quinta-feira, 24 de março de 2011

Um fim de semana em São Paulo, outro no Rio

No último fim de semana, sexta, sábado e domingo, 18, 19 e 20/03/2011, respectivamente, com dois acompanhantes, fizemos um programa interessante: um fim de semana em São Paulo. No mesmo período o presidente dos EUA também fez um programa interessante. O Obama e a sua família passaram o fim de semana no Brasil.

 O nosso programa foi ótimo. Lugares interessantes e encontro com pessoas que gostamos muito. Para o Obama também deve ter sido bom. Além de vir ao Brasil, com paradinha especial no Rio de Janeiro, acompanhado de mulher, filhas, sogra, papagaio e periquitos, ele ainda teve tempo para ligar o videogame e acionar o disparo de alguns mísseis contra a Líbia.

Em nossa viagem, assim como na do Obama, e como em qualquer viagem, ocorreram contratempos. Houve um pequeno inconveniente relacionado com a nossa reserva em um restaurante. O Obama, por sua vez, não poderá exibir para o seu império uma Cinelândia cheia de admiradores boquiabertos diante do presidente do mundo.

O nosso inconveniente foi superado com uma reclamação direta junto à gerência do restaurante, mas o do Obama teve e gerou maiores contratempos. A conjuntura internacional e a situação local não permitiram o seu discurso em público. Além do mais, houve uma galera que aproveitou a sua visita e protestou, em ato público, na sexta-feira, 19/03, contra ações e posições do governo norte americano no cenário internacional.

Os manifestantes levaram um pau da polícia. Treze deles foram em cana, dos quais nove eram do PSTU, e só foram liberados após a partida do simpático presidente. Os homens tiveram as suas cabeças raspadas. Uma lição e repreensão por ousarem lembrar à população que o presidente dos EUA é negro, mas a casa é branca.

A polícia prendeu e deteve os ativistas de forma completamente aleatória e sem registrar qualquer evidência, acusando-os de lesão corporal e tentativa de incêndio. Ressalto o aspecto "sem evidências" porque tudo aconteceu num clima onde talvez até a xereca da primeira dama americana estivesse sendo filmada para evitar que se colocasse lá algo que pudesse ameaçar a segurança do simpático presidente.

Prisões arbitrárias e sem evidências quando a vida em toda uma parte da cidade maravilhosa estava completamente perturbada e regida pela máxima: "sorria, v. está sendo filmado".

Entretanto, tanto quanto a prisão dos manifestantes, incomodou-me a naturalidade com que ela foi encarada, salvo por aqueles que se indignaram com a situação e promoveram atos públicos e passeata nos dias seguintes. Autoridades públicas, direções dos partidos no poder, particularmente o Partido dos Trabalhadores – PT e quase toda a mídia , enfiaram a viola no saco como se tudo fosse "esperado".

E, na mesma linha, tão ruim quanto isto, foi a atitude de diversas pessoas que nem são encantadas pelos sorrisos do simpático Obama, mas que não deram atenção ao fato e também acharam a situação corriqueira, até jocosa. Afinal, para que se incomodar? Quando o Obama for embora o pessoal será solto! Sorrisos e tolerâncias.

Foi realmente coincidência, mas uma das exposições que visitamos em São Paulo, na Pinacoteca do Estado, foi uma exposição fotográfica do artista russo Aleksandr Ródtchenko (1891-1956). A exposição nem foi um dos itens maravilhosos do nosso passeio, mas coincidentemente ela tem como destaque retratos do poeta Vladimir Maiakóvski. E imperativamente lembrei-me dos versos famosos da autoria de um poeta niteroiense, Eduardo Alves da Costa1, e atribuídos de forma indevida às autorias de Bertold Brecht ou do próprio Maiakovski:

 ' ... Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada...."


 [1] Eduardo Alves da Costa - No caminho, com Maiakóvsky – Geração Editorial

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