Opinião
“ O que o proletariado
conquistava era o terreno para lutar pela sua emancipação revolucionária, mas
não, de modo algum, a própria emancipação “
A assertiva acima está em “ A luta de classes na França de
1848 a 1850 “ (Karl Marx). Ela foi resgatada pelo professor Florestan Fernandes
em um texto de 1987 a propósito das conquistas dos operários do ABC e de seus
sindicatos na década de 80 do século XX ( Nós e o Marxismo - Ed. Expressão
Popular, 2009).
O professor Florestan complementou:
“ Ao enfrentar a ditadura e
desobedece-la , o proletariado vergou o arco do despotismo burguês ... e não
conquistou outra coisa além do espaço político que abocanhou para lutar como
classe plenamente constituída, que exige sua autonomia como e enquanto classe e
a liberdade para travar tal luta em todas as direções necessárias “
Passado tanto tempo, desde Marx e Florestan, impressiona a
atualidade dessas observações que são um alerta quando avaliamos o cenário político recente. As
eleições dos governos de liderança petista foram conquistas de espaços de
lutas, mas não resumem as lutas em si. Já afirmei outras vezes e reitero que no
período pós-eleitoral, equivocadamente, deixamos de atuar como lutadores e
passamos a atuar como zeladores do campo que conquistamos.
Enquanto o neoliberalismo, até mesmo incorporando sem
constrangimentos a sua face de extrema direita, avança conseguindo que seus
valores atravessem todas as camadas sociais, há uma espécie de trava nas
lideranças progressistas que não apontam para suas bases diretrizes políticas de mobilizações. É o que
está ocorrendo no governo atual. Em vez de prosseguir com as lutas no espaço
que conquistamos, estamos arrumando a cama para a burguesia capitalista e suas
representações políticas deitarem.
Não deveria ser assim porque
quando as diretrizes políticas são claras, as bases progressistas
respondem ocupando os espaços de luta, buscando e fazendo os embates. Vale
dizer que muitas dessas bases que têm apoiado os governos Lula nem são petistas.
Todas as vezes que as lideranças olharam para as bases e
acreditaram nelas , elas se mobilizaram e responderam, de formas diversas, mas
não fugiram aos enfrentamentos. Até deficiências de comunicação institucionais
do governo, do PT e outras são superadas. As bases fazem interpretações, criam
mecanismos de comunicação, furam bolhas digitais e combatem.
Sem contar as eleições petistas anteriores (um histórico a
parte), foi assim na mobilização pela liberdade de Lula, na mobilização contra
o golpe que derrubou a Dilma, na cobrança dos responsáveis pelos crimes contra
Marielle e Anderson, na sustentação do
acordão de 2022, no caso do questionamento
à política de juros do Banco Central, no caso Israel/Palestina, além de outras
situações que alguém certamente poderá exemplificar.
Sim, as frentes de batalha são várias, não há que desqualificar
uma diante da outra nem ignorar que há protagonistas e papeis diversos, mas é
fundamental ressaltar que tem sido a mobilização permanente das bases que tem sustentado
politicamente essas lutas e que tal mobilização decorre quando as bases
identificam as diretrizes apontadas com clareza e comprometimento pelas
lideranças. Não sendo assim, a pena é um movimento errático e amorfo – o que
está ocorrendo.
Com essa visão não há como deixar de cobrar um governo completamente
absorvido nos conchavos parlamentares e que se apresenta mudo para as suas
bases. Conquistamos o campo, prossigamos com as lutas! ###
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