sexta-feira, 12 de abril de 2024

Um alerta dos mestres

 Opinião

 

O que o proletariado conquistava era o terreno para lutar pela sua emancipação revolucionária, mas não, de modo algum, a própria emancipação “

 A assertiva acima está em “ A luta de classes na França de 1848 a 1850 “ (Karl Marx). Ela foi resgatada pelo professor Florestan Fernandes em um texto de 1987 a propósito das conquistas dos operários do ABC e de seus sindicatos na década de 80 do século XX ( Nós e o Marxismo - Ed. Expressão Popular, 2009).

 O professor Florestan complementou: 

Ao enfrentar a ditadura e desobedece-la , o proletariado vergou o arco do despotismo burguês ... e não conquistou outra coisa além do espaço político que abocanhou para lutar como classe plenamente constituída, que exige sua autonomia como e enquanto classe e a liberdade para travar tal luta em todas as direções necessárias “

 Passado tanto tempo, desde Marx e Florestan, impressiona a atualidade dessas observações que são um alerta  quando avaliamos o cenário político recente. As eleições dos governos de liderança petista foram conquistas de espaços de lutas, mas não resumem as lutas em si. Já afirmei outras vezes e reitero que no período pós-eleitoral, equivocadamente, deixamos de atuar como lutadores e passamos a atuar como zeladores do campo que conquistamos.

 Enquanto o neoliberalismo, até mesmo incorporando sem constrangimentos a sua face de extrema direita, avança conseguindo que seus valores atravessem todas as camadas sociais, há uma espécie de trava nas lideranças progressistas que não apontam para suas bases  diretrizes políticas de mobilizações. É o que está ocorrendo no governo atual. Em vez de prosseguir com as lutas no espaço que conquistamos, estamos arrumando a cama para a burguesia capitalista e suas representações políticas deitarem.

 Não deveria ser assim porque  quando as diretrizes políticas são claras, as bases progressistas respondem ocupando os espaços de luta, buscando e fazendo os embates. Vale dizer que muitas dessas bases que têm apoiado os governos Lula nem são petistas.

 Todas as vezes que as lideranças olharam para as bases e acreditaram nelas , elas se mobilizaram e responderam, de formas diversas, mas não fugiram aos enfrentamentos. Até deficiências de comunicação institucionais do governo, do PT e outras são superadas. As bases fazem interpretações, criam mecanismos de comunicação, furam bolhas digitais e combatem.

 Sem contar as eleições petistas anteriores (um histórico a parte), foi assim na mobilização pela liberdade de Lula, na mobilização contra o golpe que derrubou a Dilma, na cobrança dos responsáveis pelos crimes contra Marielle e Anderson,  na sustentação do acordão de 2022,  no caso do questionamento à política de juros do Banco Central, no caso Israel/Palestina, além de outras situações que alguém certamente poderá exemplificar.

 Sim, as frentes de batalha são várias, não há que desqualificar uma diante da outra nem ignorar que há protagonistas e papeis diversos, mas é fundamental ressaltar que tem sido a mobilização permanente das bases que tem sustentado politicamente essas lutas e que tal mobilização decorre quando as bases identificam as diretrizes apontadas com clareza e comprometimento pelas lideranças. Não sendo assim, a pena é um movimento errático e amorfo – o que está ocorrendo.

 Com essa visão não há como deixar de cobrar um governo completamente absorvido nos conchavos parlamentares e que se apresenta mudo para as suas bases. Conquistamos o campo, prossigamos com as lutas! ###


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