Opinião
Quando se
cobra do governo o avanço de políticas progressistas que conflitam com o status
quo, não faz muito sentido aceitar que ele não pode agir assim devido a sua
fragilidade, que não é composto exclusivamente de forças da esquerda,
correlação de forças no parlamento, e justificativas desse tipo.
Não há fato
novo nesse conflito que não existisse desde as eleições, e foi em favor dessas
propostas e contra aquelas de naturezas reacionárias ou conservadoras que a
esquerda trabalhou para impor a candidatura Lula. Mais do que isso, apesar do
acordão de frente ampla, foi com a cara e a propaganda desses propósitos que o
governo se apresentou vitorioso publicamente, e um dos principais simbolismos
disso foi a cerimônia de posse do presidente.
É
desagradável assumir, mas o resultado do governo Lula até agora tem sido uma
sequência de concessões a grupos de poder que passa longe de alguma possibilidade
de transformação socioeconômica e sociopolítica. A continuar assim, sem uma
convocação aos seus apoiadores para tais transformações, os méritos da atual
legislação não passarão de serviços prestados à direita, serviços de um
competente gerente organizador da casa que foi deixada esmerdalhada pelo governo
anterior. A direita possivelmente até estará agradecida porque essa prática a
libera para trabalhar ideológica e diuturnamente para retomar completamente
para si esse mesmo governo.
Ora, se não
foi para se fazer esse combate, então qual terá sido a finalidade da batalha da
eleição? As justificativas tem sido sempre as mesmas: fragilidade do governo e
governabilidade. Santa paciência! Chegamos ao cúmulo do recente encagaçamento
do governo a propósito dos atos oficiais de celebrações dos 60 anos do
malfadado golpe de 64, ou seja, estamos andando para trás!
Não temos
uma bandeira de luta, uma consigna sequer que represente a direção política em
que apostamos e que possa nos agregar em campanhas populares de defesa e
promoção de um governo progressista. Quem souber aponte.
Descriminalização
do Aborto, Desapropriação e Ocupação de Latifúndios, Taxação de Fortunas,
Redefinição de Forças Armadas e Policiais, Recuperação dos Direitos
Trabalhistas, Resgatar Estatais, Enquadrar o Agronegócio – nem uma proposta
sequer. Se essas são radicais, extremistas, então quais outras? O governo está
mudo, não propõe! Não fala com a galera que batalhou para sua eleição.
As
representações da esquerda no governo não têm pautas mínimas setoriais para
convocar a militância, e os ministérios que deveriam ser as referências de um
governo progressista estão todos com suas violas enfiadas em sacos na medida em
que foram desautorizados pelo presidente, e pelo andar da carruagem a situação
ficará pior com os conchavos eleitorais que estão se formando para as eleições
municipais.
É obvio que Lula
não tem que fazer um governo mágico e mudar o país, não é isso que se cobra
dele. Ele deve ser cobrado, sim, a realizar o seu papel de liderança, a única
com autoridade para convocar a militância. É esse o papel que ele está deixando
de lado.
Subir nas
tamancas e dar chiliques quando se faz qualquer tipo de cobrança ao sapo
barbudo como se isso fosse a profanação de uma divindade é um direito de quem o
faz, mas seria bem mais proveitoso se houvesse contra argumentos apontando
alternativas de encaminhamentos em vez da repetição do enfadonho e equivocado
mantra da proteção da governabilidade.
Enquanto isso a direita avança.
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