domingo, 14 de dezembro de 2014

Eu e o violão – nossas primeiras notas


Leituras para distrair

Em casa o violão está ali, nu, despido de sua capa que está na cadeira ao lado.

Lembrei que, quando eu era menino, em nossa casa ouvíamos um programa de rádio, possivelmente da Radio Nacional, cujo nome era algo parecido com “alma das coisas”. 

No programa o personagem principal era um objeto de uso doméstico, uma panela, um relógio etc. que narrava a sua história. Em cada programa um determinado objeto contava como foi parar ali, onde estava, narrava a sua relação com o ambiente, com outros objetos, com as pessoas em sua volta etc.

Fiquei imaginando que se o violão tiver uma “alma” como aqueles objetos das historias do rádio talvez esteja pensando com suas cordas, visto que não tem botões, “por que será que esse filho da puta me deixou aqui, desse jeito?”.

Ele certamente não sabe, mas eu segui a orientação de uma amiga querida. Um violão pelado, ao seu lado, impõe uma intimidade e permite que, a qualquer hora, você possa pegá-lo e treinar.

Achei uma boa sugestão e adotei. E aqui estamos, eu e esse aparelho que será para mim, mais tarde, um instrumento musical, embora não saiba exatamente quando.

Por ora estamos aqui. Vou me aproximar e autoritariamente tentar realizar os blim – blões da minha lição. Seguir à risca todas as instruções da professora. Tomara que dê certo.

Não estou muito preocupado com o violão. Se ele tiver uma alma ela saberá bem mais do que eu como estas coisas ocorrem e tratará disto.