o > - Acesso em 19/05/2017

[3] Projeto de lei 6442/2016 – Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2116421> Acesso em 20/05/2017

[4] Projeto de lei para trabalhadores rurais legaliza a servidão – Análise disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/04/projeto-de-lei-para-trabalhadores-rurais-legaliza-servidao/ - Acesso em 20/05/2017.