Leituras para distrair
Rolava uma história em minha família cuja memória sempre
tentei recompor. O meu nome, desde que nascido menino, estava decidido por uma
determinação do meu pai e seria o nome do santo do dia. Se fosse menina, a
história era outra.
Hoje existe o Google, mas durante quase todo o século passado
a referência eram os calendários católicos com os nomes dos canonizados pela
igreja em cada dia do ano. Suponho que nas coincidências a escolha deveria ser
da editora que publicava os calendários cujo nome popular era
"folhinhas", e o santo da folhinha
no dia 8 de abril era (ainda é) um tal de Santo Amâncio. Logo estava
determinado o meu nome que não contava com a aprovação da minha mãe.
Nunca resgatei os fatos completos, foi história aprendida ouvindo
a repetição de conversas e brincadeiras de família. Uma versão é que se tratava de uma sacanagem (o
termo atual é trollagem) do meu pai para com a minha mãe que nunca aceitou o nome
do santo da folhinha. Enfim, constava que o meu pai saiu para registrar um
Amâncio e retornou do cartório com a certidão de registro de Jorge, uma decisão
que contou com a aprovação da família e que não teve nada de surpreendente
considerando que se tratava de um filho de macumbeiro nascido em abril.
Em minha experiência Jorge sempre foi uma espécie de nome
protetor, embora muito comum em minha geração. Um nome que ainda carrega
consigo um imaginário religioso muito considerado e respeitado. Por aqui, na
região sudeste, o mito de São Jorge é fortíssimo, o mito antes da santidade na medida em que
ele é sincrético das mitologias católica, umbandista e macumbeiras em geral,
além de outras que inundam esse nosso país de tradições culturais tão diversas.
Os xarás dos meus tempos usufruíram desse fato peculiar, uma proteção pelo
nome. Jorge nunca foi nome para se brincar.
Ateu, não tenho fé religiosa, mas gosto de me sentir devoto
dessa imensa legião que reza e bate tambor para festejar o seu protetor, como
diz a canção. Hoje acordei com a salva de fogos às 5 horas da manhã. Coisa boa.
Salve Jorge!
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