quinta-feira, 11 de abril de 2024

Tamancas e chiliques

 Opinião

 

Quando se cobra do governo o avanço de políticas progressistas que conflitam com o status quo, não faz muito sentido aceitar que ele não pode agir assim devido a sua fragilidade, que não é composto exclusivamente de forças da esquerda, correlação de forças no parlamento, e justificativas desse tipo.

Não há fato novo nesse conflito que não existisse desde as eleições, e foi em favor dessas propostas e contra aquelas de naturezas reacionárias ou conservadoras que a esquerda trabalhou para impor a candidatura Lula. Mais do que isso, apesar do acordão de frente ampla, foi com a cara e a propaganda desses propósitos que o governo se apresentou vitorioso publicamente, e um dos principais simbolismos disso foi a cerimônia de posse do presidente.

É desagradável assumir, mas o resultado do governo Lula até agora tem sido uma sequência de concessões a grupos de poder que passa longe de alguma possibilidade de transformação socioeconômica e sociopolítica. A continuar assim, sem uma convocação aos seus apoiadores para tais transformações, os méritos da atual legislação não passarão de serviços prestados à direita, serviços de um competente gerente organizador da casa que foi deixada esmerdalhada pelo governo anterior. A direita possivelmente até estará agradecida porque essa prática a libera para trabalhar ideológica e diuturnamente para retomar completamente para si esse mesmo governo.

Ora, se não foi para se fazer esse combate, então qual terá sido a finalidade da batalha da eleição? As justificativas tem sido sempre as mesmas: fragilidade do governo e governabilidade. Santa paciência! Chegamos ao cúmulo do recente encagaçamento do governo a propósito dos atos oficiais de celebrações dos 60 anos do malfadado golpe de 64, ou seja, estamos andando para trás!

Não temos uma bandeira de luta, uma consigna sequer que represente a direção política em que apostamos e que possa nos agregar em campanhas populares de defesa e promoção de um governo progressista. Quem souber aponte.

Descriminalização do Aborto, Desapropriação e Ocupação de Latifúndios, Taxação de Fortunas, Redefinição de Forças Armadas e Policiais, Recuperação dos Direitos Trabalhistas, Resgatar Estatais, Enquadrar o Agronegócio – nem uma proposta sequer. Se essas são radicais, extremistas, então quais outras? O governo está mudo, não propõe! Não fala com a galera que batalhou para sua eleição.

As representações da esquerda no governo não têm pautas mínimas setoriais para convocar a militância, e os ministérios que deveriam ser as referências de um governo progressista estão todos com suas violas enfiadas em sacos na medida em que foram desautorizados pelo presidente, e pelo andar da carruagem a situação ficará pior com os conchavos eleitorais que estão se formando para as eleições municipais.

É obvio que Lula não tem que fazer um governo mágico e mudar o país, não é isso que se cobra dele. Ele deve ser cobrado, sim, a realizar o seu papel de liderança, a única com autoridade para convocar a militância. É esse o papel que ele está deixando de lado.

Subir nas tamancas e dar chiliques quando se faz qualquer tipo de cobrança ao sapo barbudo como se isso fosse a profanação de uma divindade é um direito de quem o faz, mas seria bem mais proveitoso se houvesse contra argumentos apontando alternativas de encaminhamentos em vez da repetição do enfadonho e equivocado mantra da proteção da governabilidade.  Enquanto isso a direita avança.

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