terça-feira, 23 de abril de 2024

Santo Amâncio

 Leituras para distrair

Rolava uma história em minha família cuja memória sempre tentei recompor. O meu nome, desde que nascido menino, estava decidido por uma determinação do meu pai e seria o nome do santo do dia. Se fosse menina, a história era outra.

Hoje existe o Google, mas durante quase todo o século passado a referência eram os calendários católicos com os nomes dos canonizados pela igreja em cada dia do ano. Suponho que nas coincidências a escolha deveria ser da editora que publicava os calendários cujo nome popular era "folhinhas", e o santo da folhinha  no dia 8 de abril era (ainda é) um tal de Santo Amâncio. Logo estava determinado o meu nome que não contava com a aprovação da minha mãe.

Nunca resgatei os fatos completos, foi história aprendida ouvindo a repetição de conversas e brincadeiras de família.  Uma versão é que se tratava de uma sacanagem (o termo atual é trollagem) do meu pai para com a minha mãe que nunca aceitou o nome do santo da folhinha. Enfim, constava que o meu pai saiu para registrar um Amâncio e retornou do cartório com a certidão de registro de Jorge, uma decisão que contou com a aprovação da família e que não teve nada de surpreendente considerando que se tratava de um filho de macumbeiro nascido em abril.

Em minha experiência Jorge sempre foi uma espécie de nome protetor, embora muito comum em minha geração. Um nome que ainda carrega consigo um imaginário religioso muito considerado e respeitado. Por aqui, na região sudeste, o mito de São Jorge é fortíssimo,  o mito antes da santidade na medida em que ele é sincrético das mitologias católica, umbandista e macumbeiras em geral, além de outras que inundam esse nosso país de tradições culturais tão diversas. Os xarás dos meus tempos usufruíram desse fato peculiar, uma proteção pelo nome. Jorge nunca foi nome para se brincar.

Ateu, não tenho fé religiosa, mas gosto de me sentir devoto dessa imensa legião que reza e bate tambor para festejar o seu protetor, como diz a canção. Hoje acordei com a salva de fogos às 5 horas da manhã. Coisa boa. Salve Jorge!

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