Leituras para distrair
Em muitas e significativas áreas, a situação atual da
organização da produção traz novas dificuldades e oportunidades para a
organização dos trabalhadores. A comunicação com a classe e entre a classe é
facilitada, mas ela também é disputada por fontes diversas com diversidades de
informações.
As facilidades de comunicação e a pluralidade de informações,
características de nossos dias, não levam necessariamente a uma relação grupal.
Esse é um fenômeno constatado pelos analistas sociais. Ao contrário, verifica-se
hoje um fenômeno de isolamento do indivíduo diante do mundo de contatos e
oportunidades potenciais.
Quando os sindicatos, que ainda são os agentes que promovem a
organização dos trabalhadores, não se impõem nessa disputa de comunicação, a
tendência é o trabalhador perder a consciência da sua posição de classe. Ele
nem mesmo sabe o que isso significa.
O trabalhador não fica imobilizado. Ele precisa sobreviver. Então,
ele busca caminhos alternativos e
disponíveis para resolver suas dificuldades, ainda que nem sempre escolha a
melhor opção.
Esteja ele em sua casa, ou na sua sala, na sua “estação de
trabalho”, ou na sua bicicleta, moto ou automóvel prestando o seu serviço, o
trabalhador se vê sozinho. E um aspecto fundamental da sua organização como
classe – a solidariedade – vai para
o caralho!
Não há mais colegas de trabalho. Nem de empresa, nem de sala.
Nem de prédio, nem de nada. Sozinho, seja qual for o seu local de trabalho, o
sujeito, de qualquer gênero, tem que pensar alternativas para suas necessidades
que geralmente não são apenas dele, mas de uma família sob sua responsabilidade.
O trabalhador, ele ou ela, precisa elaborar por si mesmo
respostas de classe que estariam no seu repertório de alternativas se ele convivesse
com companheiros que experimentam as mesmas necessidades, e se tivesse a
oportunidade de saber sobre as respostas que foram dadas por outros
trabalhadores que historicamente passaram por experiências similares. É como se
o trabalhador tivesse que reinventar a roda.
Infelizmente, alguns acham que estão superando essas
limitações. Acham que não só venceram, mas mudaram de classe. Tornaram-se
empreendedores. O capital, objetivado na figura do capitalista, do patrão, para
quem o estágio atual da organização da produção sorri favoravelmente, estimula
essa ilusão do trabalhador, ao mesmo tempo em que retira os seus direitos
trabalhistas.
Afinal, diz o patrão, agora corremos juntos! Já não tenho a
obrigação com férias, carteira de trabalho, décimo terceiro salário, auxílios
de saúde, de alimentação ou fundos de aposentadoria! Somos até concorrentes,
vivemos as mesmas dificuldades! E muitos trabalhadores passam recibo de babacas
acreditando nessa história.
Mas, o canto de sereia do capital não seduz apenas os
trabalhadores. São muitos os dirigentes sindicais que por ignorância do
contexto, por incompreensão do seu papel ou até por malícia, por peleguismos
puro, acomodam-se na ideia de que não há o que fazer, em vez de avançarem nas
tentativas de entendimento da situação e na busca de possibilidades de superar
as dificuldades. Esse é o retrato de parte significativa da atual crise
sindical.
Nos centros urbanos, nas grandes empresas e fábricas que
permanecem como os pontos focais de organização dos trabalhadores, já não existem as grandes movimentações de
entrada e saída de seus expedientes ou nos seus intervalos refeições.
Deixaram de existir os pátios de concentração, e a própria
presença no local está rareada com a possibilidade do home office. Mas, isso
não quer dizer que os trabalhadores tenham desaparecido ou que deixaram de se
constituir como classe. Há, sim, uma mudança na organização da produção que impõe
mudanças nos mecanismos de organização dos trabalhadores, mas o mundo ainda é o
resultado da força de trabalho.
Para reunir essa força não há receita de bolo, não tem
mágica, e nunca teve. O capital mudou a forma de fazer valer sua ideologia,
temos a responsabilidade de encontrar a nossa.
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