No último fim de semana, sexta, sábado e domingo, 18, 19
e 20/03/2011, respectivamente, com dois acompanhantes, fizemos um programa
interessante: um fim de semana em São Paulo. No mesmo período o presidente dos
EUA também fez um programa interessante. O Obama e a sua família passaram o fim
de semana no Brasil.
O nosso programa
foi ótimo. Lugares interessantes e encontro com pessoas que gostamos muito.
Para o Obama também deve ter sido bom. Além de vir ao Brasil, com paradinha
especial no Rio de Janeiro, acompanhado de mulher, filhas, sogra, papagaio e
periquitos, ele ainda teve tempo para ligar o videogame e acionar o disparo de
alguns mísseis contra a Líbia.
Em nossa viagem, assim como na do Obama, e como em
qualquer viagem, ocorreram contratempos. Houve um pequeno inconveniente
relacionado com a nossa reserva em um restaurante. O Obama, por sua vez, não
poderá exibir para o seu império uma Cinelândia cheia de admiradores
boquiabertos diante do presidente do mundo.
O nosso inconveniente foi superado com uma reclamação
direta junto à gerência do restaurante, mas o do Obama teve e gerou maiores
contratempos. A conjuntura internacional e a situação local não permitiram o
seu discurso em público. Além do mais, houve uma galera que aproveitou a sua
visita e protestou, em ato público, na sexta-feira, 19/03, contra ações e
posições do governo norte americano no cenário internacional.
Os manifestantes levaram um pau da polícia. Treze deles
foram em cana, dos quais nove eram do PSTU, e só foram liberados após a partida
do simpático presidente. Os homens tiveram as suas cabeças raspadas. Uma lição
e repreensão por ousarem lembrar à população que o presidente dos EUA é negro,
mas a casa é branca.
A polícia prendeu e deteve os ativistas de forma completamente
aleatória e sem registrar qualquer evidência, acusando-os de lesão corporal e
tentativa de incêndio. Ressalto o aspecto "sem evidências" porque
tudo aconteceu num clima onde talvez até a xereca da primeira dama americana
estivesse sendo filmada para evitar que se colocasse lá algo que pudesse
ameaçar a segurança do simpático presidente.
Prisões arbitrárias e sem evidências quando a vida em
toda uma parte da cidade maravilhosa estava completamente perturbada e regida
pela máxima: "sorria, v. está sendo filmado".
Entretanto, tanto quanto a prisão dos manifestantes,
incomodou-me a naturalidade com que ela foi encarada, salvo por aqueles que se
indignaram com a situação e promoveram atos públicos e passeata nos dias
seguintes. Autoridades públicas, direções dos partidos no poder,
particularmente o Partido dos Trabalhadores – PT e quase toda a mídia ,
enfiaram a viola no saco como se tudo fosse "esperado".
E, na mesma linha, tão ruim quanto isto, foi a atitude de
diversas pessoas que nem são encantadas pelos sorrisos do simpático Obama, mas
que não deram atenção ao fato e também acharam a situação corriqueira, até
jocosa. Afinal, para que se incomodar? Quando o Obama for embora o pessoal
será solto! Sorrisos e tolerâncias.
Foi realmente coincidência, mas uma das exposições que
visitamos em São Paulo, na Pinacoteca do Estado, foi uma exposição fotográfica
do artista russo Aleksandr Ródtchenko (1891-1956). A exposição nem foi um dos
itens maravilhosos do nosso passeio, mas coincidentemente ela tem como destaque
retratos do poeta Vladimir Maiakóvski. E imperativamente lembrei-me dos versos
famosos da autoria de um poeta niteroiense, Eduardo Alves da Costa1, e atribuídos de forma
indevida às autorias de Bertold Brecht ou do próprio Maiakovski:
' ... Na primeira
noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos
nada...."
[1] Eduardo Alves da Costa
- No caminho, com Maiakóvsky – Geração Editorial
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