domingo, 19 de abril de 2020

A vida em tempos de coronavírus (31)


Opinião


Acho que  entrei na fase de receber notícias de “amigos de amigos” vitimados pelo coronavírus. Era uma fase prevista. Em minha expectativa essa fase antecede aquela em que as notícias desagradáveis se referirão diretamente às pessoas mais próximas. Faço figa para estar enganado e que esse tipo de avaliação não passe de uma reflexão medíocre e de buteco,  mas as coisas estão seguindo por esse caminho que parece inexorável.

De tudo que tenho buscado saber, nada alterou as avaliações iniciais sobre a melhor estratégia de combate à pandemia: tentar retardar a velocidade da evolução da contaminação,  empurrando para frente o pico e achatando a curva  da quantidade de casos. Com isso, ganharemos tempo para as chamadas  medidas profiláticas e para uma melhor adequação dos recursos disponíveis que são precários frente à demanda de contaminados. E como tática mais adequada para alcançar esse propósito: praticar, intensificar e garantir o afastamento social. Tática difícil de ser praticada porque conflita com as características e necessidades da maior parte da população.

Com esse tipo de avaliação, não é possível encarar com indiferença uma carreata de bozominions desfilando no Aterro, no sábado, fazendo a apologia desses pulhas defensores de torturadores e milicianos e convocando as pessoas a irem para as ruas. É difícil de aceitar e até podemos buscar termos mais elaborados para sintetizar e qualificar esses comportamentos: desinformação, descontentamento generalizado, revolta, indignação com partidos e políticos, enfim não excluo essas avaliações. Contudo, o fato real é que, seduzida por mecanismos diversos, há uma massa de pessoas que assumiu valores populistas e fascistas e que parece ter entrado em um estágio de possessão. Uma autotranscendência descendente (termo de Aldoux Huxley) que é impermeável a qualquer abordagem para conversar sobre alternativas políticas para o país.

A pandemia coronavírus talvez seja o resultado de uma ocorrência fortuita. Não sabemos. Mas, o cenário triste da nossa situação política não decorre do acaso. Ao contrário, resulta de ações conscientes praticadas por grupos parasitas que sobrevivem da exploração dos trabalhadores. Esse processo se alimenta da própria riqueza que os trabalhadores produzem, é garantido por armas e poderio bélico adquiridos com essa riqueza e se protege institucionalmente fazendo uso desses zumbis possessos que hoje estão nas ruas em carreatas.

Será desses grupos que partirão os primeiros gestos de violência e barbárie nos limiares dos estágios de extrema tensão social para os quais estamos caminhando. A direita política é quem tomará a iniciativa desses gestos porque é da sua natureza e esses possuídos, que hoje desfilam em carreatas, que fazem tocar marchas militares durante os panelaços, que se fantasiam com camisas da CBF, que gritam pelo ex-capitão boquirroto chamando-o de mito, é que  serão utilizados como  buchas de canhão e massa de manobras . Estão aí para esse uso e cumprirão essa finalidade. Devemos tentar estar preparados para isso.

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